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CeBIT 2001 |
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AUTOR Leandro Soares Indrusiak (*) |
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Grandes feiras e exposições na área de tecnologia
costumam chamar a atenção pelas novidades que trazem. Em momentos de crise e
transição, a atenção é ainda maior, pois os principais players desse
mercado utilizam a feira como veículo para mostrar os produtos e estratégias
que os manterão vivos em meio à instabilidade.
O CeBIT 2001 (**), ocorrido em Hannover, norte da Alemanha, entre 22 e 28 de março foi a maior feira de todos
os tempos na área de TI e telecomunicações. Um público estimado em 830000
visitantes compartilhou com os 8106 expositores os 420000 metros quadrados
da Deutsche Messe.
Só as dimensões já seriam suficiente para atrair as atenções,
mas em um momento de
desaceleração e crise da economia norte-americana, mais e mais holofotes
focaram o CeBIT, tentando entender as tendências que têm mantido acelerado o
crescimento do setor de telecomunicações e TI europeu - segundo o EITO o
crescimento desse mercado na Europa em 2000 foi de 13%, contra 8.2% nos EUA.
Pós-PC na prática
Na semana anterior ao CeBIT, cientistas norte-americanos criticaram duramente as
empresas do setor de TI pela insistência no padrão PC. Durante a ACM1, conferência
organizada pela Association for Computing Machinery e que reune pesquisadores e
visionários da área de computação, os cientistas chegaram a atribuir ao uso
continuado da arquitetura PC a crise que o setor está enfrentando.
Não é novidade que os sistemas baseados em PCs são complexos, de manutenção
custosa, e que existem soluções tecnológicas melhores para muitas das aplicações
nas quais esses sistemas são usados. Mesmo assim a morte do PC, muitas vezes
anunciada, não aconteceu.
Entretanto, o que se viu nos pavilhões do
CeBIT
destinados à computação pessoal foi uma amostra de que o PC, se viver, terá
companhia. Quebrando a hegemonia das empresas com foco em desktop computing, lá
estavam centenas de empresas apostando na aceitação por parte do usuário de
dispositivos menores, de funcionalidade limitada e específica, mais simples e,
sobretudo, mais baratos.
Webpads, set-top boxes
e thin clients são alguns dos produtos que apresentam-se como alternativas para
o usuário que não quer ter os altos custos de aquisição e manutenção de um
PC.
Tarefas como edição de textos, email e acesso a web, que normalmente
sub-utilizam o potencial de um PC, podem então ser executadas de forma mais
simples e econômica.
Os webpads - também chamados de tablets - pretendem redefinir a forma com que
os usuários experimentam a Internet.
O aparelho nada mais é do que uma tela de
cristal líquido sensível ao toque, que se comunica através de ondas de rádio
com uma estação base conectada à LAN ou à linha telefônica - de forma
semelhante aos telefones sem fio.
Dessa forma, o usuário pode se mover
livremente pela casa enquanto acessa informações na rede - imagine fazer a
manutenção do carro, na garagem, acessando informações de um site
especializado em mecânica, ou ainda ler os e-mails na banheira.
As
possibilidades de uso em sala de aula, apoio a vendedores e controle de inventário
também têm sido destacadas pelos fabricantes.
A simplicidade de uso é um ponto forte: a maioria dos webpads não necessitam
qualquer manutenção - não há troca de placas, instalação de software ou
qualquer tipo de upgrade. Entretanto, essa simplicidade acarreta em uma redução
de funcionalidade, o que é parcialmente atenuado pela possibilidade de conexão
de dispositivos externos - impressora, teclado e mouse, por exemplo - através
de portas USB.
Internamente, a maioria dos webpads tem processadores otimizados
para baixo consumo e baixo aquecimento, requisitos que não podem ser ignorados
em um dispositivo alimentado por baterias.
Vários dos webpads que estão
chegando ao mercado - como o Honeywell WebPAD - trazem processadores da família
Geode, da National Semiconductors.
Outro fabricante de processadores que tem
viabilizado a produção de webpads é a Transmeta, que utiliza uma técnica
chamada de Code Morphing para conseguir alta performance com baixo consumo e
dissipação de calor.
Além da tecnologia inovadora, a empresa também chamou a
atenção por ter contratado Linus Torvalds, o criador do kernel do sistema
operacional Linux, para trabalhar no desenvolvimento da infraestrutura de
software que suporta as aplicações executadas nos processadores das linhas
Crusoe e TM.
Os webpads que trazem processadores Transmeta são o ProGear - o
primeiro webpad rodando Linux, lançado pela frontpath no final do ano passado -
e, ironicamente, o tabletPC da Microsoft, a ser lançado ainda em 2001.
