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Leia na Fonte: Tele Síntese
[10/12 12]
Banda larga na rede elétrica não deslancha
Há problemas regulatórios e tecnológicos
A utilização da rede elétrica na universalização da banda larga, como quer o
governo, não é uma tarefa fácil, pelo menos não na urgência que se pretende. As
tecnologias existentes e regulamentadas, como o PLC (Power Line Communication),
por exemplo, têm fracassado nesse sentido. É o que prova o teste realizado pela
Copel (Companhia Paranaense de Energia) por cerca de um ano no município de
Santo Antonio da Platina, de levar a banda larga aos domicílios da cidade. A
conclusão da empresa é de que o sistema não se aplica imediatamente no Brasil,
diante das soluções de conexões existentes no mercado.
Segundo assessor da companhia, Júlio Malhados, a principal dificuldade é a
fiação elétrica disponível nas residências, que está em condições precárias,
reduzindo substancialmente a qualidade do serviço. “É o mesmo que andar em uma
Ferrari numa rua esburacada”, comparou. Mas os problemas não param por ai. Foram
observadas interferências no serviço com o uso de outros eletrodomésticos e
problemas de transmissão de dados na linha de baixa tensão, que pode ser
prejudicada pela simples existência de um transformador no circuito.
O professor Sidney Martini, pesquisador do tema na USP, aponta para outro
problema: a segurança dos dados. “Como é uma rede externa, a captura desses
dados por terceiros é perfeitamente possível”, sustenta. E há ainda a questão
regulatória, que impede a captura de boa parte da receita desse serviço pelas
elétricas. “Pela norma atual, 60% do apurado com o serviço de internet têm que
ser aplicados na modicidade tarifária da energia, desestimulando investimentos
nessa área”, dispara Marco Delgado, diretor da Abradee (Associação Brasileira de
Distribuidores de Energia Elétrica).
Para o presidente da Aptel (Associação Brasileira de Empresas Proprietárias de
Infraestrutura e de Sistemas Privados de Telecomunicações), Pedro Jatobá, todas
essas questões podem ser superadas. O gargalo no uso do PLC está na norma
editada posteriormente pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), que
impede o uso concomitante do serviço de transmissão de dados para o público e
para consumo interno. Ou seja, ela não pode usar o sistema de telecomunicações
para automação da sua rede.
“Essa regulamentação surpreendente acabou matando a possibilidade do uso da
tecnologia na banda larga e ainda exterminou a indústria de componentes para o
sistema, que existia há quatro anos aqui”, ressalta Jatobá. Ele lembra que o
Brasil é o único país na América Latina que tem a tecnologia regulamentada e
homologada e não usa.
Após estudo realizado pela Aptel, junto com a Abradee, e atendendo a chamamento
público da própria Aneel, a agência mostra sinais de que pode rever essa norma.
“Mas já se passaram três anos e nada foi feito”, lamenta Jatobá.
Apesar dos entraves no fornecimento de banda larga ponta a ponta, as elétricas
têm investido na modernização de suas redes, transformando-as em verdadeiros
backbones. A Copel, por exemplo, possui rede cobrindo todo o estado do Paraná,
por meio de cabos OPGW (para-raios com fibras ópticas), que ela aluga para
empresas de telecomunicações. Novamente, a questão regulatória funciona como
ponto de desequilíbrio. A receita obtida com o compartilhamento da rede é
praticamente repassada na totalidade para a modicidade tarifária. “Apenas 10%
desses ganhos podem ser capturados pelas empresas”, diz Delgado.
Mas as empresas continuam investindo em redes OPGW porque são necessárias para a
smart grid, redes inteligentes de baixa tensão que começam a se proliferar no
país como forma de renovação do sistema elétrico. “A principal característica
dessa nova rede é a interoperabilidade, que permite a gestão completa de todos
os serviços prestados pelas elétricas, desde desligamento, religamento, controle
de consumo até a entrada, na rede, da energia acumulada por pessoas que façam
captação solar ou eólica, ou, ainda, o abastecimento de carros elétricos,
dependendo do grau de automação alcançado”, disse Marco Delgado.
O diretor da Abradee informa que essas facilidades já são realidade nas redes de
alta tensão e revolucionam a prestação do serviço. Com a smart grid, a automação
irá atingir a quase 70 milhões de domicílios que possuem ligações elétricas no
país e demandará investimentos da ordem de R$ 50 bilhões a R$ 100 bilhões - a
depender do grau de sofisticação da automação que se quer alcançar- nos próximos
15 anos. (Publicado no Tele.Síntese Análise 369).