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Leia na Fonte: Poder 360
[05/06/19]
Lei das agências reguladoras restringe aparelhamento e voluntarismo
O Congresso Nacional deu 1 passo para melhorar o ambiente para negócios no
Brasil, com a aprovação da nova lei das agências reguladoras, em 29.mai.2019. “É
1 sinal importante para o mercado”, afirmou o ministro Tarcísio Gomes de Freitas
(Infraestrutura). “Se temos como estratégia uma transferência maciça de recursos
da iniciativa privada, isso só será possível se tivermos o fortalecimento da
regulação”.
As agências reguladoras foram criadas no Brasil a partir dos anos 1990 para
fiscalizar a prestação de serviços públicos por empresas privadas. Elas
monitoram contratos de concessão em áreas como rodovias, aviação, energia
elétrica, óleo e gás, e também atuam em setores como planos de saúde e cinema.
Uma atuação independente de pressões políticas é importante para dar
previsibilidade de regras às empresas que vão investir nesses setores.
Ao longo de duas décadas, entretanto, foi crescente o aparelhamento político de
parte das agências. A ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), por
exemplo, ficou na área de influência do PR. Seu atual diretor-geral, Mário
Rodrigues, foi denunciado pela Lava Jato paulista. Ele tem mandato até 2020.
Sob suspeita, a agência mergulhou numa fase de paralisia decisória, 1 fenômeno
conhecido como “apagão das canetas”. Receando punições, técnicos deixaram de
autorizar coisas que deveriam ser corriqueiras, como elevar tarifas de pedágio
rodoviário para compensar a realização de obras que não estavam previstas no
contrato original, mas se mostraram necessárias ao longo do tempo.
Nesta entrevista ao Poder360, o presidente da CCR Lam Vias, Ricardo Castanheira,
diz que há 1 conjunto de pedidos de reequilíbrio de contrato que somam de R$ 3
bilhões a R$ 4 bilhões na ANTT. Sem decisão na agência, muitos já foram levadas
à Justiça.
O texto aprovado no Congresso busca blindar as agências de influência política,
ingerência e corrupção. Eis os principais pontos:
- Impacto regulatório –
decisões terão como base uma análise sobre os efeitos que elas provocarão na
economia. Fica menor o risco de a agência adotar políticas voluntaristas;
- Orçamento –
a agência vai negociar seu orçamento com o Ministério da Economia, e não mais
com a pasta da área que regula, o que em tese aumenta sua autonomia;
- Compliance –
as agências terão programas de compliance;
- Políticos – não poderão ser indicados, entre outros: dirigentes partidários,
sindicalistas, pessoas inelegíveis e as que tenham participação direta ou
indireta em empresas do setor regulado.
Em seu relatório, o senador Marcio Bittar (MDB-AC) afirmou que o texto avança no
combate à corrupção e na melhora de práticas gerenciais das agências. “Sabe-se
que os últimos anos foram de instabilidade na condução das atividades de algumas
agências reguladoras federais, especialmente em razão de longos períodos de
vacância.”
A lei, ressaltou o congressista, “garante um grau bem maior de prevenção [à
corrupção e ao aparelhamento político], na medida em que estabelece critérios
para as pessoas que serão candidatas” a cargos de direção. Os indicados deverão
ter ficha limpa, notório saber e experiência comprovada.
No conjunto, o texto reflete uma postura “austera” do governo brasileiro, o que
ajuda a criar estabilidade, acredita Bittar. “As empresas [privadas] não terão
medo de concorrer com estatais, por exemplo, sabendo que as agências reguladoras
funcionarão de forma independente à coloração politico-partidária de quem quer
que seja.”