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Leia na Fonte: Convergência Digital
[08/08/12]
Deputados apresentam pedido de CPI sobre telefonia - por Luís Osvaldo
Grossmann
Há anos colocada como necessária para investigar diferentes problemas nas
telecomunicações, mas até então sem sucesso, uma Comissão Parlamentar de
Inquérito foi formalmente pedida nesta quarta-feira, 8/8, à mesa diretora da
Câmara dos Deputados.
O pedido de CPI angariou 246 assinaturas – bem acima das necessárias 171 – e foi
articulado por três deputados do Rio Grande do Sul: Ronaldo Nogueira (PTB),
Jerônimo Gorgen (PP) e Nelson Marchezan Junior (PSDB), que agora trabalham para
que o pedido avance na fila de requerimentos apresentados à Câmara.
O momento ajudou. Desde que as teles foram proibidas de vender novas linhas em
Porto Alegre-RS, em meados de julho, até posterior decisão semelhante da Anatel
em âmbito nacional e, finalmente, a denúncia contra supostas fraudes da TIM,
sobraram deputados para apoiar o pedido.
O principal foco das investigações é o uso, considerado abusivo, das tarifas de
interconexão. “É um tentativa de identificar quanto a sociedade perdeu, uma vez
que não temos dúvida de que ao longo dos anos foi cobrado mais do que o
necessário para a prestação do serviço”, resume Goergen.
Ele mesmo é autor de três projetos de lei no campo das telecomunicações: um
deles obriga as empesas a não venderem novas linhas se não houver condições
técnicas, outro elimina o prazo de validade de cartões pré-pagos e o terceiro
retira dos municípios a competência sobre a instalação de antenas.
“Foi um trabalho conjunto importante. Já tinha apresentado os três projetos,
Nogueira sugeriu a CPI e Marchezan articulou com o Ministério Público. Ao invés
de querermos disputar politicamente, resolvemos nos unir”, revela o deputado
gaúcho.
Com o pedido de CPI formalizado, ainda resta viabilizar a instalação da Comissão
Parlamentar. O regimento da Câmara permite até cinco CPIs simultâneas – e há
duas em funcionamento. Mas a fila de requerimentos é grande. “Tem outras na
ordem, mas se o presidente Marco Maia concordar, pode instalar imediatamente.
Entendemos que é uma questão de interesse nacional”, diz Goergen.
Cientes das pressões – o Ministério das Comunicações já se manifestou ser contra
a CPI – o grupo atua em outras frentes. Uma delas junto ao Tribunal de Contas da
União. “Falamos hoje com o Augusto Nardes e ele garantiu que o TCU também vai
abrir uma investigação sobre a telefonia”, adianta o parlamentar, referindo-se o
ministro do tribunal, por sinal também gaúcho.
Outra frente está em um pedido para que a Câmara institua uma comissão externa
para acompanhamento das medidas determinadas pela Anatel para permitir que TIM,
Claro e Oi pudessem voltar a vender linhas novas de voz e dados.
Nesta mesma quarta-feira, porém, o ministro Paulo Bernardo declarou que a
investigação, como proposta nos objetivos da Comissão Parlamentar, é “um
desperdício”. “Não é viável uma CPI porque o assunto que querem discutir deve
ser tratado em regulamentação”, afirmou.
É que o presidente da Anatel, João Rezende, garante que o assunto já está sendo
tratado. “Estamos buscando novas reduções na tarifa e tratando do que vemos como
‘clubes exclusivos’ de ligações na própria rede de cada empresa. Entendemos que
esses ‘clubes’ são ofensores da qualidade, porque pressionam demais as redes, e
devem acabar”, afirmou Rezende.
Tais “clubes exclusivos” se devem ao incentivo que a tarifa de interconexão
propicia a planos de serviço com benefícios para chamadas feitas para números de
uma mesma operadora. E, ao priorizar as ligações intrarrede, consequentemente
serve de desincentivo à qualidade geral do sistema.
Grande vilã
O requerimento de CPI sustenta que a tarifa de interconexão “é a grande vilã que
torna tão caro falar ao celular no Brasil”. O deputado Ronaldo Nogueira
argumenta que a Lei Geral de Telecomunicações prevê, em seu artigo 152, que a
interconexão deve ter “preços isonômicos e justos, atendendo ao estritamente
necessário à prestação do serviço”.
Mas com um dos valores mais altos do mundo para essa tarifa – cerca de U$ 0,24,
contra US$ 0,01 na Índia, US$ 0,03 na Indonésia, China e mesmo na Europa – esse
componente se tornou fator fundamental na receita das empresas. De fato, segundo
a Anatel, a tarifa de interconexão representa entre 35% e 54% da receita
operacional líquida das quatro principais operadoras.
Para Nogueira, “o Poder Legislativo não pode ficar inerte aguardando que a
Anatel exerça de forma efetiva suas prerrogativas legais enquanto todos os
usuários dos serviços de telefonia móvel no Brasil são obrigados a conviver com
uma das mais altas tarifas do mundo”.
O pedido de CPI também se baseia em um processo administrativo instaurado em
2010 pela então Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça – agora
parte do novo Cade. Para a SDE, as operadoras Vivo, TIM e Claro “cometeram
infração contra ordem econômica, uma vez restou comprovada a prática eliminação
da concorrência no setor de telecomunicações por meio das cobranças de tarifas
abusivas de interconexão”.
O presidente da Anatel, no entanto, reiterou durante audiência no Senado, nesta
quarta-feira, que novas medidas sobre essa questão devem ser adotadas pela
agência.
Veja na CDTV.