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Colunas da Mariana Mazza
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[27/09/11]
Quem é o dono?
O assunto é espinhoso. E nos últimos tempos tem feito tremer muita gente no
governo. A expressão "bens reversíveis" parece grego para quem não está
familiarizado com o mundo das telecomunicações. Mas a explicação é simples.
Quando o governo decidiu privatizar a antiga Telebrás, não foi negociado apenas
o direito a prestar o serviço de telefonia fixa. Junto com as concessões para a
oferta do serviço aos consumidores, o governo vendeu uma enorme malha de fios da
Telebrás, seus imóveis e outras propriedades necessárias para fazer o serviço de
telefonia. Esses equipamentos e imóveis são os "bens reversíveis".
O nome vem do fato de que as companhias telefônicas têm de devolver esse
patrimônio para o Estado brasileiro quando as concessões vencerem. Sim, porque
as teles que hoje prestam o serviço de telefonia fixa não têm direito vitalício
de comercializar esse serviço. Os contratos acabam em 2025, quando o governo
voltará a assumir a oferta da telefonia ou fará um novo leilão de privatização.
À primeira vista parece muito tempo. O mundo continuará como está por mais 14
anos. Mas a verdade é que o enfrentamento dessa questão já vem tarde. E muita
gente sequer tem noção do tamanho do rombo nos cofres públicos que vem sendo
arquitetado pelas empresas em conivência com o Ministério das Comunicações e com
a Anatel.
Estima-se que o patrimônio público em discussão vale, ao menos, R$ 80 bilhões.
Isso mesmo, R$ 80 bilhões, sem correção. São centenas de imóveis e equipamentos
de telefonia usados pelas teles, comprados com dinheiro do contribuinte quando a
Telebrás ainda estava ativa. O mais estarrecedor é que boa parte desse
patrimônio público foi vendido pelas empresas ao longo da última década, sem
aprovação do governo ou qualquer fiscalização.
A própria Anatel constatou o problema há dois anos, quando, enfim, iniciou o
processo de fiscalização dos bens. Relatórios tratados com sigilo pela Agência
Nacional de Telecomunicações deixam claro que não há qualquer controle do
patrimônio público e que as companhias telefônicas têm vendidos os imóveis e os
equipamentos e embolsado o lucro, Pela lei, isso é crime. Crime de lesa pátria,
crime contra o patrimônio público. Mas, ao invés de agir para recuperar o
patrimônio comprado com o dinheiro do cidadão, a Anatel resolveu colocar panos
quentes sobre o assunto.
Acordo
Desde que descobriu o problema, a agência iniciou um processo de revisão das
regras em vigor para legalizar a venda dos bens. A última cartada está sendo
lançada neste momento. Há dois meses, a Anatel ampliou os prazos para que as
teles apresentem a lista do patrimônio que deve ser devolvido a União. O prazo
foi ampliado até junho de 2013. Não bastasse a colher de chá para as empresas, a
agência estuda fazer um acordo com as teles para perdoar as vendas ilegais já
realizadas. O conselheiro João Rezende, que analisou o pedido de prorrogação de
prazo, defende a ideia de fazer um Termo de Ajustamento de Conduta com as
companhias telefônicas. O TAC, como é chamado, transformaria as multas em
investimentos. Ou seja, a venda irregular dos bens públicos seria perdoada com a
promessa de investimentos em novas redes de telefonia. A proposta de firmar um
acordo já foi aprovada pelo Conselho Diretor da Anatel, que continua escondendo
o assunto dos consumidores. A pergunta que fica é se é possível confiar em
investimentos de empresas que não tiveram o menor pudor em vender o que não era
delas, mas sim do povo brasileiro.1