José
Roberto de Souza Pinto
ComUnidade
WirelessBrasil
Fevereiro 2010 Índice dos assuntos
19/02/10
• José Smolka comenta a análise de Clóvis Marques sobre a reativação da Telebrás + Comentário de José Roberto de Souza Pinto
de josersp@terra.com.br
para Celld-group@yahoogrupos.com.br
data 19 de fevereiro de 2010 18:41
assunto Re: [Celld-group]Telebrás, Eletronet e PNBL (179) - Blog do Reinaldo
Azevedo (Veja): "Está pintando um escândalo gigantesco na Telebrás" + Blog de
Leonardo Araujo: "Telebrás - o contra-ataque das oposições"
J. R. Smolka
Parabéns pela sua analise. Tenho evitado de fazer comentários sobre este tema "TELEBRAS",
porque as motivações de reativação desta Empresa, não tem nada a ver com o
objetivo de promover o desenvolvimento da banda larga no país.
Entretanto duas observações adicionais a sua analise podem ser colocadas:
1 - O Governo já capitalizou a Telebrás em R$ 200 milhões.
ESTE VALOR É RIDÍCULO PARA QUALQUER PLANO E O OBJETIVO DESTE VALOR ERA PARA
REGULARIZAR A EMPRESA E OS EMPREGADOS QUE DEVERIAM SER DEMITIDOS.
2- A Rede da Eletronet já é de posse do Governo e é a Espinha dorsal do PNBL.
Ela será transferida à Telebrás.-
É IMPORTANTE CONSIDERAR A DÍVIDA DE CONSTRUÇÃO DESTA REDE DE FIBRAS ÓPTICAS QUE
A EMPRESA FALIDA, A ELETRONET TEM COM OS FORNECEDORES, QUE JÁ ESTÃO COBRANDO.
sds
Jose Roberto Souza Pinto
Engenheiro, Mestre em Economia e Consultor em Telecomunicações.
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de J. R. Smolka <smolka@terra.com.br>
para Celld-group@yahoogrupos.com.br
data 19 de fevereiro de 2010 12:17
assunto Re: [Celld-group] Telebrás, Eletronet e PNBL (179) - Blog do Reinaldo
Azevedo (Veja): "Está pintando um escândalo gigantesco na Telebrás" + Blog de
Leonardo Araújo: "Telebrás - o contra-ataque das oposições"
Clóvis,
(...) vou me dar ao trabalho de comentar seus posicionamentos.
Clóvis Marques escreveu:
> As matérias contrárias à reativação da Telebrás não se
dão conta que:
> - A reativação da Telebrás está anunciada desde 2007 em fato relevante enviado
à CVM (basta entrar no site e pesquisar).
Fiz isso. Encontrei dois fatos relevantes da Telebrás, ambos publicados em
21/12/2007. O primeiro apenas diz que a União estava fazendo uma injeção de R$
200 mi na empresa, aumentando o seu capital social e (consequentemente) a
participação da União na companhia, e a explicação da finalidade deste ingresso
de capital era "promover o restabelecimento do equilíbrio econômico e financeiro
da companhia". Isto deve ter levantado muitas orelhas no mercado, e a própria
CVM deve ter advertido que esta explicação era muito pobre.
Daí que, no mesmo dia, foi publicado mais um fato relevante, ampliando a
explicação da finalidade dos R$ 200 mi para "investimentos no sistema de
operacionalização do programa de inclusão digital e da universalização da banda
larga no Brasil, bem como promover o restabelecimento do equilíbrio econômico e
financeiro da companhia". Mais orelhas em pé... injeção de dinheiro grosso em
empresa marcada antes para desativação? Operacionalização de programas? O que
isto realmente significa? As entrelinhas - porque objetivamente não se falou
nada sobre reativação da empresa - indicam a intenção de mudar a empresa de
status, de moribunda para operacional.
Mas dizer que a reativação foi comunicada ao mercado, clara e
inquestionavelmente, através destes comunicados de fato relevante?
Respeitosamente discordo de sua opinião. Agora, se você quiser dizer que os
tubarões do mercado leram estes comunicados e entenderam a real intenção por
trás deles, aí eu posso concordar.
> - O Governo é o principal acionista da Telebrás,
concentrando 80% das ações da Empresa. Ou seja, se alguns (mais de 2 milhões de
acionistas) estão ganhando bastante, o Governo está ganhando muito mais.
Sinceramente, esta eu fiquei pensando duas ou três vezes para poder responder
com seriedade, porque parece brincadeira. O governo (a não ser que eu esteja
"boiando" muito mais do que já disseram a meu respeito) não especula em bolsa
com suas próprias ações para engordar o Tesouro. E o governo Lula certamente não
aproveitaria a alta para alienar parte da sua participação na companhia. Então o
fato da maior parte da valorização recair para o governo é irrelevante para a
discussão.
