FLÁVIA LEFÈVRE GUIMARÃES
WirelessBrasil
Abril 2015 Índice Geral
11/04/15
• INTERNET, DILMA E FACEBOOK - Palestra
proferida no 2º Encontro Nacional pelo Direito à Comunicação
Referência transcrita no final desta página:
Fonte: Blog do Planalto
[10/04/15]
Presidenta Dilma anuncia parceria do governo brasileiro com o Facebook
Tratando de acesso à internet, estamos falando
de direito fundamental, como já reconheceu a Comissão de Direitos Humanos da ONU
há quase 5 anos e o Net Mundial, ocorrido em abril de 2014 no Brasil, a fim de
preservar o caráter global e aberto da Internet como motor para acelerar o
progresso rumo ao desenvolvimento.
Sendo assim, com muita razão o último Fórum Social Mundial, ocorrido no final de
março deste ano em Tunis, teve como um dos resultados a Carta Mundial da Mídia
Livre, reconhecendo o acesso à internet como um direito fundamental e
defendendo:
a) a governança democrática da internet,
b) a neutralidade da rede,
c) a garantia da privacidade e liberdade de expressão,
d) a universalização da infraestrutura necessária para a garantia do acesso aos
meios de comunicação e à internet.
O reconhecimento institucional numa perspectiva mundial do acesso à internet e à
sua respectiva infraestrutura como um bem comum e um direito fundamental é um
ganho extraordinário, na medida em que a internet não pode estar dividida em
esquemas nacionais, pois a interconexão entre as infraestruturas e um sistema
internacional de funcionamento é que propiciam o caráter aberto da rede e a
ampliação do direito à comunicação.
Por outro lado, é importante que as normas de governança da internet de cada
país estabeleçam os direitos dos usuários e os limites para a exploração
comercial e uso das redes pelos agentes econômicos e governos, de modo a
compatibilizar as normas de governança com os direitos do consumidor e com a
preservação de ambiente concorrencial, das diferenças culturais regionais,
sociais, econômicas e políticas de cada nação.
Essa perspectiva, então, traz implicações diretas para os formuladores de
políticas públicas e órgãos reguladores, assim como para os agentes privados que
exploram no setor.
Nesse sentido, podemos nos orgulhar de estarmos um passo à frente de muitos
países, pois, além de termos o Comitê Gestor da Internet – órgão
multirepresentativo envolvido na governança da internet, conseguimos à duras
penas a aprovação do Marco Civil da Internet em abril de 2014, sendo que de seu
texto consta o objetivo expresso do “direito ao acesso à internet a todos” (art.
4º) e o reconhecimento deste acesso como essencial para o exercício da
cidadania” (art. 7º).
Sendo assim e considerando que a internet se desenvolve sobre camadas:
a) a da infraestrutura de telecomunicações;
b) a da arquitetura das redes de acesso à internet e
c) a de aplicações e conteúdos,
temos de reconhecer a complexidade desse sistema e suas dificuldades para que a
sociedade civil possa fazer valer seus direitos frente aos interesses econômicos
privados dos grandes agentes econômicos, que cada vez se concentram mais de
forma vertical, associando-se para explorar a infraestrutura de telecomunicações
e comercializar serviços de acesso à internet e fornecimento de aplicações e
conteúdos, com o objetivo de impedir a concorrência efetiva e manter altos
preços de forma cartelizada, colocando em risco o caráter democrático da rede.
Essa disputa ocorre em pelos menos três frentes – telecomunicações, acesso à
internet, que é serviço de valor adicionado (art. 61, da LGT e Norma 04/95 do
Ministério das Comunicações) e, portanto, está fora da atribuição da ANATEL, e
comercialização de aplicações e conteúdos, também fora do campo de atuação da
ANATEL.
E a disputa é dura, pois, ao tratar de internet, estamos tratando de um conjunto
de novos meios de produção sujeitos ao poder econômico de apropriação pelos
agentes econômicos, com vistas a ampliar o máximo possível a mais valia sobre
este novo modo de produção.
Marx já nos ensinou no final dos anos 1800, que a natureza do sistema
capitalista é o capital subordinar a seu interesse todo segmento produtivo.
