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Leia na fonte: Guia das Cidades Digitais
[29/04/08]
PLC é alternativa de conexão à internet banda larga - por Maria Eduarda
Mattar
De nome difícil, mas princípio simples, o Power Line Communication (PLC) usa a
rede elétrica para a transmissão de dados e voz. Os primeiros testes da
tecnologia foram feitos na Inglaterra, na segunda metade dos anos 90.
Atualmente, cresce aos poucos no Brasil, porém ainda sem utilizar todo o seu
potencial: 96% das residências brasileiras têm energia elétrica, mas o PLC ainda
é usado praticamente apenas em programas piloto.
O sinal de PLC é transmitido sobre os fios de cobre (ou alumínio) das redes de
distribuição de baixa e média tensão e pode chegar a todos os cômodos de uma
casa. Com ele, cada tomada se torna um ponto de acesso à internet, sem precisar
de conversores ou instalações especiais, apenas de um decofificador, semelhante
aos modens usados nas conexões em banda larga wireless ou através de linha
telefônica e TV a cabo, que separa a corrente elétrica dos sinais de voz, dados
e Internet.
Empresas de energia brasileira já colocam projetos em andamento. A Eletronorte,
que "irriga" com cabos de energia elétrica toda a região Norte, é parceira do
governo do Pará para a utilização de sua rede para transmissão de sinal de
internet no estado (leia mais no box Um estado inteiro ligado por PLC, ao final
desta matéria). A Cemig, de Minas Gerais, realizou, em 2002, piloto de PLC pelo
período de um ano em dois bairros de Belo Horizonte.
A Copel, do Paraná, em 2001 já havia realizado programa piloto em 50 domicílios,
com equipamentos doados por uma fabricante alemã. No mês passado, lançou um novo
piloto, ampliado, que durante um ano pretende levar internet por fios de luz a
300 domicílios, a fim de fazer novas avaliações. Outras companhias elétricas
também já se interessam por PLC.
"Atualmente, 96% das residências têm energia elétrica, e somente cerca de 65%
são servidas por serviços de telecomunicações. Portanto, o acesso à utilização
de PLC pode representar, para algumas comunidades, a única forma de receber
sinais de telecomunicações", avalia Dymitr Wajsman, um dos diretores da
Associação de Empresas Proprietárias de Infra-Estrutura e de Sistemas Privados
de Telecomunicações (Aptel).
A Aptel participou de um dos primeiros projetos de PLC do Brasil, realizado na
cidade maranhense de Barreirinhas, em 2003. A diferença deste projeto, batizado
de Ilha Digital, para os pilotos das companhias elétricas foi que ele abarcou a
cidade inteira. A iniciativa teve início, meio e fim. Porém, foi relançada em
2007, agora já com o nome de Vilas Digitais e tendo à frente o Ministério das
Comunicações.
O sinal de dados chega via satélite, por intermédio do programa Gesac, e é
distribuído por PLC para 150 pontos, incluindo escolas, centros de saúde,
centros administrativos, pequenas empresas e residências. Também integram o
projeto a Eletrobrás, Eletronorte, Cemar, a Prefeitura de Barreirinhas e a
própria Aptel.
Prós e contras
Algumas vantagens são óbvias na utilização de PLC. Sempre há tomadas em qualquer
das áreas de casas e edifícios, enquanto nem todo cômodo tem um telefone. A
capilaridade da rede elétrica é grande: como já dito, ela chega praticamente à
totalidade dos domicílios brasileiros, enquanto nem todas as cidades têm
serviços de telefonia fixa. Dessa forma, o sinal por rede elétrica, se passar a
ser usado, já nasceria universalizado.
Outra vantagem é a facilidade de implementação. Não é necessária nenhuma
instalação elétrica nova, e a rede não soma nenhum custo à conta de energia. Já
se prevê que, com o PLC, o usuário poderá ligar ou desligar fogões, TVs,
iluminação, ar-condicionado e outros eletrodomésticos via Internet, já que será
utilizada a mesma rede.
