José
Roberto de Souza Pinto
WirelessBrasil
Junho 2020 Índice dos assuntos deste website
15/06/20
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Desconcentrar e aproximar a população do ambiente de trabalho
Transporte público uma peça fundamental em qualquer estratégia de
desenvolvimento de uma cidade ou região.
Significa menos veículos circulando, menos poluição e a concepção de
compartilhamento de recursos, que gera economias.
Vendo por esse lado, certamente positivo o transporte público. Entretanto já
está demonstrado que para distâncias maiores e com um volume grande de
passageiros, gera desconforto, cansaço nos passageiros, que normalmente são
trabalhadores que enfrentam uma jornada de trabalho e muitas horas para ir e vir
para as suas residências.
A construção de vias expressas tem sido um caminho para minimizar este problema,
mas como sempre não ofertam uma capacidade compatível com a demanda de
trabalhadores que precisam se deslocar diariamente.
Já tem algum tempo que vendo a situação diária dos grandes centros das
principais capitais de Estados, que venho pensando em algum tipo de planejamento
das cidades que possa alterar este cenário.
Na verdade, são mais que cidades ou municípios, pois nas áreas metropolitanas é
que se encontra este tipo de demanda.
O trabalhador por questões
econômicas só tem condições de viver em locais distantes do seu trabalho diário.
Os projetos de residências populares têm sido inclusive localizados em áreas
distantes dos centros urbanos e sem ou quase nenhuma infraestrutura, que precisa
ser construída.
Duas soluções se apresentam, a saber; uma é aproximar as Empresas dessas áreas
mais distantes dos centros da cidade onde vivem os trabalhadores e a outra é
levar os trabalhadores para áreas centrais das cidades, utilizando prédios
desocupados para transforma-los em residências e outras infraestruturas de
aplicação social, como colégios, postos de saúde e áreas culturais.
Sobre a ocupação de prédios vazios ou de baixa utilização, com infraestrutura de
água, esgoto, energia e comunicações já escrevi dois artigos, que abordam esta
questão com o reaproveitamento de áreas. Do meu conhecimento pouco se fez sobre
isso e desconheço um planejamento nesta direção.
A situação presente do vírus COVID19 e as perspectivas de novas pandemias, mesmo
depois dessa atual fase enfraquecer, recomendam que deve ser realizado um
esforço de revisão de todas as práticas atuais de planejamento urbano, quiçá
metropolitano para atender a questão colocada.
Num regime democrático, onde a população tem o direito de fazer as suas
escolhas, certamente, estamos diante de uma maior complexidade de realizar estes
movimentos de pessoas e Empresas.
A primeira impressão me parece até utópica, entretanto neste contesto de buscar
soluções, temos inúmeros agentes envolvidos que se reunidos de forma harmônica
podem rever o planejamento atual com estas novas variáveis.
Distância do trabalho, tempo de deslocamento, demanda não atendida por
transporte público de longa distância, redução dos aglomeramentos da população e
a preocupação com as questões sanitárias e de saúde pública, são as variáveis.
Tratar desse conjunto visa reduzir os efeitos das próximas pandemias, melhorar a
qualidade de vida do trabalhador e sua produtividade.
Me parece que as palavras chave, serão desconcentração e proximidade. Manter a
ideia de compartilhar recursos e pensar mais estrategicamente do que só no
aspecto econômico pontual, será fundamental, pois no custo total poderemos ser
surpreendidos com um custo menor, por exemplo de infraestrutura básica e de
saúde pública.
Mas quem são esses agentes de mudança?
As Prefeituras e Estados com suas secretarias especializadas e o Ministério das
Cidades, certamente com o apoio das Empresas e de entidades diversas que de
alguma forma representam a população nos seus vários segmentos.
O que poderia ser feito?
A partir de incentivos governamentais às Empresas e aos trabalhadores no sentido
de buscarem a proximidade, da residência ao local de trabalho.
A redução de impostos para localização desconcentrada de Empresas e prioridades
ou incentivos pecuniários aos trabalhadores com moradias próximas ao trabalho,
podem ser instrumentos adicionais. Em uma avaliação mais ampla podemos encontrar
custos menores nesta solução, que compensariam os incentivos preconizados.
Não resta dúvida, que em um fórum mais amplo surgirá, inúmeras novas ideias e
algumas já adotadas em outros países, como o incentivo ao uso de bicicletas para
deslocamentos mais próximos.
Alternativamente até que se possa alterar este cenário de elevada concentração
no transporte público, poderia ser implantado um sistema de diferentes horários
de funcionamento das Empresas ou Instituições, visando a desconcentração de
pessoas no transporte público.
Esses transportes públicos de longa distância do tipo BRT, trens suburbanos e
até metrô nos horários de pico pela manhã cedo e no final do dia, sempre estarão
lotados de passageiros e o risco de circulação de vírus e doenças continuará
sendo enorme.
Adiciona-se o fato que são vias de custo elevado de implantação e de manutenção
e a solução de mais veículos nestas linhas nestes horários, vai aumentar ainda
mais os investimentos e custos de operação, dificultando a obtenção de
viabilidade econômica dessa operação. Portanto são soluções paliativas, para
diminuir o sofrimento dos passageiros que passam muitas vezes mais de 4 horas
nestes veículos para ir e vir da residência para o trabalho.
Estes argumentos reforçam a minha opinião de que a proximidade da residência ao
trabalho deve ser intensamente buscada pelas autoridades responsáveis.
A fixação de metas para as Empresas, do tipo por exemplo; que 50% da força de
trabalho teriam moradias próximas ao trabalho, seria uma das hipóteses a ser
considerada.
Um trabalho de fôlego e de médio para longo prazo sem dúvida, pois envolveria a
questão do reaproveitamento das áreas centrais inservíveis e este planejamento
de desconcentração de Empresas, além de uma série de incentivos.
Como começar?
Formular uma estratégia e testar a aplicação de soluções será um bom começo.
Um caminho seria o de selecionar
um conjunto de no mínimo 5 áreas metropolitanas de diferentes portes, realizar
estes projetos pilotos, avaliando cada passo dado e os resultados e assim criar
um modelo e uma cultura de desconcentração no país.
Teríamos muitas mais ideias para escrever e registrar, entretanto o objetivo
deste texto é o de simplesmente motivar estes agentes, na busca de soluções de
desconcentração das Empresas e redução do distanciamento da população do
ambiente de trabalho.
Jose Roberto de Souza Pinto, engenheiro e mestre em economia
empresarial.