Acesas estavam, ainda, as paixões desencadeadas pela vitoriosa rebelião dos marinheiros. De um lado, as forças democráticas já se articulavam contra o governo da indisciplina. Do outro, Jango apoiava-se no PCB, nas organizações de massa e num pretenso "esquema militar". Pretendia, entretanto, dar uma demonstração de força aos que o criticavam pela posição assumida no episódio da rebelião dos marinheiros, mostrando que tinha prestigio junto aos escalões menores das Forças Armadas.
Alguns meses antes, a Associação dos Subtenentes e Sargentos da Policia Militar do Rio de Janeiro (a que havia optado pelo serviço federal) convidara o Presidente para comparecer às comemorações do aniversário da entidade. Naquela oportunidade, Jango aceitou o convite, mas adiou o seu comparecimento sem marcar data. Entretanto, chegara a hora ...
Na noite de 30 de março de 1964, a Associação realizou a reunião na sede do Automóvel Clube, no Rio de Janeiro, com a presença de centenas de sargentos, além de diversos oficiais e ministros, dentre os quais o novo Ministro da Marinha, Almirante Paulo Mário.
Dezenas de comunistas confraternizaram-se com os militares. O ambiente atingiu o auge da exaltação quando se abraçaram, sob aplausos gerais, o Almirante Aragão e o Cabo Anselmo. Os oradores, inflamados, discursavam repisando a tônica das reformas. Discursos atentatórios à hierarquia e à a disciplina foram pronunciados.
O Sargento Ciro Vogt, um dos oradores, foi estrepitosamente vaiado, porque, atendendo aos regulamentos disciplinares, limitou-se a apresentar as reivindicações de sua classe, sem abordar temas políticos.
Mas o ponto alto da reunião foi o discurso do Presidente da República. Inebriado pela calorosa recepção dos sargentos e incentivado pelos constantes aplausos, Jango fez um dos discursos mais inflamados de sua vida pública. Defendeu os sargentos amotinados. Propugnou pelas reformas de base. Acusou seus adversários, políticos e militares, de estarem sendo subsidiados pelo estrangeiro. Ameaçou-os com as devidas "represálias do povo".
A televisão mostrou "ao vivo" estas cenas. Muitas das pessoas que as assistiam sentiram que, após aquela reunião, a queda de Jango era iminente.
Na verdade, fora seu último discurso como Presidente da República.