José Roberto de Souza Pinto

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20/10/23

• Planejamento uma palavra ou ação esquecida?

O tema certamente apaixonante de fazer previsões para o futuro.

Como o futuro é incerto, quero dizer, se altera e atualmente como muito mais frequência, alguns podem defender, que não é necessário.

Estou comentando sobre planejamento de um país, pois em uma Empresa dificilmente ela se sustentaria no mercado se não tivesse um planejamento envolvendo mercado de clientes os seus insumos, a tecnologia aplicada e qualificação do seu pessoal.

Quando se trata de um país a situação é bem diferente, pois a falta de um planejamento e gestão séria e profissional, leva ao sofrimento e desgraça da população, além das tradicionais dividas externas de difícil recuperação não só da qualidade de vida da população, mas da sua recuperação econômica e social.

Também não estou pensando em planejamento de curtíssimo prazo ou de um período de governo. Pensar e planejar um país requer no mínimo uma visão de longo prazo, com revisões periódicas. Poderia fixar um período de no mínimo 15 anos.

Só para fixar alguns conceitos, orçamento anual ou plurianual assim como meta fiscal não considero planejamento e sim metas para serem cumpridas por qualquer entidade da administração pública ou privada, que numa escala hierárquica estão num nível bem mais abaixo do que entendemos por planejamento.

A consideração que fazemos é sobre o entendimento equivocado de que o planejamento está vinculado a disponibilidade de recursos de uma administração.

Normalmente para facilitar a formulação e o entendimento, podemos dividir o planejamento em setores da sociedade, entretanto com muito cuidado, pois a interdependência é total e poderemos criar objetivos e metas desarticulados e até descoordenados no tempo.

Outro aspecto crítico que predomina é a questão do viés político do período de governo.

Um enorme erro de uma sociedade ainda em fase rudimentar de sua organização é no planejamento considerar o quadro político atual como orientador do planejamento.

Como este quadro político pode alterar de quatro em quatro anos não adianta planejar, porque tudo vai mudar e na visão política, não se pode seguir o planejado pela oposição ou do governo anterior, pois isso é trabalhar contra as suas ideias ou do seu partido político.

Tem até uma tal de “Política Pública”, que é citada em várias ocasiões, como a solução daquele setor ou segmento da sociedade. Certamente tem o seu valor naquele específico no setor, mas dificilmente faz parte de um contesto mais amplo e está sempre em risco da próxima administração.

Quero dizer que a população é uma só, que certamente evolui nos seus desejos e necessidades e que em princípio gostaria de ter uma continuidade nos projetos de melhoria da sua qualidade de vida e da situação econômica do país, independente do governo de ocasião.

Pensar e planejar um país, requer uma visão ampla de inúmeros aspectos da sociedade, com suas enormes diferenças, como ponto de partida. Olhar para frente numa perspectiva de 15 anos, requer muita informação e prospecção, não só do ambiente interno como do externo, que sem dúvida tem grande influência no nosso desenvolvimento em termos de país.

Nesse contesto de olhar para o futuro no prazo de 15 anos por exemplo, surgem alguns indicativos de como gostaríamos de ver a população e a situação do país.

A primeira e indiscutível seria a de encontrarmos uma população com um melhor nível de educação e comprometida com um conjunto harmônico de objetivos.

Uma sugestão elenco de objetivos é apresentada a seguir, como referência para direcionar o planejamento integrado:

1- Sustentação ambiental nas atividades e projetos e suporte e prevenção as catástrofes naturais.

2- Capacidade de geração energética, diversificada em alternativas tecnológicas suficiente para a demanda projetada.

3- Capacidade e domínio das Tecnologias Informação e de Comunicações e cobertura abrangente em todos os segmentos da sociedade.

4- Infraestruturas para suportar toda a rede de transporte de forma integrada com utilização de diversas vias e prioridade nas ferrovias e hidrovias e redução gradativa da energia fóssil.

5- Ampliação do espaço do agronegócio com incentivo aos produtos acabados com garantia de alimentação da população local e incremento nas exportações.

6- Desenvolvimento científico e tecnológico para suporte ao desenvolvimento econômico e social.

