FLÁVIA LEFÈVRE GUIMARÃES
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Julho 2008 Índice Geral
• Fusão Oi/BrT e PGO (14) -"10 anos de privatização" (1) - Artigo de Flávia Lefèvre
----- Original Message
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From: Helio Rosa
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Sent: Wednesday, July 30, 2008 10:04 PM
Subject: Fusão Oi/BrT e PGO (14) -"10 anos de
privatização" (1) - Artigo de Flávia Lefèvre
04.
Vamos começar pela "prata da casa".
Nossa participante, Flávia Lefèvre Guimarães,
é advogada e coordenadora da Frente dos Consumidores de
Telecomunicações, consultora da associação Pro Teste e
representante dos usuários no Conselho Consultivo da ANATEL.
Publicamos
hoje um artigo da Flávia -
10 ANOS DE PRIVATIZAÇÃO (transcrito na íntegra, mais
abaixo)
Obrigado, Flávia, pela cortesia de divulgá-lo na ComUnidade!
05.
Nas próximas mensagens vamos transcrever
matérias de Estadão, do Convergência Digital ("hot site"
sobre o tema), Tele.Síntese e outros sites.
Fonte: WirelessBR:
http://www.wirelessbrasil.org/wirelessbr/colaboradores/flavia_lefevre/10_anos_de_privatizacao.html
10
ANOS DE PRIVATIZAÇÃO
Flávia Lefèvre Guimarães
Flávia Lefèvre Guimarães é advogada e coordenadora da Frente dos Consumidores de Telecomunicações, consultora da associação Pro Teste e representante dos usuários no Conselho Consultivo da ANATEL.
Prudência
São 10 anos da privatização da Telebrás e estamos no meio
de um amplo processo de revisão do modelo que orientou o
desenvolvimento do setor de telecomunicações no Brasil de
julho de 1998 até aqui. E, a realidade, justamente agora,
dá sinais que não podem ser ignorados: os freqüentes
apagões nas redes de comunicação de dados em diversos
estados e as graves pendências criminais envolvendo
empresas de telecomunicação e governo.
Os
órgãos públicos de diversos estados do país têm seus
pontos nevrálgicos de organização tais como a Polícia, os
Hospitais, Escolas, Secretarias, etc ..., isso sem falar
de grandes empresas privadas que atuam no setor
financeiro, entre outros de importância crucial para o
funcionamento e segurança dos nossos cotidianos, todos
dependentes do provimento do serviço de banda larga da
prestados pelas concessionárias, cujos sistemas têm
falhado frequentemente, impondo aos cidadãos o caos. São
Paulo viveu o apagão na comunicação de dados no último dia
3 de julho, por mais de 36 horas, afetando a prestação dos
mais diversos serviços públicos e privados em 407
municípios.
O fato levantou imediatamente justificados
questionamentos:
- É seguro concentrar o provimento de serviço público
estratégico nas mãos de uma única empresa, que opera no
setor quase que em regime de monopólio, pois é detentora
do direito de uso exclusivo, há dez anos, da rede de
infra-estrutura que se constitui como bem público?
- A Agência Nacional de Telecomunicações tem cumprido suas
funções de fiscalização e de regulação, garantindo
competição e segurança?
- É prudente a insistência do Governo de concentrar ainda
mais o mercado, permitindo a fusão de grandes empresas
para operar os principais serviços de telecomunicações, de
modo que o Brasil passará a estar, basicamente, nas mãos
de três grupos – Telefonica, Telmex e Oi?
- É seguro alterar toda a regulação do setor de
telecomunicações, sem um amplo debate nacional, sem as
reformas devidas e imprescindíveis na Lei Geral de
Telecomunicações e sem estudos de impacto econômico e
social? Como construir um ambiente institucional confiável
para os agentes econômicos e para os consumidores?
- Podemos ignorar o fato de que o Brasil tem, em média, 38
telefones fixos para cada 100 habitantes e que há estados,
como o Maranhão, em que não chegamos a 8 telefones por 100
habitantes? Ou, ainda, que, apesar de termos mais de 133
milhões de telefones celulares, temos a 4ª tarifa móvel
mais cara do planeta e que só o Marrocos tem menos tráfego
de voz do que o Brasil?
Impossível sabermos se o Governo considera importantes as
questões levantadas ou se já tinha as respostas em março
deste ano, ao ser provocado pela ABRAFIX – entidade
representativa das concessionárias – e solicitar a ANATEL
que promovesse as alterações na regulação do setor, para
viabilizar a reorganização societária de empresas, tendo
em vista a tendência de convergência de serviços
diferentes em mesma plataforma tecnológica e prestados por
uma mesma empresa e a necessidade de expansão do acesso à
banda larga.
O certo, porém, é que a ANATEL vem promovendo as reformas,
sem respaldo de estudos de impacto econômico e social.
A tomar pela pressa com que as mudanças estão sendo
promovidas e o risco a que tem se submetido a Oi e a
Brasil Telecom, pois levaram a efeito operação comercial
gigantesca sem amparo na lei - a fusão contraria o Plano
Geral de Outorgas em vigor –, desenvolvida pelo trabalho
de uma dezena de grandes escritórios de advocacia,
lobistas (e, quem sabe, compadres), para a criação da
supertele, temos de trabalhar com a hipótese de que as
devidas cautelas não estejam sendo devidamente
consideradas e, por isso, temos de ter muito receio.
