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Leia na Fonte: Instituto
Telecom
[15/05/12]
Instituições criticam atuação de operadoras no PNBL
- por Jeronimo Calorio, Observatório do Direito à Comunicação
A insatisfação dos usuários com as empresas de telefonia foi o foco do debate do
seminário “Banda Larga no Brasil e os direitos dos consumidores”, realizado em
Brasília na última quinta (10). O evento, promovido pelo Instituto de Defesa do
Consumidor (Idec), reuniu representantes de entidades da sociedade civil,
usuários e do poder público para discutir a implementação do Plano Nacional de
Banda Larga (PNBL).
As críticas dos participantes foram direcionadas principalmente ao pacote
ofertado pelas operadoras previstos nos termos de compromisso assinados com o
governo. Os pacotes são oferecidos com velocidade de 1Mb ao custo de R$ 29 em
locais com isenção tributária e R$ 35 em locais sem isenção. Segundo uma
pesquisa realizada pelo Idec com usuários da internet, pouco mais de 60% dos
entrevistados sabiam da existência do PNBL e destes apenas metade tinha
conhecimento da comercialização dos pacotes de internet popular.
O advogado do Idec Guilherme Varella afirmou que as operadoras não cumprem com o
acordo de ampla divulgação das condições da internet popular, um dos requisitos
para a participação das teles no plano. “Apenas quem já sabe sobre o plano
consegue achar as ofertas nos sites, e ainda assim sente dificuldades (...) É um
jogo de esconde-esconde”, disse.
Outro aspecto apontado pela pesquisa foram as condições de acesso oferecidas
pelos pacotes. Normalmente é imposta uma franquia de downloads pelas operadoras.
No caso das empresas Oi e CTBC, o usuário que ultrapassar o limite de 500Mb tem
sua velocidade reduzida até à 128Kbps (velocidade próxima ao acesso discado).
Juliana Pereira, representante do Departamento Nacional de Defesa do Consumidor
– órgão do Ministério da Justiça -, também mostrou preocupação com a qualidade
do serviço. “Não é novidade para ninguém que as operadoras sejam as líderes de
reclamação nos Procons”, afirmou. Ela aponta as empresas Oi, Claro e Vivo como
as três maiores responsáveis por reclamações.
Apesar dos Procons aplicarem multas às empresas, na maioria dos casos elas
preferem levar os casos à Justiça. “As operadoras pensam ser mais barato pagar
um advogado do que a reparação à seus clientes”, afirmou Juliana. O Idec ainda
aponta outros problemas encontrados no ofercimento do pacote do PNBL, como a
venda casada com outros serviços, taxas abusivas na instalação de modens e a
obrigação de fidelização do cliente.
O secretário de Telecomunicações do Ministério das Comunicações, Maximiliano
Martinhão, afirmou que os princípios norteadores do programa são reduzir o preço
da banda larga, expandir o acesso e garantir a qualidade do serviço. Quando
defrontado com a pesquisa do Idec, Maximiliano ponderou que as considerações
serão analisadas pelo Ministério e garantiu que ainda há tempo para que essas
falhas sejam corrigidas.
O conselheiro da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) Rodrigo Zerbone
admitiu que as reclamações existem, mas que a Agência está atenta e preocupada
com a questão. “Nós estamos adotando medidas para aproximar mais o cidadão das
ações da Agência”, comentou. Ele usou como exemplo a transparência do órgão em
relação aos assuntos tratados pelo Conselho Diretor, como a transmissão na
internet das reuniões. “Assim o cidadão pode ter acesso direto às repostas da
agência”, disse Zerbone.
Regime público e privado
Os participantes também apontaram a manutençao do regime privado na prestação do
serviço como responsável pela fragilidade do PNBL. Para João Brant,
representante do Intervozes, o fato do serviço estar sendo expandido não garante
a qualidade do mesmo. “Hoje temos um grande aumento do número de dispositivos
móveis de telefonia e acesso à internet com qualidade muito ruim”, criticou.
Brant também usou a ausência da oferta de banda larga na região Norte como
exemplo da necessidade de universalização do serviço.
A advogada do Idec Veridiana Alimonti defendeu a necessidade da banda larga ser
prestado em regime público, com metas de universalização e controle de tarifas.
Esta opção garantiria que os investimentos estruturais aplicados para a extensão
do serviço de banda larga se transformasse em patrimônio público, mostrando que
é um serviço essencial à população. “Não é um fetichismo que nós temos em tornar
o regime público, mas sim um conjunto de princípios que entendam a banda larga
um direito” explicou Alimonti.
Aferição da qualidade
Também foram feitas observações com relação à medição da qualidade da banda
larga definida pela Anatel. Fabrício Tamusiunas, gerente de projetos do Nic.br,
observou que não basta apenas medir a velocidade da internet por meio de
softwares instalados nos computadores dos usuários. “Há outros problemas a serem
considerados como a neutralidade de rede, desvio e perda de pacotes de dados. É
preciso que a medição seja feita também na origem dos serviços, ou seja, nas
próprias operadoras”, sugeriu.
O processo de seleção da Entidade Aferidora da Qualidade da banda larga foi
contestado pela sociedade civil. As próprias operadoras definiram qual
instituição realizará a medição. A escolhida foi a empresa de consultoria
PriceWaterhouseCoopers em detrimento do Nic.br, órgão ligado ao Comitê Gestor da
Internet do Brasil. A consultoria inclusive já tinha se posicionado
contrariamente a medição da qualidade proposta pela Anatel, enquanto o Nic.Br já
vinha realizando levantamentos sobre qualidade do serviço. Mas a especialista em
regulação da Anatel Suzana Rodrigues garantiu que o processo foi o mais isento
possível. Suzana afirmou que o fato das operadoras terem escolhido a entidade
que fará a medição de seus próprios serviços não alterará em nada a
fiscalização, uma vez que a Anatel ainda seria responsável pela aplicação de
sanções.