Fortemente orientados para o uso doméstico, os set-top boxes começam a mostrar
resultados animadores depois de vários anos de latência.
O acesso Internet
através de aparelhos de televisão foi uma das primeiras idéias para quebrar a
hegemonia dos PCs, logo no início da popularização da web em meados da década
passada.
Entretanto, a dificuldade no estabelecimento e aceitação dos modelos
de uso da TV para acesso a Internet atrasou - e para muitos inviabilizou - a
massificação dessa tecnologia.
Hoje, vários set-top boxes estão no mercado,
usados principalmente por quem não tem um PC. Nos Estados Unidos, as vendas de
set-top boxes foram mais expressivas para usuários de idade mais avançada, que
têm usado a Internet para troca de mensagens com os familiares através de
serviços projetados especificamente para ser acessados através do televisor,
como o AOLTV da gigante America Online.
Já a próxima geração de set-top boxes mostrada no
CeBIT fará uso das
possibilidades do acesso à Internet em banda larga, oferecendo vídeo sob
demanda, videoconferência, games multiusuário, videotelefonia, entre outros.
O
provedor italiano de banda larga e.Biscon já vem oferecendo esses serviços,
acessíveis por set-top boxes desenvolvidas pela empresa EsseGi.
Vários outros
fabricantes europeus de set-top boxes - o sueco i3 micro, o português OCTAL e o
também italiano CiaoLab - têm feito parcerias semelhantes com provedores de
acesso em banda larga e provedores de conteúdo, visando disponibilizar serviços
digitais de alta qualidade acessíveis através do aparelho de televisão.
No outro lado do espectro, o usuário corporativo é o foco principal dos
fabricantes de thin clients.
Criticados por muitos como uma volta ao modelo de mainframe, o thin-client - ou network computer - tem a seu favor um custo de
instalação e manutenção bem mais baixo, pois toda a instalação e upgrade
de software ocorre em um servidor de aplicações no qual ele se conecta. Muitas
vezes, o thin-client não chega a ter nem disco rígido, servindo apenas como
interface entre o usuário e a aplicação executada remotamente.
A
flexibilidade de acesso é outro ponto positivo - o usuário pode ter seu
ambiente de trabalho carregado em qualquer thin-client ligado à rede, bastando
se identificar através de senha ou smart card. Nichos onde thin-clients já vem
sendo utilizados com sucesso incluem pontos de acesso à
Internet em aeroportos, laboratórios de informática em escolas e
universidades, salas de redação, hospitais e centrais de helpdesk.
O poder nas mãos
Outra tendência que marcou forte presença em Hannover foi a dita ubiquitous
computing - em português seria algo como computação onipresente.
Dispositivos cada vez mais compactos, com facilidades de conexão wireless,
permitindo aos usuários acessar, processar e disponibilizar informações a
qualquer tempo e em qualquer lugar.
Caminhando pelos pavilhões da feira, era impossível não perceber a inevitável
fusão entre palmtops e telefones celulares.
No stand da finlandesa Nokia se
podia assistir trechos do filme Charlie's Angels no
visor do Communicator 9210, enquanto a poucos metros dali o pequeno Accompli 008
da Motorola exibia um menu gráfico em uma tela touch-screen.
Além das inovações
na interface com o usuário, ambos celulares suportam o download de aplicações
Java, dando-lhes uma flexibilidade de uso comparável a dos palmtops.
Por outro lado, empresas como a chinesa Ohfish e a britânica UbiNetics estão
possibilitando aos usuários Palm deixar o celular de lado: um módulo acoplado ao
palmtop permite transmissão de dados - email, fax, sms - e chamadas de voz com
o uso de um headset.
Já apostando na transição completa, a francesa Sagen com
o seu híbrido celular-palmtop WA3050 e a Handspring, estendendo sua linha de
palmtops Visor ao introduzir o VisorPhone.
Entretanto, por trás das vantagens que essa fusão trará aos usuários está
uma questão que os usuários de PCs já estão acostumados há tempos: a
compatibilidade entre sistemas operacionais.
Boa parte do impacto resulta do
encontro de mentalidades diferentes.
Enquanto alguns dos fabricantes de palmtops
- como Palm e Psion - tem anos de experiência no desenvolvimento de seus próprios
sistemas, que vêm evoluindo desde as primeiras versões de seus produtos, os
fabricantes de telefonia celular sempre tiveram uma visão ad-hoc sobre o
software embutido nos aparelhos: sendo compacto e robusto, serve.
E não poderia
ser de outro jeito, pois os recursos computacionais dos telefones sempre foram mínimos,
e preocupações como suporte a aplicações e compatibilidade entre versões não
estavam entre suas prioridades.
Agora, em um novo cenário, os fabricantes de
handsets tem buscado justamente nos sistemas já consagrados no mercado de
palmtops as soluções de software para seus próximos produtos.
