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 Publicação inicial em 14/01/04 no WorldTELECOM    Republicado em 29/04/06

O reinado do GSM pode estar próximo

Jana de Paula
Especial para WorldTELECOM

No momento em que as operadoras de celular no Brasil travam uma de suas mais renhidas disputas, Eva Benguigui, analista para a América Latina da EMC World Cellular Database, empresa britânica de pesquisa e consultoria especializada no mercado de telefonia móvel, não foge à pergunta sobre qual tecnologia, GSM ou CDMA, vai liderar na região. "O GSM irá dominar nas Américas, ou seja, do México à Argentina e o Caribe. Os aparelhos têm preços competitivos, são atraentes, com serviços diferenciados e roaming mais abrangente que as outras tecnologias em uso", diz sem rodeios.

A analista, que vem acompanhando de perto as operadoras latino-americanas nos últimos anos, toma como base estudo da EMC o qual constata existirem 57 operadoras de redes GSM ou GPRS em todos os 25 países da região, que somavam 15 milhões de clientes no final de 2003. No Brasil, segundo a pesquisa, já havia quase seis milhões de assinantes em dezembro do ano passado, contra 900 mil contabilizados em 2002. Vale ressaltar, porém, que as companhias GSM Oi e TIM somente consolidaram suas operações no país em 2003.

Eva Benguigui esteve no Brasil para participar como palestrante do congresso GSM Americas, realizado em novembro do ano passado, falou com exclusividade a WorldTELECOM e deixou um alerta: "As operadoras, a partir de agora, terão de se dedicar mais aos serviços de dados já em uso, em especial, ao SMS, para enfrentar a queda drástica da receita média mensal por usuário (ARPU) em 2004".

WorldTELECOM - Como a senhora analisa a disputa entre as tecnologias GSM e CDMA?

Benguigui - A realidade é uma só. Existe o GSM e o CDMA. São duas tecnologias concorrentes que chegarão por caminhos diferentes ao WCDMA, ou UMTS, a terceira geração de celulares. O GSM fará esse caminho via GPRS ou EDGE e o CDMA pelo 1x RTT, 1xEV-DO ou 1xEV-DV. Em outubro de 2003, havia 912,8 milhões de clientes GSM no mundo e de acordo com as previsões da EMC vamos chegar a 1 bilhão no primeiro trimestre deste ano. O CDMA contava, no mesmo período, com 169,5 milhões de clientes. O que isso significa? Que o CDMA seguirá sendo uma tecnologia alternativa ao GSM até que todos ingressem no UMTS.

WordTELECOM - Mas qual tecnologia deve liderar a telefonia móvel na América Latina nos próximos anos?

Benguigui - O GSM vai dominar a região das Américas, ou seja, do México à Argentina e o Caribe. Os aparelhos têm preços competitivos, são atraentes, com serviços diferenciados e roaming mais abrangente que as outras tecnologias em uso. No ano passado, várias operadoras da região migraram da tecnologia CDMA para a GSM. É o caso da CTI Móvil, da Argentina, depois que foi vendida para a América Móvil, e da Pegaso, adquirida pela Telefônica Móvil do México. É relevante citar também o caso da Sercom, filial da América Móvil na Guatemala, que decidiu adotar as duas tecnologias em paralelo. Em julho de 2003, ela colocou em operação sua rede CDMA 1xRTT e, em dezembro, a GSM. A operadora, que se transformou na primeira da Guatemala a adotar GSM, o fez por causa da demanda de roaming.

WT - A GSM Association prevê que o GSM ultrapasse o CDMA no Brasil em menos de dois anos. Isso é factível?

Benguigui - Há muitas possibilidades de crescimento do número de clientes GSM no Brasil, já que neste momento três das seis companhias móveis existentes - TIM, Claro e Oi - operam com essa tecnologia. Além dessas três, uma quarta operadora, a Sercomtel, planeja implantar uma rede GSM. Deve-se levar em conta, porém, que a Vivo, operadora dominante no país, usa CDMA e ao menos no momento não tem intenção de migrar para a tecnologia GSM. Espera-se, porém, o aumento da migração para GSM, pois cada vez mais usuários brasileiros vão precisar se comunicar com o restante da América Latina, Estados Unidos e Europa.

