José Ribamar Smolka Ramos
Telecomunicações
Artigos e Mensagens
WirelessBrasil
Fevereiro 2012 Índice Geral
12/02/12
• "Percepção e realidade" - José Smolka
continua comentando a velocidade da banda larga na Campus Party
de J. R. Smolka smolka@terra.com.br por
yahoogrupos.com.br
para "wirelessbr@yahoogrupos.com.br" , "Celld-group@yahoogrupos.com.br"
data 12 de fevereiro de 2012 13:19
assunto [wireless.br] Percepção e realidade
Senhores e senhoras,
Aqui um exemplo pronto e acabado de como a percepção do usuário não está
alinhada com a realidade do serviço.
Em uma mensagem de ontem comentei o desalinhamento entre discurso e realidade
tecnológica (e financeira e comercial)
desta matéria. Pois bem. Um dos comentários a respeito da propalada
velocidade de 20 Gbps do uplink instalado na Campus Party diz o
seguinte:
"Eu sinceramente tenho dúvidas dessa velocidade
anunciada, o máximo que consegui registrar aqui na Campus Party 2012 foi uma
velocidade de 40mb, sem contar que ela oscila demais, chegando ate cair por
alguns instantes !!"
Não sei qual o grau de conhecimento técnico sobre a Internet que o autor da
frase tem. Sendo um frequentador da Campus Party eu esperava um pouco
mais, mas pode ser apenas um amador curioso. Pontos-chave observados: velocidade
instantânea máxima observada de 40 Mbps; velocidade média abaixo disso, e
oscilante. Ou seja, absolutamente normal!
Porque normal? Comecemos entendendo a estrutura lá instalada. Não tenho dados
objetivos, mas acho que posso dar um bom "chute":
a) Queremos um serviço de alta disponibilidade, então o uplink deve ter
sido feito pela instalação de um MUX interligado à rede de transporte DWDM da
Telefónica através de duas fibras ópticas. Em cada fibra foram reservados 2
lambdas (TX + RX) para o transporte dos dados da Campus Party por rotas
físicas distintas até um dos roteadores de borda da rede da Telefónica que fazem
peering Internet (em São Paulo deve haver mais de um deles);
b) Aparentemente cada um destes circuitos tem interfaces 10 Gbps Ethernet nos
MUXes DWDM, para interligação com o roteador de borda em uma ponta e na
switch L3 de backbone da Campus Party. É possível que um dos
circuitos de 10 Gbbps tenha sido mantido em reserva, para o caso de falha do
circuito principal;
c) A distribuição interna da Campus Party deve ter sido feita com várias
switches L2 (Ethernet e WiFi), interligadas com a switch L3 do
backbone por uma ou duas interfaces 1 Gbps Ethernet sobre fibra óptica;
d) O acesso dos usuários deve ter sido 10/100/1000 Mbps Ethernet nas conexões
com fio (cabeamento UTP cat. 6, tomadas RJ45), e IEEE 802.11g/n (até 54 Mbps e
600 Mbps, respectivamente, em circunstâncias ideais - que dificilmente seriam
atingidas na área do evento).
Nada muito diferente de uma boa rede IP corporativa. Então o nosso usuário,
possivelmente usando uma interface Ethernet com fio, conseguiu picos de 40 Mbps,
e isso compartilhando acesso com outros usuários, todos tão "fominhas" de banda
quanto ele, e está achando ruim? E achou estranho que a velocidade média fosse
mais baixa (quanto? isso ele não diz) e variável? Isso é apenas o comportamento
NORMAL de uma rede Ethernet com um volume razoável de tráfego. E isso sem
considerar quais aplicações ele tentou acessar, e onde estavam os servidores
destas aplicações. Nenhuma surpresa aqui. Servidores dentro da própria Campus
Party devem ter dado o melhor throughput, e servidores na Internet
devem ter apresentado um desempenho não tão bom, porque isso depende do tráfego
nos enlaces ao longo de toda a rota (que vai bem além do que a Telefónica pode
influenciar), e das características de desempenho do próprio servidor acessado
(tráfego agregado, características do enlace e da interface de acesso,
utilização de memória e CPU, e características do próprio programa servidor,
acesso a bancos de dados, etc. - tudo isso fora do alcance da Telefónica).
Mas, no vácuo de uma reportagem, cujo objetivo é apenas usar o provimento de
conectividade à Internet para a Campus Party como contraponto da volta à
monomania da crítica à qualidade do serviço de acesso residencial de acesso à
Internet via modems DSL, este usuário vem e apresenta uma descrição de serviço
absolutamente normal como prova do que se afirma sobre os acessos DSL - sem
comprovação, porque a reclamação de alguns, embora merecedora de atenção, não
cria, necessariamente, significado estatístico.
E, apesar disso tudo, o comentário deste usuário da Campus Party ainda é
mais significativo do que muitas das "manifestações espontâneas" de cidadãos na
consulta pública sobre o pedido de anulação das ILEGALIDADES que existem no
RGQ-SCM e no RGQ-SMP. A que ponto chegamos...
[ ]'s
J. R. Smolka