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Fonte: Veja / Ricardo Setti - Origem: O Globo
[23/03/13]
Nos balcões do governo - por Carlos Alberto Sardenberg
Para estimular o investimento privado nas redes de fibra ótica, o governo
federal vai conceder isenção de impostos (IPI e Pis/Pasep e Cofins). Para isso,
a empresa interessada só precisa cumprir algumas condições, como adquirir
equipamentos e serviços de produção nacional, em percentuais que variam conforme
o projeto.
Coisa simples, por exemplo: em projetos de telefonia 3G e 4G, as empresas terão
de gastar 50% em equipamentos, sendo 70% deles fabricados de acordo com o PPB e
20% do total de gastos com tecnologia nacional.
Não sabe o que é o PPB? Trata-se do Processo Produtivo Básico, conjunto de
normas de outros três ministérios, que definem as etapas da produção fabril.
Ainda não entendeu? Bom, simplificando: se a empresa está no PPB, isso é um
carimbo dizendo que ela fabrica coisas de verdade.
Assim, tendo um projeto que respeita todas as condições, a companhia pede ao
Ministério das Comunicações sua qualificação para o Regime Especial de
Tributação do Programa Nacional de Banda Larga – pode chamar de REPNBL.
Estando tudo ok, ainda não acabou. A empresa passa então ao balcão do Ministério
da Fazenda, que concede (ou não, é claro) a habilitação final para o REPNBL.
Tudo dando certo, o governo acredita que as teles farão investimentos de uns 16
a 18 bilhões de reais, isso até 2016. Nesse mesmo prazo, o governo deixaria de
arrecadar algo como 6 bilhões de reais.
É muito ou é pouco?
Faça as contas: só no ano passado, os brasileiros pagaram nada menos que 61
bilhões de reais na conta de telefone. Reparem: esse é só o imposto pago
diretamente pelo consumidor. Além disso, as companhias recolhem outros impostos
em suas atividades, como, por exemplo, na instalação de redes. É só aqui que as
elas terão a isenção tributária parcial do REPNBL/PPB.
Não seria mais simples, e justo, reduzir a conta do consumidor? É verdade que,
dos 61 bilhões pagos pelo usuário, 33 bilhões vão para os governos estaduais na
forma do ICMS. O governo federal pode dizer que não tem nada com isso, mas não é
assim. Se o programa é nacional, Brasília deveria liderá-lo. Além disso, tem
muito imposto federal que permanece na conta.
Também não seria mais simples uma isenção horizontal para investimentos, sem
toda aquela burocracia? Terá o Ministério das Comunicações estrutura para
avaliar seriamente e a tempo todas aquelas condições? Não é muito balcão de
passagem?
Mas o governo gosta de um bom pacote. Ainda na semana passada, lançou outro, o
Inova Empresa, que vai financiar ou dar dinheiro para projetos de inovação. São
32,9 bilhões, para dois anos. O pessoal do setor estranhou. Isso porque, em
2009, o governo federal havia lançado a Estratégia Nacional de Ciência,
Tecnologia e Inovação, para financiar investimentos de 75 bilhões em quatro
anos. Não se sabe bem quanto foi efetivamente aplicado, mas parece coisa
requentada, não parece?
A novidade nesse programa foi a criação de mais uma estatal, a Empresa
Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), para fazer o meio de
campo entre instituições públicas de pesquisa e companhias privadas. Também vai
centralizar as demandas e a distribuição dos recursos. Por isso, a nova estatal
deverá ser enxuta e ágil. Ou seja, seu comitê gestor será formado por apenas
quatro ministérios e uma secretaria.
Mais enxuto ao menos do que o conselho de seis ministros também criado
recentemente para fazer uma lista de produtos de consumo essenciais.
O governo está atacando em outra frente nesse setor das telecomunicações. Nas
licitações para a construção e operação ferrovias (10 mil km) e rodovias (7,5
mil), vai exigir que os concessionários construam redes de fibra ótica ao longo
das vias, por dutos subterrâneos.
Essas redes serão obrigatoriamente entregues à Empresa de Planejamento e
Logística (EPL), estatal que decidirá quem e como poderá utilizá-las. Outro
balcão. Nada se disse se a estatal vai pagar por isso ou se vai tudo para o
custo do construtor.
Ferrovia Norte-Sul da Valec (Foto: Valec)
A Valec andou comprando dormente a preço de trilho e ficou sem trilho para suas
obras (Foto: Valec)
Essa EPL foi criada recentemente para cuidar do trem-bala, no que, aliás, terá
outro balcão. A empresa estrangeira que trouxer a tecnologia terá que
transferi-la integralmente para a EPL. Esta depois decidirá quais companhias
brasileiras terão acesso.
Um balcão parecido aparece nas concessões de ferrovias. Outra estatal, a Valec,
vai comprar toda a oferta de carga das novas vias e depois vender para as
transportadoras. A mesma Valec que, no passado, andou comprando dormente a preço
de trilho e que, recentemente, ficou sem trilho para suas obras.
Diz o governo que está ajudando as empresas a evitar o risco de mercado. Eles
acham que os balcões do governo não têm risco.