O que é relevante é que, no meio daqueles "mais de 2 milhões" de acionistas,
existe um punhado deles que tem uma carteira significativa de ações da Telebrás,
e que auferem um lucro muito gordo ao comprar lotes de ações por um preço e,
depois que o governo emite sinais de fumaça que, indiretamente, apontam para a
reativação, vendem com valorização brutal.
Certamente entre estes existe gente da estirpe de Naji Nahas, mas a hipótese
levantada pelo Reinaldo Azevedo (e que eu não descarto), é que entre eles também
existam petistas graúdos. Ou amigos próximos e íntimos deles.
> - O valor de mercado da Telebrás, que é atualmente de
mais de R$ 2 bilhões, será multiplicado muitas vezes assim que a Empresa estiver
operacional.
E o que isto tem a ver com a discussão em curso? O que interessa é que, enquanto
o governo não diz inequivocamente ao mercado que pretende reativar a companhia,
cada movimento oblíquo, cada boato, cada twitter, tudo é oportunidade para
"pedalar" as ações e faturar uma grana preta. E a pergunta é: quem são estes que
estão faturando alto com este sobe-desce das ações da Telebrás?
> - O Governo já capitalizou a Telebrás em R$ 200 milhões
(também disponível no site da CVM).
Também, não! É a única informação, já citada no primeiro item desta lista.
> - A Rede da Eletronet já é de posse do Governo e é a
Espinha dorsal do PNBL. Ela será transferida à Telebrás.
Não sei se você já teve oportunidade de participar do planejamento da
implantação de uma rede de transporte ótico integrado. Eu já, e posso assegurar
a você que isto que eu estou vendo ser noticiado como "assunto resolvido" me
causa muito espanto, porque existem milhares de aspectos não explicados (e,
muito possivelmente, subestimados) para fazer uma rede destas funcionar. E,
repare, é só o backbone. Ainda não se disse nada sobre como cada localidade a
ser atendida vai integrar-se ao backbone (se quiser denominar assim, este é o
tal backhaul da discórdia), e como será feito o acesso e concentração do tráfego
de cada localidade para encaminhamento ao ponto de interconexão ao backbone.
As fibras ópticas da finada Eletronet foram transferidas ao governo por medida
liminar, e toda medida liminar pode ser alterada pelo julgamento do mérito da
questão. Então não vejo esta segurança jurídica toda. O processo de falência vai
ter que transitar em julgado um dia, e então, o que poderá ocorrer com estes
ativos da massa falida que estão sendo postos em uso, como se tudo já fosse
favas contadas?
> - Os investimentos previstos para fazer chegar Banda
Larga à 70% da população até 2014 é estimado em R$ 20 Bilhões. Essa
capitalização será realizada através da Telebrás, aumentando ainda mais seu
valor de mercado.
Hummm... R$ 20 bi em 4 anos... Tipo da notícia vazia que só serve para "pedalar"
ainda mais o mercado de ações. Este valor só tem sentido se for anunciado o
plano detalhado para resolver os aspectos de backhaul, acesso e concentração que
mencionei acima, bem como o modelo comercial a ser adotado. Até lá qualquer
valor é apenas balão de ensaio. Ou, como gosto de chamar por aqui, um
invertebrado gasoso.
> - A Telebrás tem funcionários (cedidos a outros Órgãos
de Governo) e muitos deles retornarão, pois todos já foram chamados de volta
para tocar o PNBL.
Tem sim. Cerca de 500 funcionários que, aposto, nunca exerceram cargo
operacional na vida. São, e sempre foram, "jóqueis de planilha eletrônica",
especialistas em dirigir o show a partir dos bastidores, nunca tendo que "enfiar
o pé na lama das trincheiras". Sinceramente, esta é uma tribo com excesso de
caciques e escassez de índios.
Quem acha que dá para tornar operacional uma rede deste tipo e deste porte com
este tipo de material humano? Se houver alguém eu vou classificá-lo(a)
juntamente com os personagens da Velhinha de Taubaté (do L. F. Veríssimo) e da
Salomé (do Chico Anysio). Então eu pergunto: de onde virá a mão-de-obra
especializada para conseguir colocar esta rede em pé e funcionando? Concurso
público? Contratos de terceirização e operação assistida?
> Os críticos estão deixando de lado também declarações
relevantes proferidas pelas próprias Operadoras Privadas sobre a impossibilidade
de atenderem a demanda do mercado, seja nos grandes centros por falta de
capacidade das redes, seja nas Regiões menos privilegiadas por falta de
"viabilidade" financeira. Também não perceberam (ou estão se fazendo de
desentendidos) que boa parte das Operadoras e Provedores Locais estão torcendo
para a reativação da Telebrás para que elas possam concentrar investimentos nas
redes de acesso (mais baratas) e tenham assim sua participação garantida no PNBL.
