José
Roberto de Souza Pinto
WirelessBrasil
Maio 2022 Índice dos assuntos deste website
20/05/22
• Tráfego nos horários de pico
Um título geral para muitas aplicações na qualidade de vida de um cidadão.
Pode ser também uma descrição óbvia para o cidadão que vive esta situação no seu
dia a dia e porque não para os estudiosos da mobilidade urbana.
A questão envolve várias e diversificadas áreas de interesse e eu pretendo
abordar este conjunto, baseado na experiência pessoal de gestão em Empresa
Pública, Empresa Privada e como Consultor em home office e regime hibrido
a mais de 15 anos.
Com esta base pretendo explorar o tema numa visão de planejamento e projetos,
operação e gerencia destas vias onde este trafego circula.
Nas telecomunicações, por exemplo um dos grandes problemas é o dimensionamento
das suas redes de suporte que tem que ser planejado para atender ao volume de
trafego no momento de pico.
O que acontece na realidade em
vários setores da atividade econômica ou institucional é que você tem os
momentos de pico e os de ociosidade.
Em resumo você realiza investimentos que são pouco utilizados nos momentos de
ociosidade ou baixo volume de trafego e não atende a demanda com qualidade de
serviço nos momentos de pico.
O que se procura fazer nos modelos é otimizar esta distribuição de trafego ao
longo do dia, com incentivos.
Alguns devem lembrar das tarifas telefônicas a partir das 20:00 horas e a partir
da meia noite até às 6:00 da manhã. Essa era uma das alternativas para
redistribuir o trafego telefônico reduzindo os volumes nos horários comerciais
das 8:00 às 18:00 horas.
Sem dúvida são adotados modelos muito mais complexos que dividiam este trafego
em diversas rotas até por uma questão de segurança do sistema e do serviço
prestado ao consumidor.
Com o advento da total digitalização, nas fontes de informação seja da voz, nos
textos e nas imagens e vídeo, transformando todo esse conjunto em bits, este
trafego que agora é só dados é transportado por inúmeras vias ou rotas até o seu
destino final.
Uma particularidade que cabe observar é que com a digitalização e a capacidade
das redes, o efeito distância nos preços dos serviços deixou de existir.
A segurança e continuidade dos serviços é obtida em função das alternativas de
encaminhamento e gestão deste trafego, sendo de extrema importância no caso de
alguma eventual falha em algum dos seus segmentos.
Considero também, que nem tudo é perfeito neste setor, porque existem situações
de congestionamentos provocados por sites e aplicativos com número de acessos
incompatíveis com a demanda em certos períodos, mas os centros de gerência de
rede, tem sempre soluções para bloqueios ou outras medidas que evitam a
propagação dessas falhas e do congestionamento.
Faço esta abordagem com referência as Telecomunicações como uma introdução,
porque o meu foco está concentrado na questão dos volumes de trafego de pessoas
que transitam nos horários de pico nos grandes centros urbanos e áreas
metropolitanas.
Na realidade meu objetivo é revisitar mais uma vez a questão da mobilidade e da
qualidade de vida que deve ser um objetivo a ser alcançado em qualquer projeto
de cidade ou urbanização.
Particularmente tenho uma certa aversão ao transporte público de longa
distância, seja de trens suburbanos, BRTs que com uma “via sem interrupção”
poderiam reduzir o tempo de deslocamento e algumas linhas longas de metrô. Ao
que tudo indica as experiências que temos não são as melhores, em termos do
custo da solução para um transporte que deveria ser de qualidade.
Estas soluções poderiam ser de grande valia, se tivéssemos no devido tempo,
investido em uma malha de metrôs que cobrisse toda a área urbana das capitais
dos Estados e outras cidades de grande porte no país e aí poderiam ter algumas
extensões dessa malha para locais mais distantes.
Entretanto, como não foi feito, temos que conviver com essa situação que
infelizmente é tratada com uma certa naturalidade, diria como algo normal para
uma área metropolitana.
A questão central esbarra de novo nos horários de pico de trafego, onde os
veículos estão lotados, sem conforto e os trabalhadores que estão nesses
veículos estão sujeitos a todo tipo de bactérias e vírus que produzem doenças.
Estamos considerando os trabalhadores que saem ou retornam do trabalho e levam
mais de duas ou três horas nesses trajetos. Temos adicionalmente uma questão
natural de perda na produtividade e do aumento do custo de saúde pública.
Certamente estes meios de transporte não são dimensionados adequadamente para
estes horários de pico para um transporte de qualidade e podem até estar ociosos
em alguns períodos dia e certamente a noite.
Apesar de serem Concessões do Estado, que deveriam ter regras contratuais
rígidas de prestação do serviço, não se percebe o cumprimento do mínimo da
qualidade, até porque tem que ser viáveis e com tarifas possíveis de serem pagas
pela população que as utiliza.
