José Ribamar Smolka Ramos
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Dezembro 2005 Índice Geral
12/12/05
• O nome da rede é infranet (ver notícia abaixo)
----- Original Message -----
From: jose.smolka@vivo.com.br
To: Celld-group ; wirelessbr
Sent: Wednesday, January 12, 2005 2:20 PM
Subject: Re: [wireless.br] O nome da rede é infranet
Algumas reflexões sobre a reportagem postada pelo Zenigmático:
O problema real para criação de serviços IP globais, com ubiqüidade da garantia
dos parâmetros de QoS contratados, não é técnico.
Este é essencialmente um problema comercial.
Feita a afirmação, vamos à argumentação que a sustente.
Primeiro, precisamos entender bem o que significa QoS.
Um contrato de nível de serviço (service level agreement - SLA) é
assinado entre o cliente e o provedor do serviço, e neste contrato constam
cláusulas especificando duas
características básicas que o serviço deve oferecer às aplicações do cliente:
- disponibilidade - em que períodos de tempo o cliente irá usar o serviço, e
qual a
probabilidade disso ser honrado;
- perfomance - traduzida em termos de delay máximo/mínimo admissíveis (o
que equivale a definir banda mínima/máxima) e, a depender da aplicação
(tipicamente voz e vídeo), variação máxima admissível para o delay (jitter).
Num mesmo contrato, é comum haver a definição de grupos de aplicações do
cliente, cada um deles com requisitos diferenciados de disponibilidade e
performance.
Garantia de disponibilidade se resolve com replicação de recursos (fontes de
alimentação redundantes, links redundantes, switching fabrics redundantes,
etc.). J
á a garantia de performance pode ser feita de duas maneiras:
- overkill de recursos (se o preço compensar), ou
- traffic engineering.
Traffic engineering pode ser feito de várias maneiras.
Tecnologia para isso já existe há algum tempo, e o MPLS é apenas uma delas.
Entretanto é bom notar que o MPLS não foi criado com o objetivo de permitir um
traffic
engineering sofisticado.
O grande objetivo do MPLS era posicionar as redes IP como alternativas viáveis
às redes Frame-Relay e ATM em um aspecto específico: possibilitar a formação de
grupos fechados de comunicação (popularmente, virtual private network - VPN; no
jargão MPLS: virtual routing facility - VRF).
Se a tecnologia já existe, então qual o problema? Marketing.
O fato mais básico sobre marketing é que os clientes não pagam pelas
características intrínsecas de qualidade de um produto ou serviço.
Eles pagam (e podem se dispor a pagar muito) pela percepção de valor que eles
atribuem ao produto ou serviço.
Como isso afeta o que foi dito na reportagem?
Simples: para poder ter serviços globais - que é a mesma coisa que dizer que os
clientes
de qualquer dos membros do consórcio podem usar a infra-estrutura de qualquer um
dos outros membros para acesso às suas aplicações, com garantia de que os termos
do seu contrato SLA serão respeitados fim a fim - todos os membros do consórcio
tem que concordar em práticas mínimas comuns de traffic engineering.
Mas, se todos oferecem o mesmo serviço, não há diferenciação, portanto não é
possível criar percepção de valor agregado.
Não poder diferenciar o seu produto ou serviço? Vade retro!!!
Se você fizer este tipo de proposta para alguém de marketing ele vai ter
urticária.
Por outro lado, para poder se diferenciar das ofertas da concorrência, será
necessário empregar técnicas que possibilitem a criação de produtos ou serviços
com características inovadoras (e valiosas para o público-alvo desejado).
Mas isto significa que os usuários destes produtos ou serviços não podem mais
contar com a garantia de cumprimento do SLA, a não ser que eles utilizem
exclusivamente a infra-estrutura daquele fornecedor. E agora o sonho de serviços
globais vai por água abaixo.
Como a reportagem diz, iniciativas neste sentido não são novas, mas minha
opinião sobre o fracasso anterior é diferente: o problema de globalizar versus
diferenciar os serviços cria um dilema de marketing para o qual os provedores de
serviço não tem solução fácil.
Prefiro esperar para ver no que esta iniciativa vai dar, em termos práticos.
Mas não tenho muitas esperanças.
J. R. Smolka
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O nome da rede é infranet
World Telecom - Quinta-feira, 6 janeiro de 2005 - 15:06
Os provedores de serviços vêem as redes IP de próxima geração como um meio de
recriar a si mesmos.
