José
Roberto de Souza Pinto
WirelessBrasil
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20/07/2020
• Primeira transmissão de TV via satélite no Brasil
Rede Bandeirantes de TV foi a primeira a fazer uma transmissão via satélite,
sendo a rede pioneira na utilização de um canal exclusivo de satélite
fornecido pela EMBRATEL para suas transmissões simultâneas no Brasil, em
1982.
Inicialmente a EMBRATEL se utilizou de capacidade de satélite para
comunicações Internacionais do Consorcio INTELSAT, que a EMBRATEL fazia
parte.
Com a aquisição e implantação do Sistema de Satélites Brasileiros o
BRASILSAT, o serviço foi transferido em 1985 para a primeira da série de
satélites, o BRASILSAT A1 e o A 2, colocado em órbita em 08 de fevereiro de
1985 o Satélite A1.
Contamos o fim do filme e vamos agora apresentar os vários aspectos desta
conquista, com inúmeras facetas interessantes.
A decisão do Brasil ter um satélite doméstico é muito antiga e tinha por
objetivo cobrir áreas da Região Norte que eram impossíveis de serem
atingidas pelos sistemas de telecomunicações terrestres como as torres de
micro-ondas.
Essas torres eram vistas em inúmeras estradas do Brasil e ligavam as
principais cidades com a famosa telefonia DDD, além de outros serviços de
transmissão de TV, que eram contratados por períodos pelas Emissoras cabeças
de Rede de Televisão, para transmitirem os seus programas do Rio de Janeiro
e São Paulo para outras cidades distantes dos grandes centros.
A primeira tentativa de um projeto do Satélite Brasileiro foi feita
diretamente pela TELEBRAS, que era a Empresa Estatal holding, que detinha o
controle das Empresas Estaduais de Telefonia e da EMBRATEL.
Não conseguiram chegar a um projeto e então a missão foi passada para a
EMBRATEL desenvolver e implantar o projeto e assumir a operação e a
prestação dos serviços.
Lembro que era comum naquela época, década de 80, quando surgia alguma
dificuldade nas telecomunicações, o assunto era passado para a EMBRATEL
resolver. Foi assim com o TELEX, que era um serviço prestado pelos correios,
que tinha cerca de 4 mil usuários e não conseguiam ampliar o serviço e após
a EMBRATEL assumir o serviço chegou a atingir cerca de 140 mil usuários até
iniciar a sua fase de desativação, em função das novas tecnologias de
comunicação de dados.
Da mesma forma existia um serviço móvel marítimo de péssimas condições que
servia para atender as comunicações com os navios, que também foi absorvido
pela EMBRATEL, que realizou a sua modernização e ampliação e passou a operar
por alguns longos anos, inclusive introduzindo comunicações via satélite
internacional INMARSAT.
Mas retornando aos serviços via Satélite Brasileiro, lembro que o projeto na
EMBRATEL teve continuidade chegando a sua aprovação final em uma Reunião da
Direção da Empresa.
Nesta época, eu estava na função de Chefe do Departamento Comercial, na Sede
da Empresa e sabia de várias histórias porque tinha vivido a experiência e
trabalhar na Amazônia, para implantar e operar os primeiros sistemas de
telecomunicações e após conclusão do atendimento a todas as capitais, fui
transferido para a Sede da Empresa, onde pude acompanhar estas fases do
TELEX e do Móvel Marítimo.
Foi então quando estava nesta função de Chefe do Departamento de Coordenação
Comercial, fui convidado para participar da reunião de Diretoria, que iria
aprovar a compra do Satélite Brasileiro, o BRASILSAT, com os satélites A1 e
A2.
Na verdade, a decisão a ser tomada era sobre o projeto técnico realizado por
área específica da engenharia da Empresa, com as diversas analises
técnico/econômicas.
O objetivo absolutamente claro do projeto, era o de atender as localidades
distantes na Região Norte do país, onde seriam também instaladas as estações
de transmissão e recepção para o serviço de telefonia DDD.
Concluída a fase de discussão, como todos já sabiam, o projeto do Satélite
Domestico Brasileiro era economicamente inviável e teria que ser coberto
pelas receitas de exploração dos serviços nas demais localidades do país.
Foi então que eu entendi porque tinha sido convidado para a reunião, quando
o Vice Presidente da Empresa, se levantou e disse, bem agora nós vamos ter
que transformar este projeto em viável.
A partir deste momento iniciamos uma força tarefa, com profissionais da área
comercial e da equipe técnica do Departamento de Comunicações via Satélite,
para identificar as diversas oportunidades de novos serviços que poderiam
ser prestados no território brasileiro via satélite.
Entre as várias opções encontramos a solução de transmitir a programação que
era via sistema terrestre (micro-ondas em visibilidade) por períodos de
tempo, para uma solução dedicada para as redes de TV e agora seria via
Satélite.
Cabe destacar que a Rede Globo de TV, era sem dúvida o maior cliente da
EMBRATEL de transporte da programação diária, via os sistemas terrestres,
como citamos anteriormente. De um relacionamento intenso entre as Empresas a
informação chegou rapidamente aos profissionais da Globo, sobre esta ideia
de transmitir a programação, agora via satélite.
