Enfim, o serviço de banda larga via rede elétrica começa, de fato, a ganhar
contornos comerciais. A Eletropaulo Telecom, empresa ligada à AES com
atuação em São Paulo, anunciou nesta quinta-feira, 13/11, que está "pronta"
para ofertar o serviço comercialmente e aguarda tão somente a regulamentação
oficial por parte da Agência Nacional de Telecomunicações.
Uma decisão estratégica foi tomada pela Eletropaulo: A empresa não vai
vender o serviço diretamente para os usuários, mas sim para as operadoras e
prestadoras de serviços que, hoje, já contratam a capacidade da provedora
para comprar circuitos de backhaul (backbone) e de última milha. "Houve a
decisão de não competir diretamente com os nossos clientes", afirmou a
diretora Geral da AES Telecom, Teresa Vernaglia.
Desde novembro de 2007, a Eletropaulo Telecom testa a tecnologia BPL (Broadband
Powerline) que é baseada no modelo europeu, mas na prática bastante
semelhante à PLC(PowerLine Communications), de origem norte-americana. "Não
há diferenças gritantes. Elas são bem parecidas", garantiu a executiva.
Hoje, segundo ainda Teresa Vernaglia, 300 prédios na grande São Paulo estão
"iluminados" e prontos para receber, comercialmente, o serviço, que
potencialmente estaria disponível para 15 mil clientes. A companhia, que
demonstrou como funcionará a tecnologia no dia-a-dia de uma família com a
conexão ativada num apartamento, localizado no Bairro do Itaim, na Zona Sul
da capital paulista, testa o produto com aproximadamente 150 clientes.
Teresa Vernaglia explicou que a Anatel autorizou a realização desses testes
- no modelo indoor (com a tecnologia dentro dos prédios) e para atender o
escopo da iniciativa, a Eletropaulo Telecom construiu uma rede de 70 Kms de
fibra óptica, de forma a levar o acesso de última milha.
À prova de interferências
Para a executiva, do ponto de vista tecnológico - os equipamentos utilizados
pela Eletropaulo Telecom são da norte-americana Current, mas o sistema,
garante Teresa Vernaglia está preparado para ser multivendor - a oferta do
serviço banda larga via energia elétrica está testado e os problemas
detectados anteriormente, entre eles, a interferência de eletrodomésticos no
acesso à Internet, foram resolvidas.
"Posso assegurar que as interferências cessaram. O teste neste prédio, por
exemplo, foi feito porque ele tem 50 anos. O que significa uma fiação
elétrica mais antiga. E foram necessários poucos ajustes para termos o
serviço apto", declarou Teresa Vernaglia.
A expectativa da Eletropaulo Telecom é que a Anatel publique a
regulamentação do serviço indoor de banda larga via energia elétrica ainda
este ano. Assim, a empresa estaria apta a vender o produto para as
operadoras e prestadoras de serviços ainda no primeiro trimestre de 2009.
Mas, de qualquer forma, a companhia já solicitou ao órgão regulador a
renovação do período de testes por mais um ano.
Para montar o produto, a Eletropaulo Telecom investiu R$ 20 milhões. Agora,
novos aportes só devem acontecer após a definição da regulamentação. Todos
os equipamentos utilizados pela Eletropaulo Telecom estão homologados e
certificados junto à Agência Reguladora.
Questionada se haveria a necessidade de uma integração entre a Anatel,
reguladora do setor de Telecom, e a Aneel, Agência do setor elétrico, a
diretora da Eletropaulo Telecom diz que os órgãos estão trabalhando para
fomentar as oportunidades. Mas, há, sim, pontos a serem ainda esclarecidos.
Entre eles, a questão da possibilidade de colocar equipamentos outdoor, ou
seja,nos postes da Eletropaulo Distribuidora.
Essa regulamentação, afirma Teresa Vernaglia, ampliaria o raio de atuação da
prestadora. "Hoje já pagamos para a Eletropaulo Distribuidora pelo uso do
poste. Agora temos que ver como será a regulamentação para instalarmos um
equipamento para o serviço de banda larga", esclarece. A regulamentação da
Anatel - a consulta pública sobre o tema foi recém-encerrada - deverá sair
antes de uma definição da Aneel.
BPL: Competitividade com qualquer serviço
O serviço de banda larga via rede elétrica é estudado há tempos, mas há
poucas ofertas comerciais mundialmente. Executivos da AES, empresa
controladora da Eletropaulo Telecom, informam que há serviços em Hong Kong,
em Bombai, na Índia, e em Cincinatti, nos Estados Unidos, todos com modelos
comerciais diferenciados. Em Hong Kong, por exemplo, a tele vende o serviço
para o cliente. Já na Áustria, o produto é comercializado diretamente pela
empresa de energia.
O produto, na prática, segundo explicaram os executivos da Eletropaulo
Telecom, será 'regulado' no aspecto de oferta de velocidade a partir da
configuração do modem, que será conectado à tomada. A operadora definirá as
velocidades possíveis - 1Mb, 2Mb, 5Mb, 20 Mbs, 40 Mbits, de acordo com os
seus planos de serviços. O diferencial, hoje, da banda larga via energia é a
velocidade equivalente para download e upload.
Atualmente o upload sempre possui uma velocidade menor, se comparada à do
download de arquivos. Indagada se o BPL seria competitivo com o FTTH( Fiber
to the home), serviço que a Telefônica, por exemplo, está instalando nos
Jardins, na Zona Sul de São Paulo, e que permite acesso à internet com
velocidades de 30 Mbits, Teresa Vernaglia garantiu que sim.
"Fizemos estudos de caso e somos bastantes competitivos, além de sermos uma
opção para levar o produto em áreas onde a infra-estrutura convencional não
chega ou não atende à demanda como é o caso de bairros em São Paulo como
Alphaville, Granja Viana, Alto da Boa Vista, entre outros", afirmou a
executiva.
A Eletropaulo Telecom não é a única empresa ligada ao setor elétrico
interessada em explorar o potencial da oferta de banda larga via sua
infra-estrutura de última milha. Outras companhias também desenvolvem
projetos no país, como a Eletronorte, na região Norte, e a Copel, no Paraná.