José
Roberto de Souza Pinto
WirelessBrasil
Junho 2022 Índice dos assuntos deste website
26/06/22
• Pneus e/ou Trilhos no Transporte?
Começando a avaliar este tema, vou concluir de imediato, que temos espaço para
os dois sistemas de transporte.
O que não parece razoável,
é a situação do Brasil, que cometeu este erro e já tem décadas de esquecer de
forma errática desse recurso de transporte, que são as estradas de ferro, não
incluindo-as no seu planejamento.
Na verdade, abandonamos o transporte ferroviário e passamos a priorizar o
transporte em estradas de rodagem.
Digo, abandonamos porque são poucos os que restaram e ainda são poucos o que
começamos a construir recentemente.
Meu objetivo não é de apresentar cálculos detalhados sobre custos comparativos
destas soluções e sim de apresentar alguns fatos, que recomendam alterar a
prioridade do transporte para a solução em trilhos e construir uma extensa rede
ferroviária, que possa cobrir os grandes centros do país e as áreas de produção
e escoamento até os seus destinos, sejam eles portos ou locais de armazenamento
e distribuição de mercadorias em geral.
Será que existe algum país desenvolvido, que não tenha uma vasta rede
ferroviária?
Vamos pensar a Europa como um país e de imediato encontramos uma vasta rede
ferroviária, que atinge todos os países e que se estende até fora do continente,
que é o caso do Reino Unido.
Alguns podem dizer, que foi construída já há algum tempo, o que é verdade, mas
está em modernização constante, com veículos e composições cada vez mais velozes
e atualizadas tecnologicamente.
Sem dúvida por traz de todo esse maquinário, existe uma competência técnica e
gerencial, com profissionais e até cientistas altamente qualificados.
Um exemplo mais novo, que tem cerca de 20 anos, é o caso da China, que não tinha
praticamente nada neste setor e que construiu uma vasta rede ferroviária e
inclusive, como detentor da tecnologia, até passou a ser exportador de projetos
e de todos os recursos e maquinários para implantação de rotas ferroviárias em
outros países.
O Brasil é um caso a ser profundamente estudado, porque tínhamos um certo nível
de desenvolvimento neste setor ferroviário e simplesmente, resolvemos extinguir
as rotas ferroviárias existentes e não mais investir neste setor.
Vou fazer um parêntesis, neste momento, para contar duas histórias que confirmam
esta assertiva sobre o abandono desta alternativa de transporte.
Tenho uma pequena propriedade de longa data, com cerca de 600 metros quadrados,
na localidade de Boca do Mato, que fica no Município de Cachoeiras de Macacu, no
Estado do Rio de Janeiro e interessante é que esta propriedade fica entre o rio
Macacu e o antigo leito da estrada de ferro que ligava várias cidades do Rio de
Janeiro, até a cidade de Nova Friburgo.
Quando passei a frequentar esta área, conversava com inúmeras pessoas da
localidade por este trajeto, onde passava a estrada de ferro e o mais
interessante é que não havia vestígio de ter ali uma estrada de ferro. Na
verdade, existia e existe ainda uma tubulação de água que servia para alimentar
as caldeiras dos trens e que passou a ser a tubulação de fornecimento de água
que era da CEDAE e agora da Águas do Rio.
O ponto mais importante é que quando o serviço foi interrompido, foram retirados
todos os trilhos e dormentes, de tal forma que impossibilitasse a sua
reativação. Essa é a história, que deve ser a mesma da ferrovia que ligava o Rio
de Janeiro à Petrópolis e muitas outras, que devem ter histórias semelhantes.
Alguns devem lembrar, que existia uma ferrovia que ligava o Rio de Janeiro a São
Paulo e que também desapareceu.
A segunda experiência interessante para relatar sobre a existências de rotas
ferroviárias no Brasil, foi a que vivi, quando era responsável pelo planejamento
da rede de telecomunicações da Embratel até 1998.
Na época com a disponibilidade da tecnologia de fibras ópticas, o objetivo era
procurar caminhos alternativos e além das estradas de rodagem que não são muito
seguras, para cabos enterrados, então procuramos os leitos das ferrovias e aí
foi um novo susto.
