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Leia na Fonte: e-Thesis
[08/10/10]
Anatel propõe cortes na MTR de 15% entre 2011 e 2012 - por Barclays Capital
As propostas da Anatel que constam da consulta pública para regulamentação dos
critérios de reajuste das tarifas das chamadas do Serviço Telefônico Fixo
Comutado (STFC) envolvendo acessos do Serviço Móvel Pessoal ou Serviço Móvel
Especializado foi avaliada hoje por Michel Morin, CFA do Barclays Capital. Por
exemplo, segundo ele, a redução das tarifas para o usuário final implicaria em
modestos 3%, o equivaleria a uma desvantagem de 1% sobre as atuais projeções de
EBITDA de Vivo e TIM, respectivamente.
"Assumindo que a regulamentação proposta seja aprovada, parece provável que ela
se torne efetiva a 1° de janeiro de 2011, o que está de acordo com nossa
projeção de que o modelo atual de cortes seja de 15% entre 1° de julho de 2011 e
de 2012. Nos próximos seis meses, o corte na cobrança de tarifas entre telefones
fixos e móveis implicaria, em seis meses, numa desvantagem para nossas projeções
de EBITDA de cerca de 3% para Vivo (VIV, 3-UW) e 1% para a TIM (TSU, 1-SP).
Assumimos a elasticidade de cerca de 0,8 em um ano", afirma Morin.
A análise do Barclays, divulgada hoje, aponta para o fato de o anúncio de
abertura da consulta pública, que está em vigor durante os próximos 30 dias,
tenha sido feito antes do esperado. Isto, provavelmente, reflete a substituição
próxima de alguns dos executivos da Anatel. O próprio presidente da agência
reguladora, Ronaldo Sardenberg, verá o prazo de cinco anos para seu cargo
expirar a 5 de novembro de 2011, a mesma data em que expira o prazo de atuação
do comissário Antônio Domingos Teixeira Bedran. Isto significa que duas vagas
serão abertas no Conselho Diretor da Anatel, formado por cinco membros no total.
O modelo baseado no custo e na revisão da MTR (taxa de terminação móvel) pode
estar pronto no primeiro semestre de 2011. A Anatel, inclusive, já iniciou o
processo de contratação de consultores para desenvolver e implantar um modelo
baseado no custo para determinar em longo prazo a redução da MTR. As propostas
técnicas das empresas de consultoria devem ser entregues a 6 de dezembro
próximo. Baseados em nossas conversas anteriores com consultores que já
desenvolveram esse tipo de modelos para outros países, o prazo médio de
conclusão é de três a quatro meses após o início do projeto.
Devido ao processo de regulamentação, a Anatel pode estar pronta para apresentar
uma nova proposta de MTR no segundo trimestre de 2011, salvo eventuais atrasos
causados pela substituição das vagas no conselho da Anatel. Isto é consistente
com a linguagem no anúncio feito hoje pela agência, que parece sugerir que os
cortes anunciados sejam uma medida paliativa, até que o novo modelo baseado no
custo esteja pronto.
Os cortes na MTR continuam a ser um risco para empresas brasileiras de
telecomunicações, em nossa opinião. Atualmente em cerca de R$ 0,43 (US$ 0,25)
por minuto, as taxas de terminação de celulares no Brasil (TTM) se destacam em
relação à maioria dos outros países, onde a tendência, de âmbito mundial, é de
as taxas diminuírem a níveis inferiores a US$ 0,03. Devido à pesada carga
tributária, à rigorosa cobertura das redes e às exigências de qualidade, nós
admitimos a necessidade de uma TTM acima da média no Brasil. Mas ao estar em
quase 10 vezes superior aos níveis de seus pares globais, suspeitamos que um
modelo baseado nos custos levará a uma redução significativa da TTM.
A Vivo continua a ser a mais exposta a um eventual corte da MTR, a nosso ver.
Estimamos que os lucros líquidos de terminação móvel tenham sido equivalentes a
63% do EBITDA da Vivo no 2 º trimestre, bem acima dos 28% da TIM. Esperamos que
a elasticidade seja inicialmente inferior a 1x, resultando em receitas e
pressões sobre as margens da parte de todos os operadores móveis, com um impacto
um pouco mais grave de curto prazo na FCF e ROCE dado o previsível aumento do
capex necessário para lidar com maior tráfego de voz no futuro.