Mas será que eles estão preparados para isso? Se as operadoras criassem uma
infra-estrutura IP pública com garantia de qualidade de serviço (QoS),
confiabilidade e segurança, as corporações se disporiam a pagar para rodar seus
aplicativos mais críticos nela? Um grupo da indústria recém-criado está
apostando nisso. Mais de duas dúzias de fabricantes e provedores de serviços se
uniram para montar a tal infra-estrutura IP pública, batizada de infranet. O
grupo Infranet Initiative (IIC) reúne provedores de serviços globais como AOL,
British Telecom, Deutsche Telekom, France Telecom, Level 3 Communications e
Qwest, além dos fabricantes de equipamentos de rede Ericsson, Juniper, Lucent e
Polycom, e as empresas de aplicações, computação e sistemas HP, IBM e Oracle.
A Infranet Initiative é, na verdade, cria da Juniper. A fornecedora percebeu que
precisava dar uma alternativa às operadoras para se afastarem da abordagem "uma
aplicação, uma rede", prática de fazer negócio há muito vigente, porém cara e
complexa demais para ser mantida no longo prazo. As aplicações que poderiam
beneficiar-se da infranet incluem voz sobre IP (VoIP) corporativa, exigindo a
divisão de tráfego entre a rede de uma operadora e a de outra operadora;
colaboração ponto a ponto intra-empresa; disponibilidade de recursos de
computação, incluindo largura de banda, aplicações e serviços de armazenamento;
e rede virtual privada (VPNs) de múltiplos provedores. "Um serviço VPN de
múltiplos provedores seria ideal para um viajante a negócios, cujo escritório é
seu PC", aponta Marco Limena, vice-presidente da unidade Network and Service
Provider Solutions da HP e membro da IIC.
Não importa se o viajante estiver na Ásia, Europa ou América Latina, ele usaria
os mesmos procedimentos para acessar uma rede IP e obteria as mesmas velocidades
de conectividade, qualidade de conexão e segurança mundialmente.
Com a infranet, uma empresa poderia contratar o serviço VPN de múltiplas
operadoras. Utilizando especificações que estão sendo desenvolvidas por membros
da Infranet Initiative, as operadoras poderiam transferir chamadas, "sem
costura", entre elas mesmas, enquanto uma corporação receberia apenas uma conta
e o usuário teria as mesmas características de serviço - disponibilidade, custo,
QoS - em qualquer lugar em que estivesse.
Déjà vu da indústria
Se essa meta soa familiar, é mesmo. Em fins da década de 90, provedores de
internet idealizaram o conceito de internet business class sobre o qual poderiam
oferecer serviços premium. Esse esforço fracassou por uma série de razões, em
especial porque o momento era inadequado. "Algumas empresas ainda viam a
internet como uma moda passageira que desapareceria com o estouro da bolha e,
além disso, a rede mundial ainda não era fonte de doenças virais e violações de
hackers que é hoje. Por isso, o problema não era tão crítico quanto é agora, nem
as aplicações que poderiam ser usadas eram tão predominantes ou importantes",
diz um membro do conselho, que não quis ser identificado.
Fora isso, padrões subjacentes (sobretudo o IPv6) não eram suficientes para
transformar em realidade a promessa de uma internet business class. O problema
persiste ainda hoje - daí a Infranet Initiative. De acordo com a IIC, a mola
propulsora é praticamente a mesma e a necessidade cresce a cada ano.
No início da década de 90, as operadoras de telecomunicações também tentaram
evoluir suas infra-estruturas baseadas em pacotes para plataformas business
class. Na ocasião, as operadoras viam frame relay e ATM como as tecnologias
definitivas. Elas louvavam o ATM por seus recursos avançados de QoS. "Mas frame
relay e ATM eram travadas por sua natureza baseada em conexão", observa
Christine Heckart, vice-presidente de marketing da Juniper.
As infranets têm a grande vantagem de se apoiar em infraestruturas
multi-protocol label switching (MPLS) roteadas.Com MPLS, o tráfego IP pode ser
encaminhado por uma variedade de rotas para possibilitar uma classe específica
de serviço ou um nível de serviço garantido.No momento, a maioria das grandes
operadoras no mundo aderiu ao MPLS. A vice-presidente de marketing da Juniper
observa que a Masergy Communications, operadora startup e membro do grupo de
trabalho, já está fornecendo serviços de infranet em um backbone MPLS. Os
serviços permitem que uma corporação utilize múltiplas aplicações com
prioridades diferentes - e parâmetros de QoS distintos associados a cada
prioridade - na
mesma conexão. Se o sucesso da Masergy servir de indício, a Infranet Initiative
tem futuro. Desde o lançamento em 2000, a Masergy acumulou mais de 200 clientes
corporativos em 30 países.