Bom, eu, por meu lado, não tenho ilusões. Acredito no TANSTAAFL. Se não existe
cobertura de um serviço em algum local é porque ele, nas circunstâncias atuais,
é economicamente inviável. Sem aspas. E é inviável porque qualquer negócio
procura uma margem líquida que remunere adequadamente o acionista. Se não for
assim não haverão acionistas. Ou você colocaria o seu dinheirinho suado em um
empreendimento que lhe desse um rendimento pífio, ou até prejuízo?
Quer mudar este estado de coisas? Como diz o Ethevaldo Siqueira, é simples:
basta reduzir a imensa carga tributária incidente sobre os serviços de telecom
(40%) com o acordo de repassar a redução integralmente à tarifa. Aposto que um
monte de lugares onde a demanda dá traço começariam a aparecer como viáveis.
Ah, sim! existe o detalhe que todas (atenção, eu disse todas) as operadoras
fixas e móveis já tem os seus backbones ópticos prontos ou em fase adiantada de
construção. Backhauls e estruturas de acesso e concentração seguem no mesmo
caminho. A infraestrutura que vier a ser montada para o PNBL só será usada por
elas em três circunstâncias:
(a) atendimento a áreas onde não existia infraestrutura anterior;
(b) rotas alternativas para traffic engineering (balanceamento, backup, etc.);
ou
(c) substituição de fornecedores para redução de custo.
> Gostaria de lembrar àqueles que viveram a época da
Privatização do antigo Sistema Telebrás, arduamente conduzida pelo saudoso
Ministro Sérgio Mota, que, naquele momento após quase 30 anos de existência do
antigo Sistema, o modelo estava esgotado porque o Governo não possuía capacidade
de investimento para realizar a ampliação do sistema, as Operadoras eram cabide
de emprego de políticos e a corrupção corria solta, apesar dos excelentes
quadros que muitas Operadoras possuíam (alguns deles até hoje na ativa nas Teles
Privadas). Há méritos enormes no modelo Privatizado, que presenciamos nesses
quase 12 anos, mas não podemos deixar de apontar falhas insanáveis como a falta
de abrangência dos serviços, falta de qualidade dos serviços e do atendimento
aos clientes, preços fora da realidade do país e provavelmente a falta de um
benchmark que estimule as Operadoras atuais a buscar a excelência nos serviços.
Tenho certeza que se o Ministro Sergio Mota tivesse tido mais tempo ou se seus
sucessores no Ministério e na Anatel tivessem tido mais competência e
comprometimento certamente não teriam deixado nossa área de Telecom chegar onde
se encontra atualmente.
Uma das coisas que tenho certeza é que, caso o "Serjão" tivesse tido
oportunidade de comandar o processo de privatização até o fim, e de comandar o
início das operações do novo modelo privado, uma boa parte das confusões atuais
seria menor, ou não existiria. Mas eu quero lembrar que boa parte da confusão
atual deve-se à opção feita pelo governo atual (que geriu 8 dos 12 anos de
modelo privado) em lotear politicamente o ministério e os conselhos diretor e
consultivo da agência reguladora, e ainda esvaziar a capacidade de ação da
agência, via "contingenciamento" das receitas do FISTEL.
> Vivemos um novo momento no país e precisamos de um
modelo novo. Que venha então o novo modelo.
Não sei bem se chamaria isto que se propõe de "modelo novo". Talvez fosse mais
adequado chamá-lo de "modelo (estatal) de novo".
> Por fim, minha opinião: uma vez atingido o objetivo do
Governo de universalizar o acesso à Banda Larga, o que deve ocorrer até 2014,
conforme previsto no PNBL, quem disse que a Telebrás não pode ser privatizada
novamente? Afinal de contas, a primeira privatização rendeu R$ 30 Bilhões aos
cofres do Governo (em moeda de 1998) e pode render outros R$ 30 Bilhões (em
moeda de 2014), simplesmente porque a Telebrás irá ocupar um espaço que NUNCA
será ocupado pelas Operadoras Privadas no Brasil.
Ô Clóvis... Cai na real. Você acha que este governo ou (caso ganhe as próximas
eleições, como pretende) seus sucessores tem ou terão DNA para, algum dia, fazer
privatização de qualquer espécie? Este povo é estatista, neo-Keynesiano. Ou,
como o próprio Reinaldo Azevedo já denominou, neo-Geiselianos e burgueses do
capital alheio.
> Um abraço a todos,
[ ]'s pra você também.
J. R. Smolka
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