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José Roberto de Souza Pinto |
Na década de 50, pouco antes do período do
Governo de Juscelino Kubitscheck, a Comissão Econômica para a América Latina
– CEPAL, realizou um abrangente estudo sobre os paises sub-desenvolvidos da
Região, mapeando os principais aspectos que diferenciavam os paises ricos
dos pobres.
Deste diagnóstico pode-se concluir que o sub-desenvolvimento era fruto; das
trocas desiguais realizadas entre os paises pobres e ricos e do mercado
interno pouco desenvolvido.
Estudos precursores na década de 40 e no período de 1951 à 1953, ainda no
Governo Vargas, realizados por uma Comissão Mista Brasil – Estados Unidos da
América, já apresentavam os entraves do crescimento econômico do país. A
CEPAL assim como o Banco de Desenvolvimento Econômico ( BNDE ) indicavam os
pontos de estrangulamento da economia brasileira, tratando-os como setores
críticos que impediam um adequado funcionamento da economia.
O Brasil a aquela época, um país que tinha a sua economia sustentada em bens
primários, uma agricultura pouco desenvolvida e centrada principalmente no
cultivo, produção e exportação de café, produto este que perdia valor no
mercado externo.
A partir desta constatação, surge o Plano de Metas, resultado da analise
pragmática do capitalismo brasileiro, que visava uma mudança substancial na
estrutura produtiva do pais, deslocando o eixo da economia para a produção
de bens duráveis.
O Plano de Metas, esboçado um pouco antes da posse de JK, por uma equipe do
BNDE, procurava superar estes obstáculos estruturais. A principal
característica deste Plano, é que as metas deveriam ser estabelecidas e
implementadas de forma harmônica entre si, de modo que os investimentos em
uma área refletissem positivamente de forma dinâmica nas outras.
Destacados economistas dentre eles Celso Furtado e Aníbal Pinto, além de
outros como Jose Serra, Conceição Tavares e o ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso, participaram desta formulação.
O Plano de Metas concentrado na produção de bens duráveis buscava atingir o
mercado de massas, a classe média do pais. Focado na industria de
eletrodomésticos e na automobilística, como carro chefe, visava atrair
investimentos nestes setores, dado o potencial de geração de fornecedores,
contribuindo para a criação de um mercado de trabalho e renda para a
população.
A importância desta articulação na implementação do Plano foi confirmada
quando em 1 de fevereiro de 1956, na sua primeira reunião ministerial, JK
criou o Conselho do Desenvolvimento, que coordenaria o detalhamento e a
execução do plano, sendo nomeado o Presidente do BNDE, para secretário
executivo do conselho.
Destaque cabe lembrar que a época o setor industrial era o setor dinâmico da
economia mundial e em particular nos paises desenvolvidos.
Portanto o Brasil, com sua economia baseada no café ficava refém dos paises
industrializados, e perdendo a possibilidade de barganhar com os preços dos
seus produtos.
O Plano de Metas abrangia cinco setores básicos da economia e inicialmente
30 metas, depois 31, com a inclusão da construção de Brasília, como Capital
do país.
Os setores de energia, transportes e industria de base, foram os que
receberam mais recursos totalizando 93% dos recursos alocados no Plano.
Outros setores como alimentação e educação, basicamente foram esquecidos.
Uma das premissas do Plano, é que o Estado Brasileiro assumiria o papel de
empreendedor, investindo na infra-estrutura necessária para viabilizar o
Plano. Esta infra-estrutura envolvia, energia, siderurgia, estradas e
comunicações.
Claramente uma solução de redução da pobreza fundamentada nos princípios do
capitalismo, onde investimentos geram empregos, renda e consumo, propiciando
um circulo virtuoso conforme preconiza Adams Smith.
Com o slogan 50 anos em 5, todos os sonhos eram possíveis, extremamente
ambicioso o Plano dava a dimensão da mudança que se buscava, um salto
qualitativo para a sociedade brasileira, alterando e modernizando a oferta
agregada de produtos e sua matriz produtiva.
Metas audaciosas foram alcançadas, como a do crescimento da industria de
base, que foi praticamente de 100% em 5 anos.
Ao final dos anos de JK, os avanços alcançados são indiscutíveis em termos
de crescimento econômico do país, entretanto a maior parte das críticas são
dirigidas à origem deste capital, basicamente estrangeiro, que desequilibrou
a política monetária, gerando um aumento expressivo na inflação.
