José
Roberto de Souza Pinto
WirelessBrasil
Dezembro 2018 Índice dos assuntos deste website
02/12/18
• A Sociedade e os Recursos e Serviços Essenciais
Para discutir esta questão da essencialidade, vamos primeiro contextualizar a
variável tempo e mudanças tecnológicas e de hábitos e costumes na sociedade.
Tomando por exemplo o caso das telecomunicações, podemos verificar que ao longo
do tempo um serviço que era naturalmente considerado como essencial e prestado
exclusivamente pelo Estado em regime de monopólio, evoluiu para uma situação em
que o mercado atende as necessidades da população, sendo controlado e
fiscalizado por órgãos especialmente criados para tal.
Neste exemplo as mudanças nas condições tecnológicas para construção da
infraestrutura e serviços e os ambientes de negócios, foram os fatores que geram
esta transformação neste setor.
Cabe destacar que este setor de telecomunicações pela sua importância e
características requereu a necessidade de inúmeros controles, que gradativamente
vão perdendo o sentido. O caso da telefonia fixa é clássico, onde a prestação do
serviço foi considerada nos termos da legislação como essencial, mesmo num
ambiente de investimentos privados e competição e por isso foi tratada como
concessão. O tempo passou, novas tecnologias surgiram e este telefone fixo
perdeu a prioridade da sociedade. Sendo hoje substituído por telefones móveis
celulares e serviços de acesso à internet em banda larga com recursos de redes
digitais, onde todos os serviços de telecomunicações trafegam.
Outros setores precisam ser cuidadosamente analisados, para se avaliar a sua
essencialidade para a sociedade e principalmente os riscos e controles
necessários para a sua liberação.
As Concessões são instrumentos a serem utilizados pelo Estado quando aquela
atividade requer uma situação onde o Estado, apesar do seu controle precisa
intervir e até voltar a prestar o serviço numa eventual falha do Concessionário
ou de segurança da nacional.
Neste particular cabe um destaque a ser valorizado sobre a responsabilidade do
Estado nestas Concessões, que precisam ser permanentemente controlados, técnica
e profissionalmente de modo a garantir os parâmetros definidos quando do ato de
concessão ou mesmo de uma mais simples autorização. O objetivo é sempre de
proteger o cliente, cidadão que necessita dos serviços.
São típicos os exemplos de concessão, como nos transportes públicos (ônibus,
trens, metros, transporte marítimo), nos portos, nas estradas de rodagem, nas
estradas de ferro, nos aeroportos e as redes de transmissão e de distribuição de
energia, as redes de distribuição de água e saneamento, gás, assim como a coleta
de lixo.
Em alguns setores temos algumas questões que considero ainda não totalmente
resolvidas, principalmente porque as regras das concessões não foram bem
estabelecidas ou os controles ou mesmos os órgãos de controle não realizam o seu
trabalho de forma eficaz.
Não resta dúvida que liberar o Estado destes investimentos, me parece uma
atitude saudável, de modo que os recursos obtidos com os impostos possam ser
aplicados em outros setores essenciais que devem permanecer sobre controle e
investimentos do Estado.
Por outro lado, estes órgãos que são Agências Reguladoras são fundamentais para
garantir a gestão eficiente destas ditas concessões ou mesmo as mais recentes,
como parcerias público/privadas, de modo que a sociedade seja bem atendida e com
qualidade.
Percebam que estes órgãos de controle são na realidade custos para a sociedade,
pois não produzem nada para a economia do país. Não aparecem na formação dos
bens e serviços contabilizados para o PIB-Produto Interno Bruto.
Entendo que apesar de serem agências especializadas que devem ser de Estado e
não de um governo específico, não devem ser motivo de proliferação ou mesmo de
duplicidade de controle nos diversos níveis do executivo. Reavaliar
periodicamente e se possível reduzir, será uma atitude saudável para a economia
do país.
A seleção do que o Estado deve se manter como investidor é uma questão antiga e
sempre politizada o que dificulta uma decisão sólida sobre todos os aspectos.
Requer sem dúvida analises mais profundas sobre aspectos de natureza estratégica
do país assim como de segurança, de modo a garantir em primeiro lugar os
interesses da população do país.
Um exemplo típico de uma decisão sólida e consubstanciada, são as
radiofrequências e posições orbitais de satélites, que são e devem continuar
como de propriedade do Estado, porque se enquadram na categoria de recursos
escassos. Podendo ser concedidas por um certo tempo para utilização, mas são de
propriedade do Estado.
Da mesma forma todos os recursos naturais, digo as suas fontes de minérios,
petróleo, água devem ter um tratamento especial, pois significam riquezas
acumuladas para as gerações futuras.
Percebo que o momento é propício para que sem viés politico partidário o país
consolide regras de exploração dos seus serviços essenciais e recursos naturais,
tendo como referências os aspectos estratégicos, tecnológicos e temporais da
evolução da sociedade.
Jose Roberto de Souza Pinto, engenheiro e mestre em economia empresarial.