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Leia na Fonte: Tele Viva
[18/03/13]
Projeto de Lei das Agências ganha versão mais dura, agora no Senado - por
Samuel Possebon
Está cada vez mais complicado entender o que pensa o governo em relação às
agências reguladoras. No final de fevereiro, o ex-ministro das Comunicações de
Lula e senador Eunício de Oliveira (PMDB/CE), hoje líder do PMDB e líder da
maioria no Senado, apresentou um projeto (PLS 52/2013) que altera
substancialmente a forma de trabalhar das agências federais, incluindo Anatel e
Ancine. E o mais curioso: o projeto do senador Eunício é em essência o mesmo
projeto que vinha sendo trabalhado pelo governo desde 2004 na Câmara e que na
semana passada foi retirado a pedido da Presidência da República. Nas poucas
diferenças que existem entre a proposta do senador governista e a proposta de
2004 é que a de Eunício traz dispositivos que podem ser considerados ainda mais
intervencionistas nas agências.
Recorde-se que na semana passada o governo mandou retirar o PL 3.337/04, que
tramitava na Câmara com o patrocínio do governo desde 2004. O chamado Projeto
das Agências havia sido, inclusive, objeto de endosso e reforço por parte da
mensagem presidencial encaminhada em fevereiro ao Congresso, em que a presidenta
Dilma Rousseff elencava aquelas matérias consideradas prioritárias, entre elas o
PL 3.337/2004. Na semana passada, depois de reportagem do jornal Folha de S.
Paulo destacando justamente alguns aspectos do Projeto das Agências que poderiam
ser considerados intervencionistas e, portanto, ruins para a atração de
investimentos, houve o recuo do governo, sem maiores explicações, e a retirada
do projeto.
Mas o fato de que no final de fevereiro um importante senador governista tenha
apresentado uma proposta de reforma no marco legal das agências muito alinhada
com o que vinha sendo trabalhado é, no mínimo, curioso. Afinal, o que quer o
governo em relação às agências?
MPF, OAB e consumidores nas reuniões
O projeto de Eunício de Oliveira é, em essência, o mesmo projeto original
apresentado pelo governo em 2004. Ela está livre de todas as emendas e acordos
já feitos ao longo dos nove anos de tramitação do PL 3.337/2004 e que haviam
servido para pacificar e amenizar a proposta. Em alguns aspectos, a proposta de
Eunício de Oliveira é ainda mais dura para o modelo atual de agências.
Um dos dispositivos propostos pelo senador prevê, por exemplo, que
representantes do Ministério Público Federal, OAB, Procon e Idec possam
participar, com direito a voz, das reuniões colegiadas das agências. Outra
novidade da proposta do líder do PMDB no Senado é que ela prevê que as agências
publiquem um ranking das cem empresas reguladas sobre as quais exista maior
índice de reclamação.
Além dessas inovações, o projeto de Eunício de Oliveira repete, muitas vezes de
maneira mais direta e incisiva, o que já estava previsto no projeto de 2004. Por
exemplo, há um dispositivo para que as agências custeiem o acompanhamento de
matérias em tramitação pelos órgãos de defesa do consumidor por meio da
contratação de especialistas e pagamento de despesas.
Contrato de gestão
Ainda seguindo o modelo do Projeto das Agências de 2004, a proposta do senador
Eunício exige a apresentação anual de uma prestação de contas ao Congresso por
parte das agências e a celebração dos chamados contratos de gestão, que devem
trazer metas, mecanismos, fontes de custeio e resultados das ações regulatórias
e fiscalizatórias das autarquias. Esses contratos devem ser aprovados por
conselhos de políticas ou câmaras setoriais a serem regulamentadas, tal qual já
se colocava na proposta de 2004.
Tanto as propostas de 2004, retirada pelo governo na semana passada, quanto a
proposta em tramitação do Senador Eunício de Oliveira preveem uma série de
dispositivos similares para vincular a atuação das agências reguladoras aos
órgãos de defesa da concorrência.
Outra novidade que existia no projeto 3.337/2004 e continua na pauta do PLS
52/2013 é a previsão de agências reguladoras estaduais e municipais, que devem
atuar em sintonia com a agência federal e podem ser, inclusive, custeadas pelo
orçamento federal.
Em relação aos serviços de telecomunicações, está previsto no projeto do Senador
Eunício de Oliveira, tal qual já se apresentava no projeto de 2004, que as
outorgas e expedição de normas referentes aos serviços públicos sejam de
responsabilidade da administração direta do Poder Executivo, podendo ser
delegadas à agência reguladora setorial. No caso da proposta do senador Eunício
de Oliveira, há uma novidade: ela retira a atribuição da Anatel de representar o
País junto a entidades internacionais.
A proposta de Eunício de Oliveira estabelece ainda mandato máximo de quatro anos
para os dirigentes, admitida uma única recondução.
PEC 89/2011
Além da proposta de Eunício de Oliveira, tramita no Senado ainda a Proposta de
Emenda Constitucional (PEC) 89/2011, de autoria do senador Walter Pinheiro
(PT/BA), e que prevê que os presidentes das agências compareçam, anualmente, ao
Congresso para prestar contas da atuação das agências em seus respectivos
mercados regulados. A perspectiva é que a PEC 89 seja votada esta semana no
Senado.