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Transmissão de dados via rede elétrica (3) |
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Autor: Gabriel Alan Gehm Marques |
Esta página
contém uma figura grande. Aguarde a carga se a conexão estiver lenta.
Capítulo 3: O desafio encontrado
Este capítulo visa listar os
principais obstáculos a serem vencidos a fim de implementar a passagem de
informação digital entre as tomadas e pontos de acesso à rede de uma residência.
A rede elétrica foi projetada para transmitir energia, e não dados. Esta simples
afirmação resume uma longa lista de características que diferem uma rede de
transmissão de dados do meio físico que se pretende utilizar. Estas
características são exploradas a seguir.
3.1: Tensões elevadas
Utilizar eletrônica de tratamento de sinais que incorpora microcontroladores e
circuitos de detecção, juntamente com a rede elétrica, requer muito cuidado com
isolamento. Adicionalmente, se o dispositivo transceptor tiver contato direto
com o usuário, as devidas normas de segurança deverão ser respeitadas.
A rede elétrica residencial de 220V corresponde a uma tensão de pico a picode
600V, e por estar ligada diretamente às linhas de transmissão da rua, é
suscetível a picos de tensão provocados por descargas atmosféricas, variações de
demanda e desligamento de indutores (motores) na mesma rede. Isso exige que o
transceptor seja capaz de injetar e detectar o sinal de transmissão através de
um circuito de
isolamento (desacoplador), em meio a tais níveis de tensão.
3.2: Interferência com eletrodomésticos
A solução mais natural para que o sinal injetado seja capaz de atravessar um
meio físico que carrega potências elevadas é injeta-lo com grande amplitude.
No entanto alguns eletrodomésticos desenvolvidos até então, ainda que projetados
considerando ruídos de rede, podem sofrer interferência e malfuncionamento na
presença de portadoras de freqüência elevada.
Televisores, rádios, aparelhos controlados por tiristores e outros que
incorporam eletrônica sensível a interferência são exemplos de eletrodomésticos
que exigem que os níveis de sinal da transmissão sejam baixos. Imposição
conflitante com os requerimentos do circuito de detecção.
3.3: Meio de transmissão ruidoso
As normas que regulamentam a geração de ruídos por parte de eletrodomésticos são
vagas e a forma como a energia é distribuída não considera restrições à
propagação do mesmo.
Ruídos esporádicos, gerados por descargas atmosféricas e no instante de
acionamento/desligamento de cargas são bastante intensos, mas são pouco
importantes frente a ruídos contínuos ou intermitentes gerados por certos
eletrodomésticos. Esses aparelhos produzem ruídos que se estendem por um amplo
espectro de freqüências, chegando à faixa dos megahertz.
São apresentadas aqui as principais fontes de ruído intermitente ou contínuo.
3.3.1: Motores com escovas
Motores universais, usados em aspiradores de pó, liquidificadores, furadeiras e
máquinas de lavar entre outros possuem escovas que geram faíscas constantemente,
provenientes do contínuo ligamento e desligamento do rotor,
gerando ruído intenso que se estende até alguns kilohertz.
3.3.2: Fontes chaveadas
Fontes chaveadas operam com freqüências de chaveamento de 20kHz a 1MHz, e este
chaveamento produz harmônicas em um amplo espectro.
Atualmente, devido a seu pequeno volume em relação à potência são amplamente
utilizadas em aparelhos eletrônicos como televisores, videocassetes,
computadores e aparelhos de som.
Além disso, o fato de possuírem um retificador de entrada com um capacitor de
grande valor faz com que sua impedância varie em função da senoide da rede
elétrica, produzindo ruídos de baixa freqüência muito fortes.
3.3.3: Dimmers
Dimmers são controladores de potência baseados em chaveamento a tiristor, em
aplicações residenciais são utilizados para controle de intensidade luminosa
normalmente, mas algumas máquinas de lavar e mesmo chuveiros e aquecedores fazem
uso deste tipo de controle.
Estes aparelhos geram ruídos continuamente, numa faixa de freqüências de 120Hz
com harmônicas até alguns kilohertz.
3.3.4: Fluorescentes compactas
Cada vez mais esse tipo de lâmpada é encontrado nas residências e prédios,
devido a seu baixo consumo (alta eficiência) e por não apresentarem os
inconvenientes das fluorescentes comuns. No entanto estas lâmpadas não possuem
um reator indutivo, como as convencionais, e sim uma fonte chaveada que opera a
alta freqüência, dispensando o starter, mas injetando ruído da ordem de alguns
kilohertz na rede elétrica.
3.4: Atenuação de Sinal
Este é talvez o principal obstáculo à implementação de transmissões via rede
elétrica, a forte atenuação de sinal que ela impõe a altas freqüências.
O histograma da Figura 1 Histograma de atenuação é resultado de um teste de
atenuação [ 4 ] onde 1889 pares de transmissor-receptor foram testados em 169
casas e apartamentos, de 5 países diferentes, escolhidos aleatoriamente. Figura
1 Histograma de atenuação
Figura 1: Histograma de atenuação
Podemos ver por ele que 95% dos pares apresentaram atenuação inferior a
54bB e 99% apresentaram atenuação inferior a 78dB. Isso significa dizer que uma
transmissão de sinal que visa atender com sucesso 95% das aplicações precisa
suportar uma atenuação de 54dB, ou 150.000 vezes.
Os itens a seguir explicam as principais fontes de atenuação de sinal em uma
rede residencial.