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CDMA - CODE DIVISION MULTIPLE ACCESS (4) |
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Autor: Rogério Boros |
Esta página contém figuras grandes (inclusive fórmulas). Aguarde a carga se a conexão estiver lenta.
4. A Revolução do CDMA
A grande atração
da tecnologia CDMA desde o seu começo foram as promessas de extraordinário
aumento de capacidade em relação a outras tecnologias de acesso múltiplo.
Modelos simples sugeriam que a melhoria em capacidade poderia ser de até 20
vezes o que havia nos padrões celulares de faixa estreita existentes, como o
AMPS.
Contudo, os diversos fatores dos sistemas reais, como áreas de cobertura
altamente irregulares, carga não uniformemente distribuída, mudanças em relação
a hora do dia e outras influências incontroláveis, mostraram que os modelos
idealizados não poderiam chegar a tal aumento.
4.1. O Princípio do CDMA
A chave para a alta
capacidade do sistema CDMA está no uso de ondas portadoras similares ao ruído.
Ao invés de particionar o espectro ou tempo em intervalos, uma diferente instância
da portadora de ruído é designada para cada assinante.
Estas formas de onda não
são rigorosamente, mas aproximadamente, ortogonais. Uma aplicação prática
deste princípio usa pseudo-ruído (pseudo-noise)
gerado digitalmente ao invés do verdadeiro ruído térmico.
Os benefícios básicos
são preservados, e os transmissores e receptores são simplificados, pois
grande parte pode ser implementada utilizando dispositivos digitais de alta
densidade.
O maior benefício
de portadoras similares ao ruído é que a sensibilidade do sistema à interferência
é fundamentalmente alterada.
Os tradicionais sistemas de divisão na freqüência
ou no tempo tinham que ser projetados com uma taxa de reuso que satisfizesse o
pior caso de interferência, mas somente uma pequena fração dos usuários
realmente experimentavam esta situação.
O uso de portadoras do tipo ruído,
com todos os usuários ocupando o mesmo espectro de freqüência, tornou o ruído
efetivo na soma de todos os sinais de outros usuários.
O receptor faz a correlação
da entrada com a portadora de ruído desejada, amplificando a relação sinal-ruído
(SNR) para o detetor.
A amplificação sobrepõe o ruído aditivo o suficiente
para fornecer uma SNR adequada no detetor.
Como a interferência é aditiva, o
sistema não é mais sensível ao pior caso de interferência, mas à interferência
média.
O reuso de freqüência é universalizado para todo o sistema, ou seja,
vários usuários utilizam cada uma das portadoras de freqüência do sistema
CDMA.
O padrão de reuso de freqüência passa a ser o da figura 4.1.
Figura
4.1. Reuso de Freqüência no Sistema CDMA
As células indicam que toda a banda passante
de 1,25 MHz é utilizada por cada usuário, e a mesma banda passante é
reutilizada em cada célula.
A capacidade é
determinada pela relação entre a SNR requerida para cada usuário e o ganho de
processamento de espalhamento do espectro. A figura de mérito de um receptor
bem projetado é o valor adimensional da SNR (signal-to-noise
ratio).
(4.1)
A parte de ruído da
SNR, num sistema de spread spectrum,
é realmente a soma do ruído térmico e a interferência de outros usuários.
A
SNR necessária para alcançar um taxa de erros particular depende de vários
fatores, como a codificação de erro de envio utilizada, o desvanecimento e
diversidade de caminhos no ambiente de propagação.
Para os receptores
tipicamente utilizados no CDMA comercial, as faixas variam aproximadamente de 3
a 9 dBs.
A energia por bit (Energy
per bit) está relacionada à potência do sinal e à taxa de dados.
(4.2)
O termo referente à
soma do ruído e da interferência (noise
+ interference) é a densidade espectral de potência (power
spectral density).
Se o espectro dos sinais for grosseiramente retangular,
com uma largura de banda W, então a densidade espectral de potência da soma do
ruído com interferência é
(4.3)
onde o primeiro
termo representa o nível de ruído térmico do receptor (FN).
Reescrevendo a equação SNR em termos da taxa de dados e da largura de banda de
espalhamento espectral, temos
(4.4)
A interferência
nessa equação é a soma dos sinais de todos os usuários com exceção do usuário
de interesse.
4.2. A Questão da Distância
O CDMA (e
tecnologias de spread spectrum em
geral) sempre foram mistificados como inúteis no ambiente de rádio móvel,
devido ao problema de proximidade e distância.
Sempre foi assumido que todas as
estações transmitiam à potência constante.
Entretanto, no sistema móvel
celular, alguns assinantes podem estar localizados próximos à base da ERB, e
outros, bem distantes dela.
A perda por propagação entre os usuários em
pontos extremos pode ser de dezenas de dBs.
