A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) colocou em consulta pública
uma proposta para regulamentar o provimento de acesso em banda larga via
rede elétrica.
Quais os principais pontos a serem observados no futuro regulamento, de modo
a garantir aos provedores rentabilidade e competitividade, além de qualidade
do serviço e preço acessível para os consumidores de menor renda?
Jogo desigual (por Orlando Cesar de Oliveira - Consultor da Copel):
Onde tem tomada pode ter comunicação; e nisso está a revolução que pode
acontecer por meio da PLC (Power Line Communication). Entretanto, para o
novo modelo dar certo, é preciso que entrem em cena novos atores com novos
valores, ou seja, provedores de serviços que coloquem em primeiro plano o
cliente, não seus produtos. Batizado de A2A (Any-to-Any); qualquer cliente,
qualquer serviço, por qualquer operador;, o novo conceito apóia-se mais em
parcerias do que em competição. A Copel manterá o foco naquilo que é de sua
competência, ou seja, a infra-estrutura, que hoje se traduz em uma rede
poderosa e pronta para prover multisserviços. Entretanto, o Artigo 3 da
proposta colocada em consulta pública pela Anatel não agradou a nossa
companhia, pois propõe que as estações de BPL (Broadband over Power Lines)
sejam tratadas como equipamentos de radiação restrita que operam em caráter
secundário. Por que não caráter primário? Tal colocação subordina a PLC às
outras tecnologias.
Postura conservadora (por Geraldo Guimarães Junior - Presidente da BPL
Global):
O Brasil está em média três anos atrasado em relação a outros países (no que
se refere à adoção de PLC em média e larga escala), mas pode recuperar
terreno. Nós e outros integradores e fornecedores de equipamentos aguardamos
ansiosos pela regulamentação dessa tecnologia para uso comercial, embora
consideremos conservadora a postura adotada no documento da Anatel.
O Brasil poderia ter mantido a mesma freqüência usada nos Estados Unidos; de
até 88 MHz na largura de banda; para garantir uma melhor performance da PLC.
Ao restringi-la em 50 MHz, a oferta de vídeo poderá ser impactada, o que não
acontecerá com a banda larga e VoIP. Trata-se de um desafio imposto aos
provedores interessados em formatar uma oferta para o usuário. As companhias
de energia elétrica serão as primeiras a se beneficiar da adoção de PLC para
a gestão inteligente de suas redes. A tecnologia também deve se firmar como
complemento a outras na última milha.
Para pequenos aglomerados (por Sebastião do Nascimento Neto - engenheiro
de telecomunicações da Brasil telecom):
Há mais de dois anos a Brasil Telecom estuda a PLC como alternativa para
chegar aos pequenos conglomerados que estão fora do alcance da nossa rede. O
modelo de parceria é uma possibilidade para viabilizar a entrada da BrT
nesse novo mercado. Os entendimentos com a Celg evoluíram e a meta é
me¬lhorar o atendimento à região Centro-Oeste, que assim como a região Norte
é mais vulnerável às chuvas e nem sempre é adequa¬damente atendida via
satélite.
É bom lembrar que as teles fazem um alto investimento em infra-estrutura e
muitas vezes a rede interna do usuário não é satisfatória, o que compromete
a qualidade do serviço prestado. Em relação ao documento que está disponível
para consulta pública, ele é fruto de um diálogo permanente entre a Aneel
(Agência Nacional de Energia Elétrica) e Anatel e propõe critérios mais
claros para quem quer atuar nesse novo mercado.
Tecnologia madura (por José Gonçalves Vieira - Superintendente de
negócios da Celg):
PLC veio para ficar. E como forma de atender à premissa de universalização
dos serviços públicos, o acesso à nova tecnologia deve ser facilitado e
incentivado. Acompanhamos há anos a evolução dessa tecnologia em todo o
mundo e consideramos que a PLC atingiu um nível de maturidade que lhe
permite ser colocada em pé de igualdade em relação às outras tecnologias e
integrar-se a elas. Já em relação ao documento disponível para consulta
pública, é fundamental estudá-lo em profundidade e aperfeiçoá-lo, de forma a
consolidar um regulamento que viabilize, de fato, a democratização e
universalização dos serviços públicos. O foco, como sempre, deve ser o que é
melhor para a sociedade.
Tecnologia vulnerável (por Demi Getschko - diretor presidente do NIC.br):
Não estou certo quanto à possibilidade da banda larga sobre PLC alcançar uma
boa performance. A tecnologia é mais vulnerável do que o cabo e o ADSL, e
não seria a nossa primeira opção em banda larga, já que a infra-estrutura da
rede elétrica não atende apenas a um usuário, mas é partilhada por vários
consumidores. O NIC.br testou PLC em ambientes fechados e o resultado foi
bastante satisfatório, o que nos leva a acreditar que essa tecnologia é mais
apropriada para aplicações, inclusive substituindo a conexão wireless nas
residências. O uso de PLC é, sem dúvida, um caminho para popularizar a banda
larga, que deve chegar ao consumidor com preço inferior ao cobrado pelo
acesso via modem ADSL. Já o modelo de parcerias entre companhias de energia
elétrica e pequenas teles é o mais indicado, pois seria indispensável
promover a junção das redes a fim de trazer o sinal o mais próximo possível
do usuário e garantir a qualidade do serviço.