FLÁVIA LEFÈVRE GUIMARÃES
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Abril 2010              Índice Geral


12/04/10

• Debate entre Flávia Lefèvre e participantes do Grupo WirelessBR: "O PNBL não pode ficar nas mãos das concessionárias" (1)

de flavialefevre <flavialefevre@yahoo.com.br>
para wirelessbr@yahoogrupos.com.br
data 11 de abril de 2010 12:21
assunto Re: [wireless.br] A CONFISSÃO DO BACKHAUL - O PNBL NÃO PODE FICAR NAS MÃOS DAS CONCESSIONÁRIAS

Prezado Rubens

Antes de tudo quero externar minha surpresa com o grau de incômodo que minhas opiniões geram em você. Especialmente porque você diz ao final da mensagem que não tem qualquer ligação com as concessionárias. Receberia com menos surpresa sua mensagem caso você fosse acionista, empregado, lobista ... Mas como cidadão "que paga as contas", o tom da sua mensagem parece exagerado e, desculpe, um pouco despropositado. Aliás, sua participação nesse grupo se dá a que título?

Mas vamos às respostas para pelo menos alguns dos seus questionamentos:

1 - Por que quero "desconstruir ou aniquilar" o que está funcionando?

Discordo da sua opinião de que as telecomunicações no Brasil estão funcionando bem e acredito que é a minha posição que levará à construção de segurança e equilíbrio para o setor das telecomunicações; e o faço com base nos seguintes fatos:

a) a penetração da telefonia fixa no Brasil é indecente, depois de 11 anos de privatização - 21 acessos em serviço por 100 habitantes é a média no Brasil. E não me venham com a conversa mole de que a telefonia fixa morreu, porque nos países onde a renda é alta e o voip é vastamente utilizado a penetração é de 70 acessos em serviço por 100 habitantes (site Teleco). Você, Rubens, deve ter computador, usar o voip, ter celular e, tenho quase certeza que tem telefone fixo também.

b) o valor do serviço prestado em regime público é dos mais altos do planeta, como têm sido informado por diversos institutos de pesquisa confiáveis. E esses resultados veem de pesquisas cuja metodologia retirou as cargas tributárias e ponderou o poder de renda das populações;

c) a alternativa encontrada pelos mais pobres, que não têm telefone fixo por falta de capacidade financeira, é o prepago móvel, que tem a segunda tarifa mais cara do planeta (pesquisas realizadas por órgãos confiáveis como a Merril Lynch, entre outras), em virtude do que o tráfego de voz na telefonia celular ocupa o penúltimo lugar; só o Marrocos fala menos no celular do que o Brasil;

d) o mercado está concentrado nas mãos de três grupos econômicos, em razão do que os preços e tarifas são abusivos (conceito legal - Código de Defesa do Consumidor) em todos os serviços - telefonia fixa, móvel e comunicação de dados;

e) a qualidade dos serviços é lamentável, como comprovam os rankings PÚBLICOS com reclamações. O José Roberto publicou um ótimo artigo no E-Thesis - Visite o seu chão de fábrica, com dados da ANATEL, mostrando a deterioração na qualidade dos serviços e reclamações;

f) o serviço de comunicação de dados ainda está no regime privado, em razão do que não há como se impor metas de universalização e continuidade. Este fato explica os apagões sistemáticos desse serviço, cujos preços são abusivos, especialmente se considerarmos a velocidade ridícula frente ao valor cobrado por ela;

g) a Anatel está claramente cooptada pelas concessionárias, o que origina corrupção em prejuízo da ordem jurídica do país e do interesse e patrimônio públicos;

h) os financiamentos obtidos pelas concessionárias junto ao BNDES têm sido revertidos para o patrimônio privado dos grupos econômicos e não para os investimentos contratados e obrigatórios, como provam os dados do Banco Central que indicam o crescimento de mais de 123% de remessa de divisas das empresas de telecom para a Espanha em 2009, bem como as investigações do TCU e Ministério Público com alvo na atuação fiscalizatória da Anatel.

