José Ribamar Smolka Ramos
Telecomunicações
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ComUnidade
WirelessBrasil
Dezembro
2008
Índice Geral
07/12/08
• Rascunhando idéias para uma nova definição
do ecossistema de serviços de telecom
----- Original Message -----
From: J.R.Smolka
To: wirelessbr@yahoogrupos.com.br
Sent: Sunday, December 07, 2008 8:32 PM
Subject: [wireless.br] Rascunhando idéias para uma nova definição do ecossistema
de serviços de telecom
Julião, Bruno e demais colegas da ComUnidade,
Entendo o desejo do Julião em que o assunto "papel do governo no mercado de
telecomunicações brasileiro" prossiga. Pessoalmente não tenho nada contra, só
acho que esta discussão rapidamente descamba para uma discussão monótona de
esquerda x direita, e aí sim, estaríamos off-topic. Se conseguirmos uma maneira
de evitar isto, não tenho nada contra continuar com o tema, com a devida vênia
do nosso moderador :-)
Uma coisa que a gente precisa ter em mente nesta conversa é que a rede que
estamos falando tem múltiplos estratos de serviço, tecnologicamente distintos e
com características diferentes para garantia de interoperação fim a fim.
Considerem, inicialmente o pretendido serviço de troncos. Creio que uma
definição melhor para ele seria: serviço de transporte agnóstico de longa
distância, que poderia existir nos "sabores" nacional e internacional. Sua
infra-estrutura teria que ser formada pelas redes ópticas DWDM (OADMs/ROADMs e
OXCs) interligadas das concessionárias e/ou permissionárias do serviço. Por
questões de acomodação da demanda legacy, terão que ser oferecidos serviços de
emulação de circuitos SDH (ou mesmo PDH) ponto a ponto, mas a tendência é que a
oferta de serviços concentre-se em conexões Ethernet L2VPN, ponto a ponto ou
VLAN, nas bandas de 10, 40 e (brevemente) 100 Gbps (para cada lambda). O
obstáculo técnico para a viabilização deste serviço é a garantia de
interoperação dos planos de controle das redes das concessionárias e/ou
permissionárias. Por enquanto as especificações T-MPLS (ITU-T) e NNI (OIF) ainda
não estão em um ponto de maturidade que me dê tranquilidade que tudo funcionaria
bem. Claro que este obstáculo da interoperação pode ser contornado (pelo menos
na esfera nacional) se houver uma Troncobrás operando uma única rede, mas minha
opinião pessoal é que esta solução seria um daqueles casos onde vc acaba jogando
o bebê fora junto com a água suja do banho.
Mas ainda existe uma faceta deste serviço a considerar: o serviço de transporte
agnóstico metropolitano, que tem que interoperar com o seu congênere de longa
distância. Embora a tecnologia DWDM possa ser aplicada neste nível (tipicamente
em grandes centros urbanos), o mais comum será a montagem de redes Metro
Ethernet, oferecendo serviços de emulação de circuitos SDH/PDH e conexões
Ethernet L2VPN, ponto a ponto ou VLAN, nas bandas de 10 e 100 Mbps, ou 1 Gbps.
Isto deveria ser considerado objeto de concessões/permissões em separado, ou
agregadas com o serviço equivalente de longa distância? E, caso separado, este
serviço poderia ser considerado em conjunto com as redes de acesso de last (ou
first) mile?
E, falando em last (ou first) mile, é o caso de agregar em um único processo de
concessão/permissão unbundled para todas as formas de redes de acesso (DSL, HFC,
PON, WiFi, WiMAX - e talvez até mesmo as redes de acesso 2,5G/3G do SMP)
existentes na praça?
Até aqui somente falamos de serviços que, em termos do modelo OSI, ficam na
camada 2. A gente vem dizendo que, no médio prazo, a maioria das formas de
comunicação devem convergir para transporte IP na camada 3. Só que um serviço de
transporte IP não poderia ser prestado de forma monolítica, porque, embora
queiram usar o IP, nem todo mundo quer usar a Internet como seu meio de
comunicação. Então o serviço de rede IP tem de ser multifacetado, ofertando VPNs
com endereçamento privado para aqueles que assim desejarem, e duas mega-VPNs com
endereçamento público, uma IPv4 e outra IPv6, para implementar a Internet.
Tecnicamente isto não é problema, porque o MPLS foi inventado exatamente para
isto. O único dilema é quando, no médio prazo, os planos de controle das VPNs
ópticas DWDM e das VPNs IP convergirão para um protocolo comum, provavelmente o
GMPLS. Até lá existe um debate acalorado entre a interconexão dos roteadores IP/MPLS
à infra-estrutura óptica DWDM via transponders ou usando interfaces G.709-aware
(como o IPoDWDM da Cisco).
Neste caso, então, o serviço de transporte IP (Internet v4, v6 e VPNs) deveria
ser considerado como parte integrante dos serviços prestados pelo serviço de
transporte óptico que falamos antes? Ou deveria ser objeto de
concessão/permissão em separado. Quanto à questão dos PTTs, para mim a resposta
é simples: a quantidade de PTTs operados em uma determinada região depende tão
somente de quantas concessões/permissões tiverem sido outorgados ali. Logico que
terá mais sucesso aquele PTT onde haja a possibilidade de um AS estabelecer o
máximo possível de acordos de peering e trânsito com outros ASs - aquilo que,
nos PTTs da RNP, eles chamam de acordo de tráfego múltiplo, ou ATM (não
confundir com o asyncrhonous transfer mode, ainda tão estimado pelo pessoal do
GSM).
E, caso o transporte IP venha realmente a ser regulamentado, qual o papel da RNP
e do CGI.br neste novo contexto? A Anatel faria com eles algo parecido com o que
a LGT fez com as operadoras do então Sistema Telebrás antes da privatização,
outorgando uma concessão/permissão automática?
Este novo cenário regulatório ainda está em estado de pré-rascunho de
anteprojeto, mas já dá para perceber que, se fosse assim, os serviços atuais do
STFC e SMP poderiam ser redefinidos como clientes destes novos serviços de
transporte (puramente ópticos ou IP + ópticos), e abre-se a possibilidade de
definir novas modalidades para o STFC e para o SMP nativamente IP, que devem
suceder os seus antecessores convencionais.
Questão básica para este cenário: o que precisa ser modificado na LGT para que
isto pudesse ocorrer? Ou assim como está agora já daria para efetuar estas
modificações?
Ainda haverão inúmeras outras questões antes que este amontoado de hipóteses
possa ter uma cara minimamente parecida com um projeto alternativo de
regulamentação dos serviços de telecom, então é melhor, por enquanto, dar uma
pausa e tentar clarear esta parte do cenário antes de seguir em frente.
[ ]'s
J. R. Smolka
ComUnidade
WirelessBrasil
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