Wireless |
|
WirelessBrasil --> Bloco Tecnologia --> Recuperação judicial da Oi --> Índice de artigos e notícias --> 2016
Obs: Os links originais das fontes, indicados nas transcrições, podem ter sido descontinuados ao longo do tempo
Leia na Fonte: Estadão
[22/06/17]
Lições do naufrágio da Oi - Editorial Estadão
As “campeãs nacionais” foram empresas escolhidas durante o governo de Luiz
Inácio Lula da Silva para disputar o mercado mundial com as gigantes
estrangeiras contando com vasto financiamento e participação estatal.
Pretendia-se gerar conglomerados que fossem ao mesmo tempo competitivos e
ajudassem a acelerar o desenvolvimento nacional. O retumbante fracasso de tal
iniciativa pode ser medido pelo esfarelamento da Oi, a empresa criada para ser a
“supertele nacional” e que acaba de pedir recuperação judicial – a maior da
história brasileira, com uma dívida total de R$ 65,4 bilhões. Por ser o símbolo
da megalomania de Lula, vale reconstituir a trajetória desse empreendimento que
tanto embalou os sonhos de grandeza da tigrada e enriqueceu um punhado de
espertos, em detrimento dos contribuintes.
O caso da Oi é marcado por intrigas e negócios suspeitos mesmo antes da
existência formal dessa empresa. Tudo começou em 1998, quando a Telemar
arrematou a Tele Norte-Leste no leilão de concessão do sistema Telebrás. O
consórcio, formado a toque de caixa, era liderado por uma construtora,
companhias de seguro e uma empresa da área comercial. Sem dinheiro para honrar o
compromisso, o grupo apelou para os cofres públicos, associando-se aos fundos de
pensão de estatais Previ, Petros e Funcef e ao Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES). Em uma conversa gravada ilegalmente, o então
ministro das Comunicações, Luiz Carlos Mendonça de Barros, qualificou a Telemar
de “telegangue” e de “rataiada”, o que dá uma ideia da natureza do jogo que
estava sendo jogado.
Dez anos mais tarde, em 2008, a Telemar já havia trocado de nome – passara a se
chamar Oi, numa tentativa de dinamizar a marca, já com vista à expansão que
teria generoso apoio do governo Lula. O governo petista esperava transformar a
empresa na “supertele verde e amarela” com a compra da Brasil Telecom, o que de
fato ocorreu.
No entanto, para que a compra fosse concretizada, foi necessário que Lula
alterasse o Plano Geral de Outorgas, eliminando a regra que restringia a atuação
da operadora somente em uma das quatro regiões em que o País foi dividido. Foi
assim, com uma canetada, que a Oi se tornou a primeira tele de alcance nacional.
Para que a reconstituição dessa trajetória não fique incompleta, não se pode
esquecer que um dos sócios da Oi, a Andrade Gutierrez, havia sido o principal
doador da campanha de Lula à reeleição em 2006. E também não se pode ignorar
que, em 2005, a antiga Telemar investiu R$ 5 milhões na compra de 30% da
Gamecorp, empresa de Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, especializada em
programas de TV e em jogos para celular, que fechou aquele ano com prejuízo
superior a R$ 3 milhões. No ano seguinte, a Telemar/Oi investiu mais R$ 5
milhões na empresa, sem que isso fosse capaz de reverter as perdas da empresa de
Lulinha.
Graças a esse modo de fazer negócios – eivado de interesses que nada têm a ver
com a boa administração – a Oi jamais chegou a ser a “supertele” que Lula
queria. Ao contrário, a empresa afundou em dívidas, obrigando o governo a
intervir para salvá-la. A solução, mais uma vez envolta em situações mal
explicadas, foi a fusão da Oi com a Portugal Telecom, em 2010. A transação
entrou nos radares da Lava Jato e das autoridades portuguesas, pois surgiram
suspeitas, ainda sob investigação, de que houve pagamento de propina a
integrantes do PT – José Dirceu entre eles.
A fusão da Oi com a Portugal Telecom fracassou, e a dívida tornou-se impagável.
A companhia jamais cumpriu a função alardeada por Lula – na lista das maiores
empresas do mundo feita pela revista Forbes, a Oi amarga o 1.464.º lugar. Entre
as 19 empresas brasileiras que aparecem no ranking, ela perde para 17.
É evidente, portanto, que a experiência das “campeãs nacionais” não deu certo,
pela simples razão de que esse grau de intervenção do Estado causa profundos
desequilíbrios, gerando escassos ganhos para o desenvolvimento do País. E o
resultado menos visível dessa estratégia é a corrupção, cuja extensão ainda se
desconhece.