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Leia na Fonte: Tele.Síntese
[21/08/12]
Anatel vai mexer de novo na interconexão do celular - por Miriam Aquino
(foto)
Jornalista
há mais de 25 anos, é diretora da Momento Editorial e responsável pela sucursal
de Brasília. Especializou-se nas áreas de telecomunicações e de Tecnologia da
Informação, e tem ampla experiência no acompanhamento de políticas públicas e
dos assuntos regulatórios.
O Plano Geral de Metas de Competição (PGMC) poderia ter o mesmo nome ao de uma
antiga CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito), que se propunha a investigar
todas as mazelas da sociedade brasileira. E a CPI do “fim do mundo”, criada em
2006 para se contrapor ao mensalão, acabou derrubando um ministro da Fazenda.
O PGMC, aparentemente, não pretende derrubar ninguém, mas se propõe a corrigir
distorções históricas do mercado de telecomunicações, e acabar com todos os
males do setor. Para isto, irá rever temas que haviam sofrido intervenção da
Anatel há pouco mais de seis meses: o PGMC vai mesmo promover uma nova mudança
na tarifa de interconexão da rede móvel.
O mais interessante neste mais recente movimento da Anatel é que a ameaça de um
deputado, dono de uma empresa de telecomunicações inadimplente, é muito mais
efetiva do que todas as reclamações ou recursos apresentados à Anatel nos
últimos 12 anos contra as distorções dessa taxa de terminação.
A ameaça de abertura de uma CPI pelo deputado Sabino Castelo Branco (PTB/AM),
ecoou no governo, que mandou a Anatel mudar as regras da interconexão móvel.
Castelo Branco representa a operadora de STFC Hoje Sistema de Informática, mais
conhecida como Hoje Telecom, que teve as suas atividades suspensas pela Anatel
porque não repassou os valores das tarifas de interconexão (VU-M) para as
operadoras celulares.
Depois de ter as atividades de sua empresa paralisadas pela Anatel (que também
preferiu prorrogar por 120 dias o prazo para que pagasse a dívida com as
operadoras de celular, o que não ocorreu), o deputado resolveu bater firme
contra o fato de as chamadas on net das celulares serem muito menores do que as
ligações fixo/móvel, argumento que usou em seus recursos para não pagar o que
devia de VU-M. A empresa, segundo a revista Veja, deve R$ 60 milhões às
celulares por VU-M não paga.
O mais difícil é entender porque ameaça de uma remota CPI feita por um único
deputado pode ter tanto impacto em uma agência que regula um setor que gerou, no
ano passado, cerca de R$ 180 bilhões. “Ora, este deputado não fala por si, só,
mas por um partido (o PTB) que tanto trabalho já deu para a República”, assinala
um atento observador.
O entendimento de que a Anatel vai mexer de novo interconexão por conta da
pressão política, obviamente é rebatida por seus representantes e pelo governo.
Técnicos da agência, conselheiros e dirigentes do Ministério das Comunicações
insistem em tentar explicar que as mudanças promovidas em fevereiro, quando foi
reduzida a VC (tarifa de público), para atingir também a VU-M (tarifa de
interconexão da rede móvel) não tem nenhum vínculo com a redução que se pretende
fazer agora.
Naquela época, a redução se deu nas ligações fixo/móvel. Agora, será apenas nas
ligações móvel/móvel. Argumento pouco convincente - e errado - para aqueles que
convivem com as regras setoriais e sabem que a queda da VU-M de fevereiro se deu
em todas as ligações (fixo/móvel e móvel/móvel).
Na decisão tomada em fevereiro, o conselheiro relator, Jarbas Valente, propôs
corte pequeno e gradual (de dois anos) na VU-M para que a Anatel concluísse o
estudo de custos do setor. E justificava: “ a redução do VU-M produzirá impactos
no setor que ainda não foram devidamente mapeados e que precisam ser avaliados
com cautela. Ou seja, outros efeitos combinados podem acontecer em caso de uma
redução brusca no valor do VU-M. Entre esses efeitos, cita-se a substituição do
fixo pelo móvel em função de uma estratégia de redução dos preços do SMP”. O
corte nesta tarifa aprovado então pela agência foi de 13,7% este ano e 9,4% em
2013.
Para justificar a nova medida a ser anunciada pela Anatel no PGMC, argumentos
mais consistentes começam a ser construídos: entre eles, o de que, passados seis
meses desde a decisão de fevereiro, constatou-se que as medidas não surtiram
efeito, e por isto, o PGMC vai, agora, tratar melhor do tema. Nunca se viu uma
agência reguladora tão ciosa dos efeitos de sua decisão em tão pouco tempo!
Embora a consulta pública do PGMC tenha sido lançada há mais de um ano (em julho
de 2011), e a proposta técnica final esteja pronta para os demais mercados
relevantes, o item que trata do mercado relevante da interconexão da rede móvel
vai sob forma de sugestão da área técnica para o conselho diretor, visto que o
tema entrou de afogadilho na pauta regulatória e vai caber aos cinco
conselheiros resolver o impasse.
Propostas mirabolantes estão na mesa. Para reduzir a VU-M sem mexer na tarifa de
público da rede fixa (única forma que a Anatel vislumbrava em fevereiro deste
ano), a criatividade tem sido grande. O argumento final é de que se quer acabar
com “os clubes exclusivos das tarifas on-net”, o que, sem dúvida, é mesmo
salutar. O problema é que para mexer nesta questão de maneira tão atabalhoada, o
castelo de cartas pode desmoronar.
Bill and Keep
Há aqueles que defendem manter a tarifa do jeito que está e mexer na forma de
remuneração. Hoje a rede móvel é remunerada pelo full billing (todos pagam
integralmente a taxa de terminação). A proposta inicial, de implementação do
bill and keep (todos bilhetam a taxa de terminação, mas não repassam para
ninguém) pleno perde força devido aos grandes riscos que pode trazer para uma
base de mais de 200 milhões de celulares.
Fala-se de bill na keep parcial (nos moldes da até pouco tempo rede fixa, que só
remunerava o excedente das ligações) . Estuda-se ainda implementar o bill and
keep entre as empresas com PMS (poder de mercado significativo) e não PMS (as
pequenas operadoras, do tipo Hoje Telecom, por exemplo?). Ou, em outras
palavras, somente as pequenas não pagariam para as grandes as taxas de
terminação de chamada.
Há ainda defensores da redução do valor de referência desta taxa de terminação
apenas para as ligações entre as celulares. Para isso, seria necessário criar
todo um arcabouço regulatório novo, que diferenciasse esta remuneração da
remuneração da ligação fixa. Esta proposta, avaliam outros, pode trazer o efeito
perverso de esvaziar ainda mais a telefonia fixa (cuja valor da ligação
fixo/móvel continuará alta) e colocar em risco a concessão.
Outros propõem somente interferir nas chamadas on-net das redes móveis. Por esta
proposta, as empresas, que não teriam como justificar que pagam para si próprias
tarifas de rede bem menores às que cobram de suas concorrentes, teriam que
aumentar o preço final de seus clientes on-net ou reduzir os custos dos
concorrentes. Esta é, de todas, a mais absurda proposta, pois pode resultar em
aumento de preço para o usuário final, e não redução de custos. O que ninguém
ainda comentou é qual será o impacto desta medida no valor das empresas, quase
todas de capital aberto.