WT - Como deve se dar a migração das redes TDMA para GSM, em andamento na Claro e, em breve, na Sercomtel?

Benguigui - Dependerá muito da estratégia de cada companhia. O mercado brasileiro em particular, a exemplo de outros da América Latina, tem alta porcentagem de clientes do serviço pré-pago, o que resulta em grande facilidade para se mudar de uma operadora para outra - basta adquirir um novo cartão pré-pago e trocar o número do telefone, sem custo adicional, ao contrário do que acontece com o cliente pós-pago. Portanto, a fim de atrair maior número de clientes para as novas redes GSM, as operadoras devem oferecer vantagens como subsídios de terminais, preços competitivos e variedade de serviços, entre outras, evitando a migração para outra companhia. No caso específico da BCP, recém-adquirida pela Claro, fica flagrante o interesse em manter a base de clientes, devido ao tamanho do mercado da cidade de São Paulo e da grande parcela de usuários corporativos.

WT - Mas essa estratégia é sustentável no curto prazo, diante da queda acentuada da receita média por usuário no último ano e das dificuldades para a disseminação de serviços de dados e multimídia?

Benguigui - A receita média por usuário (ARPU) registrada pelas operadoras móveis no Brasil não é alta e a EMC trabalha com uma estimativa de ARPU médio de US$ 12, em 2004, para a América Latina. Por isso, as operadoras terão de adotar medidas de incremento de receita por meio de campanhas de fidelização, como o subsídio de aparelhos. Mas, sobretudo, dedicar-se aos serviços de dados já em uso, em especial, ao SMS, que capta 90% da receita do segmento. Os acordos de interoperabilidade entre operadoras, a exemplo do firmado entre a Claro e a Oi no ano passado, também devem ganhar força. Segundo a EMC, no caso dessas duas operadoras, ele permitirá um incremento de 30% no volume de mensagens, que hoje é de 40 milhões na Claro e de 38 milhões na Oi. O custo de SMS se enquadra no perfil econômico do brasileiro. A EMC estima o preço atual de uma mensagem curta entre clientes Oi em R$ 0,19 e em R$ 0,49 entre os da Oi para os de outras operadoras. Já a Claro, cobra R$ 0,28 a seus clientes por mensagem enviada, independente da rede de destino.

WT - Quando a senhora prevê que a terceira geração de celulares se tornará realidade?

Benguigui - Em setembro de 2003 já havia 1,7 milhão de clientes de UMTS no mundo, atendidos por seis operadoras, filiais da chinesa Hutchison Telecom no Reino Unido, Itália, Suécia, Áustria e Austrália, e pela operadora japonesa NTT DoCoMo.No primeiro trimestre deste ano, a Telefônica Móviles, da Espanha, também terá UMTS. E, no segundo semestre, a EMC estima que 54 operadoras em todo o mundo já adotem serviços baseados na terceira geração de celulares (3G).

WT - E quais são as perspectivas da 3G na América Latina?

Benguigui - O órgão regulador de telecomunicações do Uruguai, Ursec, anunciou que vai licenciar a banda de espectro correspondente à terceira geração ainda neste primeiro trimestre. Há também rumores de que a operadora americana AT&T Wireless estaria oferecendo tecnologia 3G em Porto Rico, em 2005.
 

Jana de Paula é jornalista (ECO/UFRJ) e escreve sobre tecnologia desde 1983. Inaugurou a página de informática do Jornal do Commercio/RJ,  trabalhou na extinta revista Info do Jornal do Brasil, fez comentários para o primeiro programa de rádio sobre informática da cidade, na extinta Rádio Alvorada, foi editora da RNT no Rio de Janeiro e colaborou com as principais publicações da área, como WordldTelecom, B2B Magazine, Consumidor Moderno e AliceRamos.com.
Atualmente é a diretora de conteúdo do Thesis (www.instituto-thesis.com.br).
Email: jana.depaula@instituto-thesis.com.br.