FLÁVIA LEFÈVRE GUIMARÃES
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 Agosto 2008               Índice Geral


06/08/08

Pronunciamento Mendes Thame - BrOi
----- Original Message -----
From:
Flávia Lefèvre Guimarães
Sent: Wednesday, August 06, 2008 5:58 PM
Subject: Pronunciamento Mendes Thame - BrOI
 
Em 4 de agosto de 2008
 
O SR. PRESIDENTE (Osmar Serraglio) - Anuncio, com satisfação, o terceiro orador inscrito no Grande Expediente, Deputado Antonio Carlos Mendes Thame, do PSDB de São Paulo.
O Deputado Antonio Carlos Mendes Thame, todos conhecem, é uma das expressões da nossa cultura interna aqui. É professor universitário, agrônomo, tem mestrado em economia rural, foi Secretário de Recursos Hídricos, Saneamento e Obras de São Paulo, foi Prefeito de Piracicaba e, hoje, é Deputado Federal, no quarto mandato.
O tempo de V.Exa. é de 25 minutos, nobre Deputado.

O SR. ANTONIO CARLOS MENDES THAME (PSDB-SP. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, estamos iniciando uma semana cujos resultados se sucedem ao País no limite do desastre.
O Brasil conseguiu mostrar, nas negociações de Doha, de uma só vez, toda a sua incompetência. De uma forma unívoca e concentrada, conseguiu desagradar todos os seus parceiros do MERCOSUL, todos os países da África, os seus aliados no G-20, a Índia e a China, e nada conseguiu em troca.
Saímos com um desastre na Rodada de Doha, possivelmente pela falta de uma nucleação que se contrapusesse aos interesses dos países capitalistas desenvolvidos. O resultado é que vamos continuar tentando aumentar nossas exportações, graças à competência do setor produtivo, já que as nossas autoridades, o Poder Executivo, continuam não conseguindo abrir um mercado sequer.

No âmbito interno, uma outra grande preocupação estáem curso, que se refere ao processo de privatização, à forma como o Governo está tratando a questão da privatização no setor de telecomunicações.
O Sr. Mauro Benevides - V.Exa. me permite, nobre Deputado Antonio Carlos Mendes Thame? No instante em que V.Exa. inicia o seu discurso e se reporta, digamos assim, ao fracasso para o Brasil, para a Argentina e para os outros países emergentes do acordo de Doha, lembro a V.Exa. que o Presidente da República, em um pronunciamento, ontem, em Buenos Aires, reenfatizou a necessidade de reagrupar todas aquelas potências para que nos insurjamos contra as decisões que ali foram adotadas. E temos condições de trazer novamente a debate aquela questão que não logrou êxito no encaminhamento procedido pelo nosso ilustre Ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. Portanto, o pronunciamento de ontem me permito mencionar neste instante, no momento em que V.Exa. inicia o seu brilhante pronunciamento na tarde de hoje.

O SR. ANTONIO CARLOS MENDES THAME - Agradeço o seu aparte, a sua contribuição.
'Num futuro muito próximo, você poderá comprar seu celular em lojas e até mesmo em postos de gasolina. Em poucos anos, o Brasil terá milhões de usuários e diversas operadoras em regime de competição. Em muitos casos, o assinante poderá receber o aparelho de graça, pagando apenas os serviços.
Essas palavras são de Sérgio Motta, pronunciadas em 1996, quando ele previa para o futuro da telefonia celular brasileira um resultado extraordinário, uma visão otimista.

Justamente ele, que ousara quebrar os velhos paradigmas de um setor estagnado, como era o das telecomunicações no começo dos anos 90.
A previsão de Sergio Motta se confirmou e, hoje, não surpreende mais ninguém. O Brasil de 1996 tinha pouco mais de 2 milhões de celulares. Hoje, são mais de 130 milhões. Pena que não esteja vivo, para comemorar esses resultados, especialmente os modelos de privatização da TELEBRÁS, pois Sergio Motta faleceu em abril de 1998.
Esse trecho faz parte do início de um brilhante artigo de Etevaldo Siqueira, publicado na Folha de S. Paulo, com o título "O legado de Sergio Motta 10 anos depois".
O fato é que o princípio que norteou as privatizações foi o de acabar com a centralização e a monopolização de setores fundamentais da economia. Com base nesse princípio, o Presidente Fernando Henrique Cardoso, reconhecendo que o Governo Federal não tinha recursos para modernizar todas as empresas estatais, iniciou o processo de privatização nos setores das telecomunicações, dos transportes e da eletricidade.
Previa-se que o aumento da oferta seria decorrência dos investimentos de empresas com capacidade para proceder a este aporte de capital e para aumentar a eficiência da infra-estrutura, tudo em benefício dos usuários, o que faria com que eles pagassem menos por serviços melhores. Como conseguir isso?