Após realizar o mapeamento das rotas com ferrovias, constatamos que a maioria
das estradas estavam abandonadas, restando algumas áreas no interior do Estado
de São Paulo e a ferrovia da Empresa Mineradora Vale, que ligava o Estado do
Espírito Santo à Minas Gerais e pequenos trechos em alguns Estados, mas sem
integração.
Acredito que seja difícil imaginar um Brasil, que não tenha as capitais do Rio
de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais sem ligação por uma rede ferroviária ou o
Sul do país, ou o Nordeste e as áreas de produção de alimentos, como grãos e
outros commodities integrados aos diversos portos. Sem falar no potencial que
seria uma integração Norte – Sul ou mesmo uma saída para o oceano pacífico em
cooperação com algum país vizinho.
Certamente esta deficiência tem um efeito danoso no custo do transporte e por
consequência no custo do Brasil.
Por outro lado, como tem sido bastante divulgado, a nossa matriz energética
atual apresenta melhores condições que outros países que dependem da queima do
gás carbônico, como é o caso da Europa e também dos Estados Unidos da América,
que por sinal, tem uma vasta rede ferroviária, que cobre Norte ao Sul e Leste a
Oeste.
A observação que faço é em relação as atividades de planejamento, onde cabe
pensar no projeto numa visão como um todo. Não adianta ter carro elétrico ou
trem se a geração de energia é concentrada com derivados do petróleo.
Em um país democrático, não se pode exigir nada que não esteja expressamente na
Lei, então o caminho é a definição de prioridades e incentivos para os projetos
ou áreas prioritárias.
De forma alguma penso em abandonar o transporte rodoviário, mas restringir a
rotas menores e com menos volume de carga e de preferência utilizando
combustíveis menos poluentes.
O que se pretende é priorizar e investir no transporte ferroviário e também
porque não na cabotagem, afinal temos uma longa costa e alguns rio navegáveis
que poderiam ser melhor utilizados.
Está mais que do que claro, que existem recentes iniciativas de criação de rotas
ferroviárias e algumas até já em funcionamento, visando o transporte de
commodities dos centros de produção de alimentos e minérios.
Entretanto acredito que no Brasil pouco se fala ou se discute a questão dos
meios de transporte.
Recentemente em função das crises da Pandemia, que desestruturou as cadeias de
produção e da recente guerra da Rússia na Ucrânia, que produziram efeitos
danosos nas economias de todos os países, em função do custo do petróleo, o tema
parece que merece mais atenção, porque de certa forma estamos tratando do custo
final de qualquer produto para a sociedade como um todo.
A dependência de transporte com derivados do petróleo, além dos danos a
população pelo efeito poluidor, traz um custo maior e totalmente fora do
controle de cada país. Afinal não é novidade que o petróleo tem seu preço cotado
segundo o mercado internacional.
Não se trata de adotar soluções radicais de abandono deste combustível, mas sim
de considerar esse cenário que nos obriga a pensar em soluções, que a cada dia
sejam menos dependentes deste custo.
Em breve resumo, posso dizer que um planejamento de médio prazo, que não envolve
um Governo, mas o Estado Brasileiro, deve considerar as seguintes prioridades:
O transporte ferroviário como uma das medidas claras que reduzirão o custo
Brasil e a menor dependência do custo do combustível fóssil.
O incentivo à geração de energia fotovoltaica, inclusive própria e a geração por
sistemas de energia eólica.
A utilização de outras fontes de energia renováveis ou menos poluidoras como o
gás, o Etanol o Biodiesel, assim como o recente hidrogênio verde.
Tendo sempre em mente a visão de capacidade geração e do consumo de combustíveis
nas diversas aplicações e regiões do país.
Quero dizer, os Governos Federal e Estadual e principalmente o Congresso
Nacional assim como a iniciativa privada devem participar deste esforço no
sentido de atrair investimentos para essas áreas e formar profissionais
competentes, não só para os projetos e gestão, assim como participar do
desenvolvimento tecnológico que estes setores de energia e de transporte exigem,
assim espero.
Jose Roberto de Souza Pinto, engenheiro e mestre em economia empresarial.