José Ribamar Smolka Ramos
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Outubro 2010               Índice Geral


06/10/10

• José Smolka comenta o tema: "O backhaul é essencial para o STFC"?

de J. R. Smolka <smolka@terra.com.br>
para wirelessbr@yahoogrupos.com.br
data 6 de outubro de 2010 10:30
assunto Re: [wireless.br] Msg de Flávia Lefèvre: Finalmente...Definiram o Backhaul

Em 05/10/2010 18:20, Horacio escreveu:

> Se é ESSENCIAL para o funcionamento dele, como o STFC funcionou até hoje, ou antes de "inventarem" o tal de Backhaul ?
> Só se o seu ESSENCIAL for diferente do meu...
> O meu significa INDISPENSÁVEL, que o STFC não poderia ser fornecido sem o Backhaul.
> Para você ele é INDISPENSÁVEL ? Desejável ? Possível ? Recomendável ? Uma opção ? A unificar opção ?


Horácio e, de quebra, também para a Flávia,

Não sei se você acompanhou a conversa desde o início, ou se você ainda não "ligou o nome com a pessoa" neste caso em que deram um novo nome a uma coisa muito antiga.

Vamos recuar no passado, quando só existiam os serviços de telefonia (hoje chamado STFC) e TELEX. As telefonistas e os painéis de interconexão (switchboards) tinham sido recém-substituídas por centrais telefônicas automáticas (centrais de passo, com switching por relés) interconectadas por cabos-tronco multipar (500, 1.000, 5.000 pares...). Esta forma de interconexão criava sérias restrições, principalmente para o tráfego de longa distância (intermunicipal, interestadual e internacional).
Então estes cabos multipar começaram a ser substituídos por sistemas de rádio analógico FDM (canais de tráfego transladados em frequência - muito parecido com o que fazia o finado AMPS). A partir deste momento estes recursos de interconexão das centrais de acesso com as centrais trânsito (tandem) municipais/regionais, destas com as centrais trânsito estaduais, e destas para as centrais trânsito internacionais, passaram a ser chamados, coletivamente, de transmissão.

Então ficaram definidas as três áreas técnicas clássicas da telefonia fixa: rede de acesso (toda a fiação da casa dos assinantes até o DG das centrais de acesso); comutação (centrais de acesso, trânsito e, elementos de sinalização - primeiro in-band e depois out-of-band); e a transmissão. Vamos nos concentrar na evolução desta última.

Com a onda de digitalização da comutação os enlaces FDM foram gradualmente substituídos por enlaces digitais PDH e, mais recentemente, por enlaces SDH. Mas tudo ainda tratado dentro do termo clássico: transmissão. Se a transmissão ficasse sendo usada apenas pelo tráfego de voz e sinalização do STFC não haveria nenhuma dúvida quanto à sua indispensabilidade para a prestação do serviço.
Ocorre que, desde o início da adoção do PDH (lá pelo meio da década de 70 do sécuo passado), as operadoras implantaram enlaces de capacidade superior ao estritamente necessário para o atendimento ao STFC. Esta capacidade extra passou a ser usada no atendimento a outros serviços paralelos (EILD, distribuição de sinais de TV, interconexão de switches de serviços de dados X.25, frame-relay, etc.).
Mas o STFC continuava lá. E continua até hoje, só que não é mais o cliente exclusivo da transmissão, talvez nem mais seja o cliente principal, mas ainda depende da transmissão para encaminhamento das chamadas de longa distância (e, nas regiões metropolitanas grandes, até mesmo para chamadas locais ente assinantes registrados em centrais de acesso diferentes).

Agora toda esta estrutura técnica e de serviços está sofrendo uma mudança de paradigma. E se isso já não causasse confusão suficiente, alguma anta resolve rebatizar a transmissão como backhaul e brincar com isso nos decretos que regem a execução do marco regulatório. Não arguo se isto é certo ou errado. Apenas foi feito assim. Também não arguo se existiu ou não miopia na redação de decretos anteriores. E também não arguo o sentido ou não de declarações de executivos de empresas que são pagos, afinal, para defender e ampliar o famoso shareholder's value. Apenas cito os fatos técnicos tal como são, goste-se ou não deles.

E, para terminar de vez este joguinho de chamar de biscoito os gatinhos que a gata pariu dentro do forno, vou me valer das palavras de Shakespeare. Romeo and Juliet, act 2, scene 2:

Juliet

'Tis but thy name that is my enemy.
Thou art thyself, though not a Montague.
What's Montague? it is nor hand, nor foot,
Nor arm, nor face, nor any other part
Belonging to a man. O, be some other name!
What's in a name? That which we call a rose
By any other name would smell as sweet.

So Romeo would, were he not Romeo call'd,
Retain that dear perfection which he owes
Without that title. Romeo, doff thy name;
And for that name, which is no part of thee,
Take all myself.

Isto chega ou vou ter que desenhar?

[ ]'s

J. R. Smolka

P.S.: Ah sim! Flávia, o backhaul não existia na época que o Graham Bell inventou o telefone, mas assim que a Bell Telephone Company (fundada por ele) começou a fazer chamadas entre centrais, o backhaul começou a existir, ainda que na forma primitiva dos cabos multipar, alocados manualmente fim a fim pelas telefonistas que operavam manualmente os switchboards.


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