Na Tampa Armature, empresa de energia elétrica, o uso de voz sobre
infra-estrutura MPLS - a base de sua infranet -está provando ser muito mais
confiável do que voz sobre frame relay, segundo John Sarmanian, gerente de
sistemas de informação da companhia. A Tampa convergiu voz sobre frame relay há
cerca de três anos para economizar despesas com ligações de longa distância, mas
enfrentava problemas gigantescos de infra-estrutura. Apesar de a operadora
assegurar o contrário, os circuitos de 256 Kbps não forneciam largura de banda
suficiente para voz e dados e os roteadores da empresa não eram capazes de
suportar os mecanismos de QoS necessários.
Web Services inteligentes
A infranet com serviço MPLS demonstrou ser valiosa também para a empresa de
petróleo vienense OMV.O CIO,Ulf Busch, contratou a T-Systems International,
unidade da Deutsche Telekom que atende clientes corporativos nos Estados Unidos
e em outros países, para o serviço MPLS IP VPN IntraSelect da operadora. "O
desempenho de aplicação melhorou de ponta a ponta em relação à rede anterior da
empresa", revela Busch.Os tempos de resposta estão mais baixos para a aplicação
SAP, a qualidade da voz melhorou, o acesso à intranet está mais veloz e o acesso
à internet foi centralizado.
Assim como MPLS, web services também vão formar a infranet. "A escolha de web
services como um elemento em uma nova arquitetura IP é crítica porque eles são,
explicitamente, uma ferramenta para integrar inteligência de computador em
redes", diz Thomas Nolle, presidente da consultoria CIMI.
A IIC espera que as infranets forneçam a infra-estrutura global necessária para
suportar computação sob demanda e aplicações que se beneficiam de grids (daí a
razão de HP, IBM e Oracle participarem), segundo Heckart, da Juniper. A IIC
também pretende se apoiar em padrões de web services para sinalização e
segurança, por exemplo. Nesse cenário de VPN de múltiplos provedores, em vez de
ser criada uma VPN para cada cliente ou tipo de serviço, uma infranet cria uma
partição de rede que permitiria às operadoras dividir tráfego de acordo com
requisitos de QoS e segurança. "As operadoras podem colocar múltiplos clientes e
serviços em uma mesma partição se os requisitos forem idênticos e se foi
estabelecida confiança", explica Nolle.
Para serviços de conteúdo e aplicação, um servidor seria admitido na infranet
como um membro da rede.Ou ele seria admitido como um provedor de web services
cujas aplicações são publicadas em um registro de serviço e disponibilizadas
para usuários da rede. "Isso significa que as infranets podem acomodar tanto o
modelo legado de computação distribuída quanto a nova arquitetura orientada a
web services", observa Nolle. Tendo em vista que a arquitetura da infranet
fornecerá serviços entre as redes, os serviços ATM e frame relay legados
poderiam juntar-se a ela com serviços IP, oferecendo aplicações de web services.
A IIC detalha os serviços entre redes e outros aspectos técnicos em uma
arquitetura de referência de três níveis. Assim, ela pretende incorporar, onde
for possível, iniciativas de padrões já realizadas na IETF e na União
Internacional de Telecomunicações (ITU). A entidade planeja provar a validade
dessa arquitetura mapeando meia dúzia de casos de uso. Estão em andamento
serviços VPN corporativos de múltiplos provedores, incluindo garantias de
desempenho, distribuição e manutenção de software, rádio baseado na web e
convergência fixo-móvel. A IIC também discutiu outros casos de uso como chamadas
de voz session initiation protocol (SIP) de múltiplos provedores, acordos de
billing por seção, colaboração ponto a ponto entre corporações e gateway
doméstico/ rede doméstica multimídia. Essas aplicações estão entre as que, de
acordo com a IIC, não podem ser abordadas adequadamente pelos serviços IP
públicos atuais. A entidade pretende passar os casos de uso para testes piloto
dentro de seis a 12 meses.
Para as operadoras, a abordagem colaborativa da Infranet Initiative é uma
mudança bem-vinda. "A padronização de esforços para a infranet neste momento
gira em torno do quanto somos capazes de realizar esses serviços tecnicamente.
Ninguém nunca adotou essa abordagem de criação de serviço antes", ressalta Jody
Craft, vice-presidente executivo da T-Systems. Como diz Limena, da HP, "será uma
vergonha se não tivermos êxito. Trata-se de uma oportunidade para se diferenciar
da abordagem utilizada na internet pública com uma nova arquitetura que
proporciona o mais alto nível de desempenho e flexibilidade para o usuário".
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