José Ribamar Smolka Ramos
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Junho 2007               Índice Geral


13/06/06

Qualidade x Faturamento

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From: José de Ribamar Smolka Ramos
To: wirelessbr@yahoogrupos.com.br
Sent: Wednesday, June 13, 2007 5:03 PM
Subject: [wireless.br] Qualidade x Faturamento

Depois de tanto tempo sem aparecer, só posso voltar cantando:

Se vocês pensam que nóis fumo embora
Nóis enganemo vocêis
Fingimo que fumo e vortemo
Ói nóis aqui travêis 
     :)
 

Chega de distração... Há algum tempo atrás me pediram para justificar economicamente a aquisição de ferramentas para o controle da qualidade da rede IP. Admito que isto me fez pensar em alguns expletivos fortes (que tive o bom senso de não pronunciar em público), afinal, ninguém discute a necessidade de monitorar a qualidade do serviço prestado, especialmente quando se trata de VoIP em ambiente carrier-class.

Depois de quebrar um pouco a cabeça, acabei encontrando uma maneira de quantificar os chamados custos da não-qualidade. Espero que o raciocínio a seguir possa ajudar quem também tenha um problema semelhante (BTW, a justificativa foi aceita ;)).

Como vamos ter algumas expressões algébricas no texto, vou usar a simbologia padrão para representar operações aritméticas: + (soma), - (subtração), * (multiplicação), / (divisão) e ^ (exponenciação).

Vamos assumir que, na ausência de qualquer problema de qualidade, a rede é capaz de suprir uma demanda de M unidades de serviço tarifável (que podem ser minutos de uso, quilobytes trafegados, etc.). M está relacionado com o número de sessões estabelecidas pelos usuários - designado como N, e com a duração média das sessões - designado como T, pela relação:

M = N * T         [1]

Se ocorrem problemas de qualidade (de qualquer espécie), vamos assumir que:

a) Uma parte das sessões ocorre sem problemas, e o restante das sessões sofre incidentes de qualidade que forçam a sua interrupção. Chamando NOK ao número de sessões sem problemas e NKO ao número de sessões com problemas temos:

N = NOK + NKO

Denominando a proporção das sessões que sofrem problemas como Q, temos:

Q = NKO / N
NKO = Q * N            [2]
NOK = (1 - Q) * N         [3]

b) Os usuários fazem retry de uma parte das sessões que experimentam problemas, e a outra parte é abandonada pelos usuários. Chamando NR ao número de sessões que sofreram retry e NA ao número de sessões abandonadas temos:

NKO = NR + NA

Denominando a proporção das sessões que sofrem retry como R, temos:

R = NR / NKO
NR = R * NKO         [4]

Substituindo [2]  em [4] temos:

NR =  R * Q * N         [5]

c) A duração média das sessões sem problemas é assumida como sendo igual a T. Vamos denominar TKO ao tempo médio de duração das sessões que sofrem interrupção, e TR ao tempo médio das sessões resultantes do retry dos usuários. Vamos supor que, em média, estes tempos sejam:

TKO = T / 2         [6]
TR = T / 2         [7]

Pelas suposições feitas, vemos que a ocorrência de problemas de qualidade altera o número de sessões e o tempo médio de duração das sessões. Vamos denominar N' e T' a estes novos valores, e expressá-los em função dos valores originais N e T.

O novo número de sessões será a soma do número de sessões sem problema, mais a o número de sessões interrompidas, mais o número de sessões originadas do retry dos usuários:

N' = NOK + NKO + NR         [8]

Substituindo [2] [3] e [5] em [8] temos:

N' = (1 + R * Q) * N         [9]

O novo tempo médio de duração será a média ponderada do tempo médio de duração das sessões sem problema, do tempo médio de duração das sessões com problema e do tempo médio de duração das sessões resultantes do retry dos usuários:

T' = (NOK * TOK + NKO * TKO + NR * TR) / (NOK + NKO + NR)         [10]

