ROGÉRIO GONÇALVES
Telecomunicações - Artigos e Mensagens
ComUnidade
WirelessBrasil
Dezembro 2009 Índice Geral
24/12/09
• Telebrás, Eletronet e "Plano de Banda Larga" - Debate entre Rogério Gonçalves e Ethevaldo Siqueira (1)
de Helio Rosa <rosahelio@gmail.com>
para Celld-group@yahoogrupos.com.br, wirelessbr@yahoogrupos.com.br
data 14 de dezembro de 2009 21:21
assunto Debate entre Rogério Gonçalves e Ethevaldo Siqueira (1)
Visito o site do Ethevaldo e anoto suas
respostas ao texto do nosso Rogério Gonçalves, outro combatente
aguerrido. :-)
Rogério Gonçalves é diretor de Pesquisa Regulatória da ABUSAR
- Associação Brasileira dos Usuários de Acesso Rápido.
Não tive a agilidade, ao encaminhar a
mensagem do Rogério ao Ethevaldo, de acrescentar seu sobrenome na
assinatura, daí a estranheza do jornalista.
Peço desculpas aos dois!
Votos de bons debates, leais, cordiais e produtivos!
Boa leitura!
Um abraço cordial
Helio Rosa
------------------------------
Fonte:Website de
Ethevaldo Siqueira
[14/12/09]
Quem distorce os fatos: Ethevaldo ou Rogério?
Não sei a que Rogério estou respondendo. Não descobri seu sobrenome. Não sei
se é o famoso Rogério do Ministério do Planejamento ou outro famoso. Mas,
pensando bem, isso não tem muita importância porque não costumo
desqualificar, nem ofender, nem discriminar meus interlocutores. Acho que as
pessoas civilizadas devem ater-se aos seus argumentos.
Rogério, antes de responder às suas objeções ao meu artigo, gostaria de me
apresentar com toda sinceridade. Talvez você não saiba, mas eu acompanho e
vivo o dia-a-dia das telecomunicações brasileiras há mais de 42 anos.
Comecei em março de 1967, meu amigo. Poucos jornalistas especializados no
mundo já trabalharam tanto tempo numa mesma área. Meu único mérito, diria
você, é o tempo de serviço. Você tem razão. É dele que me orgulho, pelos
padrões éticos que tenho procurado imprimir à minha vida. Tenho paixão pelo
que faço. Vivo exclusivamente da remuneração de meu trabalho (no jornal O
Estado de S. Paulo, na Rádio CBN), dos direitos autorais, como escritor que
já publicou 11 livros, e das palestras especializadas que faço, nas áreas de
Tecnologia da Informação e Eletrônica de Entretenimento. Fui professor da
USP durante mais de 10 anos.
Não tenho aposentadoria do Estado. Não sou político. Não quero nada do
governo nem de nenhuma empresa privada. Não quero emprego público nem
concessão ou licença de rádio ou TV. Escrevo o que minha consciência manda.
Não omito fatos nem tenho telhado de vidro. Isso tudo irrita os opositores –
que pensam que todo mundo é venal e corrupto. Fui preso e perseguido pela
ditadura. Lutei, sobrevivi e hoje quero ser apenas um cidadão comum. Como
qualquer outro. Mas que pode andar de cabeça erguida e olhar nos olhos das
pessoas – inclusive nos seus, Rogério. Respeito os patriotas, inclusive os
patriotas equivocados.
Como jornalista, meu propósito é conhecer os fatos, a evolução da
tecnologia, os preços, os mercados, a regulação, os modelos institucionais –
e servir ao Brasil, mostrando a todos os que me leem e me ouvem os caminhos
que me parecem melhores. Mas estou sempre aberto ao diálogo. Como agora.
Vamos ao seu texto, Rogério.
"Sinceramente, não consigo entender o porquê do
Ethevaldo distorcer tanto os fatos para exaltar a privatização da Telebrás.
O cara faz isso de uma forma tão ostensiva que chega a ficar suspeito..."