Por suas características, a tecnologia surge como uma alternativa forte. Porém,
sua velocidade de banda e suscetibilidade a interferências ainda não a tornaram
a solução ideal. Normalmente, a banda de internet não passa dos 4,5 Mbps dentro
de uma mesma área (ou seja, o trecho "iluminado" por um mesmo transformador).
Apesar de novos equipamentos e sistemas lógicos estarem sendo testados,
prometendo velocidades de até 200 Mbps, a realidade é que, no Brasil, a rede
elétrica é antiga, e a disposição de transformadores e equipamentos teria que
ser melhorada para poder oferecer velocidades confortáveis para cidades
inteiras.
Outra desvantagem vem do fato de o PLC ser uma mídia compartilhada: todas as
casas conectadas numa mesma subestação estarão usando a mesma largura de banda.
Isto significa que o desempenho da conexão pode variar de acordo com o número de
pessoas que estiverem navegando ou baixando arquivos simultaneamente. Ainda, o
sinal de internet pode sofrer oscilações pelos variados usos dados à rede
elétrica, que puxem mais ou menos energia, ou variar acentuadamente à medida que
se ligam ou desligam luzes ou aparelhos conectados a ela.
Além disso, outra característica das redes de energia elétrica no Brasil é o
fato de estarem ao ar livre, o que as torna suscetíveis a fatores climáticos,
vandalismos e demais possibilidades de interrupções. Países da Europa que já
utilizam PLC de forma mais difundida, como a Alemanha, têm suas redes elétricas
embaixo da terra.
Tanto essas vantagens e desvantagens, quanto novidades na área estarão em
discussão no IX Seminário de Tecnologia PLC, marcado para 11, 12 e 13 de junho
de 2008, em Belo Horizonte. Promovido anualmente pela Aptel, o evento é
considerado o principal fórum de divulgação da tecnologia PLC no País, e é uma
oportunidade para quem deseja conhecer mais sobre o assunto. Aspectos
regulatórios, possibilidades de uso interno nas empresas e utilização de PLC
para fins de inclusão social estarão na pauta. Mais informações no site da
Aptel.
Um estado inteiro ligado por PLC
Ciente de todas as vantagens e desvantagens do PLC - e sabendo a forma certa de
contornar o que fosse preciso -, o governo paraense escolheu essa tecnologia
como meio de transmitir entre as cidades o sinal de internet para boa parte de
seu território, dentro de seu projeto de estado digital, o NavegaPará. Nele, uma
parceria com a Eletronorte é peça central.
A companhia elétrica gera e transmite energia na região Amazônica, nos estados
de Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e
Tocantins. Por isso, dispõe de rede ampla de energia, com aproximadamente 7 mil
quilômetros de cabo.
Na parceria, cabe à Eletronorte a rede de fibra já instalada, avaliada em quase
R$ 1 bilhão, e o governo do Estado do Pará investiu na ampliação da capacidade
dessa rede, adquirindo os equipamentos necessários. Cada uma das partes pode
utilizar metade da capacidade total resultante da modernização.
"Temos disponibilidade de fazer parcerias semellhantes na Região Norte
praticamente toda. E já recebemos solicitações semelhantes à do Pará de pelos
menos três estados. Oficialmente, só de Tocantins", conta Flávio Roberto
Antonio, gerente de negócios de telecomunicações da Eletronorte, área da
companhia que começou a operar em 2003.
A empresa não interfere nas ações tomadas pelos parceiros governamentais, que
podem modernizar a rede de acordo com suas necessidades de capacidade,
infra-estrutura e aplicações (VoIP, telemedicina, etc.). Nenhuma exigência
especial é feita, e a Eletronorte ganha na revenda de capacidade. "Ficamos com
uma parcela do produto desse novo projeto para comercializar", explica Antonio.
