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Brasil com "S" de Software! - Parte I |
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Autor: Courtnay Guimarães Jr. (*) |
O Brasil não é mais o país do futuro. É o país
do PRESENTE.
Eis porque.
Onde estamos?
Eclodiu uma crise mundial, em parte por um fator cíclico (ela já vinha sendo
prenunciada há algum tempo e sentida em menor intensidade, mas crescente) e
em parte pela crise americana, intensificada em demasia pelos efeitos do
"estouro da bolha de tecnologia" e pelos atentados do dia 11/Set/2001.
Esta crise, contudo, gera uma enorme oportunidade de reposicionamento em
algumas indústrias e mais ainda, chances únicas de reposicionamento de
nações inteiras na economia mundial.
Ao mesmo tempo, em um momento raro em sua história, o Brasil está:
- Favoravelmente posicionado para exportações, devido à política cambial;
- Em destaque no cenário Latino Americano, graças à crise da Argentina e ao
crescimento do México, que mostrou que há vida abaixo do Rio Grande;
- Estruturado para crescer interna e externamente, uma vez sanados os
problemas de energia (provavelmente resolvidos parcialmente em 2002 pelo
excesso de chuvas do verão);
Tudo isto causou o aparecimento de uma janela de oportunidade no cenário
mundial de tecnologia que favorece o Brasil. Desde os incidentes no oriente
médio, o maior exportador de serviços em tecnologia para os USA (a Índia)
está com suas reações abaladas com o ocidente. A crise entre o Paquistão
(agora aliado americano) e a Índia é um conflito histórico e envolve
questões religiosas milenares. Agora, o maior comprador de tecnologia do
mundo encontra-se pressionado a achar novas alternativas e volta-se para a
Alca.
Neste período, o Brasil despontou ao cenário internacional de software e
serviços de TI de uma forma rara em outras grandes ondas econômicas pelas
quais o país passou.
Vejamos alguns fatos:
1. Pela primeira vez, temos representatividade interna na CRIAÇÃO de
tecnologia.
- Temos uma estrutura de segundo grau técnico e universidades capazes de
gerar conhecimento e pesquisa no ritmo necessário a
mercados emergentes;
- Esta estrutura está espalhada pelo país (Florianópolis-SC, Curitiba-PR,
São Paulo-SP, São Carlos-SP, Belo Horizonte - MG, Recife - PE, Campina
Grande-PB, Fortaleza - CE, Manaus - AM)
- Temos uma relação estreita com a Ásia (a maior colônia japonesa do mundo e
uma colônia chinesa que cresce a ritmos acelerados);
- Temos uma estrutura formal de apoio a pesquisa, acompanhando a tendência
mundial, e agora um programa formal (inclusive com originação de recursos
direta) para fomento de acesso a meios digitais em escolas públicas de todo
o país, o FUST, que deve gerar resultados significativos já em 2002;
- Um dos projetos mais interessantes de "inclusão digital" reconhecido
internacionalmente pela ONU, é brasileiro: O CDI (Comitê para a
Democratização da Informática.
2. O software brasileiro cada vez é mais respeitado lá fora:
- A Microsoft elegeu um software brasileiro como o melhor do mundo em sua
plataforma;
- A Motorola está produzindo em Recife softwares para sua nova geração de
celulares com Java, em uma parceria única com um centro de integração e
pesquisa em novas tecnologias da UF-PE/Cesar;
- A maior iniciativa de Open Source Software atualmente é co-liderada por um
brasileiro de apenas 18 anos (a comunidade Linux);
Além disto, o país vem contribuindo de maneira significativa em várias
outras iniciativas, em várias partes do mundo com o mesmo brilhantismo;
- O Brasil acabou de ganhar o primeiro, terceiro, quarto e quinto lugares
nas Olimpíadas de Programação da LATAM, indo concorrer nas olimpíadas
mundiais em breve;
- O melhor "Hacker Ético" do mundo é um brasileiro, que já é bicampeão em um
concurso internacional realizado nos USA;
- O maior case de eGov do mundo é Brasileiro, o portal ComprasNet do governo
federal. E esta iniciativa já está iniciando os planos de ser exportada para
a Europa e a Ásia;
