José Ribamar Smolka Ramos
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 Setembro 2004               Índice Geral


21/09/04

Voice over IP e a Identificação de Chamada

----- Original Message -----
Sent: Tuesday, September 21, 2004 10:34 AM
Subject: Re: [Celld-group] Voice over IP

Jussara,
Vc fez a seguinte pergunta:
O interessante é que, por mais que eu consulte POR QUE os telefonemas via IP apresentam qualquer número no bina, ninguém me responde o motivo.

Bom. O início da resposta está numa frase que consta do verbete "IP
telephony" que vc nos enviou:   

The integration of packet-switched IP with the traditional SS7-based  telephone system is a complex undertaking with numerous protocols  competing for attention.

O assim chamado BINA (assinante B - receptor da chamada - identifica o número do assinante A - originador da chamada) depende, em telefones convencionais, de que a informação sobre o número de A seja passada para o aparelho de B pela central local (onde B está diretamente conectado). 
Como a maioria dos telefones convencionais ainda é analógica, esta sinalização é passada pela central no sistema DTMF (combinações de tons, que tem significados específicos para o aparelho, tais como "tem alguém querendo falar com vc", ou, no nosso caso, "quem está ligando para vc é o número xyz").

A central, por sua vez, recebe as informações sobre a originação e encaminhamento da chamada através de um canal de comunicação separado. 
O conjunto dos protocolos usados para isso (definidos pela ITU, estilo OSI) são conhecidos como "sistema de sinalização número 7"ou, para os íntimos, SS7.

Quando a chamada é originada em um telefone convencional, e supondo que todas as centrais envolvidas (local de A, local de B e centrais trânsito no meio do caminho) compartilham o mesmo conjunto de protocolos de sinalização, o aparelho do assinante B consegue receber dados confiáveis sobre o número de A, e exibi-lo corretamente no seu display (o BINA).

Mas, como a citação do verbete da enciclopédia diz, é complicado "casar" a sinalização de chamadas VoIP com a sinalização SS7 das centrais convencionais.

Começa que, estritamente falando, não é necessário atribuir um "número de telefone" para um usuário que quer originar uma chamada VoIP. 
No contexto de redes IP, a identificação do usuário é completamente diferente das redes de telefonia (basta ver, por exemplo, seu endereço de e-mail). 
Se a chamada é originada e terminada somente com aplicações VoIP, a aplicação usada pelo receptor provavelmente usará uma identificação do tipo "userid@hostid" para identificar o originador, e estes dados são passados normalmente como parte do handshake no nível de aplicação dos protocolos de sinalização usados em VoIP.

O problema começa quando um usuário VoIP inicia uma chamada que será terminada na rede telefônica convencional. Em algum ponto haverá um gateway para converter de um fluxo de pacotes IP (vindos do originador da chamada) para um conjunto de circuitos comutados na rede telefônica convencional, interligando o gateway com o usuário de destino. Para estabelecer estes circuitos, o gateway precisa interagir com a central telefônica no modo habitual dela: SS7.

Considerando que:

a) Existem "trocentos" fornecedores de aplicação que implementam gateways VoIP-POTS;
b) Não há normas específicas para os serviços de VoIP e interligação VoIP-POTS;
c) A ANATEL não assumiu o papel da antiga TELEBRÁS no quesito de estabelecimento de normas técnicas para o mercado brasileiro de telecom;

Vc pode concluir que o potencial de confusão no mapeamento dos dados de sinalização na passagem VoIP-SS7, exceto aqueles que são críticos para o estabelecimento da chamada (e identificação de A não está nesta categoria), é muito grande. E, definitivamente, pela sua experiência relatada, ocorrem.

Antes de começar um discurso do tipo "mas as operadores deviam...", pense nas conseqüências dos "considerandos" acima. Uma operadora em particular só tem poder de padronizar os serviços que ela mesma presta (e mesmo isso, francamente, é muito "bagunçado" - e não só no Brasil). 
Se a originação da chamada vier da rede de outra 0peradora, a menos que elas consigam um padrão comum para troca dos dados de sinalização VoIP (difícil, nas
circunstâncias atuais) os dados perdem confiabilidade. 
Se a chamada é originada na Internet, o problema é ainda pior.

Ainda tem muito trabalho a ser feito nesta área. Muito ainda tem de ser aprendido pelos engenheiros de telecom (das operadoras e dos fornecedores) sobre como lidar eficientemente com as peculiaridades de aplicações em ambiente packet-switching. 
O que temos hoje é apenas um embrião, cheio de possibilidades. 
A postura com relação à maneira como estes serviços são prestados, hoje, pode ser pessimista ou otimista. 
Eu, particularmente, prefiro achar que o copo do VoIP está meio cheio.

José de Ribamar Smolka Ramos 

 

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