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Leia na Fonte: Manual do Usuário
[04/03/16]
Quantos gigabytes uma pessoa gasta, por mês, numa conexão de banda larga fixa
- por Rodrigo Ghedin
Prefira ler na Fonte e ver gráficos e figuras omitidos
nesta transcrição!
Puxadas pela Vivo, operadoras que vendem conexão fixa à Internet de banda larga
começaram a se movimentar no sentido de instituir ou fazer valerem as franquias
de dados previstas em contrato. A exemplo do que já acontece com a Internet
móvel, se isso for para frente em breve será preciso ficar de olho no consumo da
sua conexão residencial sob pena de, extrapolando o limite contratual, ser
desconectado ou ter a velocidade severamente reduzida.
Para o consumidor, é um claro retrocesso. Mais que isso, é uma dificuldade extra
ter que mensurar esse tipo de consumo e fazer contorcionismos para não passar da
cota estabelecida. Ao contrário da conexão móvel, geralmente restrita ao
smartphone ou, se muito, a ele e mais um ou outro dispositivo (tablet, notebook),
a Internet via conexão fixa alimenta uma multiplicidade de dispositivos que, se
hoje já pode ser grande, com a Internet das Coisas despontando tende a se tornar
enorme. Assim como hoje é impossível contar quantos produtos equipados com um
chip temos em casa, num futuro bem próximo não saberemos dizer, de pronto,
quantos estarão conectados.
O pior é que a Anatel, que deveria fiscalizar e coibir tentativas de degradar a
qualidade dos serviços oferecidos pelas telecom, afirmou em nota que a imposição
de limites à banda larga fixa é “benéfica” ao consumidor. Segundo Carlos
Baigorri, superintendente de competição da Anatel, “não existe um único
consumidor, então para quem está abaixo da média, consome menos, o limite é
melhor. E pior para quem consome muito”.
A justificativa é fraca porque esbarra em conceitos vagos. “Muito”, “pouco”, o
que isso significa em termos de banda larga? E, ainda que esses termos
subjetivos sejam convertidos em números exatos, invariavelmente será pior do que
“não ter limite”. Hoje, mesmo com a NET e a Oi tendo a previsão de franquia em
contrato, são raríssimos os casos de aplicação a quem ultrapassa esses limites.
Além de termos mais dispositivos conectados à rede, o próprio uso que se faz
dela depende cada vez mais de dados. Streaming de alta qualidade, jogos pesados,
colaboração em tempo real por vídeo… tudo isso pede mais e mais dados. Hoje a
única chateação de baixar um jogo no Steam, por exemplo, é a demora no download,
fruto do único critério de diferenciação nos preços praticados pelas operadoras,
a velocidade do acesso. Paga-se mais para ter uma conexão mais rápida.
Nos novos planos da Vivo a franquia varia de acordo com o plano contratado, ou
seja, velocidade e limite de tráfego andam juntos. As franquias variam de 10 GB
por mês, o que é patético, porém adequado à igualmente ruim velocidade de 200
Kb/s — o que, na real, nem deveria ser englobada no conceito de “banda larga” –,
a 130 GB, que podem ser baixados a 25 Mb/s. (Fazendo download na velocidade
máxima, atingiria-se o limite em curtíssimas 11 horas, 49 minutos e 58
segundos.)
Sem pensar muito, sem recorrer a cálculos, já dá para sacar que esses limites
são baixos. Mas eu queria saber o quão baixos eles são. Então colhi alguns dados
e me submeti a uma mensuração quase manual do meu consumo de dados a fim de ter
uma resposta mais precisa. Vamos aos números?
Sopa de números
A NET diz que informa no painel do cliente, em tempo real, o consumo de dados do
mês. A Vivo garante que uma ferramenta similar será disponibilizada aos clientes
quando o limite de franquia entrar em vigor, algo previsto para o início de
2017.
De outro modo, é preciso correr atrás de ferramentas que façam esse
monitoramento.
A maneira mais fácil depende do seu roteador. Alguns modelos contam com um
monitor de consumo embutido, então basta entrar na área administrativa dele para
conferir quantos gigabytes já foram baixados e enviados em determinado período.
Firmwares de terceiros como o famoso DD-WRT também oferecem o recurso, mas aqui
o problema é colocar em risco o equipamento numa operação delicada; se está tudo
funcionando bem, não há motivo para tanto.
O meu roteador não tem um monitor de tráfego e, como ele nunca me deu dor de
cabeça, não cogito trocar seu firmware pelo DD-WRT. Assim, optei por uma
ferramenta num nível superior na arquitetura da rede: a da aplicação.
Há desvantagens claras em monitorar o tráfego via apps, sendo a maior delas a
incapacidade de alcançar todo o tráfego da rede. No teste que conduzi,
restringi-me ao computador. Existem alguns aplicativos que fazem esse
monitoramento e, no caso do OS X, o sistema operacional da Apple, o Monitor de
Atividade faz isso nativamente.
Durante uma semana, antes de dormir, abri o Monitor de Atividade e anotei o
consumo do dia num bloquinho — como faziam os antigos. Ficou assim:
24/2: DOWN, 1,95 GB; UP, 206 MB.
25/2: DOWN, 1,36 GB; UP, 178 MB.
26/2: DOWN, 985 MB; UP, 129 MB.
27/2: DOWN, 1,86 GB; UP, 238 MB.
28/2: DOWN, 319 MB; UP, 34 MB.
29/2: DOWN, 1,34 GB; UP, 157 MB.
1/3: DOWN, 2,25 GB; UP, 147 MB.
Somando o consumo de download e upload e, depois, tirando a média, no computador
eu gasto 1,59 GB de dados por dia. Multiplicando por 30 (dias no mês), chegamos
a 47,7 GB. Pelas ofertas da Vivo segundo a velocidade da minha conexão eu já
estaria muito perto do limite mensal — 50 GB na conexão de 4 Mb/s; a minha, da
GVT-em-breve-Vivo, é de 5 Mb/s.
Meu uso no computador é relativamente leve. Não jogo, não vejo Netflix, o que
mais faço é navegação web, e-mail e Twitter. Nem YouTube eu vejo muito; os
canais que acompanho e vídeos maiores — leia-se com mais de cinco minutos —
costumo ver na TV. Isso é importante porque, como disse ali em cima, o
computador é só parte do dia a dia.
Quanto a Netflix consome? O próprio serviço responde: até 3 GB por hora de
conteúdo em alta definição. Quase todo dia vejo alguma série ou vídeo, ali ou no
YouTube, por cerca de uma hora. Assim, podemos colocar na conta mais 3 GB
diários.
Spotify também é outro. Sendo assinante da modalidade Premium, o app me dá a
opção de fazer streaming de alta qualidade, de arquivos com taxa de bits de 320
Kb/s. Aqui a conta é simples: 320 * 60 (segundos) / 8 (conversão de bits para
bytes) = 2400 KB, ou 2,4 MB por minuto. Multiplica-se o resultado por 60 e
chegamos a 115,2 MB por hora, que é o tanto, na média, que ouço de música todo
dia.
Há outros fatores que acrescentam. Smartphone, por exemplo. Em tempos de
WhatsApp centralizando a vida digital de muita gente e servindo de central de
recebimento e distribuição de fotos e vídeos, Facebook com vídeo automático no
feed e upload de fotos e vídeos em segundo plano para a nuvem, não é uma fatia
dispensável.