A solicitação de Tocantins foi deferida em 30 dias. A do Pará, em duas semanas.
O programa paraense já está em andamento, sendo implementado aos poucos, cidade
por cidade. Fibra ótica e sinal sem fio servirão para interiorizar o sinal de
internet, que chega pela rede elétrica somente até as subestações da
Eletronorte, nas "portas" das cidades.
O objetivo é interligar todas as secretarias e órgãos estaduais e municipais,
escolas públicas, delegacias, quartéis de polícia, hospitais e também algumas
instituições do terceiro setor das cidades aonde o programa chegar. Órgãos
federais, como instituições de ensino e pesquisa, também serão iluminados. Mais
informações na matéria feita pelo Guia das Cidades Digitais ou no site do
NavegaPará.
Pilotos indicam necessidade de aprimoramento
Em meados de março, a Companhia Paranaense de Energia (Copel) anunciou o
lançamento de um programa de PLC, a ser realizado em 300 domicílios, entre casas
e estabelecimentos comerciais e de serviços, numa cidade ainda a ser definida. A
iniciativa servirá para testes de equipamentos de última geração e avaliações.
Os participantes poderão ter acesso à internet em banda larga em alta velocidade
através da fiação elétrica. O projeto estará operacional no segundo semestre,
segundo informações do site da Copel. O orçamento mínimo será de R$ 1 milhão
para compra de equipamentos, e serão adotadas conexões com capacidade de até 100
Mbps.
Esta é a segunda vez que a Copel realiza piloto de PLC. Em 2001, a empresa havia
testado conexão à internet via PLC em um grupo de 50 domicílios de Curitiba,
utilizando equipamentos, na época modernos, cedidos mediante convênio de
cooperação com uma empresa da Alemanha. O programa durou seis meses, e os
usuários puderam experimentar acesso à internet por banda larga, telefonia,
vigilância, segurança e automação das instalações elétricas internas.
A avaliação do projeto foi de que a tecnologia era viável, mas ainda precisava
ser aprimorada, para poder oferecer mais velocidade de banda e ser competitiva
frente a conexões por linha telefônica dedicada (ADSL), cabos de sistemas
fechados de TV e sinais de rádio.
A mesma conclusão gerou o piloto realizado pela Companhia Energética de Minas
Gerais (Cemig), ao longo de 2002, em dois bairros de Belo Horizonte: Belvedere e
Vila Paris. Iniciado em dezembro de 2001 e finalizado em novembro de 2002, o
projeto conectou 40 pontos, entre casas, apartamentos e escola pública, com
velocidade de até 2 Mbps.
A empresa Ascom - PLC foi contratada para executar o projeto, e estudos de
emissão eletromagnética dos cabos que conduzem sinais PLC foram realizados em
parceria com a Pontifícia Universidde Católica de Minas Gerais (PUC/MG).
Na avaliação do piloto, feita com mais de 400 pessoas, ficou nítida a influência
das diferenças de carga no desempenho do sistema e a necessidade de
aprimoramentos − de equipamentos, de lógicas de rede − para que o PLC possa ser
adotado em grande escala.
Tanto a influência do aumento da carga na degradação dos acessos, quanto o
perfil do usuário brasileiro de energia elétrica (mais agressivo em termos de
consumo e tipo) são citados no relatório final do piloto da Cemig, publicado em
janeiro de 2003, como fatores importantes de influência no sucesso do projeto.
"Esta situação evidentemente estará sempre fora de controle e terá uma variação
totalmente aleatória, estando diretamente relacionada com o perfil dos
consumidores. Caberá aos projetistas de equipamentos PLC desenvolverem módulos
de correção para compensar as constantes alterações do perfil de carga", diz o
relatório. "Sendo assim, conclui-se que o acesso comercial via PLC será viável
se as alterações necessárias forem implementadas", registra o documento.