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Fonte: Convergência Digital
[03/12/14]
Brasileiros propõem criar um 'Comitê Gestor' exclusivo para neutralidade -
por Suzana Liskauskas
Neutralidade de rede esteve entre os assuntos mais discutidos do ITS Rio 2014,,
realizado nesta semana, no Rio de Janeiro, com a organização da Internet
Technology Society (ITS) e da TIM Brasil. A falta de consenso sobre o tema ficou
evidenciada já na palestra de abertura do evento, “The Evolving Architecture of
the Internet”, realizada no dia 1º de dezembro e ministrada pelos professores
Christopher Yoo, da Universidade da Pennsylvania (EUA) e Joao Schwarz, da
Universidade de Luxemburgo.
Mais cético com relação à neutralidade, Christopher Yoo fez uma abordagem
alternativa, batizada como "diversidade de rede”. A tese do especialista é
focada na relação econômica. Para Yoo, é preciso mirar soluções de topologia de
rede para a redução de custos e gestão de tráfego. Por sua vez, o português João
Schwarz tem uma preocupação com o nível de confiabilidade da rede, em um
universo em que há cada vez mais conteúdo, trocado de forma mais rápida; a
privacidade dos internautas está cada vez menor e designar responsabilidades
fica cada vez mais difícil em um mundo globalizado sem regulamentações globais.
E no Brasil, o tema também mobiliza a área acadêmica. Pesquisadores da Unicamp e
do CPqD apresentaram no ITS Rio 2014 uma proposta de co-regulação envolvendo a
questão da neutralidade., que promete, se for adiante, acirrar o debate na área.
A ideia central passa pela criação de uma espécie de Comitê Gestor da Internet -
com representantes de toda a sociedade, mas voltado apenas para discutir
Neutralidade de Rede.
Marcio Wohlers, Moacir Giansante, Antônio Carlos Bordeaux-Rego e Nathalia
Foditsch apresentaram o trabalho acadêmico, com cunho pragmático, “Shedding
light on net neutrality: The Brazilian case”. Bordeaux-Rego explicou que a
neutralidade de rede tem diversos aspectos, tecnológico, negócios e legal, além
da questão da privacidade.
“Tudo isso misturado já dá um bom coquetel. Todas as discussões em torno do tema
mostram que não existe uma fórmula para estipular que a internet tem que caber
em um modelo. Por outro lado não se pode deixar um espaço tão livre para que o
mercado faça o quer”, ponderou Bordeaux-Rego. A proposta do professor Wohlers,
que é a tônica do trabalho, é um modelo de co-regulação para favorecer o debate
entre os diversos stakeholders. “Porque os casos não são iguais, e a
co-regulação traz vários elementos para essa discussão”, disse.
O economista Marcio Wohlers, que é professor do Instituto de Economia da
Unicamp, se inspirou nos trabalhos de Cristopher Marsden, que mostra a
neutralidade como algo em construção, não apenas de caráter econômico. Segundo
Marsden, a neutralidade é um conceito muito mais amplo, mas se encaixa bem no
modelo de co-regulação em que todos os envolvidos (governos, sociedade,
entidades privadas, terceiro setor) devem se unir e chegar a um consenso.
“Seria um corpo debaixo da Casa Civil, por exemplo, que andaria lado a lado com
a Anatel ou com o CGI, por exemplo. Na Austrália, isso está em prática há cerca
de 3 anos, eles montaram um código de conduta para as operadoras, um acordo
formal que elas assinaram”, contou Wohlers.
De acordo com o economista, a co-regulação é totalmente possível de ser adaptada
à regulação da lei do marco Civil. Wohlers ressalta que um dos conceitos de
Marsden é olhar as práticas dos provedores e ver em que medida elas saíram da
normalidade. “A ideia de um órgão de co-regulação seria fazer uma adaptação com
a lei”, completou o professor, que vê na co-regulação uma possível solução para
as exceções expostas na lei. "A proposta ainda não foi discutida com a Anatel
nem com autoridades públicas. "Esse é um trabalho acadêmico e pragmático",
sinalizou Wholers.