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Fonte: FNDC
[24/03/07]
Conselho Consultivo do Rádio Digital tem encontro preliminar - por Laura
Schenkel - FNDC
Representantes do governo, da sociedade civil, das universidades, e dos
radiodifusores, integrantes do Conselho Consultivo do Rádio Digital,
reuniram-se com o ministro das Comunicações Hélio Costa. Participaram do
encontro Nélia del Bianco, pesquisadora da Universidade Federal de Brasília
e José Guilherme Castro, dirigente da Associação Brasileira de Rádios
Comunitárias (Abraço), que analisam criticamente os rumos do rádio digital
no Brasil.
Convidado a participar em nome da Abraço, José Guilherme Castro, que também
é secretário-geral do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC),
reivindicou a participação de entidades de trabalhadores do setor, como a
Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), a Federação Interestadual dos
Trabalhadores em Radiodifusão e Televisão (Fitert) e Federação Interestadual
dos Trabalhadores em Telecomunicações (Fittel) nas reuniões do grupo. “É
preciso ter participação dos movimentos sociais nesse Conselho.” O ideal,
observa, seria a realização de uma Conferência Nacional de Comunicações para
debater a digitalização, entre outros temas. “Apesar do governo federal
incentivar a participação pública, isso não ocorreu na área da comunicação.”
“A pressão das grandes emissoras comerciais é pela implantação do IBOC, uma
tecnologia robusta que ocupa grande parte do espectro eletromagnético
disponível para a rádio”, afirma Nélia del Bianco, professora da
Universidade Federal de Brasília, que esteve presente no encontro. A
pesquisadora participou dos estudos do Sistema Brasileiro de Televisão
Digital (SBTVD), agora chamado de ISDTV e acompanha estudos sobre os testes
de rádio digital no Brasil.
O ministro declarou, contraditoriamente, que não tem preferência por nenhum
padrão, embora tenha declarado sua preferência pelo IBOC, após encontrar-se
com membros da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT),
no ano passado (leia matéria). Nélia reiterou que é necessário analisar as
particularidades de cada modelo em relação à qualidade de som, possibilidade
de acesso gratuito, tecnologia que possa ser convergente num futuro próximo
e cuja migração e manutenção sejam viáveis economicamente. “Cerca de 70% das
emissoras de rádio são pequenas e médias e utilizam transmissor valvular,
que não permite transmitir analógica e digitalmente ao mesmo tempo, o que só
o transmissor modular faz.” Esse último equipamento custa em torno de R$200
mil, segundo a professora.
Sem grandes novidades
Para José Guilherme Castro, o motivo político da reunião foi o temor da
maioria das rádios comerciais, associadas à Associação Brasileira de
Radiodifusores (ABRA) e ABERT, frente à operação no sistema digital
desenhado até o momento. “As rádios estão desesperadas com a falta de
investimento, envelhecimento e falta de renovação do público ouvinte. Por
outro lado, faltam pesquisas para fundamentar o estudo da implantação do
sistema digital de rádio no país”, complementa Nélia. Vale lembrar que a
condução do processo sobre o rádio digital já surgiu de forma contestada,
sempre favorecendo a escolha do padrão americano pelos radiodifusores (leia
mais).
Na opinião de José Guilherme, o encontro não muda em nada as perspectivas em
relação à definição da tecnologia a ser adotada. “Estamos tendo, ao final do
processo, um espaço de discussão mínimo, que permite diminuir os erros.” É
preciso, de acordo com o representante da Abraço, assegurar a participação
da indústria brasileira. “Além da tecnologia não ser nacional, ela tem um
único proprietário, que pode cobrar qualquer valor por seu uso.”
Fomento para comunitárias
O início das operações da nova tecnologia no Brasil deverá ocorrer em 2008,
segundo Costa. "É essencial que as rádios comunitárias sejam incluídas em
todo o processo. Esse é um dos fatores para analisar a transferência
tecnológica e o desenvolvimento de pesquisas no Brasil. Dessa forma
poderemos produzir aqui equipamentos com custos viáveis para as rádios
comunitárias", afirmou o ministro. Seria criado um financiamento do Governo
Federal para processo de digitalização do sistema dessas emissoras.
Discussão míope
A professora da UnB observa que muitos participantes da reunião estavam
fazendo uma discussão secundária sobre a tecnologia, enxergando somente um
uso do rádio da população mais elitizada. “Muito estavam discutindo sobre o
rádio digital em carros, mas é necessário lembrar que a maior parte da
audiência no brasil é domiciliar.” Há problemas ainda fora do debate, além
da questão financeira, como a fraca portabilidade do sistema IBOC (leia
matéria relacionada).