Justamente isso seria conseguido porque as empresas competiriam entre si. Esta era a essência do princípio, o coração da matéria, a condição básica para o sucesso da mudança: que as empresas competissem entre si. Com as privatização, empresas brasileiras públicas, antes deficitárias ou pouco produtivas, foram rapidamente substituídas ou passaram a contribuir para a economia, transformando o que representava prejuízos para os cofres públicos em fonte rentável, em receita.
O exemplo maior de desenvolvimento e acessibilidade ao consumidor foram as Teles. No setor de telecomunicações, a privatização com o passar do tempo mostrou ter sido corretíssima, porque o processo trouxe inegáveis benefícios à população, tanto na qualidade e no acesso, quanto mesmo nos preços pagos pelo consumidor. Em julho de 1997, depois de quase 1 ano de intensos debates, o Congresso brasileiro aprovou a lei Geral de Telecomunicações, então uma das mais modernas do mundo, trazendo em seu bojo as linhas gerais do novo modelo regulatório, com a criação da ANATEL — Agência Nacional de Telecomunicações.
Em vez de ser produtor de bens e serviços, o Governo passava a ser o regulador das concessões, concessões e serviços públicos, adotando o modelo de agências reguladoras para cada setor, com a função entre outras de impedir a formação de grandes conglomerados, que como tal poderiam inibir a concorrência e exercer um domínio altamente prejudicial aos usuários e ao próprio País.

Repetindo: com a função de impedir a formação de grandes conglomerados. Expressamente com essa função, porque esses grandes conglomerados poderiam inibir a concorrência e exercer um domínio prejudicial aos usuários e ao País. Entendia-se que entregar o serviço nacional de telefonia a poucas operadoras iria atrofiar o sistema, impedir o desenvolvimento e eliminar a livre concorrência, implicando menos investimentos na modernização da infra-estrutura e preços mais elevados para o consumidor.
As privatizações, desde que bem feitas, e a regulação, bem concedida e implantada, permitiriam aumentar a concorrência — repito, aumentar a concorrência — e os investimentos em tecnologia, e a população acabaria ganhando. Repito: a população acabaria ganhando com a concorrência.
Os resultados superaram as previsões. Primeiro quanto ao número de telefone ao acesso dos fixos e móveis. De pouco mais de 24 milhões, em julho de 1998, o Brasil passou, hoje,a quase 170 milhões, o que representou um crescimento físico de 600% e um salto de densidade de 14 telefones por 100 habitantes para 91 telefones por 100 habitantes. Um avanço impressionante em tão pouco tempo. Em 10 anos, o celular deixa de ser artigo de luxo para se tornar o meio de comunicação mais popular do País.

Quando o sistema TELEBRAS foi privatizado, em julho de 1998, não havia acesso de banda larga a Internet e havia fila para comprar um telefone fixo.
De lá para cá muita coisa mudou. O total de acessos de banda larga já alcança 8,3 milhões. Dobrou a participação das telecomunicações no Produto Interno Bruto brasileiro que passa de 3,2%, em 1998, para 6,2%, no ano passado.
Sérgio Mota, porém, alertava: temos que fazer uma boa privatização, com uma lei geral, uma agência reguladora profissional independente. Pior, muito pior do que manter qualquer sistema estatal é fazer uma privatização desastrada.
O mercado desenvolveu-se muito desde a privatização, mas existem problemas importantes que ainda precisam ser atacados. De fato, não há menor dúvida, sob todos os aspectos, de que a privatização trouxe resultados concretos. Porém, ainda existem pontos críticos que precisam ser ajustados. Entre eles, a qualidade do atendimento e dos serviços prestados e até mesmo os custos cobrados dos usuários, pois o Brasil está entre aqueles que aplicam as mais altas taxas do mundo tanto na telefonia móvel quanto na fixa.
Por isso, a concentração do setor decorrente de fusões ou aquisições é e precisa ser vista com imensa preocupação.

O fato é que, na realidade, a competição na telefonia fixa do Brasil não ocorreu na intensidade esperada. Cada empresa que ganhou o seu território, a sua área, depois de um certo período — no período inicial ela não tinha o direito de fazer isso, tinha que se concentrar na sua área, e só ela, ninguém poderia entrar nessa área, tinha o privilégio monopolista de só ela proceder aos serviços naquela área — , mas depois de um certo período, 2 anos, ela poderia investir na área das outras e todas competirem, o que na realidade não ocorreu na intensidade esperada.
Hoje, para se ter uma idéia, somente 43% dos municípios têm serviço de banda larga. O atendimento das operadoras ainda é ruim, fazendo com que empresas do setor liderem as listas de reclamações das entidades de defesa do consumidor.
Para se ter uma idéia, no ano passado, no PROCON de São Paulo, entre as 7 empresas que mais receberam reclamações, 4 eram operadoras de telefonia. Para melhorar o serviços e baixar os preços é preciso aumentar a concorrência. No entanto, em lugar de aumentá-la, o que está em curso é um golpe dramático contra a livre concorrência nas telecomunicações em absoluto prejuízo dos usuários.
A recente autorização prévia da ANATEL concedida para a fusão da Brasil Telecom com a Oi agride violentamente o princípio que norteou a criação das agências reguladoras, que era o de garantir benefícios à sociedade e ao Estado, proteger o consumidor para satisfazer os desejos dos controladores das concessionárias e permitir a fusão das empresas operadoras.