2 - O Estado não tem capacidade para prover serviços

a) Vou tentar anexar uma tabela nesta mensagem, com relatório elaborado pelo Marcio Wolers - UNICAMP (*), elaborado logo no início das privatizações mostrando o forte investimento que o Estado fez no setor de telecomunicações. Um outro trabalho realizado pela FGV - Direito e Economia na Regulação Setorial, 2009, Alexandre Ditzel Faraco, onde encontramos o seguinte:

“Esse modelo centralizado foi determinante para o desenvolvimento da infraestrutura de telecomunicações no Brasil, ...

Ressalte-se, ainda, que até a União Federal efetivamente assumir os serviços, o volume de investimentos era bastante insuficiente, (...) A presença estatal e os investimentos públicos foram, portanto, os meios de superação da incapacidade de a iniciativa privada alocar ao setor os recursos necessários.

No momento da promulgação da Constituição de 1988, o modelo construído em torno do monopólio estatal foi recepcionado e confirmado.” (Regulação das Telecomunicações – Alexandre Ditzel Faraco – Direito e Economia na Regulação Setorial – Direito GV – Fundação Getúlio Vargas, 2009).

b) Ou seja, foi a centralização das telecomunicações nas mãos do Estado, a partir do início dos anos 1960, que viabilizaram o desenvolvimento do setor, ocasião em que foram feitos fortes investimentos. Depois da crise brasileira ocorrida nos anos 1980 a 1990, período em que os investimentos foram fortemente reduzidos, para preparar o setor para as privatizações foram feitos, de 1995 a 1998, grandes investimentos - média de 4 bilhões ao ano. Hoje as empresas fazem uma média de 2 bilhões ano ano, segundo dados da Anatel e, 80% desses investimentos estão voltados para a implantação de redes privadas (nota técnica da Anatel).

c) O quadro atual de descontrole sobre o uso das redes coloca o Brasil em situação de forte risco; tanto agora, pelas razões expostas acima (chegou a ler a notícia sobre o rompimento de contrato pela PM do DF com a OI, por conta dos altos preços? é só um exemplo), quanto ao final das concessões, pois poderemos ficar nas mãos de grupos econômicos privados - que serão detentores das redes essenciais para a prestação do serviço de comunicação de dados; infraestrutura esta construída com recursos públicos - tarifa e FUST. Qual a legalidade e justiça nisso?

Então Rubens, acredito SIM que o Estado tem condições de garantir a oferta de serviços. Aliás, mesmo que eu ou você não acreditemos nisso, o fato é só um: pelo inc. IX, do art. 21 e art. 175, da Constituição Federal, é do Estado a obrigação de prestar o serviço - diretamente ou por concessão, autorização ou permissão.

Rubens, o que mais me preocupa em sua mensagem é o seu desprezo pela lei. Podemos até discordar delas. Mas enquanto estão válidas devem ser observadas por TODOS; mesmo por quem tem poder econômico.

O respeito à lei é a premissa básica para a civilidade. Se você não concorda com a LGT, ou se envolva nos movimentos sociais para modificá-la, ou não se indigne comigo, que invoco a lei para defender minhas posições.

Por fim, quero frisar para você - e pela segunda vez - que no cerne de minhas posições não há nada ideológico, mas, acredite você ou não, uma preocupação com a igualdade, liberdade de escolha e dignidade e outros princípios usados até para revoluções burguesas! Pasme você!

Como sempre ... obrigada pelo debate.

Abraço e boa semana.

Flávia Lefèvre Guimarães

(*) Relatório elaborado pelo Márcio Wolers - UNICAMP (Visualizar - Baixar)


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de Rubens <rublst@mandic.com.br>
para wirelessbr@yahoogrupos.com.br
data 10 de abril de 2010 06:01
assunto RE: [wireless.br] A CONFISSÃO DO BACKHAUL - O PNBL NÃO PODE FICAR NAS MÃOS DAS CONCESSIONÁRIAS
...

Fávia escreveu:| A CONFISSÃO DO BACKHAUL - O PNBL NÃO PODE FICAR NAS MÃOS DAS CONCESSIONÁRIAS
|
| Está provado, igualmente, o desrespeito aos arts. 86 e 85, da LGT,
| na medida em que as concessionárias só podem prestar o STFC (...)
| Assim, se a rede que serve de suporte para o serviço de comunicação
| de dados foi incluída dentro do contrato de concessão do STFC, estamos
| diante de graves ilegalidades, cujas consequências funestas são:
| CONCENTRAÇÃO DO MERCADO NA MÃO DO CARTEL QUE HOJE DOMINA OS MERCADOS
| DAS TELECOMUNICAÇÕES e DESRESPEITO AOS PRINCÍPIOS DA MODICIDADE
| TARIFÁRIA E UNIVERSALIZAÇÃO.


