Fonte: Caros Ouvintes
[05/12/08]
E o
rádio digital? - por Nair Prata, Jornalista, doutora em lingüística
aplicada (UFMG), professora do Centro Universitário UNI-BH
A implantação da TV digital no Brasil completa um ano, alcançando a
marca de 470 mil aparelhos vendidos com o conversor embutido, atingindo
cerca de 910 mil brasileiros, ou 0,5% da população do país, de 183
milhões. (*)
Mas e o rádio digital? Quando será, finalmente, que os brasileiros
conhecerão essa nova modalidade de radiofonia? A data para o início das
transmissões do rádio digital no Brasil era, inicialmente, 14 de setembro de
2007. Mas um amplo movimento dos pesquisadores de rádio e mídia sonora de
todo o país questionou o Ministério das Comunicações acerca da tecnologia e
dos métodos que poderiam ser utilizados na implantação da modalidade
digital. O movimento culminou com um encontro em Brasília, em 13 de
dezembro, entre uma comissão de três professores e o próprio ministro Hélio
Costa.
Na reunião, o ministro informou que o governo queria ser parceiro da empresa
norte-americana i-Biquity, detentora da tecnologia HD Radio, no
desenvolvimento de um sistema de transmissão e recepção de rádio digital
adaptado às particularidades brasileiras. Hélio Costa afirmou também, à
época, que o interesse do governo era ser como um sócio da empresa para,
inclusive, fabricar equipamentos no Brasil e, no futuro, exportar
transmissores e receptores para outros países da América Latina. O ministro
condicionou esta aproximação à abertura da tecnologia, hoje sob controle
total da empresa. Com a medida, os radiodifusores passariam a ter direito de
uso e de adaptação do HD Radio às características do sistema de radiodifusão
sonora brasileiro.
O tempo passou e, findo o primeiro semestre deste ano, a população foi
brindada com a informação do Ministério das Comunicações de que até o fim de
2008 o Brasil teria o rádio digital. Dezembro começa e a promessa não se
concretiza. A digitalização das transmissões radiofônicas no Brasil deve
proporcionar mudanças tanto no aspecto técnico, quanto no conteúdo. No campo
técnico, a principal transformação é o som de primeira qualidade, isto é, o
AM com som de FM e o FM com som de CD. Mas também devem chegar,
possivelmente, novidades no campo da linguagem, com novas possibilidades
interativas, novos canais de transmissão e, certamente, um novo jornalismo.
Em Minas Gerais, apenas duas emissoras, das 350 existentes, têm dado passos
concretos rumo à implantação do rádio digital: a Rádio Globo AM, que iniciou
os testes em 2005, e a Rádio Itatiaia FM, que se prepara para as
experimentações. Como nos casos das outras emissoras brasileiras autorizadas
pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), as experiências em Minas
são com o Iboc (In-Band O Channel). Em entrevista para um estudo apresentado
há duas semanas no Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo, em São
Paulo, a Associação Mineira das Emissoras de Rádio e televisão (Amirt)
informou que o digital em Minas não vai chegar no prazo previsto. Segundo o
diretor Luiz Carlos Gomes, em 2007, os trabalhos não avançaram e isso
certamente vai impedir que o rádio digital se torne uma realidade em Belo
Horizonte nos próximos cinco anos.
Na pesquisa apresentada no congresso, Gomes observa que a evolução do
processo tem sido impedida em todo o Brasil pelo atraso na escolha do
sistema de transmissão e pela limitação de recursos, principalmente por
parte das pequenas e médias emissoras. O diretor da Amirt explica que,
apesar de o investimento médio mínimo ser de cerca de R$ 300 mil para uma
emissora que já conta com base física bem estruturada, há aquelas que já
investiram mais de R$ 1 milhão só neste período de testes ainda sem saber
oficialmente se o modelo que o Brasil vai adotar será mesmo o Iboc. Gomes
diz que para os radiodifusores está difícil até calcular os custos da
empreitada. Segundo ele, a Amirt fez uma tentativa, frustrada, de consultar
nas indústrias brasileira e norte-americana os custos para a implantação de
transmissores digitais.
“Observamos que investir no rádio digital envolve muito dinheiro e apostas
no escuro em um projeto cercado de informações imprecisas. Todos os preços
passados pelos fornecedores eram hipotéticos, impossibilitando as emissoras
de terem, previamente, uma noção do quanto precisariam dispor para a
implantação do sistema digital.” Quando o país comemora o primeiro
aniversário da implantação da TV digital, pergunta-se: quando o rádio
digital chegará ao Brasil?