Pasmem, senhores e senhoras, a ANATEL, sob orientação do Governo, obrigou-se a apresentar uma proposta de modificação, de alteração do Plano Geral de Outorgas — decreto presidencial que hoje impede que as duas empresas tenham o mesmo controlador ao determinar que, se uma concessionária adquirir outra, terá seis meses para abrir mão da concessão original.
É isso mesmo, parece surrealista, mas é a realidade, estão mudando um decreto presidencial para permitir um negócio. É preciso mudar o decreto para permitir que a fusão se concretize, a legislação de hoje impede. Pois bem, vai-se fazer um novo Plano Geral de Outorgas. As regras previstas no novo Plano Geral de Outorgas em elaboração vão submeter o Brasil ao domínio de duas ou três grandes operadoras, sabotando o princípio da livre concorrência, que incentiva a melhoria dos serviços públicos; da livre concorrência, que permite menores preços aos usuários. O que está em curso é um assalto àeconomia da população, à economia popular. Trata-se de uma agressão aos procedimentos que nortearam lá, atrás, a privatização das telecomunicações, em vias de ser entregue a grupos poderosos que, após dominarem o setor, irão extorquir o máximo dos usuários.

A aquisição precisa ser aprovada pela ANATEL e também pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica — CADE por se constituir em concentração do setor. Caso o negócio seja concretizado, o mercado de telefonia no País vai mudar completamente a sua feição. De acordo com a reclamação da Embratel na Secretaria de Desenvolvimento Econômico, essa empresa resultante da integração das duas redes operacionais terá o domínio absoluto de 97% do território nacional, atendendo 140 milhões dos 190 milhões de brasileiros. Com essa abrangência, chegará a 42 milhões dos 52,6 milhões de domicílios no País. E o fato incontestável é que com a integração de suas redes a nova empresa passará a deter tamanho poder de mercado que poderá fixar o preço que lhe convier para lhe propiciar o maior lucro possível, com inegável prejuízo para os usuários.
O professor Arthur Barrionuevo Filho, da FGV de São Paulo, afirma que a discussão do Plano Geral de Outorgas não poderia se subordinar aos interesses dos acionistas ou de um negócio específico qualquer, seja de quem for, muito menos de uma concessionária de serviço público, porque acaba ferindo de morte um dos princípios do Direito Público que é a impessoalidade.

A mudança do Plano Geral de Outorgas é algo tão importante e necessário que não pode ficar sujeita a qualquer interesse que não seja pensar o modelo de telecomunicações dentro da convergência. Ela não pode ser feita de maneira açodada, rápida, precisa ser muito discutida. Tem que ser ouvida muita gente para chegar a um modelo que possa perdurar por mais tempo. Enfim, é aquilo que nunca imaginávamos ocorrer no País.
É um princípio da impessoalidade que vai por água abaixo. Países modernos e democráticos não mudam a lei para atender aos interesses de a ou b. Ao contrário, todos se submetem à lei. O que está claro desde a primeira hora é que o balcão de negócios está em pleno funcionamento. Os negócios estão sendo feitos, entabulados e prestes a serem concretizados, contrariando as normativas em vigor, contrariando o Plano Geral de Outorgas, que está em via de ser alterado e adaptado para viabilizar um negócio já anunciado e chancelado pelas autoridades desse Governo, com todo o empenho dos atores políticos, que deveriam estar defendendo os interesses coletivos do País e não interesses privados.
O modelo privatizado das telecomunicações, criado há 10 anos, está sob grave ameaça.

A compra da BrasilTelecom pela Oi traz de volta a forte influência do Governo sobre o setor, com o apoio de bancos oficiais. A Oi já anunciou que conseguiu 4,3 bilhões do Banco do Brasil e 2,5 bilhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social — BNDES.
Os trabalhadores devem estar atônitos: um banco público, o Banco do Brasil, e dinheiro público do BNDES para financiar a fusão das duas empresas. Não é dinheiro público para financiar a criação de empregos. Ao contrário, é para permitir que o interesse privado se sobreponha, prevaleça sobre o interesse público.
Daqui a algum tempo, se esse negócio for concretizado, pode ser que muita gente não entenda bem o que é uma Rodada de Doha, o que é o efeito deletério do câmbio completamente distorcido, destruindo empregos no Brasil estimulando as importações.
Mas tenho certeza de que todo usuário, toda família brasileira, quando sentir nas suas contas telefônicas o poder avassalador deste monopólio que estamos deixando ser criado no País, vai sentir na sua conta a inércia, mais do que a inércia, a irresponsabilidade desse atual Governo ao permitir essa fusão desastrosa que arrebenta com a concorrência no setor da telefonia no Brasil.
Muito obrigado, Sr. Presidente.
 

 

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