Rogério, ao longo deste debate, você verá
quem distorce os fatos. Eu me apoio em números e indicadores objetivos. E
peço-lhe que não levante nenhuma suspeita diante da forma ostensiva com que
tenho defendido a privatização. Em troca eu não levantarei nenhuma suspeita
sobre as motivações que o levam a defender o monopólio estatal ou a velha
Telebrás. Eu parto do pressuposto, sincero, de que sua convicção na defesa
da Telebrás é resultado de seu idealismo, de seu amor ao Brasil. Pense nisso
e na possibilidade, recíproca, de que aqueles que têm idéias diferentes de
você também amarem o Brasil e serem idealistas. Jamais diria que você tem
interesses menos dignos na Telebrás ou no governo. Ou que busque posição ou
cargo de direção em qualquer empresa do governo. Espero que você não me
desminta. Existem pessoas que não aceitam a diversidade de opiniões e
insinuam sempre que o interlocutor está vendido a uma das partes. Eles
projetam a própria consciência na acusação leviana e torpe.
"Nesse artigo incoerente, através do qual ele tenta
desqualificar, sem sucesso, o meu novo ídolo Virgílio Freire, existem várias
falácias que podem ser facilmente desmascaradas (...)"
O mais curioso, Rogério, é que você não
entendeu as ressalvas que fiz, quando eu relembrei fatos positivos da vida
de Virgílio Freire de mais de 20 anos atrás, seu passado de executivo. Não
invente nem distorça os fatos: não desqualifiquei nem ofendi seu ídolo,
tanto que ele me enviou uma resposta de agradecimento. Embora pensemos de
forma radicalmente diferente – nem por isso perdemos o respeito mútuo. Só os
imaturos e despreparados ofendem o interlocutor num debate de idéias. Vamos
em frente.
1) Em momento algum ele demonstra fazer idéia do
que seja tecnologia SDH e da revolução causada pela utilização dessa
tecnologia nas redes de trânsito/troncos das subsidiárias Telebrás a partir
de 1994. Ou seja, ele viu o milagre, mas nem imagina o nome do santo que o
realizou.
Rogério, como você sabe, milagre é efeito
sem causa. Nunca disse que o desenvolvimento das telecomunicações fosse
milagre. Suas causas foram cristalinas: investimentos de R$ 180 bilhões,
maior oferta de serviços e de infraestrutura, mais tecnologia e competição
crescente em alguns segmentos. Surpreendo-me com sua nova interpretação, a
de que o santo capaz de operar milagres tenha sido a tecnologia SDH.
Explicar a expansão das telecomunicações apenas com a tecnologia SDH é muito
simplismo.
E quem, realmente, distorce os fatos, Rogério?
2) Ele também demonstra não fazer idéia de que os
serviços públicos de comunicação de dados, criminosamente batizados de banda
larga pelas autoridades que querem esconder a sua existência, requerem
regulamentação e concessões específicas para serem explorados em regime
público, com metas de universalização e continuidade.
Sua briga, neste caso, Rogério, é contra as
autoridades que “criminosamente batizaram os serviços públicos de
comunicação de dados de banda larga”. Concordo com uma nova regulamentação,
desde que essas novas regras resultem de um grande debate, inclusive que
aprove o regime público de exploração de concessões específicas e fixe metas
de universalização.
3) Para encher a bola do general Alencastro e do
comandante Quandt, ele afirma que o País saltou de 2 milhões de linhas
telefônicas, em 1972, para 10 milhões, em 1982, quando na realidade esse
número de 10 milhões (10,3 milhões de terminais, para ser mais exato) só foi
alcançado em 1992.
Um erro de digitação dá margem a esse tipo
de crítica. Que festa, Rogério. Você tem razão, o correto é 1992 em lugar de
1982. Mas não parta para nenhuma ironia ou maledicência contra o general
Alencastro nem o comandante Quandt. É bom saber que, como brasileiro, tenho
o maior respeito por essa dupla, que conheci de perto e cujo trabalho
testemunhei por mais de 20 anos. Nesse sentido – por sua competência,
honestidade e patriotismo – eu encherei a bola de ambos sem nenhum
constrangimento. Não estou certo, Rogério, de que sua contribuição ao Brasil
e às telecomunicações se compare à de Quandt e Alencastro, ambos com mais de
90 anos. Mas tenho certeza de que você não terá a ousadia de levantar a
menor acusação contra eles. Certo?
4) O Ethevaldo afirma que, a partir de 1985, o
sistema estatal de telecomunicações começou a perder sua capacidade de
investimento, quando na realidade a empresa não só continuou investindo
normalmente, como chegou a enterrar cerca de R$ 18 bilhões no período
1995/1997, na imoral "preparação para a privatização" do Serjão...