Nos ensinou mais: que o resultado do desenvolvimento das relações sociais nesse
contexto dão forma a estrutura econômica da sociedade, que é a base objetiva
sobre a qual se levanta a superestrutura jurídica e política e à qual
correspondem determinadas formas de consciência social.
Ou seja, “o modo de produção da vida material condiciona o processo da vida
social, política e espiritual em geral. Não é a consciência do homem que
determina o seu ser, mas, pelo contrário, o seu ser social é que determina a sua
consciência”.
É com base nesta realidade que temos de nos posicionar diante das disputas hoje
em curso, estando entre as principais a interpretação quanto à abrangência do
direito à neutralidade da rede, expresso nos arts. 3º e 9º, do Marco Civil da
Internet, e a regulamentação das hipóteses em que os agentes econômicos estão
autorizados a quebrar a neutralidade.
Isto porque é a neutralidade – conceito jurídico forrado de aspectos técnicos
para a aferição de seu cumprimento – que garante o tratamento isonômico, não
discriminatório e sem degradação do tráfego dos dados lançados nas redes,
deixando-se de lado questões comerciais, econômicas, políticas, religiosas etc
...
Nesses processos que estão em curso, é preciso conquistar mecanismos
regulatórios que possibilitem a socialização dos ganhos econômicos vultosos que
a internet proporciona, inclusive e especialmente pelo USO DOS DADOS PESSOAIS,
ameaçando a privacidade.
É preciso evitar que a internet se torne um espaço que se presta essencialmente
a relações comerciais dominadas por grandes grupos econômicos, que cada vez mais
se concentram, pondo em risco o poder de escolha dos usuários, o acesso livre à
informação e à cultura e à liberdade de expressão.
Por isso devemos estar atentos para as armadilhas perigosas que quero nomear
aqui de forma bem clara, pois o mercado as apresenta como um benefício para o
usuário da internet. São elas:
1 – Centrar as políticas públicas de ampliação da infraestrutura de
telecomunicações nas tecnologias móveis e de forma completamente desvinculada do
regime público; é o regime público que possibilita investimentos públicos em
infraestrutura (utilização do Fundo de Universalização dos Serviços de
Telecomunicações – FUST) e a imposição de metas de investimento pelas empresas,
a fim de universalizar o acesso levando a infraestrutura a todas as regiões e
localidades do país, bem como o poder do Estado de garantir parte da capacidade
das novas redes para a implantação de políticas públicas de inclusão digital.
Quanto a este ponto, dezenas de entidades estão reunidas na Campanha Banda Larga
é um Direito Seu já há mais de 4 anos, com proposta apresentada oficialmente ao
Ministério das Comunicações, propondo que a regulação se dê em camadas e
buscando o cumprimento do art. 65, § 1º, da LGT, que estabelece que os serviços
essenciais não podem ser prestados apenas em regime privado como vem
acontecendo. A LGT estabelece no art. 18, inc. I, atribuição legal para que o
Poder Executivo estenda o regime público para os serviços essenciais.
A proposta da Campanha se apoia também no Plano Nacional de Banda Larga,
instituído pelo Decreto 7.175/2010, que recuperou a Telebras, atribuindo a ela
no art. 4º, uma série de funções voltadas para impulsionar a distribuição
democrática da infraestrutura por todo o país, de modo a garantir o acesso à
internet para todos os brasileiros.
A proposta se refere também às redes públicas hoje associadas aos contratos de
concessão da telefonia fixa. São redes de transporte e acesso com valor estimado
pela ANATEL de R$ 71 bilhões e que, com base em nova tecnologia – o GFAST, podem
ser associadas a novas redes de fibra ótica para prover banda larga em alta
capacidade.
2 – Os abusivos planos limitados, com franquias pífias e acessos gratuitos a
determinados aplicativos e bloqueio à todo o resto da internet, impedindo o
pleno exercício da cidadania, uma vez que há diversos serviços públicos hoje que
só se pode utilizar pela internet (ex: processos judiciais digitais, obtenção de
certidões forenses, entre outros).
O Marco Civil é muito claro quando estabelece que o acesso à internet é
essencial e que a interrupção do fornecimento deste serviço só pode se dar por
falta de pagamento.
Sei que num país com as características sócio-econômicas como do Brasil, é um
desafio falar contra os acessos gratuitos ou projetos como o internet.org de
MarKZuckerberg, que vem sendo implantado em diversos países pobres (último
acordo foi assinado ontem com o Panamá), de expandir o acesso à internet pela
tecnologia móvel.
