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Leia na Fonte: Tele Síntese
[10/12 12] Smart
Grid não consegue viabilizar a universalização da banda larga
Tele.Síntese Análise 369
A utilização da rede elétrica na universalização da banda larga, como quer o
governo, não é uma tarefa fácil, pelo menos não na urgência que se pretende. As
tecnologias existentes e regulamentadas, como o PLC (Power Line Communication),
por exemplo, têm fracassado nesse sentido. É o que prova o teste realizado pela
Copel (Companhia Paranaense de Energia), por cerca de um ano, no município de
Santo Antônio da Platina, de levar a banda larga aos domicílios da cidade. A
conclusão da empresa é de que o sistema não se aplica imediatamente no Brasil,
diante das soluções de conexões existentes no mercado.
Segundo assessor da companhia, Júlio Malhados, a principal dificuldade é a
fiação elétrica disponível nas residências, que está em condições precárias,
reduzindo substancialmente a qualidade do serviço. “É o mesmo que andar em uma
Ferrari numa rua esburacada”, comparou. Mas os problemas não param por aí. Foram
observadas interferências no serviço com o uso de outros eletrodomésticos e
problemas de transmissão de dados na linha de baixa tensão, que pode ser
prejudicada pela simples existência de um transformador no circuito.
O professor Sidney Martini, pesquisador do tema na Universidade de São Paulo
(USP), aponta para outro problema: a segurança dos dados. “Como é uma rede
externa, a captura desses dados por terceiros é perfeitamente possível”,
sustenta. E há ainda a questão regulatória, que impede a captura de boa parte da
receita desse serviço pelas elétricas. “Pela norma atual, 60% do apurado com o
serviço de internet têm de ser aplicados na modicidade tarifária da energia,
desestimulando investimentos nessa área”, dispara Marco Delgado, diretor da
Abradee (Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica).
Gargalo
Para o presidente da Aptel (Associação Brasileira de Empresas Proprietárias de
Infraestrutura e de Sistemas Privados de Telecomunicações), Pedro Jatobá, todas
essas questões podem ser superadas. O gargalo no uso do PLC está na norma
editada posteriormente pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), que
impede o uso concomitante do serviço de transmissão de dados para o público e
para consumo interno. Ou seja, ela não pode usar o sistema de telecomunicações
para automação da sua rede.
“Essa regulamentação surpreendente acabou matando a possibilidade do uso da
tecnologia na banda larga e ainda exterminou a indústria de componentes para o
sistema, que existia há quatro anos aqui”, ressalta Jatobá. Ele lembra que o
Brasil é o único país na América Latina que tem a tecnologia regulamentada e
homologada e não usa.
Após estudo realizado pela Aptel, junto com a Abradee, e atendendo a chamamento
público da própria Aneel, a agência dá sinais de que pode rever essa norma. “Mas
já se passaram três anos e nada foi feito”, lamenta Jatobá.
Bom para a rede elétrica
Apesar dos entraves no fornecimento de banda larga ponta a ponta, as elétricas
têm investido na modernização de suas redes, transformando-as em verdadeiros
backbones. A Copel, por exemplo, tem rede cobrindo todo o estado do Paraná, por
meio de cabos OPGW (para-raios com fibras ópticas), que aluga para empresas de
telecomunicações. Novamente, a questão regulatória funciona como ponto de
desequilíbrio. A receita obtida com o compartilhamento da rede é praticamente
repassada na totalidade para a modicidade tarifária. “Apenas 10% desses ganhos
podem ser capturados pelas empresas”, diz Delgado.
Mas as empresas continuam investindo em redes OPGW porque são necessárias para a
smart grid, redes inteligentes de baixa tensão que começam a se proliferar no
país como forma de renovação do sistema elétrico. “A principal característica
dessa nova rede é a interoperabilidade, que permite a gestão completa de todos
os serviços prestados pelas elétricas, desde desligamento, religamento, controle
de consumo até a entrada, na rede, da energia acumulada por pessoas que façam
captação solar ou eólica, ou, ainda, o abastecimento de carros elétricos,
dependendo do grau de automação alcançado”, disse Marco Delgado.
O diretor da Abradee informa que essas facilidades já são realidade nas redes de
alta tensão e revolucionam a prestação do serviço. Com a smart grid, a automação
irá atingir quase 70 milhões de domicílios que têm ligações elétricas no país e
demandará investimentos da ordem de R$ 50 bilhões a R$ 100 bilhões – a depender
do grau de sofisticação da automação que se quer alcançar – nos próximos 15
anos.