Você sabe que todos os governos, desde os
governos militares até o de Sarney, enxugavam os superávits da Telebrás.
Todos sabem o que era o aviltamento tarifário e as distorções do subsídio
cruzado, de que resultava a descapitalização e a progressiva perda de
capacidade de investimento do sistema estatal. Essa foi a triste realidade –
que, aliás, costuma ocorrer com as empresas estatais, sempre sujeitas a
interferências político-partidárias, empreguismo e corrupção. Surpreende-me
o sectarismo de considerar o investimento de R$ 18 bilhões algo imoral –
quando era preciso pôr a casa em ordem antes de privatizar, para obter o
maior preço possível no leilão. Isso é o que se faz em todo o mundo. É como
reformar a casa que se vai vender. Onde está a imoralidade?
Quem, realmente, distorce os fatos, Rogério?
5) A informação de que o valor dos contratos dos
planos de expansão variava de US$ 1 mil a US$ 3 mil é verdadeira. Porém, ao
contrário do que ele afirma, as ações da Telebrás tinham muita liquidez,
após dois anos de posse delas, as pessoas podiam vendê-las diretamente ao
Unibanco ou a qualquer corretora.
Rogério reconhece que o valor dos contratos
de planos de expansão variava de US$ 1 mil a 3 mil. Que universalização
poderia ocorrer com essa política? Aqueles valores absurdos eram a melhor
prova de que a Telebrás estava descapitalizada. E mais: que o telefone se
convertera em bem elitista, exclusivo da classe A. Rogério sabe também que
as ações da Telebrás só subiram no início dos anos 1990, quando a empresa
lançou suas ADRs na Bolsa de Nova York. Até o final dos anos 1980, eram puro
papel pintado. Esses são os fatos. Que eu não distorço.
Quem está, realmente, distorcendo os fatos?
6) O Sérgio Motta somente extinguiu o
autofinanciamento em 1997 após ter zerado a demanda reprimida por novos
terminais, via planos de expansão. Ou seja, a Telebrás foi privatizada com
dinheiro em caixa para a instalação dos milhões de terminais que foram
contratados até março de 1997, poupando as meninas da Abrafix de terem de
desembolsar uma boa grana, além daquela que seria investida na aquisição do
controle acionário das subsidiárias da Telebrás.
Rogério, depois desta, você poderá ser
convidado pelo Dunga para integrar a seleção brasileira. É o maior chute que
eu já vi, esse de que o dinheiro em caixa pagou os contratos de milhões de
terminais até março de 1997. E se havia dinheiro em caixa (que você não
menciona quanto era, nem quantos milhões de terminais foram instalados com
esses recursos) é bom lembrar que, num leilão de privatização, o vencedor
compra a totalidade dos bens da empresa.
Quem está, realmente, distorcendo os fatos?
7) O Ethevaldo jamais respondeu a uma questão
crucial: a privatização da Telebrás era realmente necessária ou tudo não
passou de um baita trambique, promovido pelo IBDT (Instituto Brasileiro para
o Desenvolvimento das Telecomunicações), que visou transformar o monopólio
estatal em oligopólios privados, meta que era perseguida pela patota desde a
frustrada revisão constitucional de 1993?
Todos os meus argumentos em conjunto
constituem a maior justificativa da necessidade de privatização da Telebrás.
Mas eu repito e resumo. Um país com apenas 14 linhas telefônicas por 100
habitantes nos anos 1990 estava mal servido. No entanto, essa era a
densidade telefônica do Brasil em 1998. Esse era o trambique, Rogério. Muito
antes do instituto que você desenterra – do qual nunca me aproximei – eu já
defendia a privatização, como solução melhor do que o monopólio estatal.
Conhecendo de perto a Telebrás, eu passei a defender a privatização. Assim
como centenas de bons profissionais que trabalhavam no Sistema Telebrás.