3. As barreiras para a transferência de conhecimento desapareceram!
- Com o advento da Internet, têm-se acesso a praticamente qualquer pessoa
envolvida com praticamente qualquer conhecimento técnico atual, bem como a
fontes de dados, materiais de estudo e ferramentas de teste (de
supercomputadores a softwares, de manuais a cursos, de línguas a formas de
pensamento);
- O Brasil tem um dos mais invejáveis crescimentos de "internetização" do
mundo em desenvolvimento e no ano que vem, estenderá esta conectividade para
as redes públicas de ensino;
- Temos acesso instantâneo aos lançamentos mundiais e estamos quase que em
simultaneidade de lançamentos de aplicações reais em novas tecnologias,
graças ao setor bancário e financeiro do país, que impulsiona um campo de
testes de extrema demanda (sistemas de altíssima disponibilidade e carga) e
uma formação prática de profissionais com experiência no uso das mesmas;
- Já despertamos o interesse de grandes empresas de tecnologia do mundo, que
estão investindo em nosso mercado para treinamento dos nossos profissionais
para levá-los as matrizes ou para a formação de bases de influência. IBM,
Microsoft, Oracle, Sun e Cisco estão entre as empresas de tecnologia que
mais investem no pais, em centros de treinamento privados ou em
universidades;
4. A Globalização não mudou estruturas de produção de bens físicos tão
drasticamente quanto mudou a prestação de serviços, em escala mundial:
- Um dos propulsores do uso coletivo da internet, a WWWeb, foi inventada na
Suíça;
- Uma modalidade de software, os chamados "Instant Messengers" surgiu em
Israel, em uma simpática flor de um programa chamado ICQ. Ele operou durante
meses com servidores espalhados mundo afora mas centralizados nos USA;
- Um serviço local japonês, o i-Mode, da operadora NTT DoCoMo tornou-se o
maior provedor fechado de acesso a comunicação para parte da Web. Em apenas
18 meses.
- Há uma empresa de "conteúdo e mídia", a Japan Brasil Communications, que
há mais de 5 anos produz conteúdo Nipo-Brasileiro. Edita no Japão um jornal
chamado TudoBem, para a comunidade de brasileiros que lá vivem. E edita no
Brasil (e no Japão) uma revista chamada MadeInJapan, feita no Japão, para as
duas comunidades. Uma empresa verdadeiramente multi-cultural. Com uma
diferença de 5 mil anos entre as duas culturas;
- Em uma das mais recentes ondas de "novidades" tecnológicas, o acesso a
serviços em celulares, uma empresa francesa, chamada Atchik, está
inaugurando escritórios no Brasil, já possui dois clientes de grande porte e
vendeu apenas serviços. Todos os softwares para estes serviços rodam em
servidores localizados na França.
- A transferência de "valor" agora dá-se em termos intelectuais. Na produção
de software, por exemplo, não se "importam" mais desenvolvedores. Se
"planejam" os sistemas nos USA e se encomenda a "codificação" em algum dos
países do terceiro mundo bem qualificados, como a Índia. Depois, se exporta
o software pronto, que é patente e geração de royalties para os USA.
- Há uma nova forma de uso de sistemas, os "Web Services", que prega que a
computação distribuída finalmente acontecerá. Se tudo der certo, não
precisaremos mais "comprar" software como hoje, mas "contrataremos serviços"
em uma forma parecida com o atual "pay-per-view" da TV a cabo. Com isto, os
mesmos USA não precisarão mais nem de "filiais" nos países consumidores. Só
uma conexão via internet e pronto.
O que isto tem a ver com sua vida, empresário de informática?
O velho conceito que move um pequeno vale nos USA é o de liberdade social.
Este conceito simples implica em algo que é um sonho distante para a maioria
dos brasileiros, que é a meritocracia. Valer pelo que se produz. Valer pelo
esforço. Valer pelo brilhantismo de idéias, de criações, de esforço próprio.
Durante quase 30 anos esta é a tônica do Vale do Silício, berço da maioria
das grandes empresas de tecnologia do mundo e das maiores empresas da
atualidade.
Porque não podemos ter o mesmo conceito no Brasil? Resumindo bastante a
resposta, porque simplesmente não acreditamos coletivamente nisto. Ou,
porque talvez não tivéssemos oportunidades como esta no passado. Ou, mais
simplesmente ainda, alguns poucos começaram a acreditar. E estão tendo um
sucesso sem precedentes.