O quadro a seguir indicava o volume de investimentos em bilhões de Cr$ e
milhões de US$ no período de 1957 – 1961, por setor:
|
Produção
Interna Cr$ |
Importação US$ |
Importação Cr$ * |
Total Cr$ |
%
|
Energia | 110,0 | 862,2 | 69,0 | 179,0 | 42,4 |
Transportes | 75,3 | 582,6 | 46,6 | 121,9 | 28,9 |
Ind. Básica | 34,6 | 742,8 | 59,2 | 93,8 | 22,3 |
Alimentação | 4,8 | 130,9 | 10,5 | 15,3 | 3,6 |
Educação | 12,0 | - | - | 12,0 | 2,8 |
Total | 236,7 | 2318,5 | 185,3 | 422,0 | 100,0 |
* Cerca de 70% valor adquirido
em cruzeiros era de material importado.
Fonte: Conselho do Desenvolvimento ( 1959 )
Estes investimentos tinham como principais metas, elevar a capacidade de
geração de energia elétrica de 3,2 milhões de Kw em 1955 para 5,2 milhões de
Kw em 1960, dar inicio as obras de expansão da capacidade energética com
mais 3,6 Kw para o próximo período de 1961-1965, aumentar a produção de
carvão de 2,1 milhões de ton. para 3,1 milhões de ton. no período 1955-1960,
na área de petróleo, aumentar a produção para 6.000 barris / dia em 1960,
aparelhamento e expansão de ferrovias com a construção de 3.110 km ,
construção de 13.000 km de rodovias e pavimentação de 5.800 km, elevar a
produção de aço bruto de 1,2 milhões de ton. para 2,3 milhões em 1960 e
iniciar as obras na planta de siderurgia para atingir 3,5 milhões de ton. em
1965, aumentar a produção de cimento de 3,6 milhões ton. para 5 milhões em
1960.
Na industria automobilística, as metas eram de instalar a industria e
produzir em 1960, 170.000 veículos com índice de nacionalização de 90% em
peso para caminhões e caminhonetas e 95% para automóveis. Na industria
mecânica e de material elétrico pesado, o plano especificava os sub-setores
que deveriam ser incentivados.
Educação e alimentação com valores inexpressivos, conforme consta da tabela
de investimentos previstos, realmente não faziam parte das prioridades do
Plano de Metas de JK.
Ao setor público coube a responsabilidade pelos investimentos na
infra-estrutura, com cerca de 50% do valor previsto para os investimentos,
os fundos privados entrariam com 35% e o restante viria de Agências
Públicas, para os programas públicos e privados.
Desta forma, o Estado passou a ter sob seu controle a produção de aço,
através das três maiores usinas do país, CSN, COSIPA e USIMINAS, a produção
e o refino de Petróleo através da PETROBRAS, a produção e exportação de
minério de ferro através da Companhia VALE DO RIO DOCE, e a soda caustica
através da Companhia Nacional de Álcalis. No campo da energia as Companhias
CHESF e FURNAS, no transporte através da Rede Ferroviária Federal, na
navegação o Loyde Brasileiro e a Companhia de Navegação Costeira, e as
rodovias na sua construção e gerenciamento através do DNER e dos DERs. Não
resta dúvida que o setor público aumentou substancialmente o seu espaço de
atuação, exercendo também um controle sobre o crédito, através do Banco do
Brasil e sobre a comercialização de vários produtos de exportação, tais como
café, cacau, açúcar, borracha e sal entre outros, com instituições
governamentais especialmente criadas para tal.
Os números investidos, não escondem o grande volume de importações,
indicando um déficit crescente na balança de pagamentos neste período de
1955 a 1960.
Com estes dispêndios realizados pela União, e nenhuma reforma tributária
para suportar os gastos, e como não tinha outra forma para financiar este
déficit, só restou a emissão de moeda.
Lessa ( 1981 ) - citado no livro A ORDEM DO PROGRESSO, destaca que a
política econômica implícita no Plano de Metas de JK estava sustentada em 4
peças básicas: 1) tratamento preferencial para o capital estrangeiro; 2) o
financiamento dos gastos públicos e privados através da expansão dos meios
de pagamento e do credito bancário, respectivamente, tendo como conseqüência
fortes pressões inflacionárias; 3) a ampliação da participação do setor
público na formação de capital; 4) o estímulo à iniciativa privada.
O estimulo aos investimentos privados, talvez tenha sido um dos maiores já
observados, pois para os bens produzidos no país tínhamos uma reserva de
mercado, orientada pela política cambial e pela lei de similares. Esta lei
garantia a exclusão de produtos da pauta de importações, caso a produção
interna fosse em volume e qualidade suficientes para atender à demanda.
Industria automobilística e naval, por exemplo, tinha garantia de cambio
preferencial para a importação de todos os equipamentos necessários para a
sua produção. O BNDE e o Banco do Brasil supria de recursos de longo prazo a
juros baixos com pagamentos com carência, o que redundava em pagamento de
taxas de juros negativas, em função da conjuntura inflacionária. O BNDE,
também avalizava os empréstimos contratados por estas empresas privadas no
exterior, totalizando no período até 1960 um valor de US$ 890 milhões, sendo
40% deste destinado as industria de base.
O Brasil cresce no período de 1957-1961 a uma taxa anual de 8,2% , medida
pelo PIB, e a inflação média atinge 22,6%. As expectativas de exportação
ficaram muito aquém, o café estagnou e os preços caíram constantemente, a
capacidade de importar ficou reduzida, e o resultado, foram déficits na
balança de pagamentos de US$ 176 milhões em média no período, apesar dos
ingressos de capitais de longo prazo.
Ao analisarmos os resultados deste Plano, em um período mais longo, não
resta dúvida dos benefícios gerados para a sociedade, sob o enfoque de
mudança desta matriz produtiva. A construção de Brasília e o deslocamento da
Capital do país constituíram-se em um dos resultados do Plano de grande
êxito, pois visava, realizar a integração norte-sul, ao mesmo tempo em
dava-se inicio a ocupação da faixa não litorânea do país. Entretanto cabe
destaque os aspectos danosos observados durante a sua execução, como veremos
a seguir.
O principal fator de insucesso do Plano de Metas foi que a demanda não
acompanhou a oferta dos produtos, faltou renda para a população comprar os
produtos, e este fato se deveu as características da planta produtiva
instalada, que era intensiva em capital, em tecnologia e pouco geradora de
mão obra, empregos. Se nos aprofundarmos nesta questão, vamos verificar, que
a tecnologia empregada na produção requeria uma mão obra especializada, o
que o país não tinha disponível naquele momento. Portanto a geração de
empregos que se esperava não ocorreu, e mais, não gerou o incremento na
renda que era fator importante para aumentar o consumo, criando aquele
circulo virtuoso. Observasse também que a planta industrial instalada, era
basicamente importada, conforme podemos observar no quadro de investimentos,
o que era razoável em função da não existência de um parque industrial no
país no nível de sofisticação necessário a época para a produção de
automóveis e eletrodomésticos, aço entre outros. Este fato gerou um
acréscimo nas nossas importações de produtos com reflexos na dívida externa
brasileira, que acumuladas com outras iniciativas ao longo dos últimos anos
e taxas de juros internacionais, só foram pagas recentemente.
A geração dessa nova matriz produtiva, com a implantação de industrias nas
periferias dos grandes centros, e em particular São Paulo Capital, teve
reflexos no êxodo rural, pela expectativa de empregos que foi gerada,
fazendo com que as famílias do campo se deslocassem para os grandes centros
gerando um excesso de oferta de mão de obra, que se materializou em baixos
salários para os que afortunadamente conseguiam um emprego.
Retornando ao conjunto estudado a época, diagnostico da situação do pais e
Plano Metas elaborado pela CEPAL e BNDE, destacamos a criação de uma Agenda
Econômica, um Pós Plano, que continha itens de ação, tais como: expectativas
para estimular a demanda, a reforma agrária, a reforma bancária e a reforma
educacional.
Em cada um destes itens buscavam-se ações para garantir a viabilidade do
Plano, seja na reforma bancária onde a facilidade do crédito era o
instrumento para ampliar a aquisição de bens duráveis, contribuindo para a
geração de demanda, na reforma agrária conforme pensada a época visava à
manutenção do homem no campo e a geração de renda e de alimentos, ou na
reforma educacional com metas para reduzir o nível de analfabetismo. Sobre a
questão educacional, se compararmos o Brasil daquela época com os paises
industrializados verificamos, uma enorme disparidade, enquanto estes paises
tinham atingido a universalização da educação no fim do século XIX, ou seja,
vencido a barreira do analfabetismo, o Brasil na metade do século XX,
apresentava uma taxa de analfabetismo na faixa de 40%.
Sobre os resultados do Plano de Metas, observamos um baixo nível de
realização, quando comparamos as previsões com as realizações, o único
destaque, foram as rodovias que superaram o estabelecido no Plano em 38%.
O quadro de resultados para o período de 1957 a 1961 é apresentado a seguir:
Previsão |
Realização |
% |
|
Energia Elétrica ( 1.000 Kw ) | 2.000 | 1.650 | 82 |
Carvão ( 1.000 ton. ) | 1.000 | 230 | 23 |
Petróleo–Produção (1.000 barris/dia) | 96 | 75 | 76 |
Petróleo-Refino (1.000 barris/dia) | 200 | 52 | 26 |
Ferrovias (1.000 km) | 3 | 1 | 32 |
Rodovias-Construção (1.000 km) | 13 | 17 | 138 |
Rodovias-Pavimentação (1.000 km) | 5 | - | - |
Aço (1.000 ton.) | 1.100 | 650 | 60 |
Cimento (1.000 ton.) | 1.400 | 870 | 62 |
Carros e Caminhões (1.000 unid.) | 170 | 133 | 78 |
Nacionalização (carros) (%) | 90 | 75 | - |
Nacionalização (caminhões) (%) | 95 | 74 | - |
Fonte: Banco de Brasil,
Relatório e Anuário Estatístico, vários anos.
Entretanto fruto do encerramento do mandato de JK, com a eleição de Jânio
Quadros e sua inesperada renúncia, criou-se um uma situação de instabilidade
Política no país, quando João Goulart assume o poder. O regime muda de
presidencialismo para parlamentarismo por curto período, visando agregar as
forças políticas democráticas, na tentativa de se manter a democracia no
país, mas que finalmente foi superado pelo golpe de 64, que redundou numa
ditadura por cerca de 20 anos.
A verdade é que apesar da continuidade de vários projetos na infra-estrutura
do país, pelos Governos Militares com um viés de segurança nacional, foi
assim no plano energético, com a construção de grandes hidroelétricas, nas
estradas de integração do Norte ao Sul do país, nos investimentos em
Petróleo, Siderurgia, e Telecomunicações. Entretanto a Agenda Pós Plano que
era o instrumento para gestão e ajustes de viabilização do Plano, não foi
mantida ou pelo menos considerada, acredito eu por razões políticas, e mais
ainda pela a falta de competência dos governantes que estavam no poder que
tinham uma formação estritamente militar.
Fruto desta dês-coordenação, e eventualmente motivada por outros fatores que
não o bem estar da sociedade, do ponto de vista econômico o que se destaca a
partir deste momento é a acelerada escalada inflacionária, que veio
acompanhada logo a seguir de inúmeras tentativas artificiais de controle
inflacionário, através de planos econômicos sem sucesso, só sendo
equacionado o problema no final da década, a partir do Plano de Estabilidade
Econômica do Governo Itamar Franco.
Conseqüências outras diversas podem ser pontuadas pela não existência de uma
agenda econômica compatível com a industrialização do país, mas merece
destaque a questão do crescimento populacional, que saltou dos 50 milhões em
1950, para 120 milhões em 1980 e hoje atingimos os 180 milhões. Este
gigantesco crescimento, concentrado nos lares de baixo poder aquisitivo, com
pais pouco educado, muitos oriundos do êxodo rural, que buscavam nos grandes
centros melhores oportunidades de vida, deveria ter soado como um alerta,
para os riscos que este desequilíbrio provocaria na sociedade como um todo.
Nada menos que o bom senso indicava que este estrondoso crescimento
populacional merecia um esforço na linha de um programa de educação de
massa, combinado com um programa de planejamento familiar. O resultado de
uma não decisão de alinhamento do desenvolvimento econômico e social com
políticas e ações para o desenvolvimento educacional, mais uma vez, como foi
no Plano de Metas de JK que redundou no insucesso na geração de empregos e
renda para a sociedade, continua aí as vistas claras, que foi a explosão das
condições sub-humanas da população com a proliferação das favelas, o aumento
do índice de criminalidade, tudo isso gerando um incalculável custo para a
sociedade, que busca alternativas ainda sem sucesso para remediar a
degradação social que se estabeleceu no país.
Jose Roberto de Souza Pinto
Engenheiro e mestrando em economia empresarial na Universidade Candido
Mendes.
Rio de Janeiro, Fevereiro de 2007.