Muitos outros profissionais, é claro, passaram a defender seus interesses
pessoais, trabalhistas – que eu considero legítimos, mas inferiores ao
interesse do Brasil. Para eles, Rogério, tudo que se opunha às suas idéias
era considerado trambique. Para eles, não importava o preço pago pelo País
por não ter telefones, nem banda larga, nem internet, nem celular. No começo
dos anos 1990, tudo neste setor era uma grande carência, uma miséria. E
custava os olhos da cara – para entrar no clube dos privilegiados da
telefonia. Depois, o serviço local, com a mágica do subsídio cruzado, ficava
baratinho. Em contrapartida, o preço dos interurbanos explodia. Não queira
esconder o sol com a peneira. Se você viveu aqueles tempos, sabe que tudo
isso era verdade.
Quem está, realmente, distorcendo os fatos?
8) De que adianta ter milhões de telefones fixos na
prateleira para serem entregues de grátis, se a esmagadora maioria dos
cidadãos não tem grana para pagar a escorchante tarifa de assinatura mensal
de R$ 49, mais os minutos cobrados pela utilização do STFC? Considerando que
a tarifa de assinatura em 1995, no início do primeiro reinado do FHC, era de
apenas R$ 0,82, que todo mundo podia pagar, obviamente o mestre Virgílio
está coberto de razão ao afirmar que a privatização da Telebrás foi um
tremendo fracasso.
Estranho sua interpretação sobre a
infraestrutura atual: milhões de telefones fixos na prateleira podem
assegurar o acesso imediato, a qualquer momento, a cada cidadão ou empresa.
O pior em sua defesa do monopólio da Telebrás é, para mim, o que você omite,
Rogério. Você não menciona uma única vez a supertributação de mais de 40% de
impostos que incidem sobre os serviços. Isso não é escorchante? Por que
omitir um ponto tão importante quanto esse, Rogério? Volte ao meu site e
releia minha resposta a Virgílio, para ver outros números dramáticos da
velha Telebrás, em seus últimos anos. Não é honesto esquecer os milhões
cidadãos que eram vítimas do plano de expansão, alguns dos quais eu citei
nominalmente, porque tiveram de esperar 15 anos para receber o telefone já
pago. Você não sente nenhuma solidariedade pelas pessoas que pagavam um
preço escorchante pelo plano de expansão e não recebiam o telefone no prazo
de dois anos? E para o País, qual era o preço de não ter telefone? Não
brinque com a inteligência daqueles que o leem.
E quem está, realmente, distorcendo os fatos?
9) O Ethevaldo ignora que os custos de instalação
de centrais telefônicas baseadas na hierarquia PDH eram muito superiores aos
custos de instalação de centrais telefônicas baseadas na tecnologia SDH, que
passou a ser utilizada pelas subsidiárias Telebrás somente a partir de 1994.
Em 1997, o custo de instalação por terminal do STFC havia caído para míseros
R$ 300, abrindo o caminho para a extinção pura e simples dos contratos de
participação financeira.
Ah, que bom que você falou dos custos de
instalação de centrais telefônicas – aliás, do custo do terminal integrado.
No final dos anos 1980, muito antes da tecnologia SDH, enquanto o terminal
integrado custava cerca de US$ 1 mil na Europa e bem menos nos Estados
Unidos, o mesmo terminal custava cerca de US$ 5 mil no Brasil da Telebrás.
Por quê? Por falta de escala, por causa da tecnologia eletromecânica ainda
dominante, dos índices de nacionalização absurdamente elevados, pela
burocracia, pela baixa produtividade e – sejamos francos, Rogério – pela
corrupção que começava a contaminar as telecomunicações brasileiras, já
então sem a atuação saneadora e ética de Quandt e Alencastro. Não estou
enchendo a bola deles, não, meu caro. Eles não precisam disso. Eles foram a
garantia de seriedade e da competência que tivemos na Telebrás, Rogério.
Você deve ter acompanhado o que ocorria na Telesp e na Telerj, entre o
governo Sarney e o começo do governo de Collor. Acha que tínhamos anjos nas
diretorias daquelas empresas? Esse é o risco das estatais brasileiras,
Rogério. Lamento dizê-lo, mas eu acompanhei tudo isso. Não fale em preços de
terminais integrados se não tiver todos os dados do problema. Hoje, as
coisas são radicalmente diferentes e você pode encontrar até “linhas” de
telefone Skype, de custo zero. O mundo mudou, Rogério.
Quem está, realmente, distorcendo os fatos, para voltar aos tempos da
Telebrás?
