José
Roberto de Souza Pinto
WirelessBrasil
Agosto 2020 Índice dos assuntos deste website
07/08/20
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Souza Pinto: Caminhos para a inclusão digital do cidadão (Artigo no
Tele.Síntese)
Impostos de mais de 40% inviabilizam o acesso a banda larga e telefonia móvel a
determinadas classes sociais.
Penso que não resta dúvida, e não é só por causa da atual pandemia, que a
inclusão digital tema é fundamental para o desenvolvimento de uma sociedade e
consequentemente do País.
Educação e conhecimento dependem de acesso à informação, e estas estão
disponíveis eletronicamente, na medida em que a digitalização da informação já é
uma realidade. Por outro lado, cabe ao cidadão buscar estas fontes de
informação, para a melhoria de suas condições de vida e em todos os seus
aspectos.
Entretanto informação e conhecimento ainda estão restritos a uma parcela da
sociedade que tem recursos financeiros para pagar por este acesso. A pandemia só
explicitou melhor a importância da comunicação e do acesso à informação para o
desenvolvimento pessoal, empresarial, econômico e até institucional do País.
Digo isso porque não é novidade para alguns estudiosos que já há bastante tempo
previam essa, que é chamada a sociedade da informação e agora mais recentemente
a quarta geração industrial, com maquinas conversando com maquinas estarão
fazendo grande parte do trabalho humano. Sem falar nos robôs para várias
tarefas, mas que requerem profissionais altamente qualificados e capacitados
para o seu desenvolvimento.
Vou recordar alguns nomes, como o de Simon Nora, no seu famoso relatório
“L’informatisation de la societé”, preparado para o Presidente da França e
publicado em 1981; Yoneji Masuda no livro “The Information Society”, publicado
em junho de 1980. Estes foram trabalhos precursores que representam marcos do
pensamento da sociedade em transformação que estamos vivenciando. Peter Drucker
no livro “The Next Society” publicado em 2001, descreve sobre a sociedade do
futuro, e sintetiza o pensamento com a mensagem: “A sociedade do futuro será a
do conhecimento”, não restando, portanto, dúvida sobre a importância das
comunicações e da informação neste século.
Queiram ou não, os serviços de telecomunicações, e em particular à banda larga e
aos serviços móveis, são essenciais para a sociedade e assim devem ser
classificados. Em hipótese alguma estou procurando argumentos para que tais
serviços sejam enquadrados como serviços prestados em regime público ou que o
Estado deve assumir esta operação, isso é coisa do passado.
Minha linha de pensamento se concentra na questão da prioridade a ser dada a
esses serviços, considerando que eles são essenciais e por isso requerem fazer
parte de uma estratégia nacional de desenvolvimento.
Considero que são válidas as diversas iniciativas isoladas que já existem em
algumas poucas cidades de a partir de investimentos públicos ou mesmo em
parceria com a iniciativa privada, de levar as classes menos favorecidas os
sistemas de banda larga com WIFI público em praças e em algumas comunidades.
A situação vivenciada agora neste momento da pandemia mais uma vez prova que
professores, escolas públicas e um grande número de estudantes não podem estudar
enquanto as escolas não reabrirem e isso sem dúvida é inaceitável, sem falar no
risco à saúde pública quando as escolas reabrirem.
Cabe destacar que vencido este momento de crise sanitária, teremos outros e
muitas Empresas já consideram a prática do home office como uma alternativa
econômica e natural de trabalho, a ser complementada com alguns encontros e
reuniões presenciais.
Parece que a essencialidade dos serviços de acesso à informação começa a ser
demonstrada por estas diversas aplicações, como a tele aula, consultas a
material didático, home office e muitas outras na área médica e em diversos
outros setores do dia a dia das pessoas e da economia.
De certa forma, estou falando sobre dependência da sociedade de aplicativos em
rede, que se utilizam de redes de telecomunicações que são crescentes e sem
limites. Assim, a sociedade precisa ter garantias de que estejam disponíveis em
condições de serem acessados por toda a população.
Os conceitos de essencialidade são diversos e constam de grande parte da
legislação do País. Vou me ater a um texto que publiquei em 2013 e recuperar
algumas regras estabelecidas.
Uma definição genérica de essencialidade seria: serviços essenciais são aqueles
que se constituem como sendo de utilidade pública e essencial para o
funcionamento da sociedade.
A Constituição Federal trata da questão da essencialidade, indicando que “são
necessidades inadiáveis, da comunidade aquelas que, não atendidas, coloquem em
perigo iminente a sobrevivência, a saúde ou a segurança da população”.
Na Lei de Segurança Nacional (Lei nº 7.170/83), é citado o dano, destruição ou
neutralização de meios de defesa ou de segurança; paralisação, total ou parcial,
de atividade ou serviços públicos reputados essenciais para a defesa, a
segurança ou a economia do País.
A tecnologia implantada na área de telecomunicações – seja por radares,
satélites, antenas ou cabos de fibras ópticas – cresceu e se incorporou aos
costumes e atividades, a ponto de torná-los essenciais ao bem-estar social como
mesmo assegura a Constituição Federal de 1988 em seu Preâmbulo e Art. 3º, IV.
Na Lei Geral de Telecomunicações – LGT (Lei nº 9.472/97) no TÍTULO II DAS
COMPETÊNCIAS e especificamente no Art. 18, também cita, mas não estou propondo
que serviços de acesso em banda larga e moveis celulares, sejam enquadrados no
regime público.
Nossa questão é prioridade porque é essencial para o funcionamento e o
crescimento da sociedade brasileira.
Então se são essenciais e prioritários, têm que atender a toda a população, não
podem ter impostos de mais de 40% porque inviabilizam o seu acesso a algumas
classes sociais pelo preço final. Os equipamentos terminais, sejam eles
computadores, laptops, tablets ou celulares, devem ter taxas mínimas de impostos
e até incentivos.
Como os serviços atendem a todos os segmentos da sociedade, poderíamos criar
incentivos para investimentos públicos e privados em redes de telecomunicações
de acesso, de modo a atender aos menos favorecidos.
O objetivo é reduzir as desigualdades no acesso às informações, estudo e
conhecimentos e criar condições no mínimo semelhantes para todos os estudantes
do país.
Com um conjunto de medidas de larga escala estaríamos permitindo que novas
mentes brilhantes de elevado conhecimento estejam preparadas para este novo
cenário complexo de incertezas que se apresenta, em que só vai existir o
trabalho para profissionais extremamente qualificados.
Que este seja o desejo de grande parte da população e ajude a encontrar e
consolidar este novo e prioritário caminho.
Jose Roberto de Souza Pinto é engenheiro e mestre em economia empresarial.