Este "início de movimento" representa apenas uma coisa na sua vida
cotidiana: Profissionalização. E não pense que é porque queremos o "mercado
lá de fora" e sim porque o mercado lá de fora nos quer!
Analisemos as 4 camadas que compõem o "modelo de economia de software" para
entendermos melhor este ciclo rápido:
1 - A camada "pessoal" ou "de base"
As "categorias de base" do futebol vem desde os "peladeiros de final de
semana" até os mini-amadores dos campeonatos escolares. Na tecnologia,
iniciamos em escolas públicas, computadores nas residências da classe média
e na percepção e utilização pelo público jovem de novas tecnologias como
meio de vida ou como ferramenta na vida.
Apesar de termos índices totais pífios, já atingimos uma parte considerável
da chamada "população digitalmente ativa", ou seja, aquelas camadas
economicamente mais altas (classes B acima) e que tenham condições
educacionais (pelo menos segundo grau ) para iniciar um processo de
utilização e principalmente de interesse em uma carreira ou negócio ligado a
tecnologia.
Programas de PC a preços populares, o já citado FUST, a inclusão da
tecnologia em escolas particulares acessíveis à classe média e outros
fatores como o "mercado cinza" (com preços reduzidos) de computadores, os
altos níveis de pirataria de softwares básicos (Windows, Office, pacotes
gráficos, etc), contornaram nossas limitações e hoje estimas-se uma
população de cerca de 15 milhões de "tecnologicamente inclusos" (aqueles que
usam um computador para alguma atividade diária) no país.
2 - A camada de "serviços profissionais"
Das "categorias de base" nascem os chamados "times de divisões inferiores"
ou "pequenas ligas". No caso do Brasil, eu diria que só temos grandes
campeonatos das pequenas ligas ou terceira divisão.
A industria financeira brasileira, por sua internacionalmente reconhecida
sofisticação gerou as maiores demandas por profissionais e as maiores
disparidades no mercado de software também. Na sua grande maioria, os bancos
da Febraban desenvolveram sistemas internos próprios para suportar seus
modelos de negócio e fizeram da tecnologia um ativo empresarial. Com isto,
levas de profissionais passaram a ser conhecidos não como "desenvolvedores
de sistemas", mas "especialistas em funções de sistemas". Não se procurava
um "Desenvolvedor Sênior na linguagem X", mas um "analista/programador
especialista em crédito" ou coisa parecida. Juntamente com a reserva de
mercado, esta especialização criou as primeiras empresas de "terceirização"
de mão-de-obra, que simplesmente assumia (muitas vezes de forma duvidosa) os
custos de pessoal e criou o termo "Body Shopping", que ficou conhecido como
"feirão de linhas de código". Os profissionais entraram em um círculo
vicioso que dura até hoje. Não tem em sua grande maioria direitos
trabalhistas, são
remunerados como os primeiros operários da revolução industrial (paga-se por
hora e só) e quase nunca tem direito a reciclagem profissional mínima (novas
linguagens, novos sistemas, etc). São os "torneiros mecânicos" da industria
digital.
Paralelamente a este fenômeno bem brasileiro de "escravagismo digital",
criou-se uma outra indústria, de empresas que se denominavam "Integradores
de Sistemas" que nada mais eram que "instaladores de sistemas complexos"
como servidores Unix, sistemas de conexão de mainframes, etc. Com o passar
do tempo, eles passaram a absorver uma parte dos analistas/programadores da
área financeira para "integrar sistemas" diversos, o que basicamente
consistia em transferência de arquivos texto de um sistema para outro (o que
exigia o valioso conhecimento das estruturas de dados e significados destas
estruturas nos contextos únicos de cada empresa, que só estes profissionais
conheciam e que passaram a usar como item de empregabilidade).
Também na mesma época, outros setores iniciaram na década de 90 uma corrida
para a informatização de processos, seja pela aquisição de serviços de "softwarehouses"
que desenvolviam "projetos específicos" ou pela aquisição dos primeiros
"pacotes empresariais". Como a cultura dos "centros de processamento" dos
bancos era o que dominava, as indústrias, os setor de telecomunicação,
serviços públicos e governo adotaram o mesmo modelo. Levas de
"analistas/programadores" migravam de um lado para ouro, especializando-se
em "contabilidade", "folha de pagamento", "cobrança" e outras unidades do
organograma que se traduziam em "sistemas". Continuava a cultura do
"terceiro", geralmente delegando sua "administração" (leia-se
responsabilidade fiscal) para uma grande "empresa de consultoria nacional".