10) O Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078)
entrou em vigor no dia 11 de setembro de 1990. Portanto, a partir dessa
data, qualquer consumidor que se sentisse lesado em seus direitos pelas
subsidiárias Telebrás poderia entrar com ações contra as empresas, com
fulcro no artigo 22 do CDC. A existência, ou não, do Procon não fazia a
mínima diferença, já que as estatísticas de reclamações contra prestadoras
de serviços de telecom são produzidas pelos próprios tribunais.
Ou seja, qualquer consumidor só poderia
reclamar depois de 1990 – mas não contra a Telebrás, porque a Justiça, na
prática, nunca agia contra o Estado. Imagine, agora, o que demonstra o
Ministério da Justiça: as telecomunicações brasileiras foram campeãs de
reclamações não atendidas ou não solucionadas – com pouco mais de 16 mil
casos realmente sérios não resolvidos no ano passado. Pense matematicamente,
Rogério, qual é o percentual representado por 16 mil sobre uma base de mais
de 200 milhões telefones em serviço? Eu acho que os 16 mil casos são
imperdoáveis. Mas o percentual é baixíssimo. Está entre os mais baixos do
mundo. Você não pode comparar números absolutos sem levar em conta a base
instalada. Isso é elementar. No entanto, é isso que o Procon faz. E o
Ministério da Justiça também. E eles ignoram a baixa qualidade dos serviços
prestados pelo governo. Compare os serviços de telecomunicações privatizados
com a qualidade dos serviços estatais da Infraero, da previdência, das
estradas, da energia elétrica estatal, da saúde, da educação e da segurança,
meu caro. Não faça pouco da inteligência alheia.
E quem, realmente, distorce os fatos, Rogério?
11) A Lei 9.099, que instituiu os Juizados
Especiais Cíveis, foi publicada no dia 26 de setembro de 1995. Portanto, é
perfeitamente possível se fazer uma comparação entre o número de ações que
foram movidas nos JECS contra a Telebrás no período de 27/09/1995 a
29/07/1998 (dia dos leilões), com o daquelas que foram movidas contra as
meninas da Abrafix a partir dessa data.
A Telebrás atuou e existiu por 25 anos.
Você argumenta com apenas 3 anos – de 1995 a 1998. Vossa Excelência está
brincando...
E quem, realmente, distorce os fatos, Rogério?
12) O Ethevaldo precisa perder essa mania de
misturar bananas com abacaxis. Em termos regulamentares, telefonia fixa é
uma coisa e telefonia móvel é outra coisa, completamente diferente. O
principal argumento utilizado pelo Serjão & Cia. para justificar a
privatização da Telebrás era a cascata que as concessionárias privadas
promoveriam a universalização do STFC. Assim, não adianta o prezado
jornalista vir com esse papo-furado de 205 milhões de acessos, pois o que
interessa mesmo é que existem hoje cerca de 33 milhões de terminais ativos
do STFC (mesmo total existente em dezembro de 2001) e esse número continua
caindo em queda livre, deixando um saldo de quase 14 milhões de linhas
encalhadas nas prateleiras.
Rogério precisa perder esta mania de negar
os fatos e as evidências. E dizer com arrogância: “não adianta o prezado
jornalista vir com esse papo-furado de 205 milhões de acessos”. Isso é
verdade, meu caro. É uma verdade que o irrita, que deixa o amigo furioso. E
mais: Rogério precisa perder essa mania de raciocinar com serviços estanques
– algo tão anacrônico como afirmar que “telefonia fixa é uma coisa e
telefonia móvel é outra coisa, completamente diferente”. Meu caro, você não
quer reconhecer a revolução da convergência, como acontece com os
radiodifusores mais reacionários. O mundo vive a era das comunicações
integradas. A internet e o mundo IP estão sepultando tudo isso. Não ficará
pedra sobre pedra do seu mundo STFC. A mobilidade revoluciona as
comunicações, o comércio eletrônico, o acesso à internet e todos os demais
serviços de banda larga. Apenas corrigindo o equívoco: segundo o site
Teleco, o número de acessos fixos em serviço no Brasil é muito superior a 33
milhões. É exatamente de 41 milhões – isto é, a soma de concessionárias e
autorizadas. Pesquise melhor, meu caro Rogério, para não confundir o leitor
sério. Que grande problema são os 14 milhões de terminais “encalhados”.