Apesar de a experiência mexicana sugerir que a elasticidade tem impacto superior
ao impacto sobre a rentabilidade, podendo ser ignorada ou até mesmo positiva, é
importante considerar que o uso no México também cresceu a partir de uma
duplicação da taxa de penetração nos últimos cinco anos, o que, por sua vez,
produz naturalmente maior incidência de tráfego móvel-móvel. Constatamos também
que a elasticidade foi de apenas 0,4 em 2005, quando o México começou a seu
processo de redução da MTR.
Uma TTM baixa é fator positivo para a Nextel, GVT e NET Serviços, a nosso ver, e
menos positivo para as operadoras de linha fixa Tele Norte Leste (Oi), Brasil
Telecom e Telesp. Devido à sua posição de mercado relativamente pequena (7% dos
brasileiros trazem receitas dos serviços móveis) e perfil de cliente, no Brasil
há quatro vezes mais tráfego de saída do que entrada, e as despesas líquidas de
MTR, assim, representam cerca de 20% das receitas de telecom do país. Para as
operadoras de telefonia fixa, as tarifas mais baixas levarão à redução imediata
da receita e dos custos, mas uma MTR menor deve também acelerar a substituição
fixo-móvel, impactando negativamente seus resultados ao longo do tempo.
Para a Telesp, estimamos que os custos da MTR líquida equivalham a
aproximadamente 4% da receita e 10% do EBITDA, de modo que um corte de 15%
poderia aumentar o EBITDA em 2011 em 1,5%, excluindo os efeitos de substituição
de tráfego. No seu conjunto (os segmentos fixo e móvel dos ativos brasileiros da
Telefônica), as MTRs devem gerar lucros líquidos equivalentes a 9% do EBITDA,
depois de eliminar as vendas entre empresas e ajustar os impostos.
Veja abaixo, o comunicado de imprensa da Anatel:
"O Conselho Diretor da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) decidiu
hoje na sua 582ª Reunião submeter à Consulta Pública proposta de Regulamento
sobre os Critérios de Reajuste das Tarifas das Chamadas do Serviço Telefônico
Fixo Comutado envolvendo acessos do Serviço Móvel Pessoal ou Serviço Móvel
Especializado.
O novo regulamento estabelece regras para o reajuste das tarifas das chamadas
fixo-móvel (VC), a ocorrer a cada intervalo não inferior a 12 meses, mediante
aplicação de fórmula específica. A proposta prevê, dentre outras disposições,
que até a determinação do valor de referência de VU-M com base no modelo de
custos, seja aplicado fator de transferência igual a 10% em 2011 e 10% em 2012.
Com essa proposta, o valor ao consumidor das chamadas fixo-móvel, sejam locais
ou interurbanas, sofrerá redução em seus valores nesses percentuais. A medida
afeta também os valores dos demais tipos de chamadas que envolvam pagamento de
VU-M.
O valor de VU-M, que consiste no valor de remuneração pelo uso de redes devido
entre prestadoras, continua sendo livremente pactuado entre tais empresas,
conforme previsto no Regulamento de Remuneração pelo uso de Redes de Prestadoras
do SMP, aprovado pela Resolução n.º 438, de 10 de julho de 2006.
Na hipótese de conflito envolvendo a pactuação de VU-M, a Anatel fixará
cautelarmente esse valor, utilizando como referência a redução no VU-M igual a
85% do valor nominal da redução do VC nas chamadas locais, sem prejuízo da
posterior avaliação do mérito da questão.
A proposta reafirma disposição já prevista na regulamentação vigente de que,
quando da alteração do VU-M, a redução de seu valor real, se houver, deve ser
integralmente deduzida do preço de público nas chamadas em que for aplicável.
O prazo para recebimento de contribuições à proposta em Consulta Pública será de
30 dias, devendo ser realizada também uma Audiência Pública em data e local a
serem definidos pela Agência".