Recentemente, uma classe especial de "integradores" vem se desenvolvendo em
vários nichos de mercado que surgiram com o advento da Internet e sistemas
para Web. Empresas de "design digital", de administração de segurança nas
redes IP, empresas de serviços de performance e outros nichos cresceram
explosivamente de 1998 a 2000, mas este mercado está em amadurecimento,
devendo permanecer retrativo até o ano que vem, segundo estimativas do
mercado.
Por fim, surgiram os "implementadores de pacotes empresariais", um mercado
que ascendeu na segunda metade da década de 90 e foi dominado em faturamento
pelas grandes empresas internacionais de consultoria (as big 5), que traziam
os "Senior Consultans" de suas matrizes e utilizavam recém-treinados jovens
universitários egressos dos muitos cursos de "computação" que amadureceram
nos anos 90.
Por outro lado, um grande volume de implementações (em quantidade) foi
também abarcado por antigas "integradoras" ou "empresas de consultoria" que
já forneciam recursos "terceirizados" de desenvolvimento e que detinham a
inegável vantagem de já conhecer o emaranhado de dados dispersos das
empresas. Basicamente, empresas multinacionais no pais contratavam outras
multi-nacionais e empresas nacionais uma ou outra.
Estes players são os responsáveis pelo nascimento da classe profissional do
"desenvolvedor brasileiro", por uma lado com uma inegável bagagem de
negócios, mas nem sempre atualizado com as mais recentes práticas de
engenharia de sistemas e software (orientação a objetos, CMM, por exemplo).
Para atender o crescente interesse pela profissão, criou-se uma outra
indústria, séria e extremamente competente (até internacionalmente) de
treinamento e certificação em várias tecnologias, desde sistemas
operacionais, de redes de computadores, engenharia de software, linguagens
de programação, metodologias e métricas de qualidade. Empresas brasileiras
do setor de treinamento já foram eleitas as melhores do mundo pelos seus
parceiros internacionais e mantém o país alinhado com os últimos produtos no
exterior. Mas, são escolas particulares e o custo de formação é elevadíssimo
para a maioria da população.
3 - A Indústria de Software
Desde o início da operação das primeiras empresas de computação no pais,
criaram-se empresas especializadas em software.Situando-me apenas na década
de 90, o cenário era que empresas pequenas, regionais, despontavam em várias
categorias de pacotes empresariais, parte devido à reserva de mercado, parte
devido as grandes complexidades dos sistemas de negócio no país (folha de
pagamento e faturamento eram os destaques na época).
A partir desta experiência, começaram a surgir vários Softwares
Especialistas no setor empresarial, para as características
brasileiras. Um dos mais curiosos é o conhecidíssimo "colibri", um sistema
para automação de restaurantes.
Hoje, há uma indústria nascente no pais, como poucos mas muito
impressionantes casos de sucesso. Desde a Datasul e a Microssiga que
barraram o avanço dos gigantes mundiais em ERPs em setores inteiros no pais,
até o de empresas que atuam no chamado segmento de softwares da "nova
economia", como a Paradigma, em eCommerce, a Vesta em eGov, a Scopus em
meios de pagamento, a EverSystems em sistemas bancários de varejo eletrônico
e muitas outras. Mas, são casos únicos e talvez, à exceção dos sistemas
empresariais clássicos, não tenhamos mais do que 5 players expressivos no
país.
Por outro lado, há um crescente interesse nacional na produção de softwares
do chamado movimento "open source". Como citado, o controle do
desenvolvimento do kernel do sistema Linux passou para um brasileiro. Mas,
isto não significa algo bom para a indústria, uma vez que no sistema open
source não se geram royalties com isto. E, historicamente, os maiores
beneficiários do open source são as empresas que detém uma grande base de
produtos complementares para se apoiar, como a IBM fez com a iniciativa Java
e agora vem fazendo com o próprio Linux, para venda de hardware IBM e
serviços de integração. O ponto benéfico é que se gerou um laboratório real
e global de novas tecnologias (sistemas especialistas, como gerenciamento de
conteúdo - Zope, linguagens de programação - Perl, servidores Web - Apache,
etc) e uma nova indústria de serviços ligada ao mundo de serviços digitais,
que aproximou o Brasil, de certa forma, aos USA na sua corrida por serviços
digitais (o Yahoo, por exemplo, foi construído em sua maioria em sistemas
abertos, desenvolvidos em universidades).