Vejam o poder da supertele! Mesmo sem respaldo legal, vem
pautando a atuação do Ministério das Comunicações e da
ANATEL e atropelando o direito da sociedade de participar
e ver representados os interesses dos diversos segmentos
nas decisões sobre o destino do setor.
Os primeiros passos já foram dados no último mês de abril.
Foram alteradas as metas de universalização dos contratos
de concessão da telefonia fixa. Numa manobra sorrateira e
de legalidade já questionada no Poder Judiciário, o
Governo presenteou as concessionárias – Telefonica, Oi e
Brasil Telecom, sem prévia licitação, com o direito de
implementarem as redes de expansão da banda larga, sob a
justificativa capenga de que elas são detentoras do
direito de uso exclusivo dos backbones – a
infra-estrutura do serviço de telefonia fixa - STFC e,
portanto, teriam melhores condições de capitanear o plano
de extensão da rede de banda larga, que depende da rede de
cobre para se ancorar.
Ora, caso a ANATEL tivesse cumprido suas obrigações
legais, mais empresas estariam se beneficiando do presente
que receberam as teles, o que traria estímulo para redução
de tarifa e melhor qualidade do serviço. Precioso o
resultado de estudo promovido pela Telcomp – Associação
Brasileira de Prestadores de Serviços de Telecomunicações
Competitivas – para expressar a fragilidade do nosso
mercado de banda larga.
Para a
alteração desse quadro, há medidas fundamentais e que já
deveriam ter sido adotadas pela ANATEL, tais como a
implementação do que dispõe a LGT e a adoção do modelo de
custos.
Caso a concessão para o serviço de troncos tivesse sido
implementada, nos termos do art. 207, da LGT, os 10
milhões de quilômetros de backbones espalhados pelo
país poderiam estar sendo utilizados em condições de
igualdade e equilíbrio entre todos os prestadores de
serviço, inclusive pelas concessionárias, de acordo com a
administração realizada por entidade voltada para esse
fim, garantindo-se a competição e, conseqüentemente, a
redução dos preços – a exemplo do que vem ocorrendo na
Europa, em virtude do que as tarifas já caíram mais de 40%
- e melhoria na qualidade dos serviços.
Quanto ao modelo de custos, se já estivesse implementado,
como determina a lei, a ANATEL não estaria mais refém dos
sistemas de informação das suas fiscalizadas e teria
ampliado seu poder de controle de preços, podendo
estimular a concorrência e a ampliação da vergonhosa taxa
de penetração do serviço básico (média de 38 tel/100hab) –
a telefonia fixa – que mesmo em países onde a banda larga
e a telefonia móvel têm preços 400% mais baixos do que os
nossos – apresentam teledensidade de 70 telefones para
cada 100 habitantes.
Ou seja, os três fatos concretos são: a construção e uso
da rede de acesso à banda larga – os backhauls -
estão nas mãos das concessionárias, que já são dominantes
nos seguimentos de telefonia fixa e banda larga nos seus
setores de atuação e poderão, igualmente, passar à
condição de dominantes do setor de televisão a cabo; o
setor de telecomunicações está prestes a ter 97% do
território nacional sujeito ao domínio da supertele BrOi,
o estado de São Paulo, nas mãos da Telefonica e, como
terceiro agente no cenário nacional, a Embratel (Telmex);
o Governo está alterando o marco legal do setor, sem estar
apoiado em estudos de impacto econômico e social,
impedindo um amplo debate e passando por cima das
determinações constitucionais que impõem garantia de
acesso ao serviço essencial, o incentivo à pequenas e
médias empresas e a concorrência.
Porém, não vemos perspectivas de que o Governo repense
seus planos ou, com transparência, exponha o motivo pelo
qual tem adotado a estratégia de segmentar o trato dos
vários aspectos da alteração do marco regulatório,
tratando em momentos distintos e em fóruns separados os
seguintes temas fundamentais: a entrega das redes de banda
larga apenas nas mãos das concessionárias, sem licitação
(alteração do PGMU – Decreto 6.424/2008), a alteração da
Lei Geral das Telecomunicações no que tange ao limite de
atuação das concessionárias (PL 29), a alteração da lei do
Fundo de Universalização das Telecomunicações – o FUST e a
revisão da Política de Telecomunicações no âmbito do
Ministério das Comunicações ainda em curso, a despeito das
modificações já promovidas. Tudo isso, passando como um
rolo compressor; sem debates qualificados, pois os prazos
de consulta pública têm sido limitados e sem
disponibilização à sociedade de estudos técnicos e
econômicos e sem envolvimento do Congresso Nacional.
O que o Presidente Lula pretende com as medidas que vêm
sendo adotadas? Poderia desencadear um processo amplo como
este sem ouvir a sociedade, agindo de forma açodada como
sempre criticou o Governo anterior na época da
privatização?
Perguntamos, então: Presidente Lula, lá aonde? O que nos
oferecerá a supertele e para quê?