----- Original Message -----
Sent: Tuesday, May
20, 2003 11:01
AM
Subject: [Celld-group]
Sobre NGNs e TCP/IP
Tenho acompanhado o assunto convergência de serviços há
muito tempo, e desde 1996 (nesta época trabalhava em uma
operadora de telefonia fixa) eu dizia ao pessoal de
projeto de serviços de comunicação de dados: vocês estão
implantando redes estatísticas (baseadas na então
"novidade" do frame-relay)
e redes determinísticas, achando que isso vai solucionar o
problema do cliente? Seria melhor vocês pensarem na oferta
de uma rede pública TCP/IP.
Bom, eu era (e sou, apesar da formação acadêmica em
engenharia) da área de TI, portanto minhas opiniões
esbarraram na mentalidade "not invented here", que
ainda é uma praga que nos atormenta (se tiver aí alguém
que conheça uma operadora de telecom onde a área de
engenharia de redes e a área de TI convivam em pacífica
harmonia, eu quero conhecer o case).
Como falado na notícia, por causa da pressão por redução
de custos operacionais, e também pela necessidade de se
"diferenciar" perante a concorrência, e poder criar a
percepção de "valor" no cliente (as aspas são por ironia
sobre como isso vem sendo feito, não porque eu acredite
que isso não é importante) as operadoras wireline estão
começando a investir a sério na convergência.
Em minha opinião, a proposta NGN é apenas mais uma
tentativa de "ensinar truque novo a cachorro velho", e,
apesar do discurso sobre preservação do investimento ser
válido (com o perdão aos puristas e fundamentalistas sobre
religião, "Deus só criou o mundo em sete dias porque Ele
não tinha que se preocupar com a base instalada"), os
principais interessados nesta via "evolutiva" das redes de
telecomunicações são os grandes fabricantes de
equipamentos de telecomunicações, especialmente na área de
comutação.
Eu vejo o seguinte cenário: as operadoras wireline já
montaram, via um "recorte" virtual da infra-estrutura de
transmissão SDH (alguns também colocaram switches ATM,
mas acho isso completamente desnecessário), um backbone de
tráfego puramente TCP/IP. Com as técnicas modernas de
engenharia de tráfego na camada 3 da arquitetura TCP/IP (MPLS,
DiffServ, etc.) elas estão em posição para fazer ofertas
muito agressivas de serviços com QoS diferenciado para o
mercado corporativo, por exemplo:
_ VPN - formação de grupo fechado de comunicação entre os
sites do cliente (com ou sem a possibilidade de acesso
remoto viadial-up - wireline ou wireless -
ou, o que deveria colocar as operadoras de telefonia
celular com as barbas de molho, via WLAN);
- VoIP - possibilidade de interconexão (ou melhor ainda,
substituição) da estrutura de PABX do cliente, cortando os
custos de ligação de voz entre sites da mesma empresa
(especialmente os interurbanos e internacionais);
- Outsourcing - ofertar ao cliente a possibilidade de
terceirizar, total ou parcialmente, a sua infra-estrutura
de comunicação de voz/dados interna, inclusive com a
oferta de "data centers" para co-locação da
infra-estrutura de TI.
Tudo isso já vem sendo feito, e está ficando cada dia mais
agressivo. E os custos de expansão desta nova estrutura,
tanto em termos geográficos, como em termos de capacidade
ou implementação de novos serviços, é feito por uma fração
do custo associado à evolução das redes telefônicas
tradicionais.
Então eu pergunto: porquê gastar mundos e fundos para
preservar a evolução de uma tecnologia que, em minha
opinião, sofre do mesmo mal que os Mainframes da
década de 80?
A quem realmente interessa isso? Um modelo evolutivo
calcado na oferta de serviços para o mercado corporativo
com a gradual expansão para o mercado SOHO e
doméstico/pessoal me parece muito mais sensato.
Minha proposição é:
- fazer o deployment da
estrutura pública TCP/IP em paralelo com a rede
tradicional;
- migração acelerada de serviços para a nova rede;
- descontinuação gradual da estrutura antiga.
Vou um pouco além nessa visão.
Considerando a realidade do mercado brasileiro, o mercado
corporativo é onde as operadoras podem esperar um
faturamento estável e crescente, porque (a menos que o
perfil sÓcio-econômico da sociedade mude) o mercado
doméstico/pessoal que pode pagar pelos serviços já está
mais que 100% atendido.
O mercado corporativo vai demandar cada vez mais ofertas
completas de serviços, envolvendo acessos de voz, dados,
acesso remoto fixo e móvel, etc.
Portanto acho que o movimento de concentração das
operadoras está apenas começando. Dentro de uns 5 anos,
vejo um modelo com (idealmente) quatro ou
(realisticamente) três grandes operadoras telecom, todas
com footprint nacional,
e todas ofertando todo o portfolio de
serviços: voz e dados, wireline e wireless (celular
e/ou WLAN).
J. R. Smolka