Amanhã eles podem virar circuitos de banda larga. É como ter dinheiro no
banco sem aplicação. Eu até que gostaria.
E quem, realmente, distorce os fatos, Rogério?
13) O grande sucesso da telefonia móvel, com seus
80% de terminais pais-de-santo, é prova inconteste do retumbante fracasso da
universalização do STFC. Nesse telemundo do faz-de-conta, que o jornalista
considera perfeito, o cara carrega o celular num bolso para receber as
chamadas e um cartão telefônico no outro bolso, para poder ligar do orelhão,
rapidinho para não gastar muito, já que os minutos também são caros.
Imagine, Rogério, que os Estados Unidos têm
hoje 10 milhões de linhas fixas a menos do que tinham em 2001. Milhões de
pessoas em todo o mundo trocam sua linha fixa por um celular – isso é
faz-de-conta, para você. Olhe o que fazem a China e a Índia. Pergunte às
faxineiras, aos carroceiros, aos garis da limpeza pública, aos mais humildes
deste País, se estão felizes ou não com seu “pai-de-santo”. Não queira
apagar a falta absoluta de telefones dos duros tempos da Telebrás, meu caro.
Esses 80% de usuários do celular foram incluídos – sem pagar plano de
expansão, sem esperar 24 ou 48 meses. E ainda chamam a cobrar. Suas ligações
são caras porque, entre outras razões, o Brasil cobra as maiores alíquotas
de impostos sobre serviços de telecomunicações do mundo.
E quem, realmente, distorce os fatos, Rogério?
14) O Ethevaldo esqueceu que os impostos de cerca
30% que incidem sobre os serviços de telecom já eram cobrados desde os
tempos da CTB (Companhia Telephonica Brasileira).
Não esqueci não, Rogério. Eu lutei contra
aqueles impostos. Você, não sei. Eu lutei contra o desvio dos recursos do
FNT (Fundo Nacional de Telecomunicações). Você, não sei. Hoje, os impostos
não são apenas um fundo. No Estado de Tocantins chegam a mais de 50% do
valor dos serviços. Por que você não critica um absurdo desses? Na maioria
dos Estados passa de 40%. A média nacional é de 43%. A diferença é que eu
critico, falo, grito, esperneio contra esse assalto, Rogério. Você, não sei.
E quem, realmente, distorce os fatos, Rogério?
15) As meninas da Abrafix nunca beliscaram a grana
do Fust porque não quiseram. Bastaria que elas levassem o STFC até as
comunidades que não dão retorno ao investimento necessário à exploração do
serviço. Agora, para meterem a mão na grana do fundo querendo universalizar
serviços de redes IP (internet), o buraco é mais embaixo, pois a modalidade
de serviço cuja universalização poderá ser financiada com recursos do fundo,
nos termos dos incisos V, VI, VII e VIII do artigo 5º da lei 9.998, é a
comunicação de dados, e para isso seria necessária concessão específica,
algo impossível para as meninas, nos termos do artigo 86 da LGT.
O governo confisca o Fust, mais de 80% do
Fistel e outro tanto do Funttel. E você se cala, Rogério. Quem belisca a
totalidade do Fust, meu caro, é o Tesouro Nacional, que faz superávit fiscal
para pagar os banqueiros. É isso que você prefere? São quase R$ 10 bilhões.
Você argumenta com pressupostos e uma linguagem de palanque: de buraco mais
embaixo, de meninas da Abrafix e celulares pais-de-santo. Não brinque com os
problemas sérios, meu caro.
E quem, realmente, distorce os fatos, Rogério?
16) Finalmente, a única coisa em que eu concordo
com o Ethevaldo. O Minicom é uma vergonha nacional e o Hélio Costa já
deveria ter pedido o boné há muito tempo. Quanto à Anatel, estranhei o fato
de ele não ter usado aquele chavão de dizer que a autarquia é um órgão de
Estado.
Enfim, uma concordância, meu caro. Mas tome
cuidado ao criticar Hélio Costa, que ele costuma processar seus críticos –
como me processou e perdeu. Um jornalista que processa jornalista. Que
figura. Quanto à Anatel, qualquer estudante de Direito Constitucional sabe o
que é órgão de Estado. Não faça gozação primária. Em todo o mundo, as
agências reguladoras devem ter autonomia administrativa, regulatória e
financeira.