7- Redução da criminalidade com garantia de segurança a toda população.

8- Planejamento Urbano e Metropolitano com melhoria da mobilidade, moradias e produtividade do trabalhador.

9- Situação da saúde estabilizada com garantia de atendimento em nível de qualidade, utilizando as mais modernas tecnologias, incluindo ações preventivas e o saneamento básico.

10- Segurança Nacional e bloqueio das rotas de tráfico de drogas e de armas.

11- Ampliação do parque e capacidade industrial, articulada com o conjunto dos demais objetivos fixados.

12- Sustentabilidade economia e fiscal com reservas financeiras, superavit primário e redução da dívida pública interna.

13- Formação educacional compatível com os objetivos preconizados, suportado por profissionais especializados e enfatizando a cidadania e a capacidade do entendimento das principais questões que afetam a melhoria da qualidade de vida do cidadão.

Portanto uma série de objetivos a serem perseguidos neste período. Certamente poderíamos acrescentar mais alguns, mas que necessariamente deverão ser parte de um planejamento integrado e orientativo, representando o esforço de toda a população e das autoridades dirigentes.

Um outro aspecto de suma importância é que o planejamento não se trata de uma aposta e sim de algo a ser perseguido e acompanhado e redirecionado na medida das necessidades e será melhor quando for periodicamente ajustado as demandas da sociedade.

Para tal, além da qualidade das formulações é necessário dispor de uma equipe de profissionais que acompanhem e ajustem os desvios ou mudanças de rotas.

O texto em si, até este momento, é fruto de uma análise da situação crítica que se encontra o país, que já de longa data não apresenta um rumo, vivendo ao sabor das ondas, marolas ou tsunamis que se apresentam.

Certo é que temos um conjunto de instituições e organismos desarticulados nos níveis de poder das administrações que deveriam ter esta responsabilidade, mas não tem apresentado um planejamento e muito menos soluções, numa visão até mesmo de médio prazo.

Numa visão pessimista, poderíamos nos convencer que numa democracia é para ser assim mesmo, pois prevalece o interesse de um grupo partidário ou do seu viés político e é impossível manter um projeto por um longo período, a não ser que esse grupo se mantenha no poder.

As histórias recentes do país demonstram que nem assim conseguimos ter um planejamento e muito menos dar continuidade a projetos.

Penso que formulamos equivocadamente ou melhor não formulamos um planejamento integrado visando uma melhoria da qualidade de vida e do desempenho econômico e social do país.

Numa visão otimista, podemos identificar um certo desenvolvimento em alguns setores, que sem sombra de dúvida são resultado de um planejamento, como por exemplo o Agronegócio com a Embrapa e Universidades, a Indústria Aeronáutica, com o Instituto Tecnológico da Aeronáutica e a Embraer e as Telecomunicações, com uma enorme evolução no período Estatal e a abertura de mercado no momento certo.

Estes são exemplos e devem ter outros, desenvolvimentos setoriais, que contribuem para os resultados positivos, mas não garantem um desenvolvimento econômico e social sustentável, com um direcionamento amplo do país.

Feitas essas considerações, ficam algumas perguntas:

Será que estamos diante de um paradoxo?

Escolhemos a democracia, onde a população é quem escolhe os seus representantes de 4 em 4 anos.

A alternância de poder é um elo importante para manter viva uma democracia saudável.

Entretanto tudo pode mudar de 4 em 4 anos e mesmo se forem mais anos não teremos continuidade nos projetos.

Será possível então, um desenvolvimento harmônico e sustentável de um país sem um planejamento de longo prazo?

O caminho é este mesmo de nos mantermos nessa prática sem planejamento e continuidade, vivendo com solavancos ou voos de galinha?

A quem caberia no país assumir uma empreitada de planejamento integrado de longo prazo?

Será que estamos numa fase de desenvolvimento humano restrito no país, onde o mais importante é ainda a disputa do poder?

Podemos nos basear em alguma experiência democrática em outros países, que superaram esta fase?

Utopia ou existe alguma chance da crítica e das ideias prosperarem no sentido de termos um planejamento?


Jose Roberto de Souza Pinto, engenheiro e mestre em economia empresarial.