• Voice over IP e a
Identificação de Chamada
----- Original Message -----
Sent: Tuesday,
September 21, 2004 10:34 AM
Subject: Re: [Celld-group]
Voice over IP
Jussara,
Vc fez a seguinte pergunta:
O interessante é que, por mais que eu
consulte POR QUE os telefonemas via IP apresentam qualquer
número no bina, ninguém me responde o motivo.
Bom. O início da resposta está numa frase que consta do
verbete "IP
telephony" que vc nos enviou:
The integration of packet-switched IP
with the traditional SS7-based telephone system is a
complex undertaking with numerous protocols competing for
attention.
O assim chamado BINA (assinante B - receptor da chamada -
identifica o número do assinante A - originador da chamada)
depende, em telefones convencionais, de que a informação
sobre o número de A seja passada para o aparelho de B pela
central local (onde B está diretamente conectado).
Como a maioria dos telefones convencionais ainda é
analógica, esta sinalização é passada pela central no
sistema DTMF (combinações de tons, que tem significados
específicos para o aparelho, tais como "tem alguém querendo
falar com vc", ou, no nosso caso, "quem está ligando para vc
é o número xyz").
A central, por sua vez, recebe as informações sobre a
originação e encaminhamento da chamada através de um canal
de comunicação separado.
O conjunto dos protocolos usados para isso (definidos pela
ITU, estilo OSI) são conhecidos como "sistema de sinalização
número 7"ou, para os íntimos, SS7.
Quando a chamada é originada em um telefone convencional, e
supondo que todas as centrais envolvidas (local de A, local
de B e centrais trânsito no meio do caminho) compartilham o
mesmo conjunto de protocolos de sinalização, o aparelho do
assinante B consegue receber dados confiáveis sobre o número
de A, e exibi-lo corretamente no seu display (o BINA).
Mas, como a citação do verbete da enciclopédia diz, é
complicado "casar" a sinalização de chamadas VoIP com a
sinalização SS7 das centrais convencionais.
Começa que, estritamente falando, não é necessário atribuir
um "número de telefone" para um usuário que quer originar
uma chamada VoIP.
No contexto de redes IP, a identificação do usuário é
completamente diferente das redes de telefonia (basta ver,
por exemplo, seu endereço de e-mail).
Se a chamada é originada e terminada somente com aplicações
VoIP, a aplicação usada pelo receptor provavelmente usará
uma identificação do tipo "userid@hostid" para identificar o
originador, e estes dados são passados normalmente como
parte do handshake no nível de aplicação dos protocolos de
sinalização usados em VoIP.
O problema começa quando um usuário VoIP inicia uma chamada
que será terminada na rede telefônica convencional. Em algum
ponto haverá um gateway para converter de um fluxo de
pacotes IP (vindos do originador da chamada) para um
conjunto de circuitos comutados na rede telefônica
convencional, interligando o gateway com o usuário de
destino. Para estabelecer estes circuitos, o gateway precisa
interagir com a central telefônica no modo habitual dela:
SS7.
Considerando que:
a) Existem "trocentos" fornecedores de aplicação que
implementam gateways VoIP-POTS;
b) Não há normas específicas para os serviços de VoIP e
interligação VoIP-POTS;
c) A ANATEL não assumiu o papel da antiga TELEBRÁS no
quesito de estabelecimento de normas técnicas para o mercado
brasileiro de telecom;
Vc pode concluir que o potencial de confusão no mapeamento
dos dados de sinalização na passagem VoIP-SS7, exceto
aqueles que são críticos para o estabelecimento da chamada
(e identificação de A não está nesta categoria), é muito
grande. E, definitivamente, pela sua experiência relatada,
ocorrem.
Antes de começar um discurso do tipo "mas as operadores
deviam...", pense nas conseqüências dos "considerandos"
acima. Uma operadora em particular só tem poder de
padronizar os serviços que ela mesma presta (e mesmo isso,
francamente, é muito "bagunçado" - e não só no Brasil).
Se a originação da chamada vier da rede de outra 0peradora,
a menos que elas consigam um padrão comum para troca dos
dados de sinalização VoIP (difícil, nas
circunstâncias atuais) os dados perdem confiabilidade.
Se a chamada é originada na Internet, o problema é ainda
pior.
Ainda tem muito trabalho a ser feito nesta área. Muito ainda
tem de ser aprendido pelos engenheiros de telecom (das
operadoras e dos fornecedores) sobre como lidar
eficientemente com as peculiaridades de aplicações em
ambiente packet-switching.
O que temos hoje é apenas um embrião, cheio de
possibilidades.
A postura com relação à maneira como estes serviços são
prestados, hoje, pode ser pessimista ou otimista.
Eu, particularmente, prefiro achar que o copo do VoIP está
meio cheio.
José de Ribamar Smolka Ramos