4 - A Indústria de Serviços Digitais
Para os mais antigos, o MandicBBS marcou o embarque do pais em serviços
digitais de varejo. Para os mais antigos ainda, os "bureaus" de
processamento de dados foram os precursores do B2B no pais, algumas décadas
atrás.
A verdade é que o Brasil também teve sua "bolhinha" de internet,
especialmente no ano de 99, onde todos só falavam em uma prática que mais
lembrava a kabala, chamada "Aipiou".
Mas, bolhas a parte, o país também mostrou criatividade ao criar empresas de
porte e qualidade como a NutecNet (atual Terra), o milionário ZipMail, o bem
sucedido Cadê, o nosso maior portal UOL e o recém chegado e talvez o mais
brilhante, o IG.
Além disto, o Brasil também despontou com suas iniciativas de eCommerce.
No setor de varejo, o Submarino e as Americanas resistem como os
"sobreviventes" da bolha.
No quase inexistente B2B tivemos desde iniciativas pan-latino-americanas
quanto brasileiras, a maioria não se sabe qual destino terá.
Resistem com destaque serviços pré-internet, como o Mercado Eletrônico, ou
serviços reconhecidamente com teor "não-ponto-com", ou seja, empresas de
serviços vários que usam a internet como canal, como o Webb, do grupo Macal,
ou o Multistrata, do grupo CSN.
Todavia, várias iniciativas em segmentos isolados estão tendo um enorme
sucesso.
O site CarSale do ex-fia Pacífico Paoli, já é um empreendimento rentável.
As várias iniciativas de comércio eletrônico promovidas em grandes empresas,
como Volkswagen, Nestlé, Embratel e no próprio governo estadual e federal,
também tiveram um sucesso inquestionável.
Com o advento da "internet móvel", alguns novos serviços vinculados as
operadoras celulares começaram a se desenvolver também em 99, mas ainda não
atingiram a maturidade e aceitação apresentada nos mercados Europeu e
Japonês.
Continuamos caminhando, mas ainda a passos pequenos.
Esta indústria, no entanto, gerou e absorveu uma demanda enorme por um
profissional menos voltado para "sistemas empresarias" e mais para
"desenvolvimento de software", por suas características de enorme velocidade
e pela falta de vínculo com "estruturas já existentes ou legadas" de
procedimentos ou sistemas antigos.
E pela primeira vez, esta indústria tratava a área de produção de sistemas
como "parte do negócio", oferecendo altos salários (aliás, muito
inflacionados comparativamente ao mercado nacional) e participação a longo
prazo na empresa (as enigmáticas e surrealistas "stock options").
5 - A situação atual
Para acelerar a criação rápida de empresas de serviços digitais e/ou
empresas de software para o "mundo internet", o Brasil viu aportar em nosso
cenário econômico duas entidades quase desconhecidas da maioria das empresas
da comunidade de tecnologia:
Os Investidores de Risco:
Que apontaram uma direção até então impensada para o empresário nacional, o
crescimento rápido do negócio através da injeção de volumes razoáveis de
capital. Com a dolorosa contrapartida de ter que conviver com um "sócio
avarento" de grande poder de decisão e quase nenhum grau de comprometimento
real com o negócio. Com o "estouro da bolhinha", muitas empresas nacionais
estão passando por sérias dificuldades, algumas com afastamento dos seus
fundadores, outras com total desintegração, por causa das pressões por
retornos rápidos demais destes investidores.
As incubadoras de negócios:
Para "profissionalizar" rapidamente empresas jovens com carência de capital
humano em áreas
fundamentais, surgiram as incubadoras, que "emprestavam" executivos postiços
para quase todos os cargos operacionais (marketing, finanças, RH, etc) além
de auxiliar no "business plan" para o "Aipiou". Mais uma vez, com o fim do
"encanto" da internet, a maioria destas incubadoras sumiu.