Substituindo [2] [3] [5] [6] e [7] em 10, e simplificando, temos:

T' =( (1 + Q * (R - 1) / 2) / (1 + R * Q)) * T         [11]

Então podemos calcular o novo número total de unidades de serviço tarifáveis, denominado M', como sendo:

M' = N' * T'         [12]

Substituindo [10] e [11] em [12], e simplificando, temos:

M' = (1 + Q * (R - 1) /2) * M            [13]

Definimos a variação proporcional de M em função de Q e R como sendo:

V = (M' - M) / M         [14]

Então, substituindo [13] em [14] e simplificando, temos:

V = Q * (R - 1) / 2         [15]

Observando o comportamento típico dos usuários, temos uma forte suspeita que R e Q estejam correlacionados, e que esta correlação possa ser expressa, aproximadamente, por uma função na forma R = f(Q). Que características gerais esta função deveria satisfazer? Pela observação, temos:
 

  • Quando Q é igual a zero  (nenhum problema de qualidade), então R é igual a zero (nenhum retry);
  • Quando Q é diferente de zero, Q e R tem correlação negativa. Isto é: Se Q é muito próximo de zero, então R é muito próximo de um, e quando Q tende a um R tende a zero;
  • A função f(Q) pode atingir o valor zero para um valor de Q menor que um. Neste caso, para qualquer valor de Q maior que este valor limite, R será igual a zero.

Para simplificar, vamos supor que f(Q) = 1 - Q (correlação linear) para Q maior que zero e menor ou igual a um. Esta suposição é otimista. Tenho forte suspeita que a função real (que precisa ser determinada empiricamente) é pior que isto, mas deixa isto pra lá. Substituindo a expressão R = 1 - Q em [15] temos:

V = - Q^2 / 2         [16]

A variação expressa por [16] é em relação à situacão hipotética (e irreal) de nenhum problema de qualidade. Supondo que a rede está operando em um nível de problemas de qualidade onde Q = q1 (q1 maior que zero) e passa a operar em um nível de qualidade onde Q = q2 (q2 maior que zero e maior que q1), a diferença entre as variações dadas por [16] é que representa a perda esperada no número de unidades de serviço tarifáveis (e, consequentemente, perda de receita bruta, que é diretamente proporcional ao número de unidades de serviço tarifáveis cursadas pela rede).

Então, vamos observar o que acontece quando temos Q igual a, sucessivamente, 1%, 2%, 3%, 4%, 5%, 6%, 7%, 8%, 9% e 10%.

Q = 1%   -->   V(1%) = -0,005%
Q = 2%   -->   V(2%) = -0,02%   --> diferença = -0,015%
Q = 3%   -->   V(3%) = -0,045%   --> diferença = -0,025%

Q = 4%   -->   V(4%) = -0,08%   --> diferença = -0,035%
Q = 5%   -->   V(5%) = -0,125%   --> diferença = -0,045%
Q = 6%   -->   V(6%) = -0,18%   --> diferença = -0,055%
Q = 7%   -->   V(7%) = -0,245%   --> diferença = -0,065%
Q = 8%   -->   V(8%) = -0,32%   --> diferença = -0,075%
Q = 9%   -->   V(9%) = -0,405%   --> diferença = -0,085%
Q = 10%   -->   V(10%) = -0,5%   --> diferença = -0,095%

O que vemos aqui é que, nesta faixa, cada ponto percentual de aumento na incidência de problemas de qualidade causa uma perda crescente da receita bruta do serviço obtida no nível de qualidade anterior (multiplicando a perda pelo valor médio da unidade de serviço tarifável). E quanto maior o valor de Q, mais acelerada é a perda.

Considerando o valor da receita bruta de uma operadora, digamos, no serviço de voz, estas perdas podem convencer o mais empedernido analista financeiro da sensatez de não deixar a qualidade da rede ao acaso.

Inté a próxima oportunidade (que espero não estar muito distante) :)

[ ]'s a todos

J. R. Smolka


 

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