Entretanto, é nosso dever alertar para o caráter discriminatório desses planos
de negócios, cujo resultado é claramente a criação de castas de consumidores,
sendo que quem tem mais dinheiro contrata acessos ilimitados e na rede fixa e os
consumidores de baixa renda ficam sujeitos a planos limitados e navegação
restrita, que não pode ser considerada acesso à internet, sem possibilidade de
exercer plenamente a cidadania e de exercer plenamente o direito de escolha,
cultura e liberdade de expressão.
Nós conseguimos escapar do discurso tacanho durante todo o processo de aprovação
do MCI de que esta lei seria uma forma de o Estado cercear a liberdade na
internet, e conseguimos demonstrar que a internet é um espaço novo que desperta
grandes interesses econômicos e políticos, em razão do que são necessárias
regras para proteger os interesses públicos relacionados e a democracia.
Precisamos agora lutar para que as tratativas anunciadas ontem no Panamá pela
Presidenta Dilma e MarckZuckerberg não progridam, pois os resultados econômicos
e sociais para o país seriam desastrosos.
Não podemos ficar sujeitos a essa nova versão de colonização. É disto que se
trata. Os agentes econômicos estão correndo para se apropriar da internet, com
riscos concretos de aniquilamento das pequenas empresas, inovação e dos direitos
dos consumidores, e nós precisamos reagir urgentemente.
Precisamos ter presente o que os agentes econômicos não se cansam de repetir
quando clamamos por melhorias na qualidade do serviço: NÃO TEM ALMOÇO GRÁTIS.
E o preço de termos acessos gratuitos e planos como o internet.org do Facebook é
muito caro: é o desrespeito às garantias de privacidade, direito de escolha e
liberdade de expressão.
Obrigada.
Flávia Lefèvre Guimarães
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Leia na Fonte: Blog do Planalto
[10/04/15]
Presidenta Dilma anuncia parceria do governo brasileiro com o Facebook
Após encontro com Mark Zuckerberg, nesta sexta-feira (10) a presidenta Dilma
Rousseff anunciou parceria do governo brasileiro com o Facebook. A reunião com o
fundador da rede social mais famosa do mundo ocorreu na cidade do Panamá, onde
se realiza a 7ª Cúpula das Américas. Durante a conversa, ela foi presenteada com
um casaco contendo a logo do Facebook e a bandeira do Brasil.
“Nós, a partir de agora, vamos fazer estudos em comum até que, quando chegar
em junho, nós possamos desenhar um projeto comum cujo objetivo fundamental é a
inclusão digital. Mas não é a inclusão digital pela inclusão digital. É a
inclusão digital porque ela pode garantir acesso à educação, acesso à saúde, à
cultura, à tecnologia. Enfim, olhar [essa rede social] como um instrumento”,
avaliou a presidenta.
Dilma acrescentou que considera o Facebook um dos grandes produtos que geraram a
revolução digital. E comparou revolução com o que ocorreu com a energia
elétrica, “quando o mundo foi iluminado”. Agora, comparou, o mundo é
iluminado pelo acesso ao conhecimento, pelo acesso a serviços. “Um dos mais
importantes [conhecimentos] é o acesso a serviços de saúde, acesso a serviços de
educação”, exemplificou.
A presidenta salientou as dificuldades encontradas atualmente para ampliar o
acesso à internet e promover a inclusão digital. “Vocês sabem que nós temos
áreas que são áreas de difícil acesso. A Amazônia toda, é uma. Tem áreas também
no Centro-Oeste que esses problemas existem. Existem áreas no Nordeste. Enfim,
todas as regiões no Brasil. Então, é muito importante essa parceria que nós,
hoje, estamos encaminhando e que significa, basicamente, garantir o acesso à
serviços, os mais variados, via internet”, acrescentou.
A presidenta lembrou que já existe uma
parceria desse tipo em Heliópolis, em São Paulo. “Esse é um exemplo de um
modelo que nós pretendemos utilizar”, comentou. Em sua página no Facebook,
Zuckerberg elogiou o encontro, dizendo que foi “uma boa conversa”, para
aumentar a conectividade das pessoas e da internet no Brasil.