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Telebrás e PNBL
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Leia na Fonte: Instituto Telecom
[10/04/12]
Governo e Oi, nem tão simples assim
Quem vê a Oi pleiteando o reajuste da tarifa da ligação fixo/móvel, inclusive
com ação na Justiça contra a Anatel, poderia se perguntar: quem é a Oi?
Nós respondemos. A empresa faz parte do grupo que, em 1998, no processo de
privatização do Sistema Telebrás, foi montado para não ganhar a concessão.
Apesar disso, acabou levando 16 estados da Federação com apenas 1% de ágio sobre
o valor proposto para a venda das empresas de telecomunicações que compunham
essa área. Os recursos vieram, em boa parte, dos cofres públicos. Tanto que,
ainda hoje, o governo detém 49% das ações da empresa – parte via BNDES (13%) e
parte dos fundos de pensão – Previ, Petros e Funcef. Como acionista, o governo
tem assento no Conselho de Administração da empresa.
Por causa disso, a Oi sempre se vangloriou de ser um grupo verdadeiramente
nacional. E era, até a entrada da Portugal Telecom. Só que mesmo antes disso a
Oi jamais teve qualquer compromisso com a indústria nacional, muito menos com o
desenvolvimento e a pesquisa no país. Em 2008, quando assumiu o controle da
Brasil Telecom, a empresa chegou a se comprometer a investir em pesquisa e na
compra de equipamentos nacionais. Nada disto ocorreu. Ciência e tecnologia
brasileiras nem de longe estiveram entre as suas prioridades.
Em 2010, quando estabeleceu sua parceria com a PT, prometeu mais uma vez
investir em tecnologia, utilizando a expertise da empresa portuguesa, para
implementar fibra ótica na última milha. E ainda anunciou que a inclusão no
cenário internacional seria um dos seus desafios, chegando até mesmo a países
africanos. No primeiro caso, ainda está engatinhando. No segundo, não há, pelo
menos publicamente, nenhum projeto de alcançar outro continente.
Ainda em 2010 quando o governo federal lançou o PNBL (Plano Nacional de Banda
Larga), a Oi não economizou nas promessas e se colocou como a grande empresa que
poderia dar suporte a este plano com sua rede nacional.
Não só nada disso se efetivou como, contrariando as expectativas do seu
discurso, a concessionária se juntou às outras empresas no combate às cláusulas
relativas à expansão da banda larga. E tenta descaracterizar o Termo de
Compromisso assinado com a Anatel e o Ministério das Comunicações, refutando,
sempre que possível, as metas de qualidade propostas pela Agência.
De quem é a responsabilidade por esse comportamento da Oi? Dos empresários que
compõem o seu Conselho de Administração ou dos representantes do governo e dos
fundos de pensão que não interferem na política definida pela empresa?
Como o descompromisso com o Estado e a sociedade faz parte da natureza dos
empresários, que visam única e exclusivamente o lucro, é fácil concluir qual a
resposta correta.
Afinal, o que faz o governo neste Conselho de Administração, se já abriu mão de
parte desse poder para garantir a entrada da Portugal Telecom na Oi e continua a
demonstrar total desinteresse em interferir na política da empresa? É essa
postura passiva que influencia diretamente não só no descumprimento de metas de
qualidade como nas políticas públicas governamentais, dentre elas a
universalização da banda larga brasileira.
Por que o governo não cobra mais coerência da Oi, supostamente a grande parceira
do Estado brasileiro? A Oi nunca deu qualquer bom exemplo à iniciativa privada.
Ela poderia reduzir a assinatura básica, permitindo maior acesso da população
aos serviços de telefonia fixa. Poderia se comprometer com a política do Aice
(Acesso Individual Classe Especial) proposto, justamente, para viabilizar a
telefonia fixa para os mais pobres. A Oi nunca fez nada disso.
E a questão não atinge apenas os usuários. O nível de terceirização na Oi é
escandaloso. Milhares de trabalhadores que prestam serviço à empresa na
instalação e manutenção da rede de telefonia e na área de teleatendimento -
neste último caso via sua subsidiária, a Contax -, são submetidos a salários e
condições de trabalho aviltantes.
O Instituto Telecom volta a cobrar do governo federal que assuma o seu papel e
discuta as suas responsabilidades dentro do Conselho de Administração da Oi.
Afinal, ela se comporta como uma empresa qualquer, sem nenhum compromisso
público. A grande pergunta é: o que o Estado pretende da Oi? Uma questão simples
assim.