E quem, realmente, distorce os fatos, Rogério?
17) Definitivamente, o Ethevaldo não está com essa
bola toda para falar mal do meu novo ídolo, Virgílio Freire.
Definitivamente, Rogério, você precisa
estudar mais para defender bem seu novo ídolo.
Então, quem distorce os fatos? Releia cada resposta e tente refletir nos
fatos, nos números, na realidade. Deixe a ideologia, os preconceitos e os
interesses secundários (mesmo legítimos) de lado. Pense no Brasil. Você viu
que eu não fiz nenhuma crítica a seu ídolo, Virgílio Freire. Apenas apontei
minha discordância radical de seus argumentos – mas não o ridicularizei, não
distorci suas palavras, e continuo dando-lhe espaço em meu site para que
suas posições sejam postas em debate. Acho que isso é democracia.
Finalmente, me diga: quem é você, Rogério? É gaúcho, brizolista, usa barba,
torce para o Grêmio, vive em Brasília? Não?
Ethevaldo Siqueira (eu tenho nome e sobrenome)
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Rogério responde a Ethevaldo Siqueira
Oi Hélio, povo e pova do wirelessBR.
Sinceramente, não consigo entender o porquê de o Ethevaldo distorcer tanto
os fatos para exaltar a privatização da Telebrás. O cara faz isso de uma
forma tão ostensiva que chega a ficar suspeito...
Nesse artigo incoerente, através do qual ele tenta desqualificar, sem
sucesso, o meu novo ídolo Virgílio Freire, existem várias falácias que podem
ser facilmente desmascaradas, conforme vai aí abaixo:
1) Em momento algum ele demonstra fazer idéia do que seja tecnologia SDH e
da revolução causada pela utilização dessa tecnologia nas redes de
trânsito/troncos das subsidiárias Telebrás a partir de 1994. Ou seja, ele
viu o milagre, mas nem imagina o nome do santo que o realizou.
2) Ele também demonstra não fazer ideia de que os serviços públicos de
comunicação de dados, criminosamente batizados de banda larga pelas
autoridades que querem esconder a sua existência, requerem regulamentação e
concessões específicas para serem explorados em regime público, com metas de
universalização e continuidade.
3) Para encher a bola do general Alencastro e do comandante Quandt, ele
afirma que o País saltou de 2 milhões de linhas telefônicas, em 1972, para
10 milhões, em 1982, quando na realidade esse número de 10 milhões (10,3
milhões de terminais, para ser mais exato) só foi alcançado em 1992.
4) O Ethevaldo afirma que, a partir de 1985, o sistema estatal de
telecomunicações começou a perder sua capacidade de investimento, quando, na
realidade, a empresa não só continuou investindo normalmente, como chegou a
enterrar cerca de R$ 18 bilhões no período 1995/1997, na imoral "preparação
para a privatização" do Serjão... Vide página 15 do URL: ("http://www.bnb.gov.br/
5) A informação de que o valor dos contratos dos planos de expansão variava
de US$ 1 mil a US$ 3 mil é verdadeira. Porém, ao contrário do que ele
afirma, as ações da Telebrás tinham muita liquidez, após dois anos de posse
delas, as pessoas podiam vendê-las diretamente ao Unibanco ou a qualquer
corretora.
6) O Sérgio Motta somente extinguiu o autofinanciamento em 1997, após ter
zerado a demanda reprimida por novos terminais, via planos de expansão. Ou
seja, a Telebrás foi privatizada com dinheiro em caixa para a instalação dos
milhões de terminais que foram contratados até março de 1997, poupando as
meninas da Abrafix de terem de desembolsar uma boa grana, além daquela que
seria investida na aquisição do controle acionário das subsidiárias da
Telebrás.
7) O Ethevaldo jamais respondeu a uma questão crucial: a privatização da
Telebrás era realmente necessária ou tudo não passou de um baita trambique,
promovido pelo IBDT (Instituto Brasileiro para o Desenvolvimento das
Telecomunicações), que visou transformar o monopólio estatal em oligopólios
privados, meta que era perseguida pela patota desde a frustrada revisão
constitucional de 1993?