Num modelo de Estado Democrático, não se pode obrigar nada que não esteja
específico em Lei. Entretanto alguns incentivos podem ser explorados no sentido
de buscar soluções.
Tenho procurado explorar algumas linhas de ação que podem ser utilizadas até de
forma conjunta e que visam reduzir o volume de trafego nestes horários já
descritos.
As soluções com uso de tecnologia da informação e de comunicação na criação de
centros de controle de trafego e ocorrências de acidentes, visam minimizar os
problemas de interrupção de vias ou congestionamentos, mas sem rotas
alternativas para desviar o trafego ficam limitadas a dar a informação.
O ideal seria ter rotas alternativas de vias que poderiam escoar o trafego de
veículos, mas dependendo do perfil e relevo das cidades e das construções já
existente este novo traçado urbano pode requer inúmeras obras, como túneis e
viadutos, isso sem entrar em mais detalhes. Certamente requerem grandes
investimentos e custo elevado, levam tempo para construção e colocam em dúvida a
sua viabilidade. Penso que mesmo assim devem ser realizados estudos para criar
vias alternativas nas cidades.
Ter horários diferenciados para início e termino dos tradicionais horários de
trabalho, para Empresas e outras Organizações ou mesmo maior flexibilidade
dentro das Empresas, devidamente coordenada num plano de gestão municipal ou
principalmente de uma área metropolitana seria um dos caminhos. Certamente um
acordo difícil, porque envolve diversas Administrações Públicas e Empresas
Privadas, mas necessário.
Outro caminho é evitar as construções de residências populares em locais
distantes dos Centros onde não existem oportunidades de porte de empregos ou
atividades, que possam gerar novas concentrações ou bairros, com todos os
serviços disponíveis para a população, evitando o deslocamento por longas
distâncias.
Digo isso, porque estas construções de residências são realizadas áreas de menor
custo porque estão em locais distantes, consequentemente levam a necessidade de
mais transporte coletivo de longa distância, gerando novos investimentos de
baixa qualidade ou piorando a situação. Avaliar o custo total da solução me
parece um melhor caminho.
A melhor solução é aproximar a residência e o trabalho e reduzir ao extremamente
necessário o transporte público de longa distância.
Apesar de algumas iniciativas em andamento, um caminho que deve ser explorado
com mais vigor é o de reutilização dos prédios nos centros urbanos onde se
localizavam Empresas ou outras Organizações Públicas ou Privadas,
transformando-os em prédios residenciais.
Esta observação não é uma novidade, pois nos grandes Centros, existem alguns
prédios Públicos e Privados desocupados ou com baixa utilização, em função de
vários fatores.
Um deles é a tecnologia com a redução do tamanho dos componentes e equipamentos
e até da necessidade de pessoal nestes locais, que reduziu em muito a
necessidade de áreas em prédios. Só como exemplo posso citar na área de
telecomunicações os prédios com enormes áreas para centrais telefônicas, que
ocupavam um ou mais andares, com pé direito de mais de 5 metros, são
substituídos por pequenos grupos de roteadores que ocupam um decimo do espaço.
Entendo também que com a situação recente vivida da crise sanitária, decorrente
da Pandemia do COVID e a consequente utilização de trabalho em home office,
prédios ficaram vazios.
As Empresas repensaram um pouco melhor a questão de utilização de áreas para os
seus colaboradores. A concepção do trabalho hibrido em casa e no escritório já é
uma realidade. Podemos também adicionar o conceito de compartilhamento de
recursos (coworking) e com isso certamente vamos ter muito mais áreas e
prédios disponíveis.
Estes prédios se adaptados para residências, já tem a infraestrutura de água,
esgotos, energia, comunicações e eventualmente até rede de gás e nas reformas
podem ser instalados nos tetos sistemas de energia solar para reduzir o custo de
energia para os moradores. Adiciona-se a utilização de algumas áreas que seriam
destinadas a postos de saúde e escolas.
Reativar os centros urbanos para moradias deve ser uma prioridade, pois
estaremos reduzindo o tempo de deslocamento e porque não dizer, contribuindo
para reduzir o volume de trafego de veículos nos horários de pico, o consumo de
combustível e a poluição urbana.
Como pode ser deduzido, não existe uma solução, mas um conjunto de medidas que
se bem coordenadas e com os devidos incentivos podem alterar o cenário de baixa
qualidade de vida do cidadão que trabalha e mora distante do seu trabalho.
Trata-se, portanto, de uma necessidade imperiosa a ser revisitada e explorada
com mais detalhes para a sua realização, com seriedade, determinação,
criatividade, conhecimentos técnicos e profissionais nas soluções.
Jose Roberto de Souza Pinto, engenheiro e mestre em economia empresarial.