Mas, restaram no mercado poucas mais sérias empresas de ambas as categorias,
como a Eccelera (incubadora), vários investidores privados (pessoas físicas,
chamados Venture Angels) e o Brasil passou a figurar no cenário de ONGs
fomentadoras de empreendedorismo, como a Endeavor.
Junto com estes movimentos do mercado, o setor acadêmico viveu uma
profissionalização intensa dos laboratórios das grandes universidades
federais, no intuito de que elas mesmas "incubassem" seus projetos mais
promissores e/ou fomentassem uma integração muito maior entre a geração de
pesquisa pura e a utilização de recursos em pesquisas aplicadas. Como
citado, o CESAR/UFPE-PE é um dos casos mais recentes de parceria
internacional (com a Motorola) para exportação de tecnologia de software
brasileira.
Com tudo isto, nos últimos 3 anos, o número de novos profissionais de
desenvolvimento de software lançados ao mercado quase que dobrou a taxa de
crescimento, além do fato de que o perfil dos mesmos vem mudando
gradativamente.
Mas, junto com a globalização, veio o a apelo para a migração de mão-de-obra
qualificada e no mesmo período, por toda a estrutura já descrita do mercado
interno de desenvolvimento, o país sofre com a exportação dos "cérebros mais
privilegiados" para empresas nos USA.
Os melhores e mais capacitados desenvolvedores (que conhecem as mais novas
linguagens, metodologias como Orientação a Objetos e com uma experiência em
sistemas para a Internet).
Ao invés de produzir aplicativos aqui, vão alimentar os lucros de empresas
como Oracle, Sun, Microsoft e IBM, lá fora.
Os que ficam, a partir do ano de 2000, vem optando cada vez mais por
lançarem-se a empreendimentos pessoais, ao invés de se contentar com as
perspectivas perversas do mercado de outsourcing brasileiro.
6 - A pressão por profissionalização a ascensão na cadeia de valores.
Para você, empresário, tudo isto tem um impacto prático e palpável: É
preciso profissionalizar-se. O Brasil não e mais a Ilha de Vera Cruz isolada
pela reserva de mercado. Os bancos não vão mais consumir recursos infinitos
de desenvolvimento (eles mesmos estão começando a usar serviços na Índia).
E você tem uma responsabilidade social de evoluir o seu atual negócio para
abarcar esta raríssima oportunidade que se apresenta ao Brasil para entrar
em uma nova ordem econômica, onde os ativos intelectuais de uma nação
(entenda-se o que nossos cérebros produzirem registrado como "conhecimento
nacional") serão as bases da competitividade internacional da mesma.
Nós já mostramos em caráter "experimental" que temos potencial, recursos
humanos, capacidade empresarial e muita criatividade para explorar esta
gigantesca oportunidade. Só precisamos crescer esta experiência para uma
indústria.
Como começar?
Reflita e conscientize-se destes fatos.A mudança é inevitável.
Olhe os sucessos que já aparecem em vários lugares do Brasil.
Acredite e confie no SEU potencial.
Promova a mudança. Na sua profissão. No seu trabalho. Na sua universidade.
No seu negócio.
No Brasil.
Ou faça de conta que nada disto é com você, revolte-se por ter lido este
artigo até aqui e apague-o do seu computador. Aproveite e faça o mesmo com
sua cidadania.
Namaste!
[Na continuação veremos como romper a inércia e contribuir para a mudança.]
Do autor:
Os dois
lados da Força
SMS e a lucratividade das operadoras móveis [07/05/2002]
SER OU NÃO SER WI-FI,
A QUESTÃO DAS OPERADORAS
(*) O autor, Courtnay Guimarães Jr. (cwguimaraes@uol.com.br) é Bacharel em Ciências Econômicas e tem MBA em Marketing pela ESPM/SP; é professor convidado dos cursos de MBA em Telecomunicações do IBMEC/MG e da BSP/SP, ministrando as disciplinas de Telecom Business e Technology Innovation.
É também é empresário, executivo, escritor e especialista em estratégias de mercado, teoria dos jogos e gerência da inovação tecnológica. É o responsável pela pratica de estratégia e mercados da i9 Consulting Group.
Em novembro de 2000, numa mensagem a um grupo de debates sobre telecom, lançou a idéia de um site independente, feito por voluntários. Foi a semente do atual WirelessBR.