8) De que adianta ter milhões de telefones fixos na prateleira para serem
entregues de grátis, se a esmagadora maioria dos cidadãos não tem grana para
pagar a escorchante tarifa de assinatura mensal de R$ 49, mais os minutos
cobrados pela utilização do STFC? Considerando que a tarifa de assinatura em
1995, no início do primeiro reinado do FHC, era de apenas R$ 0,82, que todo
mundo podia pagar, obviamente o mestre Virgílio está coberto de razão ao
afirmar que a privatização da Telebrás foi um tremendo fracasso.
9) O Ethevaldo ignora que os custos de instalação de centrais telefônicas
baseadas na hierarquia PDH eram muito superiores aos custos de instalação de
centrais telefônicas baseadas na tecnologia SDH, que passou a ser utilizada
pelas subsidiárias Telebrás somente a partir de 1994. Em 1997, o custo de
instalação por terminal do STFC havia caído para míseros R$ 300, abrindo o
caminho para a extinção pura e simples dos contratos de participação
financeira.
10) O Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078) entrou em vigor no dia 11
de setembro de 1990. Portanto, a partir dessa data, qualquer consumidor que
se sentisse lesado em seus direitos pelas subsidiárias Telebrás poderia
entrar com ações contra as empresas, com fulcro no artigo 22 do CDC. A
existência, ou não, do Procon não fazia a mínima diferença, já que as
estatísticas de reclamações contra prestadoras de serviços de telecom são
produzidas pelos próprios tribunais.
11) A Lei 9.099, que instituiu os Juizados Especiais Cíveis, foi publicada
no dia 26 de setembro de 1995. Portanto, é perfeitamente possível fazer uma
comparação entre o número de ações que foram movidas nos JECS contra a
Telebrás no período de 27/09/1995 a 29/07/1998 (dia dos leilões) com o
número daquelas que foram movidas contra as meninas da Abrafix a partir
dessa data.
12) O Ethevaldo precisa perder essa mania de misturar bananas com abacaxis.
Em termos regulamentares, telefonia fixa é uma coisa e telefonia móvel é
outra coisa, completamente diferente. O principal argumento utilizado pelo
Serjão & Cia. para justificar a privatização da Telebrás era a cascata que
as concessionárias privadas promoveriam a universalização do STFC. Assim,
não adianta o prezado jornalista vir com esse papo-furado de 205 milhões de
acessos, pois o que interessa mesmo é que existem hoje cerca de 33 milhões
de terminais ativos do STFC (mesmo total existente em dezembro de 2001) e
esse número continua caindo em queda livre, deixando um saldo de quase 14
milhões de linhas encalhadas nas prateleiras.
13) O grande sucesso da telefonia móvel, com seus 80% de terminais
pais-de-santo, é prova inconteste do retumbante fracasso da universalização
do STFC. Nesse telemundo do faz-de-conta, que o jornalista considera
perfeito, o cara carrega o celular num bolso para receber as chamadas e um
cartão telefônico no outro bolso, para poder ligar do orelhão, rapidinho
para não gastar muito, já que os minutos também são caros.
14) O Ethevaldo esqueceu que os impostos de cerca 30% que incidem sobre os
serviços de telecom já eram cobrados desde os tempos da CTB (Companhia
Telephonica Brasileira).
15) As meninas da Abrafix nunca beliscaram a grana do Fust porque não
quiseram. Bastaria que elas levassem o STFC até as comunidades que não dão
retorno ao investimento necessário à exploração do serviço. Agora, para
meterem a mão na grana do fundo, querendo universalizar serviços de redes IP
(internet), o buraco é mais embaixo, pois a modalidade de serviço cuja
universalização poderá ser financiada com recursos do fundo, nos termos dos
incisos V, VI, VII e VIII do artigo 5º da lei 9.998, é a comunicação de
dados, e para isso seria necessária concessão específica, algo impossível
para as meninas, nos termos do artigo 86 da LGT.
16) Finalmente, a única coisa em que eu concordo com o Ethevaldo. O Minicom
é uma vergonha nacional e o Hélio Costa já deveria ter pedido o boné há
muito tempo. Quanto à Anatel, estranhei o fato de ele não ter usado aquele
chavão de dizer que a autarquia é um órgão de Estado.
Definitivamente, o Ethevaldo não está com essa bola toda para falar mal do
meu novo ídolo, Virgílio Freire. Por enquanto é só. Valeu?
Rogério