Criada há três
anos para suprir essas soluções, a Symbian - apoiada nas duas décadas de
experiência da Psion, sua principal acionista - já tem seus sistemas rodando
nos modelos 9210 da Nokia e R380 da Ericsson, enquanto a Microsoft, que desde o
lançamento do Windows CE tenta abocanhar uma fatia significativa do mercado de
handhelds, está presente no Sagen WA3050.
Tratando-se individualmente de um aparelho a questão não chega a ser
relevante, mas quando se espera a possibilidade de distribuir aplicações que
possam ser executadas nos mais diversos tipos de aparelho as questões de
suporte a padrões e compatibilidade entre os diversos sistemas passam a ser
críticas.
Boa parte da indústria de celulares pretende contar com a tecnologia
Java para garantir a compatibilidade entre as aplicações que serão executadas
na nova geração de aparelhos - Siemens, Nokia e Motorola já tem aparelhos com
suporte a Java com data marcada para entrar no mercado.
Baseadas em um modelo de
interpretação de software, as aplicações Java podem ser executadas sobre
diferentes sistemas operacionais. Além disso, uma série de padrões delimitam
diferentes sabores de Java para os diferentes tipos de dispositivo - visores gráficos
ou textuais, limitações de memória e processamento, etc. - possibilitando seu
uso nos modelos mais simples aos mais sofisticados.
Ligando os pontos
Em um cenário de múltiplas formas de acesso à informação, a relevância da
infraestrutura de conectividade cresce significativamente. O sucesso desse novo
paradigma da computação será determinado pela eficiência dessa
infraestrutura, desde a padronização dos formatos da informação até os
protocolos usados para fazê-la fluir.
A conectividade entre dispositivos móveis
também foi destaque no CeBIT de 2000, principalmente devido ao hype em torno de
duas novas tecnologias - WAP e Bluetooth.
O protocolo WAP, que possibilitaria as
primeiras experiências de acesso Internet através de dispositivos wireless,
decepcionou boa parte dos usuários com conexões caras, lentas e instáveis.
O
padrão Bluetooth, criado pela Ericsson e abraçado por toda a indústria como a
solução para wireless PANs - personal area networks - também não
conseguiu alcançar as expectativas por ter demorado excessivamente a entrar no
mercado. Apenas recentemente os primeiros produtos baseados em Bluetooth
passaram a estar disponíveis ao consumidor final.
Módulos de conexão para notebooks, palmtops e demais dispositivos portáteis - incluindo um modelo de
relógio de pulso Seiko - foram lançados na feira este ano e nos proverão em
breve informações acerca da dimensão da aceitação dessa tecnologia.
Uma nova tecnologia, entretanto, deve impulsionar o uso de Internet wireless na
Europa ainda neste semestre. A maioria das operadoras de telefonia móvel,
apoiadas fortemente pelas empresas de infraestrutura e pelos fabricantes de
handsets, está introduzindo serviços de transmissão de dados baseados em GPRS
- General Packet Radio Service.
Com esse modelo - já consagrado no Japão com o
serviço i-Mode da NTT - o canal para a transmissão de dados é alocado
dinamicamente e o usuário paga pelo volume de informações e não pelo tempo
de conexão, como ocorre com o acesso WAP.
Além disso, a taxa de transmissão
pode chegar a 84 kbps e o número de usuários simultâneos necessários para
sobrecarregar a rede é bem maior.
Espera-se que as soluções baseadas em GPRS
- que já estão sendo chamadas de 2.5G - possam tornar mais fácil o caminho até
que os serviços 3G estejam disponíveis por volta de 2003.
Entretanto, segundo
previsões de alguns analistas o possível sucesso do modelo 2.5G pode atrasar
ou mesmo cancelar o impacto que as operadoras esperavam com a "mobile
multimedia" da terceira geração.
Essa dúvida tem abalado a confiança
dos investidores das empresas de telecomunicação - como a espanhola
Telefónica,
a britânica Vodaphone e a Deutsche Telekom - que abocanharam vorazmente as
licenças de operação 3G e pagaram bilionária conta pelo banquete.
No quesito de interconectividade de software, o acrônimo mais forte nos stands
era o XML. Criado para ser a língua franca da web, a linguagem XML permite que
os documentos carreguem dados e informações conceituais sobre esses dados,
permitindo consultas mais precisas e detalhadas, principalmente se comparados
com os documentos HTML, que incluem apenas dados e informações de apresentação.
Entretanto, a relevância da tecnologia XML para o intercâmbio de informações
em transações de e-business - principalmente em B2B, pelo nível de automatização
que pode proporcionar - tem motivado a várias empresas a fugir da padronização
ao incluir extensões proprietárias visando dominar segmentos específicos do
mercado.