Supondo, por exemplo que somente
dois usuários estivessem presentes, e ambos estivessem transmitindo com potência
suficiente para que o ruído térmico fosse desprezível, então a SNR, em dB,
seria
(4.5)
Se houver, digamos,
30 dB de diferença entre a maior e a menor perda no caminho de propagação,
então existe uma diferença de 60 dB entre a SNR do usuário mais próximo e a
do mais distante, pois estas são as potências recebidas.
Para acomodar os usuários
distantes, a largura de banda talvez tivesse de ser 40 dB maior, ou 10.000 vezes
a taxa de dados.
Se a taxa de dados for 10 kbps, então W=100 MHz.
A eficiência
espectral é muito pior do que qualquer sistema FDMA ou TDMA ineficiente.
Por
outro lado, se uma largura de banda razoável for escolhida, então os usuários
distantes não recebem nenhum serviço.
Essa observação
foi durante anos o motivo racional para que nenhuma tentativa de utilizar spread
spectrum fosse feita, a não ser em satélites geoestacionários, aonde a perda
por espalhamento no caminho era muito pequena.
4.3. Controle de Potência
A chave para alta
capacidade no CDMA comercial é extremamente simples.
Se, ao invés de utilizar
potência constante, os transmissores pudessem ser controlados de tal forma que
a potência recebida de qualquer usuário fosse grosseiramente igual, então os
benefícios do espalhamento seriam realizados.
Se a potência recebida for
controlada, então os assinantes podem ocupar o mesmo espectro e se acumulam os
esperados benefícios da interferência média.
Assumindo perfeito
controle de potência, então a soma entre o ruído e a interferência agora
é
(4.6)
onde N é o número total de usuários. A SNR
torna-se
(4.7)
A capacidade máxima é atingida se ajustarmos o controle de potência tal que a SNR seja exatamente o necessário para uma dada taxa de erro. Substituindo o valor objetivado para SNR e resolvendo a equação (4.7) em relação a N, tem-se a equação de capacidade básica para o sistema CDMA:
(4.8)
Usando os números
para IS-95A CDMA com taxa de 9,6 kbps,
(4.9)
ou aproximadamente
N=32.
A SNR escolhida de 6 dB é uma estimativa nominal.
Uma vez que o controle
de potência é disponível, o projetista do sistema tem a liberdade de negociar
entre a qualidade de serviço e a capacidade dos sistema, ajustando o valor de
SNR. Nota-se que a capacidade e a SNR são recíprocos, uma melhoria de 3 dB na
SNR implica um fator de perda de dois na capacidade e vice-versa.
Vários fatores ainda não foram tomados em conta, assim como foi negligenciada
a diferença entre N e
N-1 na equação (4.9) por ser uma aproximação razoável, dada à capacidade
do sistema.
Temos, no geral, um sensível avanço em relação às tecnologias
de banda estreita.
Verifica-se que com
Eb/N0 na faixa de 3 a 9 dB, a equação (4.9) dá uma
capacidade de 16 a 64 usuários na vizinhança.
Na mesma largura de banda, um
simples setor de uma célula AMPS tem somente 2 canais disponíveis.
4.4. Capacidade Associada a Célula
A discussão que
levou à equação (4.9) assumiu somente uma simples célula, sem interferência
de células vizinhas.
Na verdade, sem interferência das células adjacentes, o
sistema AMPS teria uma capacidade de aproximadamente 42 canais (1,25 Mhz/30
kHz), próxima aos valores obtidos para o sistema CDMA.
A grande diferença
está em encontrar o que acontece em meio à interferência de células
vizinhas.
Para isso, deve-se adicionar esta interferência à equação (4.3).
Aparece assim que a porcentagem de interferência do link reverso que vem da célula
vizinha é de aproximadamente 60% da interferência da própria célula.
E, esta
resposta não é muito sensível aos parâmetros do modelo, assumindo que as
estações móveis tem controle de potência.
Para o cálculo, introduz-se o fator efetivo de reuso de freqüência F, definido como
(4.10)
O efeito da interferência
adicional pode ser levado, substituindo N por FxN. A capacidade do polo,
assumindo agora que todas as células estão igualmente carregadas é
(4.11)
Na equação (4.11),
vê-se porque F é chamado de fator de reuso de freqüência efetivo.
Ele
representa na equação de capacidade do sistema CDMA (4.11) o mesmo que o fator
de reuso de freqüência K representa na capacidade do sistema AMPS.
Uma célula
omnidirecional CDMA, mesmo com interferência de outras células, tem uma
capacidade maior que o sistema AMPS de um fator
K/F = 7/1,6 = 4,375.
O aumento em uma célula setorizada é ainda maior, pois a
capacidade do sistema CDMA é multiplicada pela setorização.
