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Leia na Fonte: Band
[21/10/14]
Preparem o bolso - por Mariana Mazza
Hoje veio à tona um projeto das operadoras de telefonia móvel que deixou
milhares de clientes de cabelo em pé. Segundo matéria publicada pelo jornal O
Globo, a operadora Vivo pretende alterar unilateralmente os contratos de banda
larga assinados com seus clientes para acabar com o gatilho da "velocidade
reduzida" após o consumo da franquia de dados contratada. De acordo com a
reportagem, o novo modelo exigirá que os clientes contratem um novo plano no
meio do mês caso consumam toda a franquia original e queiram continuar navegando
na Internet por meio de seus smartphones. As demais operadoras teriam admitido
que estudam adotar a mesma tática em breve.
Desde 2011, estimuladas por um acordo firmado com o Ministério das Comunicações,
as empresas de telefonia móvel alteraram a forma com que vendem banda larga a
seus clientes. Antes do acordo era praxe no setor a oferta de planos de dados
baseados na velocidade de conexão. Contratávamos 1 mbps, por exemplo, e
navegávamos pela Internet sem limite de acesso. O teto era a velocidade
contratada. O custo pago influenciava a qualidade da navegação - com maior ou
menos velocidade - mas não o acesso aos conteúdos.
Após o acordo, as teles passaram a vender uma franquia de dados, tal qual ocorre
com o serviço de voz. Passamos a contratar uma quantidade específica de bytes de
acesso e não mais a velocidade para este acesso. Nesses novos contratos - que
também foram alterados à revelia do interesse dos consumidores, diga-se de
passagem - há uma velocidade mínima pré-estabelecida, mas o que conta mesmo é o
"consumo" da tal franquia. Se o consumidor apenas usa seu pacote de dados para
aplicativos de mensagem, por exemplo, é possível ficar dentro da franquia. Quem
navega mais, usando redes sociais ou pesquisas na Internet, pode ver o limite do
pacote atingido em poucos dias. E quando esse limite é atingido, o novo contrato
prevê a queda da velocidade para um padrão mínimo.
E mínimo é mínimo mesmo. No caso da Vivo, por exemplo, a velocidade pode ser
reduzida para 25 kbps em alguns pacotes, o que praticamente significa
desconectar o consumidor. Para os leigos dou um parâmetro: a velocidade mínima
para o tráfego de voz - quando você faz uma ligação comum - é de 64 kbps. Ou
seja, nem voz passa pelo piso estabelecido pela companhia. Agora, nem essa
velocidade risível será mantida.
Tenho certeza que muitos dos que leem essa coluna já experimentaram na prática
essa queda de velocidade. Ou, ao menos, já receberam um aviso de suas operadoras
de que o limite de dados foi atingido e, para manter a velocidade de conexão, a
empresa sugere a contratação de um plano maior. O problema desse jogo, que foi
muito criticado na época do acerto entre teles e governo, é a dificuldade que o
cliente tem de acompanhar o consumo de uma franquia de dados.
Ao contrário dos pacotes de voz medidos em minutos, onde o consumidor percebe
claramente que uma ligação mais longa pode gerar um custo a mais por estourar o
limite de consumo, quando falamos de bytes é praticamente impossível saber
quanto o acesso a um determinado site está consumindo do pacote. As empresas se
defendem colocando à disposição dos clientes sistemas de acompanhamento do
consumo da franquia. Mas, além do absurdo de forçar o cliente a acompanhar
cotidianamente seu consumo, como saber qual comportamento está gerando o rápido
gasto da franquia? No fim, sobra apenas duas alternativas para o cliente refém:
saltar para um plano mais alto ou segurar as pontas até o mês acabar e a
franquia ser zerada.
Até o momento, tem sido possível para o consumidor esperar pelo próximo mês
porque, mesmo com a velocidade reduzida, serviços populares como Whatsapp, ainda
continuam operacionais. A nova tática acaba com essa "farra". Ao desconectar a
Internet dos clientes que atingiram o teto de seus pacotes, as operadoras estão
forçando todos a gastar mais. As empresas alegam que o novo sistema é positivo
porque retira do cliente o "incômodo" de ter a velocidade reduzida. Incômodo
este que é substituído pelo incômodo de não ter conexão alguma, a não ser que o
cliente pague mais. Não sei não, mas me parece um presente de grego.
No tal acordo selado em 2011 com o Ministério das Comunicações havia a previsão
de garantia de uma velocidade mínima em caso de consumo total da franquia. Esse
dispositivo foi inserido exatamente para tentar conter a onda de críticas contra
o abandono do modelo baseado na velocidade de conexão com acesso ilimitado aos
dados. Na época, o que todos os críticos apontavam era a facilidade com que as
companhias desconectariam seus clientes tão logo eles atingissem o limite do
pacote. Reduzir a velocidade para 25 kbps, volto a dizer, não deixa de ser uma
forma de desconectar sutilmente o consumidor. Mas, para o Ministério das
Comunicações há nada de errado em estrangular a velocidade do cliente. Manter
uma velocidade mínima porém decente era considerado um "privilégio" inadequado
pelas autoridades públicas. Uma injustiça com quem era capaz de pagar mais caro
por um pacote melhor.
O anúncio de hoje é a comprovação de que estes temores tinham razão de ser. O
óbvio interesse das teles em criar um sistema onde o cliente não tem controle
algum de seu consumo apenas para cobrar mais caro pelo serviço agora chega a sua
completa materialização. E, por ora, nenhuma palavra foi dita pelas autoridades
públicas sobre o assunto. Sendo assim, melhor preparar o bolso... ou se
acostumar a ficar parte do mês sem Internet no celular.