Após algumas conversas a solução foi totalmente rechaçada pela equipe da
Globo, que entendia que ela perderia renda de comerciais que eram veiculados
localmente nas outras cidades e nas suas emissoras de TV e nas emissoras
afiliadas.
Foi então que surgiu a oportunidade de conversar com a Rede Bandeirantes de
TV. Um dos membros da minha equipe comercial, tinha trabalhado em uma das
emissoras de TV da Rede Bandeirantes e fez os primeiros contatos.
Foram 3 meses de negociação, com diversas equipes técnicas, comerciais e
jurídicas de cada parte e intensas reuniões até que chegamos a uma solução.
Cabe registrar o excelente ambiente com que estas tratativas foram
desenvolvidas.
Tínhamos um problema adicional, porque não havia nenhuma regulamentação
sobre este tipo de serviço no Ministério das Comunicações para prestar este
serviço via Satélite. A solução foi conversar com o Secretário Geral do
Ministério das Comunicações e após convence-lo, convida-lo para assinar o
contrato como testemunha. Firmamos também um compromisso de ajuda-los na
regulamentação à posteriori o que foi feito e daí surgiu algo interessante,
que conto a seguir.
Como uma enorme festa realizada no prédio da EMBRATEL de São Paulo, onde um
andar destinado a instalação de equipamentos que ainda estava vazio, foi
transformado em um cenário de uma emissora de TV, de tal forma que o
contrato foi assinado com toda pompa que merecia e também objeto de
divulgação em tempo real como uma programa de TV.
Destaque específico do contrato em si, conto agora. Na noite do dia anterior
à assinatura do contrato, quando fomos fazer a conferencia final verificamos
que por parte da EMBRATEL o nome do Presidente da Empresa estava errado,
pois constava o nome de um Presidente anterior de nome Iberê Gilson e não
nome do correto que era Helvécio Gilson.
Para piorar a situação o contrato tinha sido produzido em uma máquina de
escrever para a época muito avançada e com o papel especial na Sede da
Empresa no Rio de Janeiro e nós já estávamos em São Paulo e o contrato seria
assinado com toda aquela festa na manhã do dia seguinte. Penso que dá para
imaginar o que eram recursos digitais em 1982.
Foi aí que entraram em ação as habilidosas secretárias em São Paulo, para
com uma borracha superfina apagaram e alteraram com o mesmo tipo de letra o
nome Presidente. Um final feliz, porque ficou imperceptível para quem não
sabia e eu só contei para os Diretores uma semana depois.
A Rede Globo imediatamente após este evento contrato assinado com sua
concorrente, viu que tinha perdido uma oportunidade e quis assinar o mesmo
contrato realizado com a Rede Bandeirantes, o que foi feito algumas semanas
depois, porque já tínhamos um conjunto de regras e um padrão de contrato.
Outra situação complicada surgiu quando a Rede Globo manifestou a intenção
de entrar em operação antes da Bandeirantes. A pressão foi enorme interna e
externamente, mas prevaleceu a integridade da Empresa EMBRATEL que sempre
cumpriu os seus compromissos no atendimento aos seus clientes e assim foram
seguidos com o extremo rigor os cronogramas de implantação do serviço
acordados entre as partes.
A entrada em funcionamento da Rede Bandeirantes se deu no dia 29 de setembro
de 1982, comemorando o fato de se tornar a primeira rede de televisão da
América do Sul a transmitir via satélite.
Após este fato praticamente todas as emissoras de TV, passaram a utilizar
este tipo de solução, incluindo um pouco depois as Redes Religiosas as TVs
Regionais e algumas outras TVs como Senado, Câmara dos Deputados, Justiça.
Apresento esta lista de Rede de Emissoras de TV, mesmo que incompleta,
porque tenho outro destaque desse serviço para contar, que foi a
regulamentação e que de certa forma teve e tem até hoje uma enorme
repercussão na sociedade como um todo.
O Serviço se destinava a transportar o sinal de TV das cabeças de Rede para
as suas afiliadas e assim serem transmitidos simultaneamente os seus
programas, mas apesar do serviço ser de telecomunicações, o sinal de TV,
poderia ser captado por qualquer estação receptora de sinal de TV via
Satélite, desde que atendidas condições técnicas mínimas, que em função da
tecnologia, eram simplórias perante ao conjunto de artefatos que constituía
o projeto BRASILSAT.
A discussão era se o sinal era livre ou não para ser captado por qualquer um
interessado que instalasse uma antena receptora de sinal via Satélite, ou
porque a transmissão da TV de Radiodifusão era ruim naquela área ou porque
não tinha Emissora de TV naquela área ou região do país. Lembro que o sinal
de TV via Satélite atingia todos os recantos do país, inclusive alguns
países vizinhos, que fazem fronteira com o Brasil.
Venceu o que era razoável e o sinal passou a ser livre e as emissoras que
quisessem codificar o sinal poderiam. Na verdade, nenhuma das Redes de
Emissoras de TV codificou o sinal.
O resultado foi a criação um novo mercado de equipamentos e instalações, com
um número que hoje não sei mais quantas são, mas deve ser mais de 1 milhão
antenas, que captam o sinal de TV via Satélite, que está disponível para
toda a população nos grandes centros e nas localidades mais remotas do país
.
Jose Roberto de Souza Pinto, engenheiro e mestre em economia empresarial