Como já ocorrido em inúmeras tentativas de padronização, essa tendência
provavelmente enfraquecerá o setor, pois diminui as possibilidades de
interoperação.
Somente nesse setor, vários dialetos de XML tentam impor-se, entre eles o xCBL
do CommerceNet consortium, o cXML da Ariba, o ebXML da coalisão Oasis e o
projeto Biztalk da Microsoft.
Entre o céu e o inferno
Ao final da feira, a impressão geral era de otimismo.
Satisfeitos com os negócios
fechados durante a feira e com a massiva presença do público, 90 % dos
expositores manifestaram a intenção de retornar à feira no próximo ano.
Os organizadores fizeram questão de ressaltar que o sucesso do evento deve
servir como um sinal verde à recuperação do mercado de ações de tecnologia.
Entretanto, fora da feira a crise continuava a mostrar sua face, principalmente
nos EUA.
Várias empresas tidas como sólidas na economia pontocom - Yahoo, Amazon, Cisco e Sun - divulgaram resultados abaixo do esperado durante o mês de
março. Empresas que apostavam na computação pós-PC, como a 3com, também
mostraram-se receosas quanto ao futuro desta nova onda - toda a linha Ergo, que
incluia webpads e webcams, foi descontinuada um dia antes do início do CeBIT.
Pois entre um extremo e outro, espera-se, estará a realidade.
CeBIT 2001
Gadgets
Honeywell WebPAD II
Webpad com conexão de até 11 Mbps entre pad e base, IE browser, visualizador
para Flash, .pdf, .doc (edição possível com Pocket Word), .ppt e .xls,
suporte a aplicações Java. Processador National Geode, sistema operacional
Windows CE.
www.honeywell.com/yourhome
Psion WaveFinder
Radio digital, conectado via USB ao micro permite a recepção de músicas, notícias
e ofertas de produtos enviadas por estações de broadcast.
www.wavefinder.com
Trium eclipse
Telefone celular GSM, suporta serviços WAP e GPRS, fax, comandos de voz.
Display gráfico com 256 cores.
www.trium.net
.comMouse
Mouse contendo um pequeno display, que recebe informações da web de acordo com
uma série de preferências e filtros determinados pelo usuário.
www.commouse.com.br
Tec-Hill Thumbdrive
Módulo de memória plugável em porta USB, aparece como um novo drive no
sistema de arquivos. Dispensa instalação de software adicional, baterias ou
cabos. Ideal para dados de alta segurança e apresentações. Disponível em
versões de 8 a 64 Mb.
www.tech-hill.com.hk
Xircom CreditCard GPRS e Bluetooth
Cartões PCMCIA para acesso wireless a PCs. O primeiro permite conexão a redes
WAN baseadas em serviços GPRS, provendo transmissão de voz ou dados usando o
modelo "always on" das redes GPRS, onde a banda é alocada sob demanda
e a cobrança é sobre o volume de dados transmitido.
O modelo Bluetooth é voltado a redes pessoais - raio máximo entre os pontos da
rede é de 10 metros - visando facilitar a comunicação e sincronização entre
dispositivos fixos e móveis.
www.xircom.com
Xybernaut wearable PC
PC hiperportátil, equipado com recursos multimídia, slots PCMCIA, USB e
reconhecimento de viz. Pesando apenas 900 g, pode ser usado com um HMD (head
mounted display) permitindo mobilidade completa do usuário.
www.xybernaut.com
(*)Leandro Soares Indrusiak
(indrusiak@hop.com.br ) é
professor da PUCRS e sócio da Indrusiak Tecnologia Ltda.
É formado em Engenharia Elétrica pela UFSM, Mestre em Ciência da Computação
pela UFRGS e é aluno do programa de doutorado em Ciência da Computação da
UFRGS.
No corrente ano encontra-se em licença das atividades no Brasil, trabalhando
como pesquisador visitante na Technische Universität Darmstadt, Alemanha.
Atua nas áreas de tecnologia de base (microprocessadores, system-on-a-chip,
projeto de hardware) e de conectividade
(internet, redes wireless ad-hoc, plataforma Java).
Criou a Indrusiak Tecnologia, Ltda. e utiliza sua estrutura para possibilitar
aplicações das novas tecnologias advindas da
pesquisa acadêmica, seja por desenvolvimento próprio ou por parcerias.
(**) CeBIT: consta que o nome original da feira
deveria ser CeBOT, que é a sigla para algo do tipo "Feira de Automação de
Escritórios" ou "Feira de Tecnologia para Escritórios", em
alemão.
Com o advento da informatização, decidiu-se trocar o BOT por BIT. Como foi
dito, é o que consta...