Cara, Flávia Lefèvre...

Eu sinceramente nunca consegui entender AONDE exatamente este tipo de posicionamento ideológico e radical pretende chegar...

Tudo bem que você e outros como o Rogério acreditem de verdade que o governo tem alguma mínima capacidade de investimento e de prestar algum bom serviço (como se os
governos já tivessem conseguido algum dia prestar algum serviço de forma decente, como telecomunicações, transporte, saúde publica, segurança, etc.). OK, um dia vocês aprendem
que o governo não tem e nunca vai ter essa capacidade, principalmente porque é um péssimo gestor, movido por politicagens e interesses imediatistas de toda espécie.

Mas o que eu realmente não entendo é: por que essa insistência que implantar o que vocês consideram como "correto" tem que passar necessariamente pela desconstruçao (eu diria
mesmo aniquilação) de tudo o que já foi criado, tudo o que já existe, e principalmente tudo o que já funciona?

O que vocês realmente pretendem construir de bom para o país ao insistirem sempre em bater nessa tecla enfadonha que "segundo a terceira vírgula da quarta palavra no artigo tal da
LGT, as teles se encontram em uma grave ilegalidade e devem ser proibidas de prestarem serviços de banda larga (comunicação de dados)"?

Qual o ponto que se pretende chegar? Que de repente milhões de brasileiros que usufruem dos serviços de Speedy, Velox, GVT e outros (a maioria deles satisfeitos e sem maiores reclamações), fiquem sem banda larga (ou sejam obrigados a usar a do governo -- que certamente será pior e mais lenta), só por causa de alguma leitura da LGT feita com intenções não muito claras?

Quer dizer então que não basta pedir que o governo entre nesse negocio competindo diretamente com as teles (e fazendo o Brasil regredir algumas décadas em sua evolução nas telecomunicações), não basta fazer o empoeirado discurso de sempre contra o capital e contra o lucro (como se todo lucro fosse necessariamente ruim),
mas é preciso também destruir tudo o que já está implantado e funcionando hoje?

Política da terra arrasada?

Por que não brigar para consertar tudo o que existe de errado (ou mal regulamentado) nas telecomunicações, buscar ideias para promover a concorrência, e ate defender que o governo
assuma as rédeas onde a iniciativa privada NÃO quiser entrar, mas sem fazer essa política de "vamos destruir tudo o que está aí", e principalmente sem fazer controle de preços? (o controle de preços sempre foi uma desgraça em qualquer Economia, nunca funcionou, pois ou provoca acomodação e aumentos maiores que os necessários -- como ocorre nas telecomunicações atualmente, inclusive --, ou inevitavelmente gera mercado negro, sucateamento, queda na qualidade dos produtos e serviços, e ate o desinteresse e o desabastecimento puro e simples).

A esquerda brasileira é realmente engraçada, sempre quer destruir tudo, ao invés de apenas melhorar o que já existe. Não propõem diminuir o preço da assinatura básica, propõem acabar
com a assinatura pura e simplesmente. Não propõem um ponto extra de tv paga mais barato, querem o ponto extra de graça (algo que não existe como imposição de lei em lugar algum do
mundo!). Não propõem formas de melhorar a banda larga, preferem lutar para ver se conseguem jogar na ilegalidade a banda larga já existente das teles. E assim por diante.

Tem que ser alguém muito fora da realidade do mundo para acreditar que esse tipo de posicionamento radical chega a algum lugar ou produz algo de util...

Graças a deus que, pelo menos o Lulla (e mesmo a Dilma), não são radicais desse jeito, porque se essa ideias prevalecessem, o país estaria num caminho pior do que o que
trilha a Venezuela.

[ ] Rubens
(um mero consumidor e contribuinte, nos últimos 10 anos sem qualquer envolvimento com empresas de telecomunicações que não seja o de pagar as faturas do meu próprio consumo ao final do mês)
 


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