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Obs: Os links originais das fontes, indicados nas transcrições, podem ter sido descontinuados ao longo do tempo
Fonte: SJSC
[Fev 2005]
Rádio
Digital: Uma outra opção não seria possível? - por Eng. Higino Germani
Já fazem algumas décadas que ouvimos falar que o futuro do Rádio AM e FM
será a digitalização. No entanto, esta espera já está por demais longa...
Os esforços concentram-se no Rádio AM e com razão : as emissoras de FM
proporcionam qualidade de áudio muito boa e tem disponíveis sub-canais que,
em sua grande maioria, ainda não foram suficientemente explorados.
Desde as primeiras pesquisas a respeito, sempre ouvimos falar em sistemas
“in band”, ou seja, ocupando o mesmo canal que as AM’s atuais. Examinemos as
características deste canal :
- largura de cada canal de apenas 10 KHz : o que podemos esperar de banda
tão estreita e ainda compartilhada com um sinal analógico ?
- faixa de OM de 535 KHz a 1705 KHz : a relação entre a freqüência mais
baixa e a mais alta é de cerca de 3 vezes, o que demonstra características
de propagação muito diferentes entre as freqüências “baixas” e as “altas”;
dependência da condutividade do solo a qual tem valores cada vez menores em
função do aumento da urbanização; propagação diurna pelo solo e noturna pelo
solo e pela ionosféra o que gera sinais interferentes a longas distâncias.
- sistemas de transmissão que exigem áreas de vários hectares próximas às
áreas urbanas, o que se torna cada vez mais difícil.
- necessidade de potências cada vez maiores para compensar a queda de
condutividade e nível de ruído elevado (característico da faixa).
- necessidade de torres irradiantes altas devido ao grande comprimento de
onda o que conflita cada vez mais com a proteção dos aeródromos.
Com estas características, perguntamos : Porque insistir em sistema “in band”
?
Os ouvintes não terão que adquirir um novo receptor para ouvir os sinais
digitais ? Como a resposta é obviamente afirmativa, cremos que boa parte das
argumentações da opção “in band” cai por terra.
Será verdadeiramente viável que, após um certo período de transição, o sinal
analógico deixará de ser transmitido, permanecendo apenas o digital ? Ou
será que, para cobrir
deficiências da cobertura digital teremos que manter no ar permanentemente
trambolhos de dezenas de quilowatts com alto consumo de energia elétrica ?
Nos vemos em situação semelhante ao advento da máquina a vapor nas
embarcações : inicialmente as instalaram em veleiros com resultados
obviamente desastrosos; ou então com o advento do motor a combustão interna
: não foi projetado um automóvel e sim instalado o motor em carruagens, no
lugar dos cavalos ...
Estaríamos agora colocando turbinas em veleiros ou em carruagens ?!
Não será possível criarmos uma Nova Radiodifusão em todos os sentidos e não
apenas inserir as técnicas digitais no Rádio existente ?
Onde reside a maior dificuldade ? Na faixa de operação desta Nova
Radiodifusão. Em que freqüências as estações exclusivamente digitais
operariam ?
Cremos que, sem querer, esta nova faixa está surgindo ao natural :
Com a criação de mais dois canais de Radio Comunitária (87,7 e 87,5 MHz)
estamos “invadindo” a banda do canal 6 de TV.
Já com o canal “oficial” de RadCom (88,7 MHz) o conflito com o canal 6 já
existia e agora se tornou maior ainda. É de se prever que o futuro nos
aponta para a extinção do canal 6 de TV.
Com isto, resulta que teremos uma maravilhosa banda de 6 MHz (de 82 a 88
MHz) e na faixa de VHF (a melhor para a radiodifusão, quer em termos de
comprimento de onda quer em
termos de características de propagação), à disposição para criarmos uma
Nova Radiodifusão.
Podem fazer idéia de quantos canais exclusivamente digitais e o que será
possível fazer nos mesmos em termos de qualidade de áudio e informações
suplementares (dados) numa banda de 6 MHz na faixa de 82 a 88 MHz ? É tudo
os que sonham com o Rádio Digital pediram ao Criador ...
Como operacionalizar isto ?
Ora, existe um Plano de Canais para TV Digital em elaboração. Certamente
está prevista uma solução para o canal 6 (no Plano de Geração de TV no
Brasil existem apenas 24 outorgas !).
Estabelecida a nova canalização de canais digitais (de 82 a 88 MHz) –
deixando obviamente uma margem para os canais de RadCom – e estabelecidas as
Normas Técnicas correspondentes, estes canais seriam objeto de “leilões”,
primeiramente para os atuais radiodifusores que desejarem operar
digitalmente e, posteriormente, para outros interessados.
Parte do valor arrecadado nestes leilões seria canalizado para indenizar os
custos de migração para outro canal dos atuais concessionários de TV que
operam no canal 6. Com um cronograma bem estabelecido, pode-se fazer com que
esta migração coincida com a implantação da TV Digital o que evitará
prejuízos às empresas que operam no canal 6.
Os radiodifusores que operarem digitalmente desativarão suas estações
analógicas quando julgarem que o mercado de receptores digitais já atingiu a
grande maioria do público. O próprio
público será beneficiado pois terá tempo de sobra para trocar de receptores
(e esgotar a vida útil dos atuais).
Quanto aos receptores, não cremos que possa haver dificuldade em seu
desenvolvimento e produção uma vez que a faixa de operação é de tecnologia
dominada e será equipamento
exclusivamente digital sem a parte analógica. Existirá tempo mais que
suficiente para o desenvolvimento deste novo receptor na área industrial
paralelamente à implantação das regras para o novo serviço de tal forma que
não venha a ocorrer novamente o desastre que foi a implantação do AM Estéreo
quando havia emissoras mas não havia receptores no mercado...
Um grande debate a respeito poderia ser levado a efeito pelo Poder
Concedente para se avaliar os prós e contras de cada opção existente para a
efetiva implantação do RÁDIO DIGITAL de forma segura, viável econômica e
empresarialmente – e não só tecnicamente – a qual venha a contemplar o
público com todos os recursos e possibilidades que a NOVA RADIODIFUSÃO nos
acena.
Fev/2005
Eng. Higino Germani