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Leia na Fonte: Band / Colunas
[30/01/13]
Telebrás proverá Internet para o Planalto. Licitação pra quê? - por
Mariana Mazza
Na última terça-feira, o governo federal publicou no Diário Oficial da União a
assinatura de um contrato com a Telebrás para que a estatal seja a responsável
pela oferta de Internet ao Palácio do Planalto. O que seria mais um contrato
entre órgãos públicos esconde na verdade uma grande polêmica sobre a
aplicabilidade da Lei de Licitações sobre estes acordos. Isso porque a Telebrás
foi contratada sem a realização de qualquer disputa pública. A falta de uma
licitação deixou de fora não apenas empresas privadas, mas também órgãos
públicos como o Serpro, tradicionalmente responsável pela prestação deste tipo
de serviço na Esplanada dos Ministérios.
O governo justificou a ausência da licitação citando um trecho da lei que rege
as contratações públicas. O artigo 24 da Lei 8.666/93 permite que o governo
contrate diretamente os serviços de órgãos públicos desde que estas estatais
tenham sido criadas antes da vigência da legislação. É o caso da Telebrás,
nascida oficialmente em 1972.
Mas, como bem frisou o portal Convergência Digital, é sempre bom lembrar que a
Telebrás de hoje não é a mesma criada na década de 70. Quando foi inaugurada, a
estatal tinha como função prestar serviços de telefonia fixa. Nada de Internet.
Afinal, este tipo de serviço sequer existia em 72. O direito de oferecer acesso
à redes de telecomunicações para a banda larga surgiu apenas em 2010, quando a
quase extinta Telebrás foi revitalizada.
Nesta época, um dos pontos fortes do Plano Nacional de Banda Larga (PNBL)
erajustamente a previsão de que a Telebrás substituísse as empresas privadas na
oferta de telecomunicações para o governo. A estratégia não só ajudaria no
equilíbrio do caixa da estatal revitalizada que ainda gira no vermelho mas
também enterraria um grande fantasma que há anos assombra as ligações feitas em
órgão públicos: a arapongagem privada.
Em 2010, a memória do Caso Kroll ainda assustava os membros do governo. Para
quem não se recorda, o Caso Kroll foi uma investigação da Polícia Federal
divulgada em 2008 que revelou a existência de vários grampos em linhas
utilizadas por autoridades públicas, inclusive no Palácio do Planalto. A
arapongagem teria sido feita pelo banco Opportunity e pela agência de espionagem
Kroll Associates e teria como alvo recolher material contra executivos da
Telecom Itália antiga sócia do banco na Brasil Telecom e contra o próprio
governo, que começava a investigar atividades ilegais de Daniel Dantas, dono do
Opportunity.
Um detalhe que facilitou muito a espionagem ilegal era o fato de o Opportunity
ser dono da Brasil Telecom, concessionária de telefonia fixa que prestava
serviços de telecomunicações a quase todos os órgãos públicos na época. A
descoberta do caso mostrou ao governo a necessidade de proteger melhor suas
conversas e dados eletrônicos. Daí o desejo de transformar a Telebrás em uma
prestadora de telecomunicações com acesso privilegiado aos contratos públicos.
Tudo seria perfeito não fosse o fato de que há anos as concessionárias de
telefonia lutam para não perder o direito de disputar os contratos da
Administração Federal. E, como a Justiça tem mostrado, as teles têm alguma razão
neste caso. Disputas já foram travadas envolvendo o Serpro e a Cobra Tecnologia
subsidiária do Banco do Brasil com as mesmas características da atual Telebrás.
E até agora os reclamantes têm obtido sucesso. Os juízes têm entendido que a
dispensa de licitação não é tão óbvia para estas empresas e lembrado que a
disputa pública deve sempre ser a primeira opção.
O contrato selado entre o Palácio do Planalto e a Telebrás joga mais combustível
nesta antiga polêmica. Se as principais empresas de telefonia e banda larga do
Brasil são concessionárias públicas, elas não deviam ser confiáveis? Sendo
concessionárias, o poder público tem total direito (e, por que não, dever) de
observar de perto o que estas empresas estão fazendo e puni-las em caso de
abuso, até mesmo banindo a companhia do setor e retomando a concessão. Mas
moldar a Lei de Licitações parece ser uma saída mais fácil do que controlar
essas empresas. Mesmo pega com a boca na botija, nada aconteceu com a Brasil
Telecom após o Caso Kroll. Novamente parece ter sido mais fácil colocar o Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no meio de uma das mais
controversas negociações do país e ajudar a Oi a comprar a companhia do que
simplesmente cassar a licença do grupo.
O plano original de transforar a Telebrás no pilar da oferta de telecomunicações
para o governo e para as estatais é bastante positivo. Mas o fato de ser bom não
significa que é certo. Ao que parece, para o plano sair do papel sem ser
contestado é preciso uma política clara, que não deixe brechas para
interpretações que joguem por terra a estratégia. Com todas as polêmicas que já
aconteceram no setor de telecomunicações começa a ficar evidente que é
necessário mudar a Lei de Licitações caso os órgão públicos queiram seguir
adiante com estes contratos. Sempre vale lembrar que, quando se trata de
contratação pública, os atalhos são os caminhos mais rápidos para as polêmicas e
escândalos.