Ou seja, a equação
(4.11) se aplica a um setor, com pequenas modificações dada a perda de
interferência entre setores. Nesse caso, a capacidade aumenta em
K/F = 7x3/1,6 = 13,125 vezes.
4.5. Codificação de Voz
Uma vez que a
interferência é calculada pela média, qualquer coisa que seja feita para
reduzir a potência média transmitida aprimora a capacidade.
Um ponto óbvio
para a otimização de potência é a codificação de voz.
A fala humana é uma
fonte de informação redundante.
Medidas realizadas pelos Bell
Laboratories muitos anos atrás mostravam que o fator de atividade numa
conversação humana natural está numa faixa de 35 a 40%.
Se essa atividade for
traduzida em obstrução de potência, então um maior aumento de capacidade
pode ser obtido.
Esse fato é realizado em ambos os padrões de interface aérea
e serviço de codificação de voz.
A capacidade do pólo se torna
(4.12)
onde v é o fator de atividade de voz, aproximadamente 0,5.
A redução
alcançada em prática é menor do que a medida com o fator de atividade, pois a
taxa de transmissão pelo ar não é reduzida a zero nos períodos ociosos.
Este
modelo simplificado mostra um aumento de 26 vezes no ganho de capacidade em relação
ao sistema AMPS. Apesar de ser uma suposição otimista, a codificação de voz
apresenta melhorias substanciais que podem ser obtidas na conversão para CDMA.
Uma taxa de dados
variável é ajustada na interface aérea pelo fornecimento de uma taxa de dados
de tráfego básica que pode ser reduzida em percentagens binárias (1, 1/2,
1/4, and 1/8).
A transmissão nunca é reduzida a zero, porque isso
representaria um problema para a supervisão de canal.
Hoje, dois conjuntos de
taxas de dados proporcionais às percentagens apresentadas são suportados, o
primeiro baseado em 9.600 bps e o outro em 14.400 bps.
A codificação de
voz utilizada no CDMA é padronizada separadamente da interface aérea como uma
opção de serviço.
O primeiro codificador foi padronizado na IS-96.
Este padrão
opera no conjunto de taxas nominais associadas a 9.600 bps e atinge uma taxa média
efetiva um pouco acima de 4 kbps.
4.6. Desvanecimento em Propagação Multi-Percurso (Multipath Fading)
A capacidade do
sistema é afetada pelo fenômeno de propagação.
O desvanecimento do sinal
dentro de um veículo em movimento é mais rápido, sendo causado pela movimentação
do veículo através de padrões de interferência estacionários, onde a escala
espacial é o comprimento de onda.
O CDMA é muito mais robusto que as
tecnologias analógicas quando há diversidade de percursos, mas isso ainda
afeta a capacidade.
Quando as
componentes referentes aos múltiplos percursos da forma de onda CDMA tem
atrasos separados por, ao menos, o tempo de decorrelação do espalhamento, então
elas podem ser diferenciadas no receptor.
Elas não interferem, pois cada
componente se correlaciona com um diferente atraso.
Quando as componentes são
separadas por intervalos menores do que o tempo de decorrelação, então não
podem ser diferenciadas no receptor e interferem-se entre si, levando a um
desvanecimento suave (flat fading).
O desvanecimento
também é caracterizado como Rayleigh ou Rician.
Rayleigh é o resultado de uma
soma vetorial de várias componentes do sinal, cada uma com seu valor de
amplitude.
O desvanecimento Raleigh exibe profundas quedas de sinal devido às
interferências destrutivas.
Se há uma
componente constante de sinal muito forte se somando aos múltiplos componentes
aleatórios de desvanecimento Raleigh, então este passa a ser chamado Rician.
O
desvanecimento Rician é típico de situações com linha de visada, quando há
um caminho direto sem obstruções entre as duas estações (móvel e rádio-base),
assim como superfícies refletoras ou dispersoras.
A duração de processamento em um chip de spread
spectrum é de 1/1.2288MHz = 814 ns, que representa 244 metros na velocidade
da luz.
Ou seja, diferenças de percursos múltiplos menores que esta distância
levam ao desvanecimento suave.
Maiores, levam à combinação da diversidade
obtida no receptor.
Para analisar os
reais efeitos do desvanecimento que aparecem na segunda situação, a resposta
é um pouco mais complexa e diferente nos links direto e reverso (forward and return links).
Também há uma dependência da taxa de
desvanecimento, que depende da velocidade da estação móvel. Geralmente, o
desvanecimento aumenta a relação sinal ruído média para uma determinada taxa
de erros.
O aumento pode chegar a 6 dB.
No link reverso, o controle de potência
reduz os efeitos do enfraquecimento do sinal à baixa velocidade.
À alta
velocidade, ele tem pouco efeito.
Em ambos os links e à alta velocidade, a
codificação e interpolação do FEC se torna mais efetiva à medida que o
tempo de desvanecimento fica menor que o intervalo de interpolação.