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Alcatel afia as armas para a guerra de mercado |
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Autora: Jana de Paula (*) |
Escrito em abril de 2002 Publicado em 29/04/06
Alcatel afia as armas
para a guerra de mercado
Jana de Paula
Caso não surjam mais 30 milhões de pessoas no Brasil capazes de consumir
telecomunicações e não caiam os preços dos serviços, o mercado local sofrerá
“uma acomodação selvagem e brutal”, entre as operadoras e os fornecedores de
tecnologia. O alerta é do vice-presidente da Alcatel do Brasil, Juan Horacio
Carbone, para quem a falta de competição real entre as telcos, a saturação das
redes e a queda de resultados na maioria dos balanços apontam para um cenário de
fusões, inclusive no universo dos vendors. “No país há claros sinais disso”,
adverte.
O executivo lembra que a própria Alcatel esteve prestes a inaugurar, com a
Lucent, este processo de consolidação entre fabricantes, hipótese ainda não
totalmente descartada. A multinacional francesa, inclusive, conta, nas suas
projeções para os próximos dois a três anos, com estas fusões. “Basta ler os
jornais. Os principais vendors já fizeram cortes dramáticos em sua força de
trabalho. Chega uma hora em que isto tem que parar. Se não há business para todo
mundo, alguém desaparece”, equaciona Carbone.
E se alguém desaparecer, não será a Alcatel. Ao menos sob a ótica da própria
companhia. Seus planos para ultrapassar a atual fase de vacas magras, implicam o
estreitamento das relações com as operadoras, suas maiores clientes. Estas, cada
vez mais focadas no assinante, tendem a passar pelo menos dois terços da
gerência de suas redes para terceiros. É o caso da Embratel e, mais
recentemente, da Telemar, que já contrataram a plataforma de Alcatel,
substituindo dezenas de provedores de menor porte e com presença pulverizada,
para poucos fornecedores com abrangência nacional.
“Temos grandes redes de transporte, com granulosidade que nos permite entrar nos
clientes, e vamos aproveitar esta vantagem”, afirma Carbone. Ele se refere ao
MetroSpan/1696, solução projetada especialmente para aplicações DWDM (dense
wavelenght division multiplexing) em redes metropolitanas e corporativas,
lançado no mês passado. “Até 2001, nunca se ampliou tanto a capacidade de
transporte no mundo. Mas, apesar desta oferta exagerada, as operadoras não têm a
capilaridade que deveriam. É onde pretendemos agregar valor”, pondera.
O vice-presidente baseia suas projeções nos dados já consolidados da companhia
no mercado mundial, onde a Alcatel, ao contrário de seus principais
concorrentes, tem mantido uma linha ascendente de performance. A Nortel, por
exemplo, viu seu índice de receita no mercado global de transporte de redes cair
de 42% para menos de 20%, em dois anos. Já a Alcatel, entre o terceiro trimestre
de 2000 e o quarto trimestre de 2001, aumentou o market-share de 8,5% para 21,
5%. Em receita, isto significou 7,5 bilhões de euros, um incremento 23% superior
a 2000.
A explicação para o desempenho da companhia com sede na França é que, ao
contrário da atuação em nichos (como a Ericsson, focada em telefonia móvel), ou
na aposta em alguns mercados específicos (como a Cisco, que concentra sua
atuação no norte-americano), a Alcatel tem atuação vertical no mercado global,
recolhendo margens pequenas em todo o mundo. “Isto nos protege de alguns
problemas localizados, como os enfrentados na Argentina e no Chile, onde
deixamos de arrecadar US$ 20 milhões com as recentes crises”, acrescenta
Carbone.
Esta postura cautelosa que elevou a participação da Alcatel no mercado total de
redes de transportes, avaliado em US$ 28,2 bilhões, em alguns casos se
solidificou em lentidão. O maior preço pago por seu conservadorismo foi há dez
anos, quando a companhia desistiu de encampar Nokia e Ericsson. O mercado de
telefonia explodiu pouco tempo depois e a Alcatel foi obrigada a correr atrás da
concorrência, neste segmento. Hoje, ela detém modestos 8% no fornecimento de
redes e handsets móveis “É uma luta terrível”, reconhece o executivo.
De qualquer forma, a companhia que completa 12 anos de atuação no país,
continuará fazendo suas apostas sobre as tendências do futuro próximo das
telecomunicações. “Eu acredito que venha outro ciclo de prosperidade, baseado
numa nova maneira de viver. O e-business vai conseguir se auto sustentar e, logo
em seguida, começará a dar lucro”, prevê o vice-presidente da Alcatel.
Jana
de Paula é jornalista (ECO/UFRJ) e escreve sobre tecnologia desde
1983. Inaugurou a página de informática do Jornal do Commercio/RJ, trabalhou
na extinta revista Info do Jornal do Brasil, fez comentários para o primeiro
programa de rádio sobre informática da cidade, na extinta Rádio Alvorada, foi
editora da RNT no Rio de Janeiro e colaborou com as principais publicações da
área, como WordldTelecom, B2B Magazine, Consumidor Moderno e AliceRamos.com.
Atualmente é a diretora de conteúdo do Thesis (www.instituto-thesis.com.br).
